Os discos de vinil voltaram com toda força há alguns anos, não só com o resgate de LPs originais, mas também com lançamentos de novidades e relançamentos de clássicos. No Brasil, vários selos independentes têm sido responsáveis por levar este material ao público. O jornalista Ricardo Cachorrão fez um panorama das principais iniciativas pelo país. O texto foi originalmente publicado no site Rock On Board.
Por Ricardo Cachorrão*
Chegamos ao fato de que o CD NÃO É ETERNO! O compact disc que não é bem cuidado oxida e tem dados apagados e, lembra-se daquele velho e empoeirado disco de vinil? Se você colocar uma agulha sobre ele, o mesmo TOCA!
E enquanto o CD vai decaindo, devagarinho, vão aparecendo novos interessados nos velhos bolachões, e tem de tudo, tanto velhos saudosistas que mantiveram seus discos, como molecada que se interessou pelos discos de pais e avós e ficou fascinada por todo o “ritual” de se ouvir um disco de vinil.
O mercado de discos de vinil se aqueceu e inflacionou de forma assustadora! Lojas cobram quinhentos reais num LP usado sem peso na consciência e… VENDE! E, de uma hora para outra, inúmeros foram os selos que surgiram no mercado com lançamentos caprichados, que podem ser desde o relançamento de um clássico fora de catálogo, como novidades fresquíssimas, sempre com acabamento esmerado, com o vinil pesado, muitas vezes colorido, encartes detalhados e capas caprichadas, em papel grosso e de qualidade bem acima da média do que conhecíamos décadas atrás.
São tantos os selos, que é impossível eu citar todos aqui num breve relato da cena atual, mas, tentarei lembrar alguns dos mais importantes do momento. E tem para todo gosto!
Läjä Records
Uma ideia bacana que já tem alguns selos adeptos é o “clube do vinil”, caso da Revista Noize, que lançou o NOIZE RECORD CLUB, onde por uma assinatura mensal ou bimestral, o assinante recebe em casa discos caprichadíssimos e exclusivos, como o último álbum do PLANET HEMP, o já cultuado “Jardineiros”, ou o último de CAETANO VELOSO, o ótimo “Meu Coco”. No catálogo, além de lançamentos inéditos, existem discos relançados de gente como SANDRA SÁ, RAUL SEIXAS, GILBERTO GIL, HERMETO PASCHOAL, ITAMAR ASSUMPÇÃO, MILTON NASCIMENTO e muitos artistas novos, como ANELIS ASSUMPÇÃO, RACHEL REIS, LINIKER, RODRIGO AMARANTE, CRIOLO. Existe a possibilidade de comprar álbuns avulsos, um pouco mais caros e em tiragem limitada, vale uma fuçada: https://www.noizerecordclub.com.br/
De Santos, litoral de São Paulo, vem a PECÚLIO DISCOS, do baterista dos Ratos de Porão, Maurício Boka. Como distribuidora você encontrará ali lançamentos diversos do underground, mas o legal mesmo são os lançamentos próprios, de bandas como o ótimo APNEA ou o SURRA, grande nome da atual cena do hardcore nacional. Vá sem medo: https://www.peculiodiscos.com.br/
Também preciso falar do ESTÚDIO CAIXA DE SOM, que lançou o último disco de estúdio do grupo IRA!, “Ira”, de 2020, muito bonito e caprichado e no catálogo também tem disco inédito dos 3 HOMBRES, “Sob o Sol que Nunca Morre”, cultuada banda paulistana dos anos 80. Não dá para não falar de DOM SALVADOR TRIO, que aparece aqui com “Samborium”, álbum de 2022, do pianista Dom Salvador, mestre do samba-jazz / samba-funk carioca. Poucos, mas bons: https://www.estudiocaixadesom.com.br/
Outro “seleiro de craques” é o selo VINIL BRASIL, responsável pela prensagem do último disco dos pernambucanos da DEVOTOS, o ótimo “Devotos Punk Reggae” e muita coisa boa, como JÚPITER MAÇÃ, B-NEGÃO & OS SELETORES DE FRENQUÊNCIA, EDGARD SCANDURRA, BANDA DE PÍFANOS DE CARUARU, BANDA BLACK RIO, AUTORAMAS, Z’AFRICA BRASIL, THAÍDE, MUNDO LIVRE S/A, e grande elenco, garimpe lá: https://www.vinilbrasil.com.br/
A FUZZ ON DISCOS é a junção da Anomalia Discos, de Santo André – SP, da Melômano Discos, de Maringá – PR e da Neves Records, de Santa Bárbara D’Oeste – SP. No site que cada selo é possível encontrar vinis e CD’s diversos, mas, o catálogo do selo é o que interessa aqui, e os lançamentos são caprichadíssimos, como KRISIUM, RATOS DE PORÃO, NERVOSA, JIMMY & RATS, MUSICA DIABLO, JOÃO GORDO & ASTEROIDES TRIO e o lindíssimo relançamento do primeiro disco de LITTLE QUAIL AND THE MAD BIRDS, banda noventista do Gabriel Thomaz, dos Autoramas. Se liga: h ttps://www.fuzzondiscos.com.br/
Já a TRÊS SELOS reúne três parceiros de São Paulo, Capital, que são Assustado Discos, EA-EO Records e Nada Nada Discos / Discos Nada. Tem dois modos de atuação, um “clube do disco”, onde por uma assinatura mensal o assinante tem acesso a caprichados lançamentos mensais, sempre com qualidade muito acima da média. E também a “Três Selos Paralelo”, onde podem se comprar os títulos avulsos. Já vi gente reclamar dos preços, mas, valem cada centavo! Primeiro devemos lembrar que a produção é quase que artesanal, em tiragens limitadas e de bom gosto extremo, tanto álbuns simples, como, principalmente, as Box sets. O catálogo é muito variado, tem desde relançamentos como o “GRITO SUBURBANO”, primeiro disco de punk rock brasileiro, CÓLERA, RATOS DE PORÃO, misturados com gente boa como SIBA, MUNDO LIVRE S/A, JARDS MACALÉ, ARRIGO BARNABÉ, ARTHUR VEROCAI, NANDO REIS, MESTRE AMBRÓSIO, ARNAUD RODRIGUES, JACKSON DO PANDEIRO, CHICO CÉSAR, FELLINI, CARTOLA, NOVOS BAIANOS… Ufa! E isso é só uma palhinha, o catálogo é enorme e excelente. Não marque bobeira, acesse e se divirta: https://tresselos.com/
Podem inventar o método que for para se ouvir música, mas, nada jamais irá superar o ritual de você tirar um vinil da capa, colocar no prato, por a agulha em cima, ouvir aquele chiado do contato com os sulcos do disco, aumentar o som e viajar, com capa na mão, encarte com letras, ficha técnica e tudo de direito!
É isso… Rock on!
* Ricardo “Cachorrão” é jornalista, escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.