Entrevista com Ronei Jorge: "Eu não vou deixar de fazer música!"

Com dois discos marcantes com a Ladrões de Bicicleta, Ronei Jorge viveu um período de shows concorridos na noite de Salvador e muitos elogios Brasil afora. Agora, depois de uma fase com poucas apresentações solos, pós-dissolução da Ladrões de Bicicleta, ele entrou em um novo momento na carreira. Sumido para alguns, mas talvez mais atuante do que nunca para quem o acompanha mais de perto, Ronei, aos 38 anos, deixou a ideia de banda, palco, shows e gravações um pouco de lado. Seu mundo ainda é cercado de música, mas, neste momento, mais envolvido com trilhas, curtas, audições, encontros, ensaios, programa de rádio, e, claro, seu vício recente, o Song Pop, jogo que diz ter sido feito pra ele. Em um bate-papo realizado pouco antes de um “baba” (partida de futebol entre amigos, para o resto do mundo), outro de seus maiores prazeres, Ronei contou sobre seus novos projetos, sua nova postura e visão da arte e do mercado musical atual.

el Cabong: Queria que você começasse falando sobre uma coisa que o seu público, de uma certa forma, pergunta muito. Depois da Ladrões, você fez alguns shows e, em seguida, deu uma segurada. Como pensa sua carreira agora?

Ronei Jorge: Quando eu saí da Ladrões, a banda estava numa fase muito boa. A gente tinha feito um disco que teve uma resposta boa de público, de crítica e pra gente também foi um disco que nos deixou muito felizes. Quando uma banda assim acaba, para todos surgem dúvidas. O que a gente vai fazer? Isso começa a ficar na cabeça. De que jeito você vai se apresentar ao público? Uma outra banda? Um trabalho solo? Essas questões ficaram para cada membro da banda. Só que, para mim, talvez tenha ficado mais forte, porque o trabalho tinha meu nome, porque eu tinha uma carreira. Já tinha feito com a Saci um trabalho de banda que, de certa forma, tinha algum público… Então você começa a pensar um pouco nisso, em como vai ser esse caminho. Inicialmente, eu pensei em montar uma outra banda.

el Cabong: Você chegou a montar

Ronei Jorge: É, mas banda mesmo. Eu não tinha pensado em fazer trabalho solo, não. Acho que porque todos os meus trabalhos foram muito coletivos, até na época da Ladrões, com o nome Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, muita gente perguntava: ‘Pô, mas é uma banda? Ou é um artista com uma banda?’ Eu sempre dizia que eu tinha as minhas músicas, mas tudo era resolvido como uma banda, coletivamente. Eu só mostrava as músicas, a harmonia e melodia, cantava. Os arranjos a gente fazia de forma coletiva. Era uma banda como outra, agora a apresentação que a gente resolveu era essa e até em comum acordo. E, o trabalho com os Ladrões parou, eu falei com Luciano Simas, guitarrista da Saci Tric e meu parceiro em vários trabalhos: ‘Velho, vou montar uma banda.’ Ele respondeu: ‘Velho, você não vai montar mais banda, você vai fazer trabalho solo’. Eu falei: ‘ É, velho?’ Ele fez: ‘É, acho que tá na hora de você fazer um trabalho seu, você é compositor, você tem suas músicas’. E aí eu, Luciano, Ângelo Santiago, baixista irmão de Mariela, e Felipe Dieder começamos a fazer alguns shows. No início, a gente teve uma resposta bem bacana, acho que em parte porque era um público saudoso do trabalho da Ladrões. Eu toquei algumas músicas da banda, claro que com arranjos diferentes porque eram outros músicos. Depois João Meireles se agregou mais uma guitarr e a gente chegou a fazer, uns seis shows, só que o custo começou a ficar muito alto e eu achei que também era uma fase de parar para pensar a carreira. Achei que estava legal, a gente conseguiu alguns arranjos muito bons, mas a produção ainda era um pouco lenta por conta da vida de todos os outros músicos, músicos que trabalhavam com outras coisas.

el Cabong: Isso também porque aí era você dando as rédeas…

Ronei Jorge: Isso, também tinha isso. As decisões todas passam pelo artista solo. Acho que isso ainda é uma coisa bem nova pra mim, é uma experiência bacana, mas depois comecei a pensar que eu ainda estava preso nesse formato de banda, mesmo sendo uma carreira solo. Com esse momento de reflexão, começaram a surgir trabalhos em música que não diretamente relacionados a apresentação em palco. Começaram a rolar trilhas…

el Cabong: Não sei se o que você vive agora, mas lembro que teve um momento que você tava meio desencantado…

Ronei Jorge: Bom, eu estava… Eu fiquei um pouco desiludido, em parte por estar vivendo uma coisa nova – coisas novas são mais difíceis – e também porque via que tinha uma dificuldade de receber uma grana que fosse compatível com os meus gastos.

el Cabong: Tantos os seus, pessoais, como pagar os músicos

Ronei Jorge: É, os gastos eram meus. A gente dividia tudo igual e tal, trabalhava como uma banda também, mas ficou muito difícil. É um momento que a gente está passando, todo o mercado, essa interrogação, que a gente está descobrindo aos poucos. O que é e como se relacionar com esse tipo de negociação, das partes de produtor, de um artista, do evento… A gente tá entendendo que mercado é esse e como ele te chama pro jogo.

el Cabong: E você é um cara que sempre fala disso de mercado e critica várias coisas. Eu queria que você desse uma geral, do que está achando. Tanto o cenário baiano, que você está mais inserido, quanto o nacional.

Ronei Jorge: Eu concordo que os festivais têm uma função fantástica realmente, porque eles conseguiram fazer com que a música brasileira começasse a ficar mais ampla. A gente que faz o (programa) Radioca sabe disso e percebe muita coisa vindo de fora por conta da internet e desses festivais estarem acontecendo. Essas bandas ganham visibilidade. Mas tem umas lacunas. O Brasil é grande, então tem essa dificuldade de transporte, você ter que viajar, ter que se hospedar e receber um cachê que seja bacana, pra você pagar a todo mundo. Às vezes isso não rola e aí, em determinado momento, isso começa a ficar complicado.

el Cabong: Isso atrapalhou a historia da Ladrões?

Ronei Jorge: Acho que a Ladrões tinha uma particularidade. Todo mundo trabalhava com uma outra profissão que não era ligada à música, então, era muito difícil viajar. Algumas pessoas, quando a gente ia para festival, diziam: ‘Pô, conseguimos!’, ou, então, faziam assim: ‘Pô, mas vocês não viajam nunca!’, ou até se aborreciam, ‘Pô, já chamei várias vezes e vocês nunca vêm!’. Na verdade, a gente não podia ir por causa dessa dificuldade. Eu entendo que tem artista que larga tudo e vai. Ótimo! No caso da gente, não foi assim. Agora também acho que tem coisas que valem a pena fazer e têm outras que não e isso tem que ser entendido nas duas partes. Tem que ter esse entendimento: não é nem uma coisa horrível, não pode se pintar como um mercado que não dá pra fazer nada, porque isso não é verdade. Mas, também, não são mil maravilhas, não tem cachê legal, justo. Tem cachê que, não é que seja desonesto, mas é um cachê que é difícil. Às vezes é o que o produtor tem a oferecer. Mas não pode ser assim: ‘Eu tô te dando alimentação e hospedagem’. Esse texto tem que ser um pouco mais bem pensado, porque hospedagem e alimentação não são cachê. Você está chamando uma pessoa, de fora, que não está em casa, não tem onde ficar e precisa se alimentar… Isso eu acho que não tem nem que entrar na negociação.

el Cabong: Mas tem outra questão. Poucos artistas entram também pensando: ‘Não, beleza, isso é garantido, hospedagem e alimentação, mas eu não tenho público, entro no risco da bilheteria’. É também muito difícil de acontecer.

Ronei Jorge: Sim… O que estou falando é que a hospedagem e alimentação não devem entrar na negociação, como se estivessem remunerando. Mas é claro que eu entendo que o cara diga: ‘Ó, eu não sei se tem resposta de público, você é um artista novo, nunca veio aqui, topa ser uma vitrine pra você?’. Pode ser legal para um artista novo, para um artista que nunca foi pro lugar. Depende muito de cada um. Você fala muito isso e eu concordo, cada um vai ter o seu termômetro para achar aquilo bom ou aquilo fuleiro.

el Cabong: E o mercado de Salvador? Como você vê e como se insere nele?

Ronei Jorge: A gente teve um momento de circular bastante dentro de Salvador, com um público bem legal mesmo, cantando as músicas e tal e foi maravilhoso. Mas é um momento que acontece e não fica para sempre. É normal que, se o disco teve uma aceitação boa, as pessoas compareçam ao show e aí essa coisa vai girando. Mas eu parei, né? Dei uma parada, fiz apenas uma música nova, mas não divulguei muito isso, fiz poucos shows. Eu acho que é cíclico, acho que Salvador hoje tem uma preocupação em trazer artistas, em tentar fazer com que os artistas aqui também tenham uma circulação boa. Agora eu acho que tem artista aqui que podia ter uma valorização maior – não estou falando de mim, estou parado.  Eu sinto às vezes que a gente repete um discurso, como se a gente fosse de fora. Contrata alguém daqui mas o enxerga sempre como uma coisa menor…

el Cabong: Desvaloriza,...

Ronei Jorge: Desvaloriza um pouco o produto daqui e às vezes valoriza muito o produto de fora. Acho que tem coisas de fora que são muito boas e tem outras que são boas, mas aqui também tem. Acredito que essa mentalidade vai mudar quando um cenário, com músicos, produtores, jornalistas, público, começar a ter um diálogo. Se todos eles passarem a entender o que é realmente esse cenário musical de Salvador, tende a melhorar.

el Cabong: Você está nesse meio desde a Saci Tric, no final dos anos 90, antes até com a Mutter Marie. Como você vê a mudança de cenário, em todos os aspectos? Você acha que mudou muito, pouco, melhorou, piorou?

Ronei Jorge: Mudou muito! Eu acho que melhorou muito porque na época, vou colocar aí, 93, 94 quando eu tinha Mutter Marie, era muito difícil. Você tocava em qualquer lugar, mas as bandas, fatalmente, viravam bandas punks, porque o som não era legal. Como celebração era fantástico, a gente lembra com saudade e eram momentos que não vão voltar porque foram uns momentos nossos, como esse meninos, agora, vão ter isso pra frente, como uma recordação maravilhosa. A gente tinha um cenário e era até interessante, porque tinham bandas muito boas, já tinha o Cascadura, tinha o Dead Billies, que era uma banda fantástica, tinha a Úteros (em Fúria), que era uma banda incrível, tinha a Meio-Homem, que era, pra mim, uma banda fora do normal. E hoje eu acho que as casas têm mais preocupação com o equipamento, as negociações são melhores com os artistas novos, os meninos já começam a ter um cachê ou alguma troca interessante pra eles. Acho que eles circulam bem e têm uma relação profissional mais madura. Há uma preocupação maior, toda banda tem um produtor, mesmo que seja ‘um brother’.

el Cabong: E musicalmente, como é que você vê isso?

Ronei Jorge: Musicalmente, eu acho que nesse período inicial, da década de 90, talvez por ser um pouco mais irresponsável, se experimentava mais. A gente tinha menos compromisso. Hoje têm coisas muito boas, mas o raciocínio já é um pouco diferente. Como é mais profissional, o cara já tem alguns limites.

el Cabong: Mesmo um cara novo, né?

Ronei Jorge: Mesmo um cara novo. Eu ouço uns trabalhos, são bem feitos, com uma técnica muito melhor do que a daquele tempo, mas se eu for fazer uma comparação… Pensando rapidamente também, né? Claro que aí também eu estou me arriscando, porque eu não conheço tudo que tem em Salvador. Do que eu conheço, acho que tem coisas muito boas, mas eu acho que o risco é mais reduzido do que o daquela época artística.

el Cabong: Queria que você voltasse aquele momento, que disse que estava desiludido. Queria que falasse de hoje, como é que você se enxerga? O que é que você está fazendo? Tem algum projeto novo?

Ronei Jorge: Esse momento que eu fiquei em carreira solo, eu dei uma parada e comecei a trabalhar com música, com algumas trilhas que começaram a surgir. Fiz algumas com Luciano Simas, de teatro e animação. Depois, eu fiz com Camilo Fróes trilhas pra dança, espetáculo de dança e comecei a participar do Encontro de Compositores, que foi um convite de Jarbas Bittencourt. Conheci pessoas que não tinham nada a ver com o universo que eu frequentava e aprendi muito. Porque tinha que tocar voz e violão e conheci aquelas figuras que eram artistas, alguns bem mais velhos, que viveram outras dificuldades, viveram outras situações. Fiz um show com Carlinhos Cor das Águas, que era uma coisa que nunca tinha passado pela minha cabeça, e foi incrível. O cara é um grande compositor e intérprete. Aprendi porque a gente tocava junto, eu via as composições dele, ele mostrava coisas novas e comecei a entender a carreira de uma forma diferente, comecei a ver que não precisava estar direto no palco, que o palco não precisava ser o fim. Nem o palco, nem um disco. Que podia pulverizar esse trabalho, em uma trilha, em um filme. Fiz um curta agora, com dois amigos, Paula Alice e Rodrigo Luna. Aí comecei a fazer trilha com espetáculo de teatro e música misturado, como o ‘Mulher Gigante’, com Lia Lordelo. Por fim, surgiu, de um papo meu com Edinho (Edson Rosa, guitarrista da Ladrões de Bicicleta) e estamos fazendo um trabalho. No geral, 90% é música dele e letra minha. A gente já tinha tem duas parcerias, nas músicas ‘Mulher Gigante’ e ‘Circule Seu Sangue’, da Ladrões. Como uma provocação, falei, ‘Pô, Edinho, você é um grande compositor, você tem um conhecimento de harmonia, melodia, tem uma inspiração incrível’. Tocando guitarra, você percebe que Edinho é um compositor, não é só um guitarrista, no sentido de solos e riffs. E, aí, não deu outra, ele passou a me mandar um monte de música, eu fui escrevendo em cima e a gente um começou um grupo, então, estamos ensaiando.

el Cabong: Mas é uma banda?

Ronei Jorge: É, acho que é um grupo… não sei nem o que é que significa isso, é diferente, né? Mas, por enquanto estou eu, Edinho, Felipe (Dieder, o baterista), Adelino Mont’alverne e duas cantoras. Uma é Lia Lordelo, que já tinha cantado no disco da Ladrões e na Miss Suéter, é atriz, cantora e amiga também de muito tempo. A outra é Lívia Neri, que é também compositora, cantora, instrumentista. Comentei com Edinho (ele está tocando teclado e eu tocando guitarra): ‘Pô, velho, demorou anos e a gente sempre fez essa formação guitarra, baixo, bateria.’ A guitarra como o símbolo máximo de tudo. E agora, como eu estou tocando guitarra e ele está tocando teclado, o teclado é o símbolo máximo da banda. E a gente está trabalhando muito voz. Então, tem muito arranjo das vozes femininas, elas cantando, fazendo coro…

el Cabong: Vocês estão gravando?

Ronei Jorge: A gente só está ensaiando, por enquanto, mas deve gravar… A ideia é fazer um disco, mas aí vem a questão: Qual é a finalidade? É um disco ou é um show, apenas? Então a gente está meio que pensando que produto novo é esse que a gente quer apresentar.

el Cabong: Como vai batizar, vocês já têm isso?

Ronei Jorge: A gente não sabe. Eu queria inicialmente que fosse “Edson Rosa e Ronei Jorge” uma dupla de compositores e que a gente tocasse esse projeto, mas pode ser que daqui pra frente a coisa fique mais banda mesmo, grupo, conjunto, o que seja. Agora a grande questão é como apresentar. Até no sentido mais amplo, porque eu queria que misturasse com filme, teatro, dança. Virar uma coisa só pra você assistir, mas que não seja exatamente aquela coisa multimídia. Tipo um show musical, mas que passa vídeo. Eu estou dizendo isso porque vi, ano passado, no Festival de Teatro de Artes Cênicas daqui de Salvador, um grupo chileno de teatro, que tinha música, mas era assim, a música ao vivo, era a trilha, com os personagens tocando. Os personagens eram de uma banda… a história era de uma banda e era incrível.

el Cabong: Quando é que vocês soltam uma primeira música? Quando o público vai ter acesso a isso? Queria que tentasse definir um pouco como é esse trabalho.

Ronei Jorge: Queremos gravar alguma coisa logo para mostrar, até para ver se conseguimos gravar um disco. Pensamos até em vinil. Estamos com algumas ideias de como vai ser, mas devemos soltar alguma música e colocar na internet. O som é bem diferente da Ladrões, muito diferente mesmo. É baseado em canção mesmo. Tem muito de Edinho porque são canções que ele compôs no violão, mas algumas também ele fez no piano, então é bem melodioso, mas ao mesmo tempo tem uma coisa assim meio fantástica. Tem um clima meio misterioso também. O trabalho de vozes é baseado nisso, uma coisa meio misteriosa e melódica. Acabei cantando num registro de voz totalmente diferente da Ladrões, cantando bem mais grave, com minha voz quase natural, falada. Vejo como um trabalho pop, mais direto talvez, dos trabalhos que eu fiz. A canção é muito forte, o texto é mais imagético ainda. Eu tenho escrito coisas muito de imagens, de histórias, então passa um pouco por isso. Tem um universo sendo criado.

el Cabong: Você disse que faz as letras, mas e suas composições, você largou? Você está só escrevendo?

Ronei Jorge: Não, não, eu fiz músicas durante esse período. Tem uma que é só minha, que está nesse projeto com Edinho. Eu não vou deixar de fazer música!

el Cabong: No projeto não foi proibido músicas suas…

Ronei Jorge: Não, nem dele. Ele pode fazer uma sozinho e eu posso fazer uma sozinho também. Pode surgir uma do grupo. É porque, inicialmente, o projeto nasceu de música dele e letra minha. Talvez seja a maior parte isso mesmo, mas tem uma música minha, eu continuo compondo. Claro que as músicas, se eu fizer uma sozinho, tem que ter muito a ver com esse projeto, porque ele está com um som muito particular. Agora, eu fiz outras músicas, que eu pretendo deixar com arranjadores, que é uma outra ideia minha…

el Cabong: Um projeto mais carreira solo…

Ronei Jorge: É um projeto solo, ou… sei lá. São parcerias, eu acho, mais do que solo, porque não vai ter nada de solo (risos).

el Cabong: Mas solo no seguinte: você assinando suas músicas…

Ronei Jorge: É, acho que sim… Eu não sei como é que seria. O que estou querendo dizer é que, se eu fizesse um disco,  se iria chamar de uma coisa, ou seria “Ronei Jorge”, sabe?

el Cabong: Você não sabe…

Ronei Jorge: Eu não sei ainda, mas a ideia inicial é: músicas minhas, com esses amigos arranjadores. Então poderia entrar Pedro Sá; poderia entrar Igor Leite, que gravou o disco da gente com Pedro; Jarbas Bittencourt, que é um grande amigo, parceiro; Luciano Simas; João Meireles; Gilberto Monte; Edinho; Juninho Costa. Entendeu? Eu quero reencontrar esses amigos. De repente Serginho, Pedrão. Tá super aberto. É um projeto que também eu não quero fazer em estúdio grande, pelo contrário, quero que seja mínimo. Quero bem caseiro mesmo, registro bem caseiro.

el Cabong: E outros projetos? Você tem algo pronto? Você falou de trilhas.

Ronei Jorge: Agora tem a trilha de um filme do (grupo) Dimenti que vai sair. Tem o meu curta com Paula Alice e Rodrigo Luna, que também vai sair esse ano. O Encontro de Compositores que eu continuo. Tem um trio com Jarbas e Pietro…

el Cabong: Se alguém convidasse pra fazer show hoje, você tocaria?

Ronei Jorge: Acho que ninguém vai pensar nisso, porque estou tão sumido. Mas não, na verdade não. Tenho um show de trinta, quarenta minutos pra apresentar, que é bom, mas, eu não sei se hoje seria. Hoje eu gostaria de estar tocando esse show com Edinho, é o que gostaria de mostrar agora. Não estou eliminando essa possibilidade, de na frente, juntar aqueles músicos que são ótimos.

el Cabong: Parece que você se abriu mesmo. Você lembra que você falava muito disso e parece que abriu a carreira para várias vertentes.

Ronei Jorge: É, eu relaxei. Sinceramente, eu não estou mais acreditando nesse formato “o artista”, “espere o cara no palco”. Eu sempre tive muito senso de coletividade, por mais que às vezes as pessoas digam assim: ‘Ah, era Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicletas’. Sempre, claro, tenho as minhas opiniões, minha orientação do que quero fazer, mas essas outras pessoas que vou conversando, contatando e chamando pra trabalhar comigo, são pessoas que confio artisticamente e não teria sentido nenhum que ficasse tudo debaixo do meu braço, tudo na minha cabeça. Nunca é isso. Eu acho que agora é meio pensar o que é esse artista. Até dentro desse mercado novo. Teve uma entrevista de Pedro Sá que questionam sobre um disco solo e que ele fala ‘Rapaz, isso é o que mais me pedem, pra fazer um disco solo, mas os discos que eu trabalho acho que são um pouco meus também, sabe?’ Claro, porra, tem o dedo dele ali também, entendeu? Ele fez parte daquilo, não é só o cara. Então, ele produziu Caetano, gravou Rubinho Jacobina, gravou a gente, então, tudo está ali, ele está fazendo parte daquilo. Hoje, eu me sinto um pouco assim. Gosto de me sentir colaborador. Hoje até mais talvez do que ser “o cara”. Pode ser que isso mude lá na frente, mas agora é uma sensação maravilhosa.

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