10 álbuns fundamentais de andré L. R. Mendes

O cantor e compositor andré L. R. Mendes incluiu álbuns de Chico Buarque, Iron Maiden, Racionais MCs, Caetano Veloso  e Ritchie entre os mais importantes de sua vida. 

O que aquele artista que gostamos ouviu para resultar no trabalho que faz? Que álbuns foram fundamentais em sua trajetória que o levou a produzir sua música? Temos feito essa pergunta para alguns artistas (já ouvimos Teago Oliveira, Josyara, Prince Áddamo, Bel da Bonita e Martin Mendonça) e dessa vez foi o cantor, compositor e músico andré L. R. Mendes, que já lançou 10 álbuns na carreira solo e prepara mais um para esse ano. 

Para quem não lembra ou não sabe, ele era também um dos integrantes da banda Maria Bacana, que marcou o rock baiano especialmente no final dos anos 1990. A lista de 10 álbuns fundamentais dele ajuda a contar um pouco essa trajetória, destacando grandes álbuns de importantes bandas do rock, como Iron Maiden e Metallica, mas também ícones da música brasileira, como Caetano Veloso e Chico Buarque, além de outros de gerações mais próximas da dele, como Ratos de Porão e Racionais MCs. 

Ele deixou um recado de como foi complicado chegar em apenas 10 nomes: “É muito difícil escolher apenas 10 álbuns marcantes em minha vida…vou cometer injustiças deixando, pelo menos, mais 3 dezenas fora desse ranking pessoal…mas vai lá! vamos pra lista!”

01. Coleção disquinho

“Coloco essa coleção disquinho (formada por compactos em vinil colorido com histórias clássicas infantis) como símbolo de muitos discos que tive na infância (discos de canções de roda, trilhas sonoras de  especiais infantis da Globo com canções de Vinicius de Moraes, Chico Buarque, etc…) e me fizeram ter apreço pelo formato disco. Graças à meus pais que me presenteavam sempre com discos infantis, ter álbuns em meu dia a dia sempre foi um hábito.”

02. Ritchie – Vôo de coração (1983)

“Sempre fui ligado em música pop. Ainda criança eu já curtia as musicas da Blitz e de Eduardo Dusek que faziam grande sucesso nas rádios no início dos anos 80. Aliás eu sou completamente fã da sonoridade da música popular brasileira daquela década até hoje. Os ares da redemocratização que vinha vindo deixaram as gravações solares, cheias de vida. Esse disco de Ritchie foi o primeiro disco não infantil que tive. Eu tinha 7 anos na época do lançamento. Um disco que me ensinou, ainda na infância, o que é o “pop perfeito” brasileiro. Tudo nesse álbum é, pra mim, irretocável.”

03. Iron Maiden – The Number of the Beast (1982)

“Eu tinha 10 anos em 1986, era estudante de violão erudito e leitor de HQs, quando comprei esse disco e ele mudou o rumo da minha vida. Comprei muito pela capa “quadrinistica”. Eu já tinha ouvido heavy metal num especial sobre o Judas Priest na rádio Educadora FM, mas a experiência de colocar o vinil do TNOTB, ouvir “Invaders” e pensar que a rotação do toca disco estava em 45 rpm foi incrível! era muito rápido, excitante. Casou perfeitamente com a adolescência que vinha chegando. Um disco excelente, energético, excitante. Passei um ano ouvindo TUDO do Iron Maiden. Até hoje, quando preciso de um som pra me “jogar pra cima”, Iron Maiden é sempre uma das primeiras opções.”

04. Metallica – Master of Puppets  (1986)

“Depois de um ano ouvindo APENAS Iron Maiden, chegou a hora de dar o próximo passo: METALLICA! Comecei com o disco que era mais recente na época e o clássico maior da banda: Master of Puppets. Não lembro exatamente como tive acesso ao álbum, acho que foi emprestado de um colega de escola, mas lembro que quando começou a tocar “Battery” eu estranhei. Achei muito agressivo. Acho que estava procurando a melodia do Maiden e não achei. Levou umas duas ou três audições do disco pra banda me ganhar, mas ganhou de forma definitiva! Master of puppets é um álbum extremamente inspirado musicalmente com letras bem construídas sobre manipulação: drogas, guerra, religião, loucura, mercado. Nada passava impune à agressividade de (James) Hetfield e seus companheiros de banda. Infelizmente, é o último disco com o mágico Cliff Burton, músico fora da curva no thrash metal – de influências mais abrangentes, morto num acidente com o ônibus da turnê. Até hoje me pergunto “se Cliff não tivesse morrido, como seria o som do Metallica nas décadas seguintes?”

05. Elomar, Geraldo Azevedo, Xangai e Vital Farias – Cantoria 1 (1984) 

“Mesmo num momento da minha vida que eu estava “metal head”, eu não conseguia desprezar o som que sempre foi a trilha sonora da minha casa: música popular brasileira. Esse álbum Cantoria é a fina flor dos cantautores nordestinos e suas buscas particulares pela beleza em forma de canções. Gravado no Teatro Castro Alves em 1984, já começa com “Desafio (do Auto da Catingueira)” e a sua disputa entre cantadores. Sei todas as frases dessa canção de cor ate hoje. E vem na sequência um desfile de clássicos: “Cantiga do Boi Incantado”, “Kukukaya”, “Ai que Saudade de Ocê”, “Matança”… Pena que dois desses grandes artistas tenham aderido ao devaneio obscurantista que levou o país ao inferno bolsonarista/ golpe 2016/ Lava Jato/ Olavismo… Eu deletei dos meus ouvidos quase todos os artistas que apoiaram a derrocada recente do brasil, mas abro exceção pra um gênio do nível de Elomar. Tá perdoado, mestre!”

06. Ratos de Porão – Brasil (1989)

“Esse disco me fez pensar pela primeira vez desde que eu comecei a ser “do rock” o quanto era bom entender desde a primeira audição o que estava sendo dito: era na minha língua pátria e falava da realidade do meu país! Era a trilha sonora perfeita pro livro que estava lendo na época: “Capitalismo para Principiantes” de Carlos Eduardo Novaes. As mazelas da nossa sociedade gritadas explicitamente: desmatamento, militares, falso nacionalismo, inflação, mídia sensacionalista, violência policial…infelizmente parece uma descrição do Brasil de hoje (N.E.: o texto de andré é de 2022). A capa de Marcatti é SENSACIONAL. Eu, que na época era leitor da Chiclete com Banana, peguei a conexão na hora. Tudo que eu lia na revista tava na capa, nas letras e no som. Esse eu comprei na MANIAC  (loja clássica de metal/rock que ficava no orixás center). João gordo é um ótimo letrista e Jão é o maior herói da guitarra punk/metal nacional. VIVA O RDP!
ps.: ouça o disco nacional (não só de rock!) de 2022: “NECROPOLÍTICA”! um registro avassalador do período histórico da covid no Brasil.”

07. Caetano Veloso – Caetano Veloso (1969)

“Como todo mundo que viveu o rock no início dos anos 90, eu também mergulhei na onda do redescobrimento (pela nossa geração) dos grandes artistas internacionais dos anos 1960 e 1970: Led Zeppelin, Beatles, Black Sabbath, Pink Floyd…e seguindo nessa viagem, cheguei aos brasileiros: os Tropicalistas. O primeiro disco que tive acesso nessa linguagem foi o “álbum branco” de Caetano Veloso. Foi como uma redescoberta de um artista que sempre esteve presente compulsoriamente na minha vida como trilha sonora do inconsciente coletivo nacional desde os anos 1960. E aquele Caetano que eu conhecia de “Sampa”, “Beleza Pura” e “Você é Linda” parecia um artista totalmente novo quando ouvi aquela sonoridade agressiva, livre e vanguardista de “Marinheiro Só” e “Não Identificado”. Foi o início da minha descoberta pessoal da música popular brasileira.”

08. Engenheiros do Hawaii – Várias Variáveis (1991)

“Por volta de 1993 eu já tocava na banda de rock/metal/punk rock Master Brain há dois anos e não aguentava mais cantar músicas autorais compostas em inglês (que era moda no início dos anos 1990 no brasil, muito pelo sucesso internacional do Sepultura). Eu me sentia completamente “macaqueado”, um rascunho mal feito. Me sentia ridículo sendo brasileiro, nordestino e cantando numa língua que não era a minha. Quando eu ouvi a canção “Ando Só” dos Engenheiros do Hawaii foi como um tapa de realidade na minha cara: power ballad hard rock cantada muito perfeitamente em português. Secretamente comecei a fazer versões em português das composições da Master Brain pra apresentar aos meus companheiros de banda. Foi um choque pra eles e  quase determinou o fim da nossa banda. Lelê (baixista) pediu pra sair (eu consegui demovê-lo dessa ideia) e Macello (baterista) achou que pra ser rock cantado em português tinha que mudar a sonoridade pro BRrock80. Foi preciso muita conversa pra que nos metamorfoseássemos numa banda que conservava a nossa sonoridade, mas cantava em nossa língua: a Maria Bacana.”

09. Racionais Mcs – Sobrevivendo no Inferno (1997)

“Depois de um início de década maravilhoso pro rock nacional e internacional, lá por 97, 98 a situação começava a mudar. Começaram a aparecer bandas genéricas (como Bush lá fora ou Catedral aqui no Brasil). Os sinais de que aquela cena maravilhosa dos Smashing Pumpkins (por exemplo) não duraria por muito tempo me fez esfriar pro rock. Simplesmente porque o rock estava, da mesma forma, esfriando enquanto força propulsora juvenil. E então surge como uma força da natureza os Racionais MCs com seu álbum FANTÁSTICO Sobrevivendo no Inferno. Ouvir aquelas musicas chegava a doer de tão agressivas e cruas que eram as letras. Era o Brasil dos excluídos falando com voz altiva verdades que sempre se quis abafar na sociedade e com uma poesia incontestavelmente excelente. Um tapa na cara pro Brasil acordar. O “nós contra eles” estava ali no texto porque refletia uma verdade que sempre existiu: a sociedade brasileira era (e é) brutalmente dividida entre explorados e exploradores. Os Racionais são tão responsáveis quanto a lei de cotas para negros nas universidades, por uma busca por REPARAÇÃO nas feridas sociais oriundas de séculos de escravidão. Os Racionais são os pais dos negros orgulhosos de sua cor que hoje ocupam a maioria das vagas nas universidades públicas no Brasil.”

10. Chico Buarque – Chico

“Por volta de 2012 eu me dei conta de que me faltava conhecer profundamente a obra de Chico Buarque… conhecer todos os álbuns, etc… Claro que já conhecia muito bem alguns discos. Aquele vermelho que tem “Vai Passar” eu ouvi muito na época que foi lançado porque rodava bastante no som da minha casa. O álbum Paratodos foi o que mais ouvi (junto com o 9 luas dos Paralamas) quando a Maria Bacana estava hospedada no Rio de Janeiro na época da gravação do seu primeiro disco. Mas eu nunca tinha comprado um disco de Chico Buarque, então entrei numa loja e comprei o disco, na época, mais recente do cantor e compositor. Era numa loja Americanas, então não tinha como ouvir uma prévia. Achei a capa legal e decidi levar. Botei pra tocar no CD player no carro e fiquei fascinado com a elegância que fluía em todas as faixas. Elegância essa que passei a perseguir em minha carreira solo. Um álbum classudo, cheio de grande poesia leve (era o Brasil da esperança pré início da derrocada moral e social que se iniciou em junho de 2013) com parcerias com Wilson das Neves e João Bosco…um luxo! Dali fui cada vez mais fundo na obra de Chico, que me levou à conhecer também profundamente a obra de Francis Hime, Edu Lobo, Tom Jobim, Vinicius de Moraes… um mergulho sem volta nesse que é agora meu estilo de música favorito: a música popular brasileira.”

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