Fim de semana PUNK

Na sexta-feira, uma noite que prometia ser boa transformou o Calypso num antro de roqueiros loucos. Era a festa do programa Rock Loco (para quem não sabe, programa que sete roqueiros de Salvador apresentam se revezando de terça a sexta, das 20 às 22 horas, na Rádio Primavera FM- 103.5), que comemorava seis meses de existência. Festinha com direito a bolas de aniversário recheadas de purpurina, glam total, e evidente, muito rock. Oswaldo, Don Jorge, Chicão e Ronei foram responsáveis por começar a esquentar as turbinas, com o povo ainda chegando (o Calypso lotou, mas só às duas horas da manhã que o bicho pegou mesmo). O velho Rogério Big Brother botou todo mundo então para dançar com suas misturas de rock, black music e esquisitices, claro com compactos e um monte de vinilzão. Esse que vos fala discotecou em seguida até morgar totalmente. Muito boa a festa. Por mim rolava todo mês.

E o sábado?
Sabe aqueles dias históricos? Que parece que os astros se aliam e tudo dá certo? Que um clima de felicidade, uma atmosfera de alegria contamina todo mundo? Pois foi assim, na festa de relançamento da revista eletrônica Claque. O novo espaço criado pelo pessoal da São Rock é um acerto. Bem mais confortável e maior do que onde costumeiramente acontecem as matinês no outro shopping da outra loja São Rock.

Quem começa a seqüência de shows é a banda Satélite do Amor, das simpáticas Gabriela Almeida e Greice Schneider (o resto da banda é de coadjuvantes de peso, Bruno Carvalho no baixo, Rafael no teclado e Ronei Jorge na bateria). Foi a primeira apresentação da banda para um público formado por não só conhecidos/ amigos, mas apesar do nervosismo mandaram muito bem. Cover de Lou Reed (“Satelite of Love”?, que dá nome a banda) e Velvet (“Who Loves the Sun”?), músicas próprias de alto nível, com letras e melodias bem interessantes e um sonzinho bacana para uma tarde tranqüila. A mistura da guitarra de Greice, baixo, bateria, os sonzinhos do teclado e a voz marcante de Gabriela ainda vão render muito.

O clima só ganhou mais emoção com o show da Soma. Nada como a vontade de tocar. Era o que estava explícito no som que os quatro integrantes da banda tiraram de seus instrumentos. A alma exposta em forma de música e o público incorporando aquele sentimento. Era comentário geral o excelente show e como evoluíram do início da formação para agora. O tempo que o grupo ficou distante dos palcos contribuiu ainda mais para a dedicação por cada acorde, cada sutileza de uma batida e das linhas melódicas. Precisam gravar urgente e não deixar o público esperando tanto por um show tão magistral.

Para fechar a noite, uma das melhores bandas do Brasil, Ronei Jorge & Os Ladrões de Bicicleta. É realmente tocante a emoção com que Ronei encarna suas belas composições. Com uma banda tão boa sustentando as canções, não dá para o público apenas assistir. Aos poucos, cada um vai aprendendo as letras, cantando e se emocionando junto. Cada rosto ao redor do “palco”? e “em cima”? dele era de satisfação. Numa mesa, dá para ver a namorada de um cara, que parecia ter ido ali apenas acompanhar o respectivo, comentando: “Pô, gostei, muito bom, muito bom”?, ao ouvir as primeiras batidas de um sambinha. E é isso que Ronei e sua banda (Edinho na guitarra, Sérgio no baixo e Maurício Pedrão na batera) fazem tão fácil e genialmente, juntar música brasileira, rock e um pouco de jazz, mostrando para qualquer ouvido que música tem a ver com qualidade e personalidade e que existe música brasileira feita nos dias de hoje de alto nível. Fizeram mais uma vez um dos melhores shows do ano. O sentimento geral no fim dos shows era de como existem coisas boas para se ver e principalmente ouvir na cidade, é só saber onde achar.

A noite tinha mais
A noite no Calypso mais uma grande festa para celebrar o rock. É ele morreu, mas continua ao lado do pai. E o Calypso mais uma vez provou isso, com todo mundo colocando seus demônios para fora. O show trazia Marco Butcher, 1/3 da banda paulista Thee Butchers Orchestra. Ele encarou vir a Salvador e mostrar um pouco de seu som e porque é considerado como um dos principais nomes do rock independente brasileiro. Para começar, se apresentou sozinho. Bem, não tanto, empunhando sua guitarra e usando o pé para “tocar”? bumbo, tocou rock, blues, soul e por aí vai.

Mas o melhor foi quando pediu licença para o DJ Sputter, que discotecava grandes sons de rock obscuro, e acompanhado de Morotó Slim na guitarra e Dimmy Drummer na bateria voltou a soltar petardos. Rock exalando no calor de Salvador, segundo Marco o único defeito da cidade (ele não viu nada, precisa ver o Calypso no verão). Aos poucos, foi cantando clássicos de Muddy Waters, John Lee Hooker, Bo Diddley, Howlin Wolf, Willie Dixon, entre outros.

Até chamar um ídolo local para cantar. Moska Billy é quase uma lenda local pelos incríveis shows que deu na frente do Dead Billies. E não deu outra, parece que tinham apertado um botão para todo mundo se esbaldar, sacolejar, dançar e pular. Melhor, Marco chamou Rex e como num passe de mágica, o The Dead Billies estavam de volta (pelo menos ¾ dele). The Living Billies. Kinks, Milkshakes, The Cramps e claro, The Dead Billies no repertório. Muitos ali presentes nunca tinham visto uma das melhores bandas de rock do Brasil ao vivo, foi a pista para todo mundo soltar os bichos e transformar o Calypso num caldeirão de suor, calor e muito rock. O chão quase foi abaixo.
Inesquecível.

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