Alguns mitos foram quebrados no show de Elton John neste sábado (22 de fevereiro), em Salvador, mas isso pouco interessa. O importante foi ver o veterano cantor e compositor inglês desfilando ao vivo em cerca de 2h30 o que poucos artistas no mundo possuem: um repertório vasto e respeitável que ultrapassa décadas e emociona os mais diversos públicos. No maior show internacional que Salvador já recebeu e primeiro da Arena Fonte Nova, Elton John mostrou porque aos 66 anos ainda está entre os grandes showmen do planeta. Com um pequeno atraso, entrou no palco e apresentou uma sequência incrível de hits, com um primor e um respeito que os cerca de 40 mil presentes receberam retornando com um carinho contagiante.
A noite parecia ter saído de uma das canções do britânico, com pontos escorregadios em alguns momentos e trafegando entre o mundo das canções românticas e chegando próximo a linha tênue do mundo brega. A experiente banda, porém, não se rendia aos fáceis arranjos oitentistas que poderia levar o show a uma óbvia apresentação com aquela sonoridade chinfrim de rádio FM adulta eclética. Era baixo, guitarra, bateria (com o mesmo músico que toca com ele desde 1969), percussão e teclado servindo de base para Elton John tocar seu primoroso piano e soltar sua voz firme e precisa. O som que começou razoável se ajustou e permitiu que até quem estava lá nas arquibancadas do fundo apreciassem o que acontecia ali.
Acompanhado ou tocando piano sozinho, Elton John deu uma aula de como manter a atenção e a força do show com músicas novas mescladas a sucesso imortais. Foi do mais puro pop, trafegou por jazz, blues e foi até ao rock, o glam rock e suas origens, o rockabilly. Revelou alguns dos refrões mais preciosos da música pop e trouxe à tona melodias, canções e hits que pareciam esquecidos por quem não acompanha a carreira do músico de perto. O show faz parte da turnê “Follow The Yellow Brick Road” , na qual o britânico atravessa décadas de contribuição para a música pop.
‘Tiny Dancer’ emocionou, mesmo mostrando que o público presente não conhecia toda obra do inglês. Era uma plateia diversificada, com cada grupo curtindo fases e hits distintos do inglês, mas que demonstrava estar disposta a se render à música. Em ‘Goodbye Yellow Brick Road’ o coro dos músicos ganhou ajuda do público, que pela primeira vez no show soltou a voz e fez um canto uníssono na Fonte Nova. Da fase setentista e do clássico disco ‘Goodbye Yellow Brick Road’, ele ainda cantou ‘Benny and the Jets’m, ‘Candle In the Wind’ e ‘Saturday Night’s Alright for Fighting’, que encerrou o show antes de voltar para o bis. ‘Daniel’ trouxe de novo a plateia para junto.
Como não poderia deixar de ser em um show de Elton John, ele lá tem seus momentos kitsch, como boa parte dos vídeos exibidos no telão do palco. Mas mesmos as músicas mais óbvias, aquelas que mais tocaram no rádio e que poderiam ser torturantes ganharam versões à altura, com interpretações e arranjos bastante dignos. Apesar de não incluir ‘Sacrifice’ no set list, não faltou , por exemplo, ‘Nikita’, que ganhou mais força ao vivo com destaque para o piano, sempre em primeiro plano. Outra ausência, de outra fase da carreira, foi de ‘Crocodile Rock’, mas que foi compensada por ‘Rocket Man’, ‘Sad Songs (Say So Much)’, ‘Don’t Let The Sun Go Down On Me’, ‘I Guess That’s Why They Call It The Blues’, ‘Philadelfia Freedom’, ‘Bitch is Back’ e ‘Levon’.
Em ‘Believe’ a redenção já era total e foi um dos pontos altos do show. Mas foi em ‘Skyline Pigeon’ que todos se renderam, do roqueiro radical a idosa que cantava todas as músicas, do ambulante que vendia balas ao fã que chorava copiosamente. Todos cantando juntos, emocionados, balançando e olhando os celulares acesos ao redor e fazendo daquele o momento mais catártico do show. Curioso é que a música é um sucesso que ele só canta atualmente no Brasil, já que não faz parte de nenhum dos principais discos do cantor e foi lançado num compacto que fez sucesso no país com a inclusão na trilha-sonora da novela Carinhoso, de 1973. Depois de encerrar o show e se despedir, Elton John ainda voltou para o bis e cantou ‘Your Song’, canção preferida da amiga Lady Diana. “Vou tocar uma música que, sem ela, essa noite não seria mesma”, disse, antes de finalizar a apresentação e entrar para a história do show business baiano.
Não precisava ser fã, conhecer a obra toda, quem estava ali sabia cantar pelo menos dois dos hits do cantor e compositor, seja a fase setentista, seja um dos sucessos radiofônicos dos anos 80. Quem estava ali se rendeu à música do inglês. Pessoas pela primeira vez vendo um show de maior porte, outros conhecendo melhor a música de Elton John. Casais velhos, novos, hétero e homo, roqueiros, dondocas, povão, gays, patricinhas, grupo de amigos, famílias inteiras, filhos com mães, se deliciaram, cantaram junto, dançaram e estamparam por vários minutos sorrisos de amor, que transbordava por todos os lados. Não é essa a função da arte e da música? Emocionar. O astral de amor impregnado no ar, brotando por todos os lados, saindo do palco, atingindo as pessoas, radiando de volta. Uma comunhão de amor entre diferentes que poucos artistas e poucas outras coisas conseguiriam. Talvez seja comum nos shows do inglês, mas era o tipo de sensação que Salvador precisava viver.
Set List:
Funeral for a Friend/Love Lies Bleeding
Bennie and the Jets
Candle in the Wind
Grey Seal
Levon
Tiny Dancer
Holiday Inn
Sorry Seems to Be the Hardest Word
Believe
Philadelphia Freedom
(Elton John Band cover)
Goodbye Yellow Brick Road
Rocket Man (I Think It’s Going to Be a Long, Long Time)
Hey Ahab
I Guess That’s Why They Call It the Blues
The One
Nikita
Daniel
Skyline Pigeon
Sad Songs (Say So Much)
All the Girls Love Alice
Home Again
Don’t Let the Sun Go Down on Me
I’m Still Standing
The Bitch Is Back
Your Sister Can’t Twist (But She Can Rock ‘n Roll)
Saturday Night’s Alright for Fighting
Bis:
Your Song