Faixa faixa: Tangolo Mangos apresenta seu novo álbum ‘Garatujas’

Você já ouviu a Tangolo  Mangos? A banda é uma das boas novidades do cenário baiano, fazendo um som que eles meio que definem como “tropical que se identifica com diferentes gêneros musicais, destacando-se o rock clássico, a MPB e a música regional nordestina, com uma estética ligada à psicodelia”. É isso música contemporânea com a cara da juventude dos anos 2020.

Bruno Fechine (vozes e percussões), Felipe Vaqueiro (vozes e guitarra), João Antônio Dourado (bateria), João Denovaro (vozes e baixo) e Pedro Viana (vozes e guitarra) acabaram de lançar Garatujas, o primeiro álbum cheio do grupo. Aqui eles esmiúçam o álbum faixa a faixa.

Veja  também a resenha de Julli Rodrigues sobre o trabalho.

Canaã (Pedro Viana) part. Joca Lobo

A faixa de abertura é sobre esperança em meio às dificuldades da vida e da realidade social. Fala sobre cultivar a paciência e aliviar as dores ao perceber que nossas amizades podem tornar nossas encruzilhadas menos solitárias. “Canaã” é, essencialmente, um baião rock, ainda que tenha uma seção mais carregada de jazz e garage rock. Sanfona, rabeca, pifes (estes três primeiros gravados pelo convidado Joca Lobo), violões, bandolim, triângulo e demais percussões se unem às costumeiras guitarras, baixo e bateria, resultando numa obra com diversos momentos, atmosferas e texturas.

 Animais Noturnos (João Denovaro) part. André Becker, Cidade Dormitório

Música de rock experimental, “Animais Noturnos” abre espaço para sonoridades em que o grupo ainda não havia se debruçado, como o grunge e o punk rock. A canção retrata a noite sob a perspectiva urbana das metrópoles, alternando entre elementos líricos abstratos e concretos. Conta com participações especiais de André Becker, no saxofone, e da Cidade Dormitório, representada por Yves Deluc, que assume vocais e efeitos de voz. O resultado foi batizado como sendo do gênero musical cartoon rock, influenciado pelos comentários e falas gravadas por Yves no estilo de dublagem brasileira de desenhos animados.

O Gato Gateia e Você Quer Saber (Pedro Viana)

Canção que reflete acerca dos dilemas e escolhas humanas em busca da felicidade e da verdade, o propósito por detrás das decisões, a necessidade de identificação com estas causas e os apegos que criamos em torno delas. Composição de 2016, a faixa carrega elementos sonoros do rock, blues e pop, explorando rhodes, guitarras e gaitas.

Hélio (Felipe Vaqueiro)

Segundo single do álbum “Garatujas”, “Hélio” é um laboratório de riffs e atmosferas que apontam diferentes aspectos da linguagem daquilo que se entende como rock. Explorando elementos de garage rock, surf music, indie, rock progressivo, psicodelia, krautrock, stoner e metal, a faixa transita entre muitos climas, alternando entre o sujo e o etéreo. A composição data de 2016 e tem sua letra pautada numa personificação e narrativização fantasiosa e apocalíptica acerca do elemento químico hélio. Presente no repertório de apresentações dos Tangolo Mangos já há alguns anos, a música é um ponto alto de energia nos shows da banda, se tornando uma das canções mais pedidas pelo público cativo.

Poca (Felipe Vaqueiro)

Samba-rock de embalo nostálgico e dançante, “Poca” reúne muitas facetas musicais do Tangolo Mangos, passeando de maneira descontraída por psicodelia, samba e garage rock. Composta em 2017 e presente no repertório desde então, é uma faixa querida e esperada pelo público. Primeiro single do álbum, a canção traz uma temática ligada ao amor e aos processos de afastamentos naturais e inevitáveis envolvidos nas relações humanas. Além de vozes, o fonograma é carregado de instrumentos de corda e percussão, por vezes acrescentado com sintetizadores, metalofone e piano elétrico joãodonatiano.

Algoritmos (Você Me Conhece Tão Bem) (Felipe Vaqueiro/Pedro Viana)

Primeira parceria de Felipe Vaqueiro e Pedro Viana a ser lançada, “Algoritmos (Você Me Conhece Tão Bem)” é uma canção que divaga sobre os impactos da tecnologia digital na nossa vida contemporânea. Fala sobre a circulação de nossos dados pessoais no ambiente virtual, a sofisticação das propagandas e como todas estas novas dinâmicas se relacionam com nossos afetos pessoais e nossa socialização moderna. A faixa mescla rock clássico com pitadas de jazz e funk a elementos digitais como samples e sintetizadores.

Enxaqueca (João Antônio Dourado) part. Natan Drubi, Ruan Skatipunk, xoronobanho

Um eu-lírico que está tendo uma tarde legal e é acometido por uma dor de cabeça. A música, além de descrever as dores do narrador, consegue trazer a visualização de uma possível melhora. O arranjo se traduz numa mistura de sambas, contando com vários elementos que fazem parte de seus diferentes subgêneros – a exemplo de samba-canção, choro, samba de roda e samba rock, traduzidos em cavacos, pandeiros, bandolim, violão 7 cordas, atabaques, palmas, berimbau, órgão, dentre outros. A faixa tem participação de Natan Drubi no violão 7 cordas, Ruan Skatipunk no berimbau e xoronobanho nos vocais.

Dog Dilema pt. 1 (Felipe Vaqueiro)

Rock progressivo à brasileira, a canção traz em sua letra versos existencialistas que se firmam no mantra-dúvida: “rei dos cachorros, cachorro dos reis? Ser o rei dos cachorros, ser o cão dos reis?”. Finalizada e produzida a partir de uma demo de 2016, “Dog Dilema pt.1” é uma faixa de história peculiar. Depois de permanecer por muito tempo na gaveta, a produção da canção foi retomada após convite para integrar coletânea da Seloki Records, em 2021. Instigados a entregar uma faixa inédita em um curto espaço de tempo, a banda optou por revisitar um projeto antigo, com bases e estruturas relativamente encaminhadas. Desse modo, a faixa opera quase como uma máquina do tempo, resgatando do passado vocais agudos e quase infantis de um Felipe Vaqueiro de 19 anos. A gravação da bateria, instrumento que não constava na versão demo, foi realizada de forma caseira, aliando microfones e interfaces de áudio ao microfone do smartphone.

Dog Dilema pt. 2 (Felipe Vaqueiro) part. Natan Drubi

Continuação narrativa da faixa irmã que a antecede, “Dog Dilema pt. 2” é um pequeno samba que tenta concluir ideias apresentadas na canção anterior, tanto a nível musical quanto lírico, ainda que de maneira abstrata. A partir da retomada do tema melódico do final da parte 1, a faixa começa e termina no embalo de cavaco, violão 7 cordas, surdo, pandeiro e guitarras. A música conta com participação de Natan Drubi no 7 cordas e teve sua base gravada ao vivo, na casa de Felipe Vaqueiro.

Você Me Conhece Tão Mal (Bruno Fechine / Felipe Vaqueiro / Flora Dourado / Pedro Viana / Vênus Não É Um Planeta) part. Tecnoplanta, Vênus Não É Um Planeta 

Faixa mais eletrônica e sintética do álbum, nasceu de um beat produzido por Bruno Fechine durante residência intensiva para gravar o álbum, em fevereiro de 2020. Influenciado pela produção do disco, ele gerou uma curta peça instrumental a partir da harmonia e alguns samples da faixa “Algoritmos (Você Me Conhece Tão Bem)”, nascendo automaticamente a ideia de incluir aquele som como um interlúdio no futuro álbum. O pensamento tomou forma e a banda se aliou às produtoras e compositoras Tecnoplanta e VenusNotPlanet, que integram a faixa como participações especiais.

Eneágono (Bruno Fechine / Felipe Vaqueiro / João Denovaro)

Nascida a partir de trechos instrumentais compostos por Bruno Fechine e finalizados por João Denovaro, é a faixa mais nova do disco, em termos de quando se deu a composição. Passeando por blues rock, soul, indie, stoner, krautrock e math rock, é um passeio por diferentes temas, riffs e motivos melódicos. Ainda que tenha seus momentos de mudança de dinâmica, “Eneágono” se mantém upbeat pela maior parte do tempo. Inicialmente uma faixa instrumental, ela teve sua letra composta e finalizada de maneira colaborativa por Bruno Fechine e Felipe Vaqueiro, após gravação das bases. É possível perceber notas de Led Zeppelin, The Doors, King Gizzard & The Lizard Wizard, dentre outras referências.

Glauber Rocha (Artur Dantas / Caio Santana / Caique Fernandes Malaquias dos Santos / Felipe Vaqueiro / Samuel Carvalhalpart. Fernão Gaivota

Interlúdio acústico, “Glauber Rocha” é um respiro leve e descontraído dentro do repertório do álbum. Gravada num smartphone em 2019 de maneira despretensiosa, ébria e espontânea num encontro entre membros das bandas Fernão Gaivota e Tangolo Mangos, a canção já fazia parte do cotidiano da Fernão há algum tempo. A música funcionava como uma espécie de hino na sua época de ensino médio: como eles estudavam no Colégio Central, era costumeiro sair das aulas e ir direto para o Cinema Glauber Rocha, também localizado no Centro. A canção nasceu com esse teor orgânico e dinâmico, se modificando a cada momento em que os membros do grupo entoavam a cantiga, sempre mantendo uma estrutura base, no caso, bradar “Glauber Rocha”, e complementando o verso com alguma ação, gritos e batuques. Anos mais tarde, Samuel Carvalhal e Felipe Vaqueiro reencontraram a gravação daquela tarde já nostálgica.

Roda Gigante ou Rebimboca da Parafuseta Cósmica (Brian Dumont / Felipe Vaqueiro)

Última faixa do disco, “Roda Gigante (…)” é a música de maior duração no álbum e, possivelmente, a mais progressiva, explorando folk, samba, baião, hard rock, psicodelia e muitos outros temperos. A composição da música é um pouco curiosa. Em 2017, Brian Dumento criou o riff e harmonia principal. Felipe Vaqueiro deu continuidade à composição, adicionando acordes e versos, mais tarde complementados por Brian. A letra é fruto de uma brincadeira narrativa trazida por Felipe a partir do exercício de criar um eu-lírico que refletisse questões afetivas e existenciais vividas por Brian na época da composição – as transformações das relações causadas por distanciamentos geográficos, a expectativa da espera e a incerteza angustiante da retomada (ou não) desses laços. A faixa é finalizada com uma catarse instrumental que é encerrada com a melodia de abertura do disco, “Canaã”.

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