Produção Distância Música Bahia

Música sem Fronteiras: distância não é limite para produtores

Atentos às mudanças do mercado musical, produtores baianos vencem barreiras geográficas trabalhando online.

Por Leandro Pessoa*

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Direitos autorais X plataformas de streaming.

O apreciador de música que aperta o play na plataforma de streaming muitas vezes não tem dimensão das etapas envolvidas na produção daquela faixa. Foi necessário compor, elaborar um arranjo, ensaiar, gravar, mixar e masterizar a música até que ela chegasse ao conforto do seu aparelho. E para que essa jornada seja cumprida pelos artistas com alinhamentos estético e técnico existe o trabalho do produtor musical. A boa nova é que com a democratização das tecnologias esse profissional vem conseguindo reduzir custos e ampliar o alcance do seu trabalho, dispensando até mesmo a necessidade de deslocamentos geográficos.

Essa liberdade territorial faz parte do modus operandi do produtor Iago Guimarães, fundador da Casinha Lab – estúdio situado em Juazeiro, Bahia. Da sua sala ele costuma realizar produções com artistas para além da cidade, até mesmo de fora do país. Foi assim com a cantora inglesa Natalie Banna com o single ‘Not a Kid’. “Fizemos a pré-produção a partir de conversas pelo Skype, ao longo de duas semanas. A Natalie me mandou fotos dos estúdios que tinha acessível em Londres e escolhemos um. De cá coordenei a logística da gravação de voz e violão junto ao técnico inglês, depois gravei o restante, mixei e masterizei”, explica o produtor. Alguns dos custos dispensados nesta produção: transporte, estadia e alimentação.

Mantendo a essência

As mudanças no processo de gravação musical passaram por um boom no início do século XXI com músicos conquistando acesso a equipamentos de áudio digital de qualidade e à informação técnica. Se em um primeiro momento estas produções independentes soavam amadoras, hoje elas ditam tendências no mercado da música. Como é o caso do produtor baiano Rafa Dias, da banda Attooxxa, que assina a produção da faixa ‘Elas Gostam’ – música mais tocada no carnaval de 2018 na versão do Psirico.

Para o Verão de 2019, a ÀttooxxÁ lançou alguns singles com produção de Rafa, o mais visualizado dentre eles é fruto de uma produção online: ‘Chora Viola’, que conta com a participação do pernambucano MC Tocha. “A gente se conheceu pelo Instagram pela semelhança entre os nomes, acabamos escrevendo e gravando essa música em uma conexão Salvador-Recife.

O trabalho depende sempre das pessoas envolvidas: a visão é conseguir, mesmo de longe, manter a essência que a música pede. E muitas vezes é ela mesma quem aponta o caminho”, reflete Rafa que também trabalhando online produziu o álbum “Nêgo Roque” (2017) da banda OQuadro e prepara o próximo álbum da cantora Larissa Luz.

Tudo ao mesmo tempo

A troca de figurinhas, característica do processo criativo entre produtores e artistas, agora acontece por meio de links compartilhados em conversas de Whatsapp ou videochamadas no Skype – parte desse processo inclusive é revisitado, facilitando a lembrança de decisões e sugestões tomadas na dinâmica das redes.

Em alguns casos, o produtor se vê atuando em mais de um trabalho ao mesmo tempo. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o guitarrista Paulo Mutti: radicado no Rio, ele veio a Salvador no início do ano acompanhar uma gravação que já vinha produzindo à distância com o cantor Filipe Lorenzo. Ao mesmo tempo teve de dar conta de monitorar virtualmente uma sessão de bateria que acontecia no Rio de Janeiro para o álbum da cantora Brina.

“Eu me percebi produtor quando me dei conta de que, mesmo atuando como músico, eu sempre me envolvia em todas as outras etapas da gravação. Daí nasceu uma paixão por encontrar em cada artista a verdade da canção. Seja presencialmente ou online a música nos une”, conta Paulo que costuma realizar de 50 a 90% das sessões de gravação em seu próprio homestudio.

Curso para produtores

A movimentação do zap do produtor e tecladista Tito Vinicius também é predominantemente musical. Em meio as conversas de família, estão as conversas com os diferentes artistas que ele produz, como o rapper baiano Nouve que reside em São Paulo.

Através da conexão online eles realizaram o single ‘Quero Resolver’. A parceria se estendeu para a construção de um show inteiro que será apresentado por Nouve na capital paulista no próximo dia 11. Também online Tito compartilha da sua experiência como produtor ministrando um curso à distância – um termômetro de a quantas anda a demanda por este profissional no mercado.

“O público do curso é variado, recebo de músicos profissionais que querem iniciar as suas próprias produções, a DJ’s e jovens rappers que querem começar fazendo as suas próprias batidas. É um convite para estudar não só a técnica musical, mas também a estética, o uso dos equipamentos”, explica Tito. Pela formação já passaram músicos reconhecidos da cena musical baiana, como o percussionista JapaSystem (Baianasystem), a cantautora Neila Kadhi e o tecladista Fabinho Scoob.

Transformação

A conquista da autonomia no processo de produção vem transformando toda a cadeia musical, consequentemente também a vida dos profissionais da área. Iago, por exemplo, atuava como tecladista no circuito independente baiano, quando, em 2011, conheceu o trabalho do produtor independente Paul Meany (vocalista do Mutemath) e teve um insight profissional.

“Foi ele quem me mostrou que era acessível produzir de maneira independente com qualidade e sem ter de atender a cartilhas de equipamentos ideais”, explica. Hoje ele já conta com cerca de 150 álbuns gravados e, no dia mesmo desta conversa, tinha seis faixas aguardando os seus cuidados para serem mixadas.

* Leandro Pessoa é jornalista e produtor do @musicaqueopariu

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