A resistência e a beleza dos blocos afro

A essência dos Blocos Afro ganha força nos Carnaval de Salvador.

Blocos Afro

O que seria da música ocidental sem a presença negra? Ou da música sem a África e a diáspora? E da música norte-americana sem a região do Mississipi e New Orleans? Da música latina sem Cuba e a Jamaica? Da música brasileira sem as cidades essencialmente negras? O que seria da música no Brasil sem Salvador? E de Salvador sem os terreiros, os afoxés e os blocos afro? Mal-entendidos, discriminados, pouco falados, menos valorizados do que deveriam, eles persistem, resistem e continuam alimentando a música baiana, brasileira e mundial.

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Dali sempre surgiram novidades e inspirações, Tincoãs, os afrosambas, Moacyr Santos, muito de Gilberto Gil, mais recentemente Orkestra Rumpilezz, Cordel do Fogo Encantado e muito da sonoridade recente de nomes como Otto e Wado, entre tantas e tantas coisas. Serviu até de inspiração para Chico Science valorizar a percussão e criar o Mangue Beat. Influências diversas e fundamentais, consequências diretas e ainda mais indiretas.

Essa música continua viva, forte e fundamental. Os afoxés, os blocos, as bandas produzem num mundo paralelo, fora do circuito das majors, da indústria, das rádios. Fora também do mundo independente, dos festivais, dos Sescs paulistas, dos blogs dos hipsters. Assim mesmo continua forte, essencial, com sua relação intrínseca com a religião, com o candomblé, com os terreiros. Eles que sempre foram, e por muitos ainda continuam, discriminados, rejeitados, menosprezados. Logo eles.

Muitas vezes sem recursos, sem dinheiro, sem respeito, mas eles sempre estão lá, porque nem sempre é pelo retorno físico, financeiro, é uma expressão de um povo, uma manifestação autêntica e irremediável. Se hoje a música africana, o afro beat e o kuduro, por exemplo, estão na ordem do dia e até as bandas e artistas de pop e rock que utilizam estes elementos estão em alta, é importante percebermos que aqui, em nossa volta, nas ruas vizinhas, nos atabaques que tocam nas esquinas, há uma música viva, rica, forte e vibrante. Como o suor, sai pelos poros, das peles negras, exalando sua alma, ainda que intuitivamente,ou até involuntariamente.

Projetos

Importante lembrar que pelo menos dois projetos estão contribuindo para que toda esta riqueza seja preservada. O Carnaval Ouro Negro, da Secretaria de Cultura da Bahia, que contribui financeiramente para que os blocos saiam às ruas no Carnaval, além de produzir um catálogo fundamental com informações preciosas sobre cada um deles (este ano não foi publicado, mas já existem três edições, o último de 2011) . Este ano em sua quarta edição, o projeto vai apoiar 126 blocos.

Um outro projeto, bancado pela Petrobras, foi lançado este ano. O Que Bloco é esse? pretende aproximar os blocos afro e sua música da juventude e de um universo de pessoas que costuma desprezá-los. A proposta é dar visibilidade ao trabalho dos blocos e entre as ações está o encontro dos principais blocos com personalidades do mundo pop. Foi assim que já houve encontros do Ilê Aiyê com o rapper Criolo; do Malê Demalê com outro rapper, Emicida; do Muzenza com integrantes da Nação Zumbi e do Cortejo Afro com Preta Gil que foram registrados como clipes (veja abaixo). Além dos encontros, estão sendo produzidos também documentários sobre cada um dos blocos.

Veja a programação do Mundo Negro dos Blocos Afro no Carnaval 2012

Ilê Aiyê e Criolo – Ilê Aiyê | Que Bloco É Esse?

Malê Debalê e Emicida | Que Bloco É Esse?

Muzenza e Nação Zumbi

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