Otimismo ou pessimismo

Salvador há alguns anos passou a ser foco da mídia de todo país devido a um de seus principais produtos: a axé music. O gênero foi estimulado pela grande indústria, abraçada pela mídia e financiada pelo governo do estado. Em troca disso, a cidade viveu a escuridão em relação a outras manifestações culturais. Na semana passada, mostramos um dos aspectos que a capital baiana sofreu como conseqüência da monocultura da axé music. Colocando as cartas na mesa, o que vemos é que Salvador está há alguns anos atrasada em relação a muitos fatores e um dos principais deles é a cultura pop. Especialmente música. O fato é que apesar de todo o atraso, com o axé perdendo a força, há cerca de três, quatro anos as coisas começaram a andar. Já tivemos momentos melhores, mas com a explosão da axé music tivemos que recomeçar. Zeramos tudo. Se shows de rock e afins eram ocasionais, hoje já existem opções toda semana. Se antes estávamos fora do circuito de shows nacionais, hoje recebemos boa parte das principais bandas nacionais do circuito pop e rock, seja do mainstream, seja do universo independente. As coisas começam – reforçando – começam a se equilibrar. Hoje não são mais apenas os shows de axé, pagode e forró que recebem grandes públicos. As rádios já baixaram a guarda [com auxílio do enfraquecimento do jabá] e iniciam apostas em outras sonoridades. Ainda lentamente, mas já mostram querer mudar. Para se ter uma idéia, hoje existem quatro programas dedicados ao rock no dial de FMs locais. Pouco, Salvador já merecia uma rádio voltada exclusivamente para o seguimento pop e rock, mas é um começo para quem há pouco tempo respirava samba de uma nota só. Ainda falta muito, sem dúvida. A Axé Music não foi capaz de deixar como herança ao menos uma grande casa de shows na cidade. O rock e a música pop sofrem com a dificuldade de um espaço. Faltam os shows internacionais e um grande festival. A avaliação é que estamos muito longe do que uma cidade do porte de Salvador precisa. O que alguns não vêem é que as coisas acontecem aos poucos e elas estão melhorando na cidade para quem gosta de música pop. Dois passos para frente e um para trás.

Público
Outro reflexo negativo dos mais de dez anos de domínio da Axé music é o pouco conhecimento de cultura pop em Salvador. Não é necessário que a cidade respire rock ou que seja a capital de shows do país. No entanto, o atraso em relação a cidades de mesmo porte é patente. Quem viaja pelas capitais do país nota isso de forma mais clara. Uma cultura própria forte não significa desconhecimento do que vem de fora. Talvez foi a principal lição deixada por Chico Science em Recife. Valorização da cultura própria, popular e tradicional, sem preconceito, e, ao mesmo, mente aberta para influências externas. Foi assim que a Bossa Nova, a Jovem Guarda e a Tropicália também deram certo. Rock, axé, MPB, música regional, jazz, afro beat, hip hop podem conviver pacificamente e um alimentar o outro. “Um passo a frente e você não está mais no mesmo lugar”.

Dial rock
Para quem ainda não sintonizou as ondas dos programas de rock, confiram. Toda terça-feira, às 21 horas, tem “Rock´N Geral” na Rádio Educadora. Às quartas, também às 21h, rola o “Jam Session Rock”, no 103,9 da A Tarde FM. Na quinta, dois programas. “Hora do Rock”, na Globo FM, às 21h, e logo em seguida na Transamérica FM, o Alta Voltagem, a partir das 23h até a 1h. Um bom recomeço nas rádios.

Agenda
Apesar de totalmente de fora da agenda de shows internacionais, Salvador se firma no nacional e continua recebendo uma infinidade de bandas de outros estados. Até o fim do ano teremos Ira!, Cachorro Grande, Matanza, Ratos de Porão, Negroove, Mop Top e Los Hermanos. Enquanto isso parece que está certo Iron Maiden em Recife.

Rock no Carnaval
Estão abertas as inscrições para as bandas que quiserem participar do 13° Palco do Rock, que acontece durante o Carnaval de 2007 em Salvador. É uma oportunidade para os que gostam de reclamar que na festa não existem opções. Uma pena, no entanto, que aqui ainda gostem de isolar o rock e separa-lo totalmente do resto da festa. Para inscrição, o evento aceita bandas de qualquer estilo de rock. Os interessados têm até o dia 20 de outubro para procurar o Clube do Rock [www.accrba.com.br].

Para quem gosta de música sem preconceitos.

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