Salvador tem jeito? 5 perguntas e 5 respostas


Mais uma entrevista da série que publicamos toda sexta discutindo a cena alternativa baiana. Hoje o convidado é Fabiano Passos, que já tocou em diversas bandas e hoje integra três: A Sangue Frio, Lumpen e Mais Treta. Mais do que isso, ele é dono de dois selos Estopim Records e Muv discos e possui um estúdio de gravação de áudio, além de assumir essa semana o ex-Espaço Insurgente, agora Espaço MUV.

1 – Para você, qual o maior entrave para o circuito alternativo atualmente na Bahia?
É difícil dizer qual o maior entrave para o circuito alternativo aqui. Na verdade acho que não existe um único e grande problema, acredito que são pequenas e várias coisas que juntas acabam atrapalhando a cena baiana. Muitas pessoas dizem que o maior problema pra cena independente daqui é a industria do axé, não sei se esse seria o maior problema. Realmente esta indústria nos atrapalha um pouco, mas acredito que acabamos vendo este problema maior do que ele é realmente. Usamos esse entrave da indústria do axé para justificar todos nossos erros e falta de ações em determinadas vezes. Se a banda não tem público fala logo que é por que o axé domina tudo, se um show ou festival não dá certo a culpa é logo do axé.
Mas a indústria do axé esta fazendo as suas coisas e nem lembra que nós existimos. Temos que fazer o mesmo, fazer nossas coisas e nem nos lembrar que ela existe. São realidades bem diferentes e acho que se as coisas forem feitas da forma certa acaba tendo espaço para todo mundo, tanto para uma industria de axé massificadora, quanto para um cenário de música independente de médio porte.
Acho que um dos maiores problemas daqui seria a postura das próprias bandas (salvo algumas excessões) que acabam agindo da mesma forma das tão criticadas bandas de axé. Quando as bandas participam dos shows organizado por um produtor por exemplo, só chegam na hora do próprio show (sem prestigiar as outras bandas da noite), fazem mil exigências em relação a som, camarim e cortesias, não ajudam na divulgação e esse tipo de coisa. Isto seria completamente compreensível em um realidade onde estivesse rolando muita grana, mas no nosso cenário isso não é compreensível e acaba desestimulando um pouco as pessoas que costumam organizar shows, diminuindo a frequência deles e com isso diminui a quantidade de público.

2 – Do que você mais sente falta?
Aqui em salvador, o que eu sinto mais falta é de um bar rock, onde todos os dias da semana rolasse rock. Poderia ser som mecânico mesmo. Um local onde você pudesse ir com os amigos bater um papo e ouvir um bom som e que nos finais de semanas rolasse som ao vivo. Um local que tivesse uma acústica legal, banheiros limpos, opção de comidas e bebidas. Um local que você se sentisse bem em frequentar. E sinto falta tambem de uma rádio rock, não um programa em uma emissora, que isso já temos. Queria mesmo uma rádio que tocasse rock ou música independente todo o dia.

3 – Você considera que estamos vivendo os piores momentos para a música na cidade?
Sempre quando vou dizer que “este é o pior momento” penso muito antes de dizer. Pois temos o costume de achar que sempre o momento que estamos passando não é bom, que bom mesmo foi há tantos anos atrás. Temos essa nostalgia, mas tantos anos atrás também reclamávamos, dizendo que “este é o pior momento”. Não é nosso pior momento, certamente já tivemos momentos piores que esse.
Em junho de 2006 eu escrevi um texto que o título era “2006 foi um ano ruim”. Acho que este ano está sendo mal, mas ele já está acabando. Acho que a resposta pra esse ano vai ser 2007, acredito que em 2007 muitas coisas boas vão acontecer por aqui. É para isso que estou trabalhando, não faço mais planos para esse ano, estou planejando coisas para 2007 e vejo várias luzes no fim do túnel.

4 – Que soluções você apontaria para as coisas melhorarem?
A solução é produção, é produzir sem parar e com qualidade. As bandas ensaiarem mais para obterem mais entrosamento, podendo assim fazer boas gravações. É tentarmos cada vez mais organizarmos shows realmente organizados. Não adianta muito rolar 10 shows na cidade no fim de semana se não rola organização boa deles, não tem público para esses 10 shows, acaba sendo show só para amigos.

Eu prefiro tocar 1 vez por mês e fazer um bom show, com uma galera legal, que participe do show, com uma estrutura legal (mesmo não tendo problema nenhum em tocar em som ruim) do que tocar todo fim de semana pra meia duzia de amigos.

5 – É viável se fazer música no estado desvinculada a grandes gravadoras e ao que predomina na mídia?
Sim, claro que é, é isto que temos feito todos esses anos né? Salvo algumas exceções como Pitty, Penélope, Catapulta, Canto dos Malditos… Não só é viável como também é o que temos que fazer, arregaçar as mangas e produzirmos nós mesmo nossas coisas. Acho que é claro que estamos em um profundo processo de mudança no mercado fonográfico. A mídia CD já está em processo de extinção e o que rola agora é a distribuição digital. Tudo que é grande tem dificuldade de se mover e se adaptar. As grandes gravadoras demorarão a aprender a trabalhar nesta nova realidade de mercado. Acredito que os selos conseguirão se adaptar mais na frente e sair na frente nisso. Em relação a mídia é a mesma coisa, a internet veio para mudar tudo e hoje é um dos maiores meios de publicidade e comunicação. Temos que conseguir usar isso a nosso favor, criando formas de divulgação para nossas bandas e projetos, utiltizando as novas mídias.

Para quem gosta de música sem preconceitos.

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