NATAL CELEBRA OS INDEPENDENTES

Existe um universo paralelo na música que nem todo mundo conhece. Assim mesmo o público é enorme e os festivais pelo Brasil vem comprovando. São os principais espaços para a música alternativa aparecer. E se Salvador ainda carece de um destes eventos, Natal (sim, a capital do Rio Grande do Norte) já desponta com o segundo. No começo do mês, dias 6 e 7, aconteceu o Festival do Sol, em Natal [sim, a capital do Rio Grande do Norte], com cerca de quatro mil pessoas pagando para ver 27 bandas das mais diversas tendências do rock brasileiro. Do pop escancarado ao hardcore tosco, do indie rock cantado em inglês à MPB experimental.

Em dois palcos, desfilaram bandas ainda sem muita novidade, boas surpresas e shows marcantes como o dos novatos e locais Os Bonnies, garotos que visitam os anos 50 e 60 com um rockabilly de alto nível e aos berros proclama: “it´s only rock´n´roll, baby, e é pura diversão”.

E se falam de diversão, garantia de satisfação é com a Retrofoguetes. Foram unanimidade, com imprensa e público colocando o show dos baianos entre os três melhores do evento. O trio, que provocou as primeiras rodas de pogo, vai se tornando especialista em agitar as massas por onde passa com sua mistura de surf music, trilha de desenho animado e música folclórica do leste europeu.

Os pernambucanos da Mombojó não fizeram por menos e com sua excelente junção de MPB, rock, samba, eletrônica e até brega colocaram o público no bolso na primeira noite. Levaram com maestria a sonoridade do álbum “Nadedenovo”?, algumas músicas novas e uma versão de “Baby Doll de Nylon”? [Robertinho do Recife/Caetano Veloso]. O excelente show foi sem dúvida um dos melhores do evento.

Os paulistas da Gram tocaram com o público ganho. Um desfile de belas melodias e influência do Brit Pop. Já conhecidos com hits como “Você Pode na Janela”? e “Sonho Bom”?, mostraram versões de “Across the Universe”? [Beatles] e “Dias de Luta”? [Ira].

Barulheira dos inferno

Na segunda noite, o Matanza (RJ) deu um coice de rock´n´roll sujo malvado e bêbado. O country-core e o universo de faroeste do grupo mostra como se aproveitar do hardcore e ser criativo com ele. Rodas de pogo, moshs e delírio geral dos cerca de dois mil garotos que babavam por rock no local.

Mas se houve algo violento e rápido foi o rolo compressor do Mukeka di Rato, do Espírito Santo. Se vivem falando em porrada nos ouvidos, aqui sim. Um esporro jorrado de guitarra, baixo e bateria. Hardcore sem firulas ou disfarce. Quanto mais o som acelerava mais roda de pogo crescia e se agitava. Por alguns minutos, Natal era a sucursal do inferno na Terra.

O indie-rock nordestino esteve presente em três frentes de estados diferentes. Vindo de Fortaleza, o Fóssil causou estranheza para quem não estava acostumado a ouvir músicas instrumentais de cerca de dez minutos. Excelente sonoridade post-rock, extraída de guitarras e pedais, num grande apresentação.

A Snooze (SE), desfalcada de um guitarrista, fez um show aquém do costumeiro, mas as boas melodias e guitarras estavam lá. O melhor momento da apresentação foi quando convidaram a banda Bugs [local, mas ausente do festival] para uma cover do The Who.

A tríade se fecha com a autêntica guitar band sem baixo dos pernambucanos da Vamoz, num show destoante na noite hardcore, mas de qualidade irretocável.

A potiguar Experiência �pyus ainda varia momentos inspirados e outros nem tantos, mas se propõe a fazer um trabalho interessante, focado em violões e com uma presença de samba e MPB aliado a postura rocker. Outra atração local que mostrou qualidade foi o guitarrista Edu Gómez, um músico de alto nível que talvez apenas não combine sua música virtuosa com um festival deste tipo.

Mais do mesmo

Uma série de bandas medianas figuraram no festival, não fazendo feio, mas também não somando tanto. Caso da carioca Polar, que fez um show morno, com canções românticas, mas sem tanta inspiração.

Os locais do Uskaravelho, Peixe Coco, Allface e Officina (banda que fez o último show de sua história de mais de seis anos) também mostraram qualidades, com shows corretos, apesar de alguns defeitos no som (um problema em alguns shows), mas ainda precisam se desvincular das influências que norteiam seus trabalhos, ganhar mais personalidade e arriscar. Impressionante é como o público conhecia boa parte das músicas e cantava junto. Isso graças ás rádios locais, que vêm dando espaço para a produção independente local.

Na segunda noite, o Projeto 50, da Paraíba, mostrou um criativo trabalho com hardcore, não se contentando com os clichês e se aproveitando de outros elementos do rock para fazer um bom show. Mas nem todos conseguem fugir das fórmulas. Pelo contrário, em alguns momentos, parecia que era uma mesma banda que apenas trocava de palco.

Batidas frenéticas, guitarras sujas, letras de amor sem muita inspiração foram a tônica da segunda noite. Do esforçado, mas muito pouco criativo, Zero8Quatro, de Natal; passando pelos cearenses do Switch Stance e chegando nos paranaenses do Sugarkane.

A impressão é que todos passaram pela mesma escola de como se fazer shows para agitar a moçada, mas que no fundo é bastante repetitivo e chato. Os mesmos temas, a mesma postura de palco e até música com nome igual. O Hardcore melódico talvez seja hoje o gênero musical que mais consegue unir o publico jovem em lugares diferentes do Brasil. Uma pena.

Também de Natal, o grupo Jane Fonda assumiu uma nova postura. Mais pesado, mas sem largar mão da veia pop, fizeram um bom show, agradando bastante a platéia que cantou junto todas as músicas. Pena que a proposta de reunir, peso, berros e letra sensíveis não faça a mínima diferença.

Além dos dois palcos, um outro, localizado no bar Do Sol, dava início às atividades do festival com grupos iniciantes. Destaque para a banda Revolver, mais um grupo de garotos saudosos de momenots que nem viveram, encarnando bem os sons dos anos 60. Boa aposta.

O impressionante em um festival como esse, é a oportunidade de reunir em um só lugar bandas e todo um ambiente direcionado para a música independente. Além dos shows, stands de selos, mostra de fanzines e um encontro da turma do Nordeste Independente que vem promovendo o mercado alternativo pela região. Tudo isso num evento muito bem organizado, com sucesso de público e tratamento digno a todos os envolvidos. Longa vida ao Do Sol.

Para quem gosta de música sem preconceitos.

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