Direto de Feira, banda Iorigun volta à ativa, lança single e planeja mudanças

Em um bate-papo, Iuri Moldes, guitarrista e vocalista da Iorigun, conta sobre esse retorno e os novos caminhos que a banda planeja trilhar.

Em 2017, uma banda com nome diferente, formado por garotos bem novos, fazendo indie rock com letras em inglês e vindo de Feira de Santana começou a chamar atenção com seus primeiros shows e gravações. A Iorigun estava em sintonia com as bandas do período, fazendo uma espécie de atualização do pós-punk e indie rock com guitarras dilacerantes, batidas dançantes e pinceladas de psicodelia. Nada de muito novo, mas feito de forma muito competente, com uma banda afiada e canções arrebatadoras. 

Depois de 2 EPs e alguns singles, o grupo, surpreendentemente, encerrou as atividades . Agora, em 2023, no entanto, o  quarteto formado por Iuri Moldes (guitarrista e voz), Moysés Martins (contrabaixo), Fredson Henrique (guitarra) e Leonel Oliveira (baterista) anunciou que está de volta. O retorno já vem com um novo single “Nostalgia (The Sublime Fall)”,  que também ganhou um clipe. “Precisávamos retornar, e para além disso, nos conectamos novamente com o sentido e a potência que existe em criar e performar”, conta Moldes. 

A música segue a linha da banda idealizada lá em 2015, onde busca e mixa influências reverberadas do indie rock, lo-fi e o Post Punk. “Uma nova construção, em cima de uma base sólida. A música simboliza o nosso retorno em uma metalinguagem que talvez faça sentido apenas para nós, mas que ocupa um lugar de vital importância. A própria letra é uma conversa com um “eu” do passado, onde partes que já estavam construídas somam com o novo. A nostalgia se revela também como um recomeço”, completou o guitarrista e vocalista da banda.

A volta aos palcos aconteceu na Casa Noise, em Feira, no último dia 14 de outubro e o próximo  será em Salvador, no dia 2 de novembro. A banda vai participar do festival Supernada ao lado da banda alagoana Mãe que Dá Medo e do encontro dos projetos SOFT PORN & Vênus Não é um Planeta, no Blá Blá Blá Arte & Cultura, no Rio Vermelho.

A Iorigun tem uma discografia  curta, com dois EPs lançados Empty.House//Filled.Cities (2017) e Skin (2018), eleitos aqui no el Cabong como um dos melhores trabalhos de 20172018. Um novo trabalho deve ser lançado no  ano que vem. “Queremos também explorar mais o campo do audiovisual, contextualizando esse álbum em clipes”, revela Moldes. Leia mais na entrevista abaixo.

Leia entrevista

Primeiro queria saber sobre esse retorno. Vocês pararam meio que do nada (pelo menos pra mim), agora voltam já com músicas, shows etc. Queria saber o que motivou vocês nesses dois momentos.

Iuri Moldes: Uma série de questões nos encaminharam para essa pausa. Desde aspectos individuais e pessoais a aspectos macro e coletivos, como a pandemia. O processo pandêmico foi muito intenso para alguns de nós, eu pessoalmente me vejo com reverberações desse período até hoje. Em algum momento estive também num local não muito saudável mentalmente, e passei a me questionar sobre o propósito de muitas coisas, entre elas a carreira musical. Mas o que eu considero a força motriz que nos puxou desses processos de aprisionamento foi o carinho e o amor das pessoas pela banda. Ao sentir cada vez mais que existia uma demanda dessas pessoas em reviver, reconstruir e produzir novos bons momentos que entrelaçam suas histórias com a nossa, não houve dúvidas. Precisávamos retornar, e para além disso, nos conectamos novamente com o sentido e a potência que existe em criar e performar.

Vocês voltaram com uma música nova, que já existia antes dessa parada. Pretendem lançar mais esse material antigo ou já estão trabalhando em novidades?

Iuri Moldes: Essa música tem meio que esse caráter de transição, de conexão entre o anterior e o porvir. Foi algo que fez sentido pra gente nesse momento. Mas a ideia é continuar produzindo nesse final de ano, visando os lançamentos do ano seguinte. No processo de pausa surgiram também muitas outras conexões com a música, como por exemplo uma aproximação com a língua portuguesa. Nossa escolha sempre foi a de respeitar o caminho que a própria música crava, e até então esse caminho era através da língua inglesa. Muita gente acha que é por alguma estratégia específica, mas de fato é apenas o modo ao qual as músicas naturalmente se expressam. Acontece que nesse período de maior liberdade e experimentação, elas começaram a se expressar de outro modo, e estamos visando explorar esse novo campo de possibilidades. Para além das gravações, esperamos fazer bons shows, que é uma das forças norteadoras da banda.

E a sonoridade, estão seguindo o mesmo caminho, nesse ambiente do pós-punk conectado com sonoridades contemporâneas?

Iuri Moldes: Estamos nesse exato momento num processo de descoberta, revisitando todo esse material de demos e ideias musicais. Digo isso porque de fato tem uma variedade sonora extensa, então não vou me comprometer em definir um caminho ainda. (risos) Mas sempre haverá uma conexão com os pilares musicais da IORIGUN, até porque nosso DNA sonoro se expressa em nossa musicalidade, sendo consciente ou não. Sempre levamos nossas influências conosco, mas sempre na busca de tensionar os limites.

E de forma prática, quais os projetos? Você falou em lançar ano que vem. A ideia é um álbum? Que mais estão nos planos? Sei que tem show em Salvador.

Iuri Moldes: A ideia é construir um álbum. Nosso segundo EP (Skin) veio acompanhado de todo um conceito e uma narrativa, ali a gente já começa a brincar com essa ideia de ir além de apenas uma coleção de boas músicas. Existe uma cadência, uma narrativa que recompensa os ouvidos atentos que se interessam em imergir nesse mundo. Ainda estamos no início do processo, mas já estamos empolgados para explorar essas histórias. Queremos também explorar mais o campo do audiovisual, contextualizando esse álbum em clipes. Temos um show confirmado para o dia 2 de Novembro aí em Salvador, no Rio Vermelho.

O rock está fora de moda, meio fora do que está em evidencia no mercado. Mas isso, me parece, favorece a liberdade e a possibilidade de criação, é por ai, qual o sentimento de vocês, tendo uma banda de rock no interior do país?

Esse é um bom ponto! Eu particularmente enxergo música com o olhar de quem mistura ingredientes num caldeirão. Alguns gêneros musicais se consolidam em um espaço e tempo muito específicos, sejam por ferramentas disponíveis, tecnologia, tendências mundiais, ou o que mais for. O que não significa que eles se encerrem ali. O próprio rock dito clássico já é uma amálgama de outros movimentos musicais originários. Então, enquanto ingrediente, creio que o rock sempre vai reverberar, o mercado abraçando ou não. Seja numa artista pop carregando sua música com guitarras distorcidas, seja num cantor de trap com uma postura e atitude usuais do gênero. O rock é apenas mais um dos ingredientes que deixa a brincadeira mais divertida! Enquanto uma banda do interior da Bahia, enxergamos no rock uma ponte, que foi traçada lá no início da construção musical de cada integrante, tensionando sempre o que ele foi, o que ele é, e o que ele pode ser.

Ouça as músicas da Iorigun:

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