Ouça o novo, também

Porque o novo incomoda tanto? Especialmente aos que acham que já passaram da idade de ouvir novidades. Parece medo de assumir que aquela banda ou artista que carrega no coração desde a adolescência vai ser substituída ou ter uma companheira naquela vaga ali reservada só para os melhores. Muito fácil apostar só no estabelecido, mas se dependessemos disso, ninguém montaria uma banda nova, ninguém pegaria no violão para fazer uma canção, o melhor já estaria mesmo feito, para quê algo novo? Para esses o saudosismo barato vale mais do que a busca por novidades. Em que se pese esse período de hypes e coisas novas chovendo mais do que os sapos de Magnólia, não há mal em se valorizar o novo. Isso não significa desvalorizar o que já passou ou não reconhecer o valor da história. Além da facilidade de se conhecer bandas e artistas novos e velho, o melhor destes tempos de grande oferta de produção musical é que parece que não há mais espaço também para esse saudosimo antiquado.

Quem evita as novidades alega que o melhor já foi feito e que não precisa ouvir meras cópias do que já existe. Discurso fácil e contraditório. Como se toda a música produzida nos anos 50, 60, 70 ou mesmo 80 fosse original. Como se os Beatles, o Rolling Stones ou Caetano Veloso – só para citar medalhões – não tivessem pegado referências de artistas anteriores e só com o tempo dessem uma personalidade maior a sua música. Como se antigamente não existissem artistas com os mesmos problemas para criar quanto os de hoje. Como se não existissem tempos atrás grupos que foram apenas moda passageira. Esse saudosismo barato em gêneros como rock e música eletrônica são ainda mais contraditórios, visto que são mundos cheios de auto referências e sub-gêneros, com misturas sendo formatadas a todo momento e sempre (re)surgindo com novidades. Não reconhecer o valor do novo é ser tão limitado quanto só valorizar a novidade e não olhar para a história. E quem ilustraria melhor o novo hoje? Radiohead? Los Hermanos? LCD Soundsystem? Nação Zumbi? Quem está fazendo o autêntico novo sem olhar para trás? Na verdade, quem já fez isso na história? Jogue a primeira pedra.

Gringos nos festivais
Os principais festivais independentes brasileiros, vide Abril Pro Rock e Porão do Rock, estão de olho em artistas estrangeiros de médio porte para substituir os grandes nacionais. A tendência é vermos muitos bons nomes gringos passarem por cima da Bahia em direção a festivais pelo Nordeste. As especulações falam em Sonic Youth no APR. Provável que os Mutantes também subam para alguns festivais como Mada e o próprio APR. Alô, produtores baianos.

MTV não faz falta
Não muda muita coisa a decisão da MTV de passar vídeo-clipes, já que a emissora há algum tempo tirou seu foco na música. Incomoda a desculpa dada pela emissora de que o formato não cabe mais no veículo TV. O que acontece é que a produção das grandes gravadoras, principais parceiros da MTV, não têm mais como manter novidades o ano inteiro. Viva o You Tube!

  1. Luciano, parece que vc quer assumir de vez a função de porta-voz das novidades e do “novo”. Acompanhar o “novo” no pop, ainda mais nos tempos da internet, alem de exigir uma dedicação integral, exige um conhecimento enclopedico de cultura pop,alem de ser uma tarefa impossivel para qualquer um devido a oferta infindavel de novos sons e bandas. Admiro sua postura, mas não tenho identificado cultura pop suficiente na suas intervenções para manutenção do seu discurso. Realmente vivemos tempos admiraveis, a internet, e o acumulo de informações no mundo pop, indicam possibilidades fantasticas e formidaveis.Me dedico ha varios anos a ouvir rock’n’roll, tenho ouvido (e estudado na medida do possivel) dezenas de novas bandas, como faço rotineiramente ha decadas, alem de ser um consumidor voraz de informação pop NA FONTE, antes mesmo de surgir nas ilustradas da vida.Qualquer um pode fazer isso agora com a internet.A pergunta é , porque vc parece fazer isto tão pouco.Vamos discutir popismo vs rockismo? Vamos discutir a questão da palavra ghost no pop? Podemos ficar horas dizendo nomes de bandas desconhecidas um pro outro, isto quer dizer algo? Acho que è provavel que eu tenha escutado(mesmo) mais um pouco de bandas novissimas e desconhecidas, o que não me tornaria um especialista no “novo” de forma alguma.Vc é hoje o principal jornalista de”rock”, da cidade(thank god), e cabe a vc mesmo levantar este tipo de discussão, o que acho positivo mesmo.Agora Radiohead novo?

  2. por exemplo: ludov e gram, as duas ultimas “bandas novas” que tiveram um reconhecimento nacional, eu conheci na mtv… a vanguart eu só não conheci na mtv pq conheço hélio há muito tempo.

  3. ok computer, ok luciano.
    legal a sua análise mas fica parecendo q vc confunde novidade com o “novo”. vc é um cara formado e com certeza sabe quem é roland barthes, certo?
    ele falou uma coisa que define essa discussão:
    “enquanto a novidade apenas atualiza o Mesmo com pequenas alterações cosméticas, como vemos acontecer diariamente na mídia, o novo seria o ponto de ruptura onde se anuncia algo radicalmente diferente do que até então existia”.
    continuo acompanhando o q está se produzindo na musica em geral, mas muito pouco surgem coisas interessantes. com certeza, a musica pop e o rock, já esgotaram todas as opções e possibilidades, principalmente no q diz respeito ao som, sonoridade. o q me parece o diferencial mais importante atualmente é o q o artista diz, nas letras ou na parte literária de uma canção.
    e acho q vc concorda q essas bandas “novas” são muito fracas neste tema.
    quem acha q radiohead (banda legalzinha)é um grupo “novo” e radical por ter feito kid A ou amnesiac, por acaso já ouviu a doideira de ummagumma do pink floyd de 1969? e quem achava pink floyd inovador nos 60 teria ouvido stockhausen anos antes ou erik satie fazer aquelas experimentações ainda no início do seculo 20? o complicado dos “novidadeiros” é não querer saber de nada e ignorar a trajetótia das coisa.
    acho meio impossível existir “novo” na musica pop ou no rock ou mesmo na musica popular. o q é meio chato é o deslumbre com a “novidade” e aí voltamos ao q disse barthes, com muita autoridade….

  4. Depende do que você chama de novidade. Gram e Ludove podem ser consideradas novidades por serem bandas novas, pouco tempo de vida, mas sua música não se encaixa na expressão “fazer o novo”. É uma mesmice que me incomoda.

    Mas quem evita esse tipo novidades (Strokes, Gram, e outras chupações chatas), nem sempre alega que o melhor já foi feito. No meu caso, quem me conhece sabe o quanto eu busco novidades contemporâneas. Só que quando se fala de novidades, eu levo ao pé da letra, não considero Cansei de Ser Sexy uma novidade apenas por ser uma banda nova, ou por ser cult. Acho eles horríveis.

    Muita gente na história fez coisa nova. Muita gente pode jogar pedra. Se quiser vamos brincar de citar artistas que pautaram seus trabalhos na busca pelo novo. Existem milhares. Independente de gosto, mas com a boa fé necessária para julgar um trabalho inovador, ou apenas diferente, seja bom ou ruim, posso citar muita coisa que trafegou entre a música pop e o experimentalismo. Radiohead e Nação Zumbi, por exemplo, mesmo olhando para traz e trabalhando de um experimentalismo, uma vanguarda, eles fazem música nova sim, como muitos. Eu não entendi o motivo deste texto.

    Quem evita as novidades hoje é o próprio público do rock, que, repito, se tornou um gênero conservador, fundamentalista. Sei que estamos discutindo música pop. Nesse âmbito, eu me calo, pois não posso exigir novidades. Tenho consciência de que com o passar do tempo, mas o pop perderá a qualidade e será mais difícil de achar coisas boas, como procurar agulha no palheiro. Antigamente era mais fácil sim, Led Zeppelim era pop, Beatles era pop, a ambas eram geniais. Desde o Nirvana não vejo muita ousadia na música pop, mas sim um conservadorismo que cresce com o passar do tempo, por questões óbvias.

    Em se tratando de rock, de projetos e bandas que não se preocupam em ser pop ou seja lá o que for, ai sim eu exijo novidade e abomino qualquer manifestação tosca, repetitiva, despretensiosa e chupada, como as citadas Gram, Ludove, Cansei de Ser Sexy, etc. desde quando Los Canos, por exemplo, é rock?

    Existe coisa nova aos montes. Mas nesse âmbito da música pop, é cada vez mais difícil achar vida.

  5. porra, sonic youth no brasil, de novo??

    nada contra a banda, nada mesmo.

    mas festivais independentes começam a ficar com cara desses festivais produzidos pra massa cega.

    vide o festival de verão que não faz questão de apostar em novas atrações e todo ano é aquela babação em chiclete com banana. só pra citar um exemplo.

    qto ao desabafo, correlacione ai, que eu boiei!

  6. Sei não.
    Acho que falar sobre esse assunto morando aqui na terra do Axé, é complicado.
    Se todo ano o Festival de Verão coloca Chiclete com Banana e Ivete Sangalo, é porque o povo vai e paga caro pra ver.
    De novo e de novo.
    Ai o cara vai lá e bota uma bandinha nova, que vai tocar pra 10 pessoas só, pq o resto vai ouvir a primeira música, achar uma bosta e vai comprar cerveja e se embreagar pra queixar as feia lá.
    Por mim morre todo mundo. Inclusive eu.
    Yeahhh

    Rock novo, rock velho, rock de mulher… ligo pra isso não. Se for divertido já ta valendo.

  7. Não entendi… o fato de o Sonic Youth tocar no APR gerar um comentário como esse! Porque os festivais independentes estão se parecendo com o festival de Verão? A proposito, o festival de Verão não é um festival independente, ele é feito nos moldes da Indústria Cultural local, apesar de dar espaço para música independente, às vezes. Ainda sim, Sonic Youth no APR não seria uma ótima notícia, mesmo que de novo?

  8. ricardão, importante vc não ligar para o tipo de rock que é feito, independente do tempo e se é feito por mulheres e tals. mas esse lance que vc citou sobre uma banda nova em festival é um comentário pífio, na moral.

    falei da diversidade, de trazer algo novo (não de duração, contemporaneidade, falei do ineditismo), algo que nunca foi mostrado aqui.

    claro que tem de trazer algo que gere demanda. tipo, já pensou num cramps em pleno apr?? eu ia ao delírio, mas não era só com mais 9, não. tem um caminhão de gente querendo ver cramps por aqui. precisa-se de amplitide na visão…

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    eduardo, vc tocou no ponto… estou falando que os festivais independentes começam a se aproximar, para o mal, do formato e fórmula de um festival de verão da vida, por exemplo.
    acho que eles poderiam continuar ousando.

    o último show que vi do sonic, foi uma bosta, lá no claro que é rock. o do tim foi superior. por isso e pelas questões que já esclareci, não queria sonic youth de novo no apr, mas entendeo a sua excitação.

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    Luciano, sim, o sy nunca tocou no nordeste. acredito que por burrice dos próprios produtores de shows da região.

    ficava mais barato e tals trazer para cá nas outras oportunidades. não sei como vai ser agora, mas não saio de salvador, gastando aquela grana pra ver sonic youth de novo. se o apr anunciar outra banda legal, mais inédita em terra brasilis, eu vou.

  9. Eu acho que o Sonic Youth ficou morno desde o Nurse, mesmo assim não é um disco ruim. O mais recente eu escutei pouco, não me agradou muito. A última obra prima deles foi o NYC Ghost and Flowers. Eu sou suspeito pra falar deles, sou puta deles, e mesmo estando “morno”, ainda é uma banda peculiar com um estilo único (novo!), e que vale a pena. Mas, posso falar merda, festivais como o APR estão se aproximando de festivais como o Festival de Verão? Isso não seria exagero não Miwky? O Festival de Verão é outra extrutura, outro conceito, outra proposta, outra intenção.

  10. rapaz, creia nos deuses do rock que eu esteja exagerendo, mas só o tempo irá nos responder.

    sim, e não falei da banda. tem trabalhos muito bons, eu adoro o the experimental…, até hoje.
    o que comentei foi do show, que independente da banda ser boa, pode muito bem e foi, ruim. e não era tim, não, ainda era free jazz…

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