Reunimos algumas das principais falas, declarações e trechos de entrevistas feitas no mundo da música em 2019. Entrevistas polêmicas, opiniões fortes, provocações, bolas fora, falas certeiras, broncas, bobagens, recalques e discussões de músicos, produtores, artistas e jornalistas. Eles soltam o verbo em entrevistas, em shows, nas redes sociais e onde tiveram oportunidade. Concordando ou não, eles dão a deixa e fazem a gente pensar um pouco mais no mundo da música que nos cerca.
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“A minha sensação é de que a música rock moderna, tal como a conhecemos, já está doente há algum tempo. Foi atingida por um certo cansaço, confusão e indiferença e já não tem força para travar as grandes lutas que o rock sempre travou. Parece-me que não há nada novo nem autêntico. Tornou-se mais seguro, mais nostálgico, mais cauteloso e mais empresarial”
Nick Cave em seu site em resposta a dois fãs que lhe fizeram perguntas sobre o estado do rock e também sobre as consequências do comportamento pessoal de um músico na apreciação da sua obra.
“O Brasil sempre foi um país desigual e manipuladamente conservador, e nessa onda toda o rock, como dizem muitos dos meus amigos punks do abc, sempre foi um fenômeno de classe média no Brasil e a classe média, além de fiadora de vários golpes na nossa história, é preconceituosa, só não sabíamos que era tanto. Dentro das vertentes do rock, acho pessoalmente que o punk e o hardcore foram os que menos saíram cagados de discurso burro, elitista equivocado.”
Rodrigo Lima vocalista do Dead Fish em entrevista ao Scream & yell.
“Essa imagem de fofinho que se vende atualmente cria uma depressão coletiva, é uma pandemia da harmonização social. A função do artista é transformar, desestabilizar. O artista é um transgressor, por isso somos tão demonizados nos dias de hoje.”
Alice Caymmi em entrevista para o Jornal O Globo.
“Outro dia, o Caetano estava no programa do Nelson Motta cantando com a Anitta. Ele é muito esperto. Você acha que o Caetano gosta mesmo da Anitta?”
Biafra em entrevista ao blog de Paulo Sampaio.
“Não consigo acreditar que ainda estou aqui. Cocaína, heroína, álcool, freebase [fumar cocaína pura], eu experimentei tudo, mas o cigarro é o mais difícil de parar. Eu fui até o precipício e olhei lá para baixo, mas nunca me deixei cair. Até nos meus dias mais insanos eu sabia quando parar. Eu sempre arrisquei muito, e fazer isso me dava prazer. […] No começo era álcool, depois drogas. Não me arrependo de nada. Teve um efeito na música – tudo fazia parte do som. Era a jornada. Você precisava atravessar isso para chegar lá.”
Ronnie Wood, guitarrista dos Rolling Stones, em entrevista ao jornal Daily Mail.
“Os livros acabaram virando uma peça de resistência sobre isso: de que é gostoso falar sobre música. Que a música não é só um arquivo digital ou uma ferramenta com a qual os artistas fazem campanha pro Doritos. É legal discutir música, e é legal discutir para além do “gosto” e “não gosto”. É possível discutir cultura e política e sociedade e religião sem cair nos clichês. Me incomoda muito, muito, muito mesmo que a gente esteja perdendo a capacidade argumentativa, de articulação de ideias, que as pessoas estejam realmente começando a dialogar a partir de jargões de internet e clichês e emoticons.”
Ricardo Alexandre, jornalista, em entrevista ao site Scream & Yell.
“Não tenho essa receita definida na minha mente, sobre o que deve ser ouvido para esse momento. Tenho o pensamento que a liberdade das pessoas deve vir em primeiro lugar, ninguém é obrigado a ouvir nada por causa de nada, sou contra afirmações do tipo: tem que fazer isso, toma vitamina C para o caso de gripe e tal, como se fosse um médico. Em alguns momentos, minhas músicas serviram para momentos difíceis na vida das pessoas. A música pode servir como alívio ou anestesia, pode ser um remédio para a dor das pessoas. Algumas serviram assim para mim.”
Mano Brown em entrevista para o site Esquina Musical.
“Para alguém como eu, que é um dos poucos que não tem um celular, é muito engraçado andar pela rua e ver todo mundo fazendo isso. Eu nunca tive um, então quando estou por aí sou uma anomalia, e estou olhando para todo mundo. Para mim, todo mundo parece bobo. E então você fica tipo, ‘tanto faz, as vidas são suas’. Quem sabe? Talvez seja assim que tudo vai ser a partir de agora. Eu não tenho ideia e ninguém realmente tem. Talvez tudo se transforme em implantes. Provavelmente tudo vai se transformar em um microchip atrás do globo ocular ou sei lá.”
Jack White em entrevista à revista NME.
“O tempo de caos é uma característica da nossa época. Nunca fomos tão bombardeados por tantas informações. Esse bombardeio acaba produzindo uma sensação de confusão e de desespero maior ainda. No meu entendimento, precisamos falar sobre temas que considero importantes e urgentes, de uma forma mais direta, de uma forma que pode ser interpretada como mais agressiva. Se a gente não refletir sobre as questões que roubam a nossa humanidade de nós, não adianta nada a gente apelar para a política, seja de um espectro ou do outro. A nossa desumanidade está instituída. Não vai haver uma solução se a gente não refletir a respeito de nossa humanidade. Ela foi destituída de nós, e nós dela. Precisamos fazer uma conexão com a humanidade enquanto sentimento para construirmos, novamente, sonhos coletivos, que é uma coisa que foi completamente destruída pela coisa de transformar o agora em uma característica divina do nosso tempo. Esse monte de informação faz com que a gente fique preso no agora. A gente não sonha mais com o futuro, especialmente com o futuro coletivo. As redes sociais e a cultura do tempo como um todo acabou fazendo a gente endeusar uma individualidade que não se sustenta, já que as maiores conquistas da humanidade são coletivas.”
Emicida em entrevista ao site Tenho mais Discos que Amigos
“O Axé Music ficou pousado, durante muito tempo, num esquema muito escroto de corrupção. E quando você paga pra tocar determinada coisa, você tá atrapalhando o rumo natural e seletivo que o próprio povo faz. Muitas vezes a mídia empurra determinado artista guela abaixo e o público acaba tendo que engolir mesmo”
Luiz Caldas em entrevista ao jornal Correio*.
“Como não questionar a “serventia” de ser artista, num momento em que se desconstrói toda uma ideia de um país que, ao menos no texto de sua Constituição e no discurso, no senso comum, se pretendia comprometido com um futuro mais inclusivo e solidário?”
Siba em entrevista para o site Volume Morto.
“Diferente de outros que são a favor do status quo e da caretice do trono, nós do Cure não temos salto alto ao perceber nossas intenções. Aquele babaca quer a opressão social enquanto a gente quer a libertação do amor livre e do ame quem você quiser! Ele fala aquilo mesmo sendo gay e não reconhecendo os problemas de sua tribo, é ridículo. A humildade sempre vai vencer a pose de gente caricaturada e endinheirada. O Brexit é a maior vergonha do meu país. Eu tenho sessenta anos e sigo ganhando meu dinheiro com shows, porque eu sei que tenho uma plateia maravilhosa como vocês. Eu pago meus impostos. Odeio a hipocrisia do conservadorismo de goela, de gente que acha que é diferenciada. O anjo que é católico porque vai na igreja, o inofensivo porque não come carne.”
Robert Smith alfinetou o eterno rival Morrissey em seu último ato no show que fez na Holanda semana passada
“Ninguém pode me cobrar isso. Eles dizem que eu não carrego a bandeira. A bandeira sou eu. Ou não sou? Eu sou a bandeira, eu não preciso carregar uma. A minha maneira de pensar, de me comunicar, de me apresentar. Eu sou a bandeira. Parem de me cobrar isso porque isso não tem fundamento.”
Ney Matogrosso sobre protagonismo no movimento gay em entrevista à BBC News Brasil.
“É preciso acreditar nas coisas, nas pessoas, no amor. Eu nunca na minha vida achei que eu usaria essas palavras: “Acreditar no amor”, mas é o que está acontecendo. A gente vive num momento tão grotesco que se a gente desacreditar a gente azeda pra sempre. Aí é uma chance a mais pra você virar tudo aquilo que você temia.”
Teago Oliveira em entrevista ao site Scream & Yell.
“Eu tenho duas regras.
Regra 1: Me amar e se amar.
Regra 2: Guardem os seus celulares, vocês não precisam compartilhar isso com ninguém que não está aqui. Essa apresentação é para nós, façam como em uma igreja”
Childish Gambino, alter-ego musical de Donald Glover, durante o Festival Splendour In The Grass, na Austrália
“Eu não me sinto segura, sendo bem honesta. Estou muito grata e entendo que é um momento muito positivo na minha carreira. Entendo também que é uma crescente, ainda eu não cheguei lá, estou em ascensão. E, dentro desse universo da música independente, sem todos os aparatos do mainstream, estou muito bem, tocando com quem gostaria, fazendo os shows e os festivais que gostaria de fazer, conseguindo executar todo o planejamento e realizar sonhos. Mas, como mulher negra em uma sociedade machista, a despeito de todo esse sucesso, não me sinto segura nesse lugar. Eu não sei se o que está acontecendo hoje na música brasileira, essa presença de outros discursos, outras narrativas, outros corpos, é um movimento, uma moda ou uma mudança de paradigma. E como tudo é muito cinético, na música também, fico me perguntando onde eu preciso estar para não ser só uma lembrança. Porque, fora do samba, a gente até tem grandes nomes, como Elza Soares, minha madrinha Leci Brandão, que estão na história da música brasileira, mas o lugar posto para as mulheres negras é o do silenciamento e do ostracismo. E agora que há várias de nós em ascensão, como Larissa Luz, Xênia França, Josyara, Iza, Ludmillah, com diversos estilos e linguagens, não sei até que ponto isso é uma mudança real ou só uma nuvem passageira.”
Luedji Luna em entrevista ao El País – Brasil.
“As pessoas veem a cena afro-americana como uma enorme lata de lixo em que cabe tudo. É a imagem negativa que o rap oferece … o problema é que os meninos não têm a oportunidade de escutar outra coisa. Por isso, a primeira coisa a fazer é democratizar o acesso à informação. O resto virá por acréscimo”.
Wynton Marsalis em entrevista para o El País Brasil.
“Político se troca, religião cada um defende a sua, mas permanecemos um povo colorido e sorridente. Não sou de panelas, não sou de grupos. Eu quero ser livre.”
Fafá de Belém em entrevista para revista Veja.
“O rock and roll está enfraquecido hoje em dia. Não vejo muita atitude nas bandas mais novas. As pessoas parecem que ficam satisfeitas apenas por estarem em uma banda e isso é suficiente. Nas últimas décadas ninguém tem realmente tentado superar limites e é por isso que as coisas estão tão ruins na minha opinião. todo mundo tem muito medo. Vá e incomode alguém. É rock and roll. Todo mundo fica pisando em ovos, tentando não ofender ninguém. A essência e a alma do rock são sobre abalar as estruturas. Estamos falando de Elvis Presley, Sex Pistols, os Beatles e os [Rolling] Stones. As bandas de hoje são muito inofensivas”
Jim Reid, metade da dupla escocesa The Jesus and Mary Chain, em entrevista ao G1.
“É da natureza do rock and roll transformar-se, morrer para poder viver outra vez. Esta agitação é que mantém as coisas a andar para a frente. Enquanto músicos, corremos sempre o risco de nos tornarmos obsoletos e de sermos ultrapassados pela nova geração ou pelo próprio mundo, com as suas grandes ideias. Ainda há pouco tempo a grande ideia, no mundo, era a liberdade de expressão. Agora parece que é o moralismo. Será que o rock vai sobreviver a isto? Veremos”
Nick Cave em seu site em resposta a dois fãs que lhe fizeram perguntas sobre o estado do rock e também sobre as consequências do comportamento pessoal de um músico na apreciação da sua obra.
“As pessoas lembram daquela época [anos 90] como se tivesse todos os shows lotados. Sabe quem tinha todos os shows lotados? Ah, o Raimundos tinha, Planet Hemp tinha. É, isso é verdade, são bandas bem mais famosas. Acho que o que as pessoas que viveram aquela época sentem é saudade daquela época. Saudade de quando não tinham filho, de quando estavam pegando as gatinhas no Beirute. Cara, na boa, é isso que a galera sente falta. Aí as músicas daquela época fazem lembrar. Pô, hoje em dia é tudo muito melhor. “
Gabriel Thomaz em entrevista publicada na Revista Traços.
“Na música brasileira, a grande maioria das cantoras de sucesso, que ganham dinheiro, é de cantoras padrão. São mulheres brancas, que têm o cabelo dito certo. E as mulheres negras na música brasileira também têm que cumprir um papel, ser uma Barbie negra, ter a cintura fina.”
Gaby Amarantos em entrevista ao UOL.
“Esse entendimento de pretos ricos, pretos no topo e etc. Sendo que um branco que tá assinando os bagui tudo. (…) E você ludibriando a massa negra que você é o preto deus, que você faz tudo, é muito louco isso…”
Vandal em entrevista ao site Noticiário Periférico.
“Quando você joga luz nas coisas boas, você faz as pessoas terem motivos para lutar para que elas aumentem. A ideia é que mais pessoas tenham acesso às coisas boas. Eu bato muito na tecla do ódio sequestrar a nossa linha de raciocínio. Nas redes sociais, o ódio engaja muito mais do que o amor. O mundo inteiro está vivendo uma experiência digital exagerada. Estamos presos dentro de um ambiente onde a linguagem é o ódio. Você passa a crer que aquilo é a única coisa que existe agora. A gente precisa sair um pouco, dar um passo para trás para respirar.”
Emicida em entrevista ao site Tenho mais Discos que Amigos
“Olha como está a situação, ‘Garota de Ipanema’ seria execrada hoje. Tá muito louco isso, tá muito exagerado. A gente pisa em ovos. Tô achando muito chato.”
Toquinho em entrevista a Monica Bergamo na Folha de São Paulo.
“A música é o que mais faz a galera se conectar. A gente toca em Salvador em lugar que tem coxinha, a gente vai lá, abre a boca e larga. Os cara ficam “como assim?”, a gente bota um trio gay do Afrobapho pra meter dança, joga a raba. A gente está educando, a galera acha que é oba oba, mas não é. É meio mundo de negão no palco hoje. A gente não precisa nem estar falando nada, se a gente só subisse no palco e ficasse calado, estava dada a mensagem.”
Rafa Dias, DJ e produtor baiano do ÀttooxxÁ, em entrevista à revista Trip.
“Tenho a sensação de que o som que eu faço não é consoante com o que acontece na música atual, é um clima old school, a instrumentação, as melodias simples. Eu me sinto desatualizado, caduco. Até porque, estou num meio em que todo mundo bebe, fuma e cheira, e eu, não mais.”
Marcelo Callado em entrevista ao Globo.
“Já sofri até ameaça de morte, inclusive. Acontece. Daí eu printo e chamo os advogados. Xingamentos já, vários, é normal. Mas eu não dou bola pra isso porque, enfim, entrei na música pra isso. Não sou músico pra não me posicionar. Eu entrei na música para dar opinião. Desde o início era isso. Essa é a minha base, sou cria do punk rock nacional, e do rap nacional. Eu sou filho de gente que lutou contra a ditadura militar, vivi tudo isso desde criança. Estou acostumado com todas as consequências de viver nesse modo de vida. Nasci dentro disso.”
Bnegão em entrevista à Agência Pública.
“Num momento que que tanta brutalidade e ignorância é naturalizado ao ponto da anestesia, cabe talvez descobrir um modo de não se levar tão a sério a ponto de se descobrir um vazio interior, uma suspensão que possibilite o respiro para a poesia e para o novo. Acho que sem poesia não há saída.”
Siba em entrevista para o site Volume Morto.
“A arte tem esse poder de mexer com o sentimento das pessoas, e por isso ela é tão fascinante, disputada e movimenta tanto dinheiro. Música pode soar como dinamite ou anestesia, te deixar lesado, sem vontade, mais confuso ainda, ou pode te trazer uma luz. Vejo composições de alguns autores mais antigos, antes da mídia e da indústria, que tinham essa iluminação, de entender o momento das pessoas.”
Mano Brown em entrevista para o site Esquina Musical.
“Entramos tanto na pauta política e social, que esquecemos que é direito nosso ser frágil”
Rincon Sapiência em entrevista ao El País Brasil
“Fazer para mostrar ao outro é um erro, minha gente. É como fingir que está gozando, sacou? Vou fingir, sim, ok. Deu tudo certo. ‘Acabou a noite, gato satisfeito…’ Ah.. Que maravilha. Conversa com você: você só perdeu, não ganhou nada. Você não ganhou absolutamente nada e não entregou absolutamente nada.”
Ivete Sangalo sobre pessoas que perdem tempo cuidando da vida das outras no programa Amigos, Sons e Palavras, de Gilberto Gil, no Canal Brasil.
“A cultura é um braço muito forte para uma doutrinação imperialista. Hoje em dia, não precisam mais matar as pessoas porque as matando, não vai tê-las para comprar os produtos. É preciso doutriná-las para poder continuar comendo no lugar de um cuscuz com ovo, um Mc Donald’s; no lugar de ouvir Elis Regina ou Tânia Maria, Beyoncé. Essas substituições, né? No lugar de você estar com Elza Soares, vai para Beyoncé. Ouvir um cara repentista que rima absurdamente e é valorizado em qualquer lugar do mundo que ele chega como obra da humanidade. Mas você quer se relacionar basicamente com a cultura do hip hop e colocar aquilo como algo que já passou. Com essa transição, essa correria que as mídias estão fazendo, 10 anos nos últimos três, é muito fácil a gente perder os parâmetros.”
Russo Passapusso em entrevista à revista Continente.
“São Paulo também me fez mais baiana. Me fez amar mais a Bahia, querer estar mais lá, me fez valorizar mais a minha terra. Por isso eu faço questão de acentuar meu sotaque, faço questão de ser o mais baiana que eu puder, de valorizar cada segundo quando estou lá. Na medida em que eu me senti não pertencente a este território, a minha identidade como baiana se resolveu mais. Posso até não saber de que África eu vim e posso até estar neste país que tem questões com minha existência enquanto mulher negra, mas na Bahia eu estou resolvida. Lá eu sou baiana e pronto. Eu trago isso quase como uma bandeira, eu me coloco no mundo como essa mulher negra baiana. Eu sou cantora, compositora, mulher, negra e baiana.”
Luedji Luna em entrevista ao El País – Brasil.
“O tempo de Caymmi vai na contramão desse tempo da internet. Quando proponho o verbo “Dorivar” é uma maneira de chamar a atenção para isso. “Dorivar” é ver o mundo com respiro, com o espaço para a dúvida, com o tempo não amarrado com o próximo futuro imediato. Dorivar não é ter “preguiça”. A preguiça foi uma maneira racista criada pelos colonizadores para subjugar os negros e índios que eram espancados para trabalhar como máquinas. E como diz Gilberto Gil no filme, deve ser requalificada. Por isso o baiano é visto como preguiçoso, porque esse racismo é entranhado de tal forma que foi transformado erroneamente em um preconceito super escroto com quem é da Bahia. ”
Henrique Dantas diretor do filme “Dorivando Saravá – O Preto que Virou Mar” em entrevista ao site Sceam & Yell.
“Eu sou inquestionavelmente, sem dúvida, o maior artista humano de todos os tempos. Não é sequer uma questão a esse ponto. É apenas um fato.”
Kanye West em entrevista a Zane Lowe no Apple Music’s Beats 1
“Quero que as mulheres se sintam confiantes e empoderadas para ser o que realmente são. A representatividade ensina que qualquer pessoa pode estar onde quiser, que cada um é parte de alguma coisa, A música é o que eu mais amo fazer, o que paga minhas contas e realiza meus sonhos. Mas sei a infância que eu tive, e como era necessário me ver nos lugares. Se as pessoas se sentem representadas pelo que eu faço é sinal de que estou no caminho certo.”
Iza em entrevista ao El Pais Brasil.
“Hoje em dia são tantas músicas. Odeio falar esse tipo de palavra: música e na arte das pessoas. Eles pressionam tanto os artistas a correr contra o tempo e estar sempre presente porque existem muitos outros, que as músicas acabam ficando descartáveis. É como se precisasse de um álcool para acender a fogueira toda hora, na hora que ela apaga, chamam outro. É assim que tem sido, difícil dizer que essa música vai ficar.”
Mano Brown em entrevista para o site Esquina Musical.
“Sempre quis estar nos ambiente de rap, mas ainda é uma cultura machista, homofóbica e sou gay. Quando fui tentar ter uma experiência na batalha, entendi que ali existia uma barreira muito grande e foi muito complicado dar de cara com isso. Percebi que para estar presente teria que lutar mais do que normal para ser aceito, mas isso também foi o combustível que me moveu e move até hoje.”
Hiran em entrevista para o Gshow.
“Seja na música, na arte, no meio de trabalho, no meio social, no desenvolvimento do país, o Nordeste ficou com as migalhas.”
José Macedo vocalista do Afrocidade em entrevista ao Rio Adentro.
“O [André] Forastieri me provocava dizendo que boa parte do que eu fazia era voltado pro passado. Aquilo me incomodou bastante e eu criei um projeto para a 89 voltado exclusivamente para artistas novos, que era o [programa] “Ouve Essa”. O Zeca Camargo chamou de “espaço de resistência” (ri). Mas vi que aquele projeto ia contra um dos valores que eu prezo como profissional da comunicação, que é respeitar o público, e a verdade é que o público não quer banda nova. Por mais que me seja doloroso dizer, porque boa parte do meu caráter foi formado buscando coisas novas (ri), a verdade é que esse público repele bandas novas. Inclusive as bandas novas se repelem. Elas não têm interesse em um espaço para elas próprias. Aconteceu algumas vezes – e sempre conto isso – de algumas bandas novas passarem semanas, meses até, insistindo para que eu tocasse material delas, e depois descobri que elas não ouviam o programa, porque continuavam pedindo depois de eu ter tocado.”
Ricardo Alexandre, jornalista, em entrevista ao site Scream & Yell.
“É uma luta, uma luta diária. Tudo colabora para que o artista se sinta um lixo, que o gay, o pobre e o negro se sintam um lixo. Há um desmonte cultural e econômico muito grande, uma retirada de dinheiro da cultura do Brasil, uma crise no mercado, mas tudo de fundo ideológico. Eu jamais imaginei que em 2019, aos 29 anos, fosse viver uma repressão tão aberta e tão descarada dento do mercado. Achava que isso nunca fosse acontecer. Essa gente estranha, esquisita que está conseguindo desesperar a todos…mas não pode! A gente não pode deixar se abater por essas pessoas que não conhecem o Brasil, nem aos brasileiros e nem ninguém. São pessoas absolutamente focadas em outras histórias. Essa eleição que passamos foi um reflexo do homem moderno, do quanto ele é individualista. Elegemos uma pessoa vaidosa e ridícula. Fica a dica para a gente perceber para qual maluco estamos batendo palma. Eu não desvalorizo quem votou, não tiro da minha lista…mas acho que cada vez mais é um bom momento para a gente abrir os olhos sobre nossa situação.”
Alice Caymmi em entrevista para o jornal O Dia.
“Para entender nossa música é preciso ter uma cultura musical, mas estamos sendo massacrados pela música comercial da pior qualidade. Está complicadíssimo. Minha música só toca no rádio quando vou dar entrevistas”.
O trombonista Raul de Souza em entrevista ao RFI – As Vozes do Mundo.
“Quando a gente convida Pabllo e Majur para o epicentro da coisa, é para colocar a música rap na frente do espelho e se perguntar: por que não temos mais artistas assumidamente gays? Que tipo de atmosfera a gente construiu que faz essas pessoas se sentirem agredidas na nossa presença? Em que momento, da nossa trajetória, enquanto movimento cultural que emancipa tantas pessoas ao redor do mundo, a gente deixou de ser um braço, de estender a mão para essas pessoas? AmarElo visa também fazer essa reflexão.”
Emicida, em entrevista ao programa RFI Convida.
“Na minha concepção, o papel da arte é questionar. O que trazemos talvez não sejam as respostas, mas sejam as perguntas. É por aí. Um lugar possível, uma resistência, mas uma existência, uma possibilidade.”
Tássia Reis em entrevista à revista Trip.
“Não podemos mudar a cabeça e os pontos de vista do cantor (e nem diz respeito aos fãs fazerem isso), cabe a nós refutá-los sempre que possível. apesar de não concordar com o posicionamento dele, é preciso permitir que a música dele continue, sem ignorar que somos todos indivíduos conflituosos – bagunçados, com defeitos e propícios à loucuras. Deveríamos agradecer a Deus que existem pessoas entre nós que criam obras de uma beleza além do que muitos de nós consegue sequer imaginar, mesmo que essas pessoas sejam vítimas de crenças retrógradas e perigosas.”
Nick Cave sobre Morrissey em seu site oficial Red Hand Files
“As pessoas têm que parar de abanar o rabo pro Rock in Rio. Eu fico muito feliz de ver a Linn da Quebrada lá e algumas manas de uma resistência, mas eu fico muito puta de ver a Tati Quebra Barraco no palco favela, com um som cenográfico de helicóptero. Se a gente fosse discutir mesmo Rock in Rio ou essas mega marcas, como Lollapalloza, teria que discutir a indústria musical brasileira, a música gospel, a sertaneja. A questão é muito mais quem é antidemocrático, essa parte da indústria que só permite que exista o gospel, o sertanejo, as mulheres com harmonização facial ou as minas rebocadas e tal. Isso, para mim, é antidemocrático. A galera LGBTQ+ sempre luta por uma diversidade, pela liberdade das coisas simplesmente existirem. E tem muito mal maquiado na indústria da música, da moda, das aparências é que só tem um jeito de você ser, que é ser uma branca gostosa, submissa de preferência, ou uma preta sexualizada, ou um rapper machista homofóbico que todo mundo bate palma. Tem várias nuances que, se a gente for falar, o pau vai comer.”
Laura Diaz, do Teto Preto, em entrevista à revista Trip.
“Temos uma população que não lê, mais de 40%, se não me engano. E o livro mais lido do país é a Bíblia em todos os níveis de escolaridade. A média de livros por ano é baixa, quase 5 por pessoa. Sem a linguagem para nos pensar não pensaremos em nada, ou pensaremos no rasteiro. Não estou falando de alta e baixa cultura, pois seria anacrônico. Não estou falando do funk, pagode contra a MPB e a música erudita. Essa é uma visão superada pela cultura e pelo mercado. Estou falando de algo que passeia pelo dinheiro e pela falta de educação para complexidade. O que é definido pelo mercado produtor e consumidor é um tipo de música clichê e/ou do tipo pastiche grosseiro.”
Daniela Souza, coordenadora da Rádio Educadora em entrevista ao el Cabong.
“As pessoas reclamam que o rock está morto, daí, criticam a gente. Será que ficam negativos com relação a um ressurgimento do rock? O rock n’ roll sempre esteve no underground. Muitas pessoas preferem que continue assim”.
Sam Kiszka, baixista do Greta Van Fleet, sobre a atual situação do rock e das críticas à sua banda em entrevista ao Miami New Times.
“Eu faço parte da música popular brasileira. Eu faço parte. O meu nome está lá, eu estou lá. Eu fui atacada porque cantava bolero, porque ia para a praça pública, porque gravava José Augusto, porque não votava no Lula, porque gravei um disco de Natal, mas eu nunca escondi o que iria fazer e nunca fui pau-mandado. Acho horrível pessoas sem posicionamento”
Simone em entrevista ao Estadão.
“A gente era normal, nós éramos melhores do que muita merda que tocava na época, mas não estávamos inovando, a gente não era o Pink Floyd ou os Beatles. Não fizemos discos muito bons, a gente só era uma banda boa. Algumas de nossas composições não envelheceram bem. Vou ser honesto, alguns dias eu ouço elas tocando e peço, ‘Desliga essa merda’. O Oasis teve seu momento.”
Liam Gallagher em entrevista para a revista Mojo
“Esse show aconteceu na semana em que um jovem foi morto estrangulado por um segurança de supermercado ( em fevereiro deste ano ). Eu perguntei “Quem quer um axé?”, e todo mundo levantou a mão. Mas aí eu perguntei “Quem foi à manifestação pelo jovem morto no supermercado?”, e poucas pessoas levantaram a mão. Foi quando eu disse que é muito fácil compartilhar do meu axé, do meu amor, sem compartilhar da minha dor. Foi uma cobrança, para que meus fãs façam parte dessa luta. Aquele jovem que morreu sou eu. As pessoas brancas precisam ter mais empatia. Mas a sociedade é omissa diante de acontecimentos desse tipo, não nos vê como seres humanos.”
Luedji Luna em entrevista ao jornal O Globo.
“Muito cedo eu já intuía que as expressões sonoras do lugar onde nasci e cresci – a chamada cultura popular -me ofereceriam uma via alternativa bem mais vibrante e dinâmica do que qualquer caminho que eu quisesse seguir no ambiente de classe média e da universidade. Me envolvi profundamente com a cultura do Maracatu de Baque Solto e fiz um longo trajeto para me transformar numa pessoa distinta daquela que eu estaria socialmente programado para ser. A poesia foi se tornando cada vez mais central nisso tudo. Mas só quando fui morar em Nazaré da Mata em 2001 é que pude me formular como Poeta, como praticante da poesia enquanto ofício, com clareza do que isso representa na prática. O fato de ter feito esse movimento inverso e pouco comum, virar as costas para o saber reconhecido da Universidade e tentar o “doutorado” numa tradição de conhecimento oral que ocupa o grau menos valorizado em nossa sociedade me fez desenvolver uma percepção muito ácida sobre a classe média da qual faço parte. “O que não há” fala desse incômodo, de se perceber parte de um grupo social que enxerga os privilégios que tem como se fossem direitos e vê a mínima conquista de direitos por parte de quem nunca os teve como uma ameaça. Concordo demais com a Marilena Chauí, quando diz que somos uma aberração.”
Siba em entrevista para o site Volume Morto.
“É impossível agora fechar as portas para o movimento negro. É impossível fechar as portas para os índios, para os trans, as mulheres. Até porque se fecharem, a gente vai derrubar”
Russo Passapusso em entrevista ao jornal CORREIO.
“Eu não consigo dizer o que cada um tem que fazer. Eu acho que cada um tem que ver o que está sentindo, mas a minha história é essa e faço isso desde sempre. Mas eu acho que é bom as pessoas pensarem e se posicionarem agora, porque talvez mais tarde não de pra gente fazer isso. Como um conselho acho que seria bom as pessoas estarem ligadas, porque a gente está num dos momentos mais complicados da história do país de todos os tempos. Estamos à beira do pior.”
Bnegão em entrevista à Agência Pública.
“Não sei das particularidades do Brasil agora. Mas a maior parte desses caras chamados líderes da direita são palhaços. Em algum momento, as pessoas que os puseram lá vão dizer chega. O método deles vai parar de funcionar quando as promessas que fizeram se revelarem a merda que de fato são”, vaticina Yorke, debatedor assíduo de política também nas redes sociais. “Em algum momento, esses caras que publicam essas verdades particulares, e também Twitter e Facebook, serão legalmente responsáveis por elas. Aí as coisas vão mudar. E acho que isso está mais próximo do que pensávamos.”
Thom Yorke em entrevista pra Folha de São Paulo.
“Em algum momento, a cena independente se divorciou da rádio, da TV, de um lugar do qual a gente poderia estar participando. Claro, tem essa coisa do sertanejo, existe esse mainstream mais viciado. Mas acho que nós também abandonamos um pouco. A gente se satisfez com Instagram e festivais. Eu vejo tantos trabalhos aí que poderiam estar tocando na rádio, poderiam estar na televisão, poderiam estar com público até maior, o discurso acabar sendo mais abrangente, atingir mais pessoas. Não sei, acho que rolou um corte que a gente perdeu esse bonde, essa coisa que na verdade as gravadoras faziam, de ir na rádio, levar… Tinha o jabá também, mas (risos)…… “
Ronei Jorge em entrevista ao Rio Adentro.
“Tenho uma boa vida, ganho bem, adoro viajar e fazer grandes almoços. Mas essa coisa de guardar não sei quantos milhões nunca passou pela minha cabeça. Um dia desses, o motorista que me leva para os shows perguntou por que eu não tenho jatinho. Chico Buarque, Milton Nascimento e Caetano Veloso não têm jatinho. Roberto Carlos comprou um com cinquenta anos de carreira. Acho cafona ter jatinho.”
Fafá de Belém em entrevista para revista Veja.
“A música brasileira tá uma merda. As letras, então. Meu Deus do céu. Uma porcaria. Não sei se o pessoal ficou mais burro, se não tem vontade [de cantar] sobre amizade ou algo que seja. Só sabem falar de bebida e a namorada que traiu. Ou do namorado que traiu. Sempre traição. “Não sei por quê [o cancioneiro nacional está ruim]”, afirma. “Mesmo com a ditadura [1964-1985], o pessoal não deixava de falar as coisas. Ou [os censores] não deixavam ou a gente escrevia [músicas] e eles entendiam errado. Mas ninguém deixou de escrever. Hoje, que está de novo quase uma ditadura, o povo não está sabendo escrever.”
Milton Nascimento em entrevista a Monica Bergamo na Folha de São Paulo.
“Querido Milton. Espero não ter de conferir a ti, o título deselegante desta matéria. Imagino que no calor de uma conversa, esse sentimento tenha vindo à tona pela insatisfação do que se apresenta de forma mais popular talvez hoje no Brasil. Será que é disso que falas? Da música de massa mais vazia e sem predicados sofisticados? Ora. Torço pra que seja e tenho o lamento imenso de perceber que talvez estejas mal assessorado pois há neste Brasil, infinitos artistas enriquecendo a cultura com novas linguagens, escritas e tecnologia. Há uma música preta, ocupando um espaço inédito que vai de Rincón a Josyara. Você já ouviu a Josyara tocar e cantar? E Liniker? Luedji? Percebes que tem muitas compositoras abrindo uma nova reflexão linguistica a partir de seus escritos? É pena uma grande imensa parte da música brasileira estar a margem, como meu velho pai. Vc se lembra dele? Itamar. Pois. A gente escolhe um lado, mas é sempre tempo de espiar sobre o muro. O Brasil é gigante e eu me orgulho muito de ser uma artista independente, que sobrevive de sua arte, que sustenta uma memória e existe. Não nos apague com uma declaração como essa. Nós estamos aqui, sendo alicerces invisíveis. Não fazemos merda. Fazemos música brasileira. Popular é um adjetivo dispensável, veja só. Te amo com a força de sempre e te respeito imensamente. Tbm questiono algumas parcerias que vi acontecer ao longo de sua carreira, mas pra mim, és um deus negro a orientar a nação com o bálsamo da sua voz. Questionar é um direto incrível, só não nos acorrente aos que de forma esvaziada, carregam a cultura para o ralo.
Um beijo imenso e meu amor eterno.”
Anelis Assumpção em seu perfil no Instagram respondendo a Milton Nascimento
“Fora do contexto, o título de uma reportagem pode levar o leitor a conclusões equivocadas. A frase escolhida para a manchete da entrevista que Milton Nascimento deu à jornalista Monica Bergamo (foto acima) se refere exclusivamente à música feita no mainstream do mercado nacional, consumida pela massa. E só a ela. Justamente por isso, os únicos citados por ele como contra-exemplo foram Maria Gadú e Tiago Iorc, dois dos raros artistas talentosos que transitam nesse universo industrial. Bituca jamais se referiu à nova geração brasileira que, à parte do mainstream musical, tem construído a melhor música desse novo tempo. Milton tem muitos desses artistas por perto. São seus amigos. E conhece profundamente o que eles têm feito por nossa música. Um salve para Zé Ibarra, Tom Veloso, Amaro Freitas, Dani Black, Silva, Rubel, Tim Bernardes, Djonga, Emicida, Beraderos, Rincón Sapiência, Liniker, Marcia Castro, Luedji Luna, Cicero, Mallu Magalhães, Céu e a tantos outros queridos amigos que estão e vão estar sempre por aqui.”
Retratação da assessoria de Milton Nascimento no instagram
“Eu achei hilário, foi uma declaração bem anos 70 ou 80, quando as pessoas se controlavam menos pra falar porque a repercussão era milhões de vezes menor. O que achei mais engraçado foi que quando ele quis consertar a declaração citando artistas que ele considera bons, várias pessoas que eu conheço falaram “agora eu acho que ele tinha razão” (risos). A música brasileira sempre foi muito boa e também sempre foi uma merda. Por exemplo, as pessoas falam dos anos 80 como se só tivesse coisa boa, mas o maior vendedor de discos dessa época foi a Xuxa, e todos nós sabemos cantar as músicas dela. O que vejo hoje é que só há espaço pra dois tipos de música no rádio e na TV, um tem 95% do espaço e outro tem 5%, a ponto de um gênero totalmente comercial ser considerado de alguma forma “alternativo”. Eu vim e entrei no mundo da música através de um troço que se chamava “Rock Alternativo”, algo que pelo menos teoricamente não deveria ser medido em paradas de sucesso, portanto não sei se sou a pessoa certa pra opinar sobre esse assunto. Mas, já que você pediu, solto minha bombinha: acho que o Brasil é um supermercado musical, mas hoje só o açougue tem vitrine.”
Gabriel Thomaz em entrevista ao site Scream & Yell.
“Eu não sei o que o Milton está ouvindo. Eu ouço coisas muito interessantes. A música de massa, desde os anos 60, 70, é uma merda. Uma porcariada imensa, que agora não tem mais tamanho com a internet, mas forma uma massa crítica que, se você espreme, tira 5% de grandes músicas. Certeza absoluta. É só procurar.”
Nelson Motta em entrevista ao Globo.
“Vida de música no Brasil é uma coisa muito doida, ainda mais no espectro de música independente, rótulo do qual a gente não consegue se livrar. Hoje até há atenção da mídia mainstream voltada para a nossa cena, o mercado de fora, a Europa sempre de olho, mas não foi fácil. Fomos uma banda que aprendeu a seguir. Vimos muita gente deixar a carreira, parar de produzir, e fomos sobrevivendo aos trancos e barrancos. A gente veio da internet, nunca teve muita noção, alguém para nos dizer onde tocar, o que fazer, fomos aprendendo sozinhos. E nossa música foi nos salvando, tivemos um trajetória diferente para conquistar nosso caminho.”
Teago Oliveira da banda Maglore em entrevista ao caderno Rio Show do jornal O Globo.
“Nós passamos por um momento de falta de regulamentação que permitiu um abuso de grandes empresas de tecnologia. Elas cresceram muito infringindo os direitos de todo mundo. A evolução da vida sempre é muito mais rápida do que a da legislação sobre essas mudanças, do entendimento de suas consequências.”
Marisa Monte em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.
“Defendo a ideia de que Caymmi não morreu. Ele, como afirmou em suas músicas, foi parar diretamente nos braços de Iemanjá, se transformando no mar.”
Henrique Dantas diretor do filme “Dorivando Saravá – O Preto que Virou Mar” em entrevista ao site Sceam & Yell.
“A transgressão é fundamental à imaginação artística, porque a imaginação lida com o proibido. Vão à coleção de discos de vocês e apaguem aqueles que levaram vidas questionáveis e vejam com quantos ficam. São os artistas que vão além das fronteiras socialmente aceites que nos trarão novas ideias sobre o que significa estar vivo. Na verdade, esse é o dever do músico – e às vezes essa viagem é acompanhada por um comportamento devasso, sobretudo no rock and roll. Na verdade, a natureza do rock and roll é devassa. Por vezes, o comportamento de um indivíduo é simplesmente maléfico, e esses casos precisam ser denunciados – e nós temos de tomar uma decisão pessoal sobre se queremos ou não envolver-nos com o seu trabalho”
Nick Cave em seu site em resposta a dois fãs que lhe fizeram perguntas sobre o estado do rock e também sobre as consequências do comportamento pessoal de um músico na apreciação da sua obra.
“Onde mora a nossa ignorância? A gente sabe que vai morrer e perde um tempo da p*** dizendo: ‘Você é gay’, ‘Você é do candomblé’… Para com isso e vai viver! Para de perder tempo”
Ivete Sangalo sobre pessoas que perdem tempo cuidando da vida das outras no programa Amigos, Sons e Palavras, de Gilberto Gil, no Canal Brasil.
“Tento redimir ou vingar meu real status de classe média colonizado pelo rock, pelo funk, pelo jazz, criando em seu lugar um território ocupado por um elemento que não me pertence, que conheço pouco, mas com o qual me indentifico muito – as músicas da Africa pós-colonial, Congo, Angola, Mali, etc – neles impondo as estruturas e dinâmicas da cultura popular com a qual tenho vivências profundas. Tendo desesperadamente me descolonizar inventando um jogo de poder de cartas marcadas em meu processo criativo. A guitarra é apenas a ferramenta principal do jogo da música e nem sempre estou feliz com o resultado. Penso muitas vezes que esse esforço de forjar um estilo próprio é uma espécie de mitologia vazia, que só serve para evitar que eu encare de frente meu descompasso individualista, que só diz respeito a mim mesmo. Às vezes as pessoas ao redor me mostram o contrário, pela forma com que algo do que criei as atinge. A balança pende. Mesmo assim, acho que para mim prevalece o sentimento de que meu melhor momento como artista passou longe de tudo isso, em alguma noite de Maracatu ou cantando num carro de som com a Fuloresta em alguma cidade da Mata Norte… Pouco importa, a gente tem que se virar com o que é e pode.”
Siba em entrevista para o site Volume Morto.
“Em AmarElo, eu quero mostrar, primeiramente, que precisamos de um símbolo forte para fazer as pessoas acreditarem de novo. No Brasil do pós-2013, infelizmente, a gente sonhou muito, mas fomos sequestrados pelo ódio nos organizamos em torno do “não”. “A gente é contra”, “A gente odeia”, “Contra tudo e contra todos”… Não estou dizendo que essas coisas não tiveram valor, mas não conseguimos construir. Sacou? Acho que não conseguimos alcançar a maturidade que o pós-luta exigia. Em um tempo de tanta vaidade, individualismo e exposição, ninguém quer dar o braço a torcer e dizer que está errado. Mudar de ideia se transformou em algo muito perigoso. AmarElo nasce em um momento onde dou um passo para trás para tentar entender onde estamos e para sugerir que precisamos ter uma abordagem diferente das coisas. Precisamos falar sobre conexão. Estamos muito desconectados. Se a gente continuar assim, daqui a pouco estaremos em frangalhos.”
Emicida em entrevista ao site Tenho mais Discos que Amigos
“Eu vejo muita coisa legal e com potencial de sucesso. O que eu acho é que a maneira como as coisas estão montadas favorece muito pouco o pop rock. Existem poucos canais de entrada para chegar nas pessoas. A internet é uma coisa bacana, é claro, mas também cria uma ilusão que submete a pessoa a um nicho. Eu acho que é um momento complicado, mas, por outro lado, eu sinto que existe um leve cansaço desses gêneros que lideram há tantos anos. Começa a ficar muito repetitivo, e eu entendo que as pessoas queiram ouvir novidades.
Sérgio Britto do Titãs em entrevista ao site Tenho Mais Discos que Amigos.
“Eu não quero olhar pra baixo e dizer que sou o preto no topo. Eu sou o preto no topo e todo mundo fodido em baixo? Um topo sem base, é um topo em falso, primeiro vento que bate você cai, po..”
Vandal em entrevista ao site Noticiário Periférico.
“Por isso dou tanta importância para lojas de discos. É lá que acontecem as conversas, lá que forma-se amizades e onde toda a integração acontece. Quantas bandas você conhece que nasceram em uma loja de discos? Vocês têm um respeito músico pelo tipo de música, e acabam tocando juntos. Que ruim seria se elas lojas deixassem de existir.”
Jack White em entrevista à revista Rolling Stone.
“Nada é pior do que hoje. Hoje está nos faltando água, ar, terra, dignidade, direitos humanos. Tudo está sempre piorando. Estamos vivendo um período de boçalidade no poder em quase todo o mundo, e a boçalidade é a irmã mais feia da burrice, da maldade e da crueldade. Os boçais estão no poder e eles são robôs enfurecidamente cegos. A mim cabe a guerrilha pacífica que é a arte, ela é minha única arma.”
– Angela Ro Ro em entrevista ao jornal O Globo.
“Muito do que está acontecendo hoje nas políticas sociais e culturais é por essa falta de contato, tanto na arte quanto na política. Se a conversa com a periferia estivesse mais presente e se fosse mais forte, a população, em geral, não teria caído na situação que caiu”
Rincon Sapiência em entrevista ao El País Brasil
“A maioria do rock mainstream soa cansado, velho e nostálgico. O que há de interessante está no underground. O rock hoje é uma forma de arte velha. As pessoas estão trabalhando com batidas eletrônicas e computadores. O R&B e o hip-hop estão substituindo em popularidade. Mas, enfim, quando o Sonic Youth foi à Europa nos anos 1980, as pessoas já diziam que guitarras eram ultrapassadas.”
Lee Ranaldo em entrevista à Folha de São Paulo.
“Ser artista significa lidar com questões sociais. Eu falo sobre namoro, traição, sexo, futebol, mas não posso ignorar temas mais sensíveis. Para mim é fundamental falar sobre as coisas que importam. Tenho sido muito feliz com essa forma de trabalhar.”
Iza em entrevista ao El Pais Brasil.
“Eu fico feliz de poder seguir tocando com prazer, estar no palco com alegria para me expressar e me comunicar com uma plateia. Se tem uma coisa que aprendi nesses anos todos, dividindo palcos com tantas pessoas incríveis, é que não existe ninguém melhor do que ninguém.”
Robert Cray, em entrevista ao site Reverb.
“Eu acho que o Brasil tem uma relação com música muito estranha e é o mínimo que eu posso dizer, muito estranho. Gilberto Mendes já tinha dito isso uma vez, ao falar que existe um desnível no tipo de circulação entre literatura, cinema, artes visuais e música, é como se a música tivesse que ser a mais segura de todas as artes, aquela que não te coloca, do ponto de vista da sua audição, que não te coloca problemas do tipo “como eu ouço isso?”. Se aceita isso no cinema, por exemplo, você vai ver um filme e se coloca num lugar que é “como eu vejo isso?”, com música parece que é mais difícil, pois música é um elemento muito arraigado dentro da constituição da cultura nacional, quer dizer, a gente gosta de se ver como um país musical, mesmo que não seja exatamente verdade no caso, mas isso faz parte da nossa auto compreensão, então eu acho que isso criou um sintoma, em que a música tem que dar segurança de audição, mesmo que ela provoque certos sentimentos, mas eu tenho que ouvir de maneira quase imediata.”
Vladimir Safatle, filósofo e professor da USP, falando sobre seu disco com Fabiana Lian e sobre música em entrevista ao site Scream & Yell.
“O pop rock sempre experimentou muito. Vejo muito espaço para essas bandas ocuparem um lugar. Agora mesmo, eu convidei a Érika Martins para gravar uma música do meu disco solo. Os Autoramas e o Vanguart, por exemplo, são bandas que poderiam ter muito mais projeção. Essa geração poderia estar hoje em um outro patamar já, porque eles são muito bons. Eu vejo muitas bandas nessa situação, e acredito que um pouco disso é por causa desse quadro. Fora a quantidade de bandas pequenas querendo mostrar seu trabalho e não conseguem. Mas pode ser que nos próximos anos tenhamos algumas boas surpresas.”
Sérgio Britto do Titãs em entrevista ao site Tenho Mais Discos que Amigos.
“Quando a Penélope surgiu, era a época do grunge, e tinha aquela coisa de que mulher fazendo rock tinha que ser masculinizada, tipo L7. Nada contra, mas eu queria ser feminina e fazer rock. É um puta preconceito ter que se travestir de homem para fazer rock ’n’ nroll. Você pode ser mais masculina, mais feminina, mas nada disso tem que ser uma obrigatoriedade.”
Erika Martins em entrevista para o site Scream & Yell.
“Essa coisa do Rock, hoje ser um monte de banda cover, um monte de bar e um monte de gente, quem faz uma banda de cover, não gosto de generalizar que tem muito músico bom, mas é um cara que não tá somando em nada nem pra própria vida, ele não tá se arriscando, não tá se desafiando(…) é um pouco disso, o rock se tornou um cover de si mesmo”.
Dead Fish em entrevista ao Canal RIFF
“As pessoas me veem em lugares onde não viam tantos negros e sempre perguntam: ‘Ah, você é militante?’. Eu não preciso ficar falando o tempo inteiro sobre as coisas. Se eu estiver no horário nobre da TV, mesmo calada, já tô dizendo muito.”
Iza em entrevista ao El Pais Brasil.
“O Estado e a sociedade brasileiros jamais se reconheceram racistas e egressos de um estruturante sistema de escravidão pautado numa ideologia racial, no chamado racismo científico – o que configurou uma conjuntura com bases nunca antes experimentadas no que se tem desvelado nas culturas humanas”.
Tiganá Santana em entrevista à revista Carta Capital.
“A batalha do forró pé-de-serra contra a maioria dessas bandas de forró estilizado não é uma simples discordância musical, é a guerra entre músicos pobres que não têm como se impor para alcançar seu público, e músicos ricos que usam do gangsterismo, da propina e do suborno para ocupar os espaços de diversão. O Ministério Público já denunciou inúmeras vezes essas práticas de contratos irregulares e de dinheiro “por baixo do pano” entre bandas e grupos políticos. Não se trata meramente da preferência por este ou aquele ritmo musical. Há uma guerra por um mercado onde circulam muitos milhões.”
Braulio Tavares, compositor, escritor e tradutor, em entrevista à revista Continente.
“Querida Spin,
Eu nunca usei heroína ou qualquer outro tipo de droga ilícita na minha vida e qualquer um que seja próximo a mim pode confirmar isso. Se vocês tivessem de fato lido o artigo na íntegra, poderiam perceber que eu estava brincando. Mas eu suponho que a Spin nunca permita que os fatos atrapalhem o bom clickbait.
E já que estamos aqui…
Queridas Pitchfork, Stereogum, Noisey e todo o resto do lixo de sites de ‘jornalismo musical’: embora eu perceba que vocês trabalhem no negócio de caça-clique e declarações curtas, e que vocês estão putos porque a Third Man Records não lhes enviou uma cópia gratuita do novo álbum do Raconteurs por causa do quão desagradáveis vocês regularmente são, aqui estão algumas outras notas: eu não odeio pessoas que têm celulares ou eu nunca permiti um perto de mim ou eu odeio TODAS as tecnologias, etc. Parem de generalizar as coisas. Só porque eu não possuo um celular em uma tentativa de levar uma vida saudável, não significa que eu odeio toda a tecnologia. Embora vocês adorassem que eu fosse um ludita que proporcionava risadas cibernéticas até a manada de vacas voltar, eu detesto quebrar esse mito afirmando que eu ouço música digital, eu dirijo um carro elétrico e eu digitei essa resposta chata em meu computador.
Além disso, de volta ao meu tempo em 1800, os artistas não eram punidos por tomar a estrada menos percorrida ou por responder perguntas com respostas impopulares. Diabos, nós até esperávamos que nos rebelássemos contra o status quo, se você pode acreditar. Eu encorajo as pessoas a levarem suas próprias vidas saudáveis e encontrarem maneiras de se engajarem em coisas que inspiram umas às outras ao invés de derrubá-las. Se vocês gostam de música e artes, eu acho que suas organizações devem começar a aprender a fazer a mesma coisa ou pelo menos fingir que vocês amam música em vez de procurar agradar seus anunciantes com cliques. ”
Jack White em carta aberta em sua conta no Instagram endereçada principalmente para a Spin
“Eu costumo separar as coisas entre cultura e entretenimento. A gente tem que saber que Gilberto Gil é cultura, e Anitta é entretenimento. Eu não quero nem entrar na disputa de quem é melhor ou pior, mas é diferente. E eu tento ficar no lado da cultura o máximo possível. A música como entretenimento é legal também, mas ela tem que ter esse lado cultural. Não dá para você falar qualquer merda.”
Marcelo D2 em entrevista no site Tenho Mais Discos que Amigos.
“Não estou alimentando o dragão faminto da mídia que virou a internet. Hoje se faz música como pastel. O cara bom é aquele que ‘frita’ 3 músicas por dia hoje em dia, é disso que a internet precisa, e aí, nesse caso, fica mais difícil para quem se envolve com a música emocionalmente. Não acredito em vender sentimento no guichê da farmácia em forma de tubo. Nesse quesito, me sinto ultrapassado.”
Mano Brown em entrevista para o site Esquina Musical.
“Toda música periférica e preta passou por esse processo de perseguição. O samba tem hoje o respeito como patrimônio da música brasileira, mas há anos atrás era hostilizado, a polícia batia nas rodas de samba, o que não é diferente do que acontece no fluxo de São Paulo, nos rolês de funk no Rio, nas festas de brega-funk em Recife ou nas aparelhagens em Belém.”
Rincon Sapiência em entrevista ao El País Brasil
“Naquele disco (‘Todas as Bandeiras’) conseguimos carregar leveza para algumas situações sem abordar a coisa diretamente. A gente já imaginava para onde o Brasil tava apontando. E hoje as coisas estão se confirmando. Era pra gente estar discutindo células tronco, inteligência artificial, mudança climática, mas estamos falando de trabalho infantil, agrotóxico… é um pesadelo. É uma fase que parece que vamos ter que atravessar. O negócio está impedindo que a gente avance intelectualmente, é muito doido ter que afirmar o óbvio para as pessoas. Eu tô no grupo do terra-planismo no Facebook há seis meses. Bicho, a verdade acabou, é a negação da ciência. É o papo do não vacinar o filho porque é uma grande conspiração mundial, olha que loucura!”
Teago Oliveira da banda Maglore em entrevista ao caderno Rio Show do jornal O Globo.
“Talvez precisemos que a criatividade seja esmagada e que a hipocrisia congele a arte, para que, mais tarde, uma forma musical selvagem, perigosa e radical possa romper esse gelo, de dentes à mostra, e o rock and roll possa voltar à transgressão”
Nick Cave em seu site em resposta a dois fãs que lhe fizeram perguntas sobre o estado do rock e também sobre as consequências do comportamento pessoal de um músico na apreciação da sua obra.
“Eu acho que a gente não pode jamais desprezar um elemento que está longe de ter seus efeitos medidos, que são as redes sociais. Acho que a gente não tem a distância necessária para avaliar o tamanho do mal que as redes sociais têm causado nessa geração. Eu começo a ver alguns pontos de reflexão sobre isso, pessoas saindo das redes sociais porque estão entendendo que é um ambiente insalubre. O que sei é que, quando vejo as manchetes nos jornais, se eu aplicar a seguinte pergunta: “sem as redes sociais, isso sobreviveria?”, a resposta é alarmante. A começar pelo nosso presidente da República. E eu acho que daqui a alguns anos a gente vai olhar para a era das redes sociais como quem olha para o cigarro ou para o refrigerante. “Cara, as crianças davam refrigerante na mamadeira para as crianças”, “cara, em 2019 as pessoas davam redes sociais pras crianças”. Isso é algo claro para mim. E acho que a gente já deixou a fase em que as redes sociais eram um simulacro das relações verdadeiras num ambiente virtual, e entramos em outra fase, na qual as relações reais são baseadas nas relações das redes sociais. As pessoas passam a se comunicar no offline como elas se comunicam no online. Elas começam a raciocinar no offline como elas raciocinam no online. E o online é um lugar de ostentação. (repete) É um lugar de ostentação. Não é um lugar onde você mostra trabalho, e sim mostra opinião. Veja a família Bolsonaro: por que nossa “família real” se importa tanto em ser uma espécie de ombudsman da velha mídia? Por que políticos passam os dias preocupados com as opiniões que eles precisam dar sobre as coisas em vez de trabalhar? Porque é o raciocínio das redes sociais transplantado para o mundo real, no qual mais importante que meu trabalho é minha opinião. E isso vale tanto para o presidente da República quanto para uma banda de rock. Tipo: “eu não tenho trabalho nenhum, eu sou um soulman que canta mal, mas eu tenho opiniões muito relevantes a dar”. Eu acho que isso… Deixa eu avançar um pouquinho nesse raciocínio: acho que isso é a materialização do mundo das redes sociais. E para quem ama música, isso é muito doloroso ver artistas de música que não têm música. E não estou falando só do circuito alternativo lacrador, não. Estou falando da Anitta também. A Anitta é uma artista, uma estrela infinitamente maior que os hits dela.”
Ricardo Alexandre, jornalista, em entrevista ao site Scream & Yell.
“A gente já viu essa história de pessoas indo para São Paulo muitas vezes. De certa forma, eles deixaram um legado, mas não o mantiveram. É essa construção que a gente está fazendo lá em Salvador, de não sair de lá, de preservar e de continuar a fazer a galera falar: “Porra, eu consigo realizar o meu sonho morando em Salvador, não preciso ir pra lugar nenhum”.
DJ e produtor baiano Rafa Dias, do ÀttooxxÁ, em entrevista à revista Trip.
“A arte aproxima, faz as barreiras sumirem, tem uma capacidade de alcance muito grande. Às vezes a gente fala uma coisa, com discurso, com sentimento, e bate de um jeito. Mas, quando a gente vem com a música, com a melodia, com a dança, com o audiovisual, com o corpo, é um convite muito mais lúdico para as pessoas que muitas vezes têm dificuldade de acessar um discurso que pode parecer duro e a reação imediata é a repulsa. A arte reduz um pouco essa dureza das pessoas em receber as nossas denúncias, as nossas queixas. Estamos falando de coisas muito sérias para nós, mas, com a arte, tudo isso pode se tornar um pouco mais tranquilo e reduzir essa barreira. Quando uma pessoa se aproxima do trabalho de um artista que é de um lugar, naturalmente ela pode se interessar por saber mais sobre esse lugar de origem, que tem a linguagem e a realidade que o artista está falando, mesmo que não seja diretamente. Tem esse poder de atrair as pessoas para um lugar, para a realidade de lá, para conhecer algo novo. A arte é transformadora, é a nossa salvação. É por isso que ela tem sido tão atacada, as pessoas sabem do poder que ela tem. Então, eles querem minguar e reduzir todas as nossas possibilidades de alcançar a vitória.”
Larissa Luz em entrevista à revista Trip.
“Artistas, não acreditem tanto em vocês… Sempre duvidem de si. Acreditar em si é uma armadilha do ego. Sempre se questione, se duvide, se veja como os outros te vêem também”
Letrux em entrevista para o site Scream & Yell
“Quando estive no Brasil no ano passado, fui apresentado ao lendário músico brasileiro Milton Nascimento e bebemos algumas belas cachaças juntos. Quando li que ele estava planejando cruzar a linha de piquete do movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) para se apresentar em Tel Aviv, fiquei chocado. Escrevi para Milton pedindo uma chance de falar com ele. Nem ele nem ninguém de sua equipe me respondeu.
Estou com o coração pesado. Eu queria falar com Milton sobre amor, morte e música. Amor por todos os nossos irmãos e irmãs no mundo, independentemente da religião ou etnia e nacionalidade, mas particularmente pelos palestinos e palestinas que buscaram artistas em todo o mundo para pedir ajuda através da recusa em lavar a imagem do Estado de apartheid israelense, não se apresentando por lá.
Eu queria falar com Milton sobre a morte. Eu queria perguntar a ele se ele tem filhos, e como ele se sentiria enterrando um deles após um abate casual feito por um exército de ocupação. Eu queria falar com ele sobre música e sua profunda obrigação moral como eminente músico de evitar que sua música seja usada para lavar o apartheid com arte. Milton escolheu caminhar por outro lado, ignorando o que Angela Davis chama de indivisibilidade da justiça. Que pena.”
Roger Waters em uma carta falando sobre como se “decepcionou” com o fato de que Milton tocar em Israel.
“Minha música já me levou para muitos lugares, alguns dos quais eu jamais imaginei. E sou grato por isso. Pouquíssimas vezes declinei de um convite. Afinal de contas, todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo? Já estou em Tel Aviv desde ontem. Fui convidado a cantar aqui por uma empresa gerenciada inteiramente por um brasileiro. Somente com essa informação cai por terra qualquer tipo de argumento de que eu esteja contribuindo com o ‘apartheid israelense’. Este show NÃO tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense. São meus fãs israelenses que me trouxeram até aqui, sendo que, grande parte destes fãs são brasileiros que vivem em Israel. Durante a ditadura militar brasileira eu jamais deixei de tocar no meu país. Então, por que eu deixaria de tocar agora? Por que deixaria de compartilhar experiências de amor e mudança enquanto acontece no Brasil um governo de extrema-direita? Mesmo divergindo das ideias de um governo, jamais abandonarei meu público. Afinal, são as pessoas que importam e que podem transformar. Minha questão, a qual deixo aqui para reflexão de todos: por que um povo deve sofrer retaliação pelos atos políticos de seus governantes? As minorias contrárias devem continuar sem voz? Para mim, repito, o artista deve ir onde o povo está e hoje eu estou aqui para celebrar a paz e tudo que nos une. Viva o amor, viva a música!.”
Milton Nascimento em sua conta oficial no Instagram para publicar uma resposta
“Quando o país tem 13 milhões de desempregados e a preocupação do presidente é impedir que pessoas transexuais tenham acesso a um vestibular especifico para elas, eu acho que a gente precisa lamentar, não rebater. A gente não está retrocedendo: a gente está caminhando rumo ao suicídio coletivo não só do projeto político inexistente desse governo atual, mas da nação como um todo”
Emicida, em entrevista ao programa RFI Convida.
“Evidentemente, quando ascendem ao poder oficial do Brasil a prática e o pensamento fascistas, revisionistas da história e de teorias científicas, tendo a intolerância desenfreada e difusa como fio condutor de uma política de governo, bem como o obscurantismo, a violência, a estupidez e a decomposição dos direitos humanos e dos interesses democráticos como método, estamos diante de uma enorme tragédia ou, se quisermos, da manutenção e acirramento das nossas tragédias, infelizmente, constitutivas”.
Tiganá Santana em entrevista à revista Carta Capital.
“Hoje temos uma voz de representatividade muito maior, após a queda da indústria da axé music, que foi uma grande apropriação da música preta do Recôncavo Baiano. Muitos artistas travaram uma guerra lá atrás para que isso acontecesse. É gratificante a gente dar continuidade a uma história de guerreiros que conseguiram quebrar isso com a musicalidade independente preta. É como se a gente estivesse pegando um cajado e dando seguimento a isso. Na axé music, a indústria se apropriou muito da musicalidade preta, com a percussão, inclusive muitos percussionistas maravilhosos daquela época vivem no anonimato hoje. Ela já seguiu outra estratégia, está lá no sertanejo. Mas essa queda foi necessária. Essa cena hoje, de Luedji, de Xenia, de Baco, do Àttøøxxá, da gente, BaianaSystem é ressignificação de luta mesmo, de guerreiros que fizeram isso lá atrás. O pagodão hoje é a cena que representa a voz da favela na Bahia, em Salvador e Região Metropolitana. Uma cena preta que sofreu muito por causa da indústria do axé. É o cotidiano da periferia, eles falam muito de sexualidade, independentemente de gênero, como uma fonte de poder, sem aquela visão pejorativa que o sistema elitista colocava da dançarina ou do dançarino do pagode. Hoje a gente vê essas expressões como uma fonte de libertação: a nossa dança do pagodão. É um respiro mesmo do cotidiano que a gente vive. Não tem como falar de uma coisa só, tudo está interligado. As religiões de matriz africana, que são frutos do nosso cotidiano, e os orixás são reverenciados através do toque. Ele desce para reverenciar o universo e a natureza como uma conexão só. E a nossa música é essa libertação. Eu enxergo tudo isso como uma contemplação divina mesmo do que está acontecendo. Ver essa música preta baiana hoje tomando um outro lugar do que foi imposto para a gente. Estamos invadindo os espaços com o que é nosso de direito: a nossa fala, a nossa representatividade, a nossa vivência cotidiana, as nossas mídias independentes tomando poder.
José Macedo vocalista do Afrocidade em entrevista ao Rio Adentro.
“A música popular sempre expressou o pensamento médio do segmento social. Nos anos 1970, havia um certo pudor porque, na verdade, tinha uma geração de artistas – mais especificamente na MPB – de formação universitária, identificada a vanguardas literárias. Tinham um posicionamento mais crítico. Mas a música popular sempre expressou o meio social de onde ela surgiu. A música de malandro, por exemplo. A música de hoje expressa esse pensamento que existe na sociedade. O machismo, a violência, que se vê no funk, no breganejo, no brega. Claro, a gente pode analisar de forma crítica, apontar, desejar que não seja assim. E, certamente, a sociedade melhorando, tendo uma visão mais prudente e menos preconceituosa, isso vai se refletir na música que será feita. Mas acho que, grosso modo, ela está sempre expressando o segmento social que produz essa música, de onde se origina.”
Escritor Paulo Cesar de Araújo em entrevista à revista Continente.
“”Esse caminho da poesia é a grande batalha da qual falo. Ela que desmembra. Às vezes, duas palavras podem quebrar seu coração mais do que 300 contos, 300 histórias do beabá. A poesia leva você para outro entendimento. Às vezes, o próprio escritor não sabe a alquimia daquelas palavras que ele está sugerindo porque ele também é fruto daquela vivência. Composição, para mim, é o fruto da vivência, do se entregar. É acreditar na memória afetiva, ter fé nas pessoas, acreditar nos objetos, em tudo que circunda a gente. O mais interessante da composição é o processo de morte ao ego. A música é algo que não está em você, ela chega através de transmissões que, muitas vezes, você nem sabe quais foram.
Russo Passapusso em entrevista à revista Continente.
“Eu preciso me autoafirmar. Mesmo que eu seja a poderosona, a que se aceita, a gente liga a televisão, entra no Instagram e continua vendo as pessoas com barriga tanquinho, com corpo perfeito. E a mulher que posta foto fora do padrão é a gorda, horrorosa. Hoje, essa opressão chega, bate e volta. Estou aqui, me achando gostosa.”… –
Gaby Amarantos em entrevista ao UOL.
“A gente que faz esse tipo de música, os próprios sambistas antigos, se você for pegar a raiz do samba, nenhum deles ficou rico. Existem pessoas que estão lucrando e ficando ricas com nossa forma de vestir, nossas gírias e nossa forma de andar”
Vandal sobre os artistas periféricos em entrevista ao site Bahia Notícias.
“Sempre lutei muito. Nunca olhei no espelho a cor da minha pele. Acho que não vale a pena. Sempre olhei para mim como mulher e ser humano. As pessoas precisam ter paciência para não deixar que isso [o racismo] machuque tanto. Vá à luta. Esqueça. Eu me sinto maravilhosa. Nasci negra, me orgulho de ser uma mulher negra, por ter vencido. Sou negra e maravilhosa. Elza Soares. A deusa, a negra.”
Elza Soares em entrevista ao UOL.
“O atual público consumidor de rap no Brasil é um dos mais alienados da história. Eles continuam se informando pelos mesmos canais que ditam um modelo de música e de artistas que devem ser consumidos, gerando um recorte na história recente do rap brasileiro parecido com o recorte científico das academias em relação a história do conhecimento ocidental. Os holofotes do rap continuam sudestinos assim como os holofotes do conhecimento acadêmico continuam eurocentristas. Somado a isso, percebemos claramente uma preguiça no jornalismo cultural brasileiro que faz vista grossa para as manifestações que acontecem para além das capitais e ainda cometem o crime de fazer comparações com os expoentes que eles mesmos elegem. Conheço poucos jornalistas que realmente conhecem da cultura hip-hop e que mereça o meu respeito e atenção. Estamos em 2018 e o termo ‘rap nacional’ continua fake, confirmando o quanto o Brasil ainda não se conhece.”
Jef Rodriguez, um dos vocalistas da banda OQuadro, em entrevista ao site Bocada Forte.
“O samba tradicional é muito diferente do que acham ser samba. Usam elementos do samba, mas não é samba”, explica sobre a diferença com o famigerado pagode, com a autoridade de quem ganhou o status de carioca pela incorporação e respeito às raízes musicais do Rio, mais do que muita gente que nasceu na cidade.
Toninho Geraes em entrevista à Carta Capital.
“já me disseram: “Ah, você fala que faz rap mas ninguém nunca te viu em batalha ou rinha.” Mas é preciso também contextualizar que até pouco tempo, até o Rico Dalasam aparecer como um dos primeiros rappers assumidamente gays do Brasil, o rap tinha um clima meio hostil tanto para mulher como para pessoa LGBT. O meu trabalho, o do Rico, o do Hiran, e agora a Linn da Quebrada, a Monna Brutal, um monte de gente quebrando esse paradigma é uma coisa que causa um certo estranhamento ainda. Eu faço rap como qualquer outro maluco aí e dialogo com outras vertentes musicais, mas isso não é exclusivo meu. Você vai escutar por exemplo o Filipe Ret, ou o Baco, ou o BK, os caras também estão numa transdisciplinaridade musical que está além do rap. Eu não sei, ainda acho que, apesar de ter toda essa visibilidade para as figuras LGBTs que estão inseridas nesse nicho musical, ainda existe um pouco de resistência, falta mais inclusão. Porque visibilidade… De que adianta as pessoas só lembrarem que um monte de gente existe só quando está próximo, por exemplo agora da Revolta de Stonewall? Isso é uma coisa que está sendo mais combatido, mas discutido agora, mas acho que precisa de muito mais inclusão, porque ainda é uma visibilidade muito ínfima. É importante que as pessoas vejam isso e parem de olhar torto. A gente está fazendo o corre como qualquer pessoa, mano. O sol precisa brilhar para todo mundo (referência à faixa “Pedra do Sal”, do EP “JezaKassin”).”
Jeza da Pedra em entrevista ao Rio Adentro.
“Falta reconhecer a arte como riqueza de fato, não uma riqueza imaterial, principalmente no momento em que vivemos. É importante deixar clara a importância da arte e da cultura na economia brasileira. E entender seu potencial de crescimento.”
Marisa Monte em entrevista ao jornal Folha de São Paulo.
“Perdi um pouco a paciência, infelizmente. Acho que hoje é tudo muito slow. Até quando vai passar as músicas do show, o músico diz: “Pô, Tornado, tá difícil pra caramba, aqui tem uma semicolcheia!”. Não quero falar de Nego do Borel, de Jojo Todynho, mas é fato que o Brasil tem todo um leque de situações boas musicalmente, e que, por preguiça, as pessoas preferem ir no “senta, senta, senta, senta”. Pôxa, cara, o Vinicius eo Tom morreram à toa? Os caras não dormiam, não comiam, porque tinham que fazer uma coisa boa. Hoje em dia é só “ah, isso aqui vai rimar”.
Tony Tornado, aos 89 anos, em entrevista ao jornal O Globo.
“Sinto que ainda tenho 15 anos quando estou ouvindo heavy metal. Eu nunca cresci e nem quero! Não ligo para o que as pessoas digam, eu apenas as ignoro. Não sou como esses caras nostálgicos que falam sobre os ‘dia de glória’ do metal. Eu esto vivendo esses dias agora”
Max Cavalera em entrevista ao site Reverb.
“Como eu ofendi uma comunidade inteira ao dizer pra uma drag queen que ela não está arrasando como pensa que está? Pabllo me dá uma vibe de artista de nível C ao fazer a arte dele uma réplica em estilo cabaré do que os artistas estão fazendo em mercados de nível A. Eu sinto que muitos artistas brasileiros têm um estilo forçado de audição do American Idol que é desnecessário. O Brasil tem uma cultura rica, profunda e única… a cultura americana é tão vazia e pobre. Ela copia o que ela vê e então quer exigir respeito de uma artista que trabalhou duro e literalmente sofreu para achar a própria voz. Dito isso, eu nunca vou abrir um show para a vagabunda e não peço desculpas. Eu sinto que os pop stars brasileiros atuais meio que tentam ‘subir’ ao pop ocidental quando eles deveriam simplesmente destruir tudo com aquelas profundas raízes brasileiras e poder espiritual.”
Azealia Banks em uma de suas contas nas redes sociais.
“O que é legal é o seguinte: hoje nós temos uma agenda, um circuito de festivais independentes pelo Brasil inteiro, festivais grandes, pequenos, de todos os tamanhos, do tamanho que dá, que rola. Eu peguei uma época que independente era sinônimo de amador. Nesses 20 anos, posso te falar uma coisa com certeza: um dos nomes que fizeram esse circuito se solidificar e ser respeitado pelo público e pelo mercado foi o Autoramas. O independente é um mercado aberto, democrático. É isso que tenho orgulho de ter participado, de ter trabalhado por isso. Muito orgulho. Não trabalhei por um lance que fechou um mercado, trabalhei por um lance que abriu um mercado. Hoje você não pensa independente como o “circo pobre”. Cara, não é isso. É outra coisa. As produções são sensacionais, os artistas são internacionais. O Autoramas mesmo já fez 47 viagens internacionais, já tocamos em 23 países.”
Gabriel Thomaz em entrevista publicada na Revista Traços.
“Quanto mais eu vou sendo retirado da minha realidade, que é a periferia, as músicas vão se alterando também. Porque alguns músicos que eram de periferia a letra deles nem fala mais de lá, já fala de uma outra coisa, de um outro lugar. Que eu ainda não acessei, e eu acessando quero também voltar para encontrar essas pessoas que são iguais a mim, que ainda têm muito o que falar.”
Edgar em entrevista ao Rio Adentro.
“No que se refere ao rock, creio que o novo fanatismo moral que tem caracterizado a nossa cultura até pode ser bom. Talvez seja disso que o rock and roll precisa agora. O rock contemporâneo parece já não ter força para lutar contra estes inimigos da imaginação, estes inimigos da arte – e, nesta sua encarnação, talvez o rock nem mereça ser salvo. Esta camada de puritanismo pode ser o antídoto para o cansaço e a nostalgia que têm atacado o rock”
Nick Cave em seu site em resposta a dois fãs que lhe fizeram perguntas sobre o estado do rock e também sobre as consequências do comportamento pessoal de um músico na apreciação da sua obra.
“Eu ouço rádio e geralmente fico abaixo de 92. Esse é o melhor lugar para ouvir música. Ainda há DJs tocando coisas legais. Todos que eu conheço que estão ouvindo o Spotify ou o Apple Music não descobrem nada de interessante. Quando eu peço para eles tocarem uma música legal, eles nem têm uma. Se você tiver que escolher um serviço de streaming, eu diria que o YouTube é o único, mesmo que não seja bem isso. Bem, você pode encontrar qualquer coisa. A maioria desses serviços de streaming você não pode realmente… Quer dizer, eu entendo. Se você quer ouvir música de uma maneira simples, são U$10 por mês, eu entendo. Você não vai comprar músicas no iTunes, eu entendo isso, mas… Sim, eu basicamente baixo as coisas e as coloco em um dispositivo que não é da Apple, porque não deixam mais você ter MP3s, é tão estúpido. Voltamos tanto para trás. Todo o processo da música é tão estupidamente complicado agora, de toda a tecnologia.”
Julian Casablancas em entrevista a Bilboard americana(10 de abril de 2019)
“Se você não conseguir ficar sem beber por um dia, isso vai te incomodar, é uma coisa triste. Então é a mesma coisa com isso, se você não pode simplesmente largar [o celular] por uma hora e experimentar a vida de uma forma real, isso é triste. E talvez seja ainda mais triste que você tenha que ser instruído a fazer isso. Que você não queria naturalmente fazer isso sozinho. Boa parte disso, 90%, é ‘Veja o que estou fazendo que você não está fazendo’. É essa competição, voyeurismo, ciúme — essas são características humanas realmente superficiais. Vamos lá, cara. Não é assim: ‘Eu assisti ao melhor filme da minha vida’ ou ‘acabei de ouvir o poema mais lindo’. Isso mostra que, se isso não está acontecendo no momento, não vale a pena para eles. Muito disso é realmente absurdo. É triste também! É engraçado, cara…”
Jack White em entrevista a NME.
“Vejo características similares em muitas delas. Todas respiram essa cultura lado B. Vejo o grimme muito parecido com o funk, e o funk muito parecido com o kuduro, o brega-funk muito parecido com o reggaeton e com o dancehall, é tudo muito semelhante. Estou pensando em trabalhar com uma música que consiga atender a todas essas periferias. A ideia é fazer algo menos cabeçudo e ter um papo mais franco, aberto e conectado com meus iguais.”
Rincon Sapiência em entrevista ao El País Brasil
“Quem me conhece sabe que eu não queria que o governo que está aí ganhasse. Isso é óbvio, por motivos óbvios. Só não vê quem não quer e quem realmente virou do contra. Então, aquele processo de impeachment da Dilma e a eleição do Bolsonaro já vêm acontecendo há dois ou três anos. Inclusive, com a forma do meu público, entre aspas, de lidar comigo. Eu já tinha percebido mudanças filosóficas. Vivo a rua, vivo o povo. Percebi isso muito antes do impeachment da Dilma. Quando ela sofreu impeachment, falei para os meus amigos do rap: “Esse impeachment foi para nós todos, de uma vez. Não foi só para ela. Tem um descontentamento aí no ar. A gente tem que parar para prestar atenção nisso”. Já tinha começado esse movimento da direita antes do impeachment. As redes sociais mostram. Elas não são tudo, mas são 99% do que as pessoas pensam. Você pode até ignorar o que a internet está falando, mas aquilo é uma realidade. Se aquilo fosse um papel para ser assinada uma lei, tinha se assinado uma lei de matar um. “Você acabou de assinar um papel que libera invadir terreno quilombola”. “Você acabou de assinar um papel que vai liberar armamento de fogo nas ruas”. Então, você tem que ser responsável pelo voto que está dando. Naquele momento, existia muita insegurança da minha parte em relação a tudo. A tudo que eu ouvia dos dois lados, tanto da esquerda quanto da direita, era aterrorizante. Parecia que haveria um confronto armado nas bocas de urnas, era esse o ar que estava respirando. Tenho amigas e amigos que ficaram deprimidos naqueles dias, crises de choro, de pânico, às vésperas daquela eleição. Tudo isso veio à minha mente, ali, e eu vi que a gente perdeu essa eleição. Era o símbolo de uma derrota consolidada.”
Mano Brown em entrevista a revista Continente (07 de março de 2019) – Leia completa aqui.
“Não tem relacionamento, não. A gente não tem conversa com fascista, é paulada, tá ligado? Não troco ideia com fascista, não. Esses metaleiros fascistas vão tudo se arrepender. Como esses caras dizem ser satanistas, escutam black metal, falam que são fãs do capeta e tal, mas apoiam cristão fundamentalista? Os caras são loucos, velho, tá ligado? A coisa mais fácil de acontecer é o Malafaia, esses filha da puta cristão aí, proibir banda de black metal, de death metal de tocar aqui, cara. Porque falam do capeta, tá ligado? É muito ridículo isso tudo, cara. Antigamente, o metal era contra tudo isso. Agora tá do lado desses filhos da puta? Acho isso uma merda e sempre digo: com fascista não tem ideia, cara. Os caras não entendem, são burros, tapados. Acreditam em mentiras e são racistas. São tudo que não presta, então não tem ideia.”
João Gordo em entrevista para o site Interdependente.
“Acho essa ideia de que música romântica não é sofisticada uma estupidez”
Nando Reis em entrevista ao Gente – iG.
“Tem momentos de desabafo que são ressonâncias a todo esse campo de intrigas e ofensas da internet: essa criação dessa identidade frouxa, sem responsabilidades individuais, essa coisa de gritar por gritar, xingar por xingar. Não participo disso e nem gosto de me sentir alvo desse tipo de coisa, então a música tem um pouco disso. Mas tem também a coisa de: olha, nós somos artistas e temos o plano de subjetividade que é, de certa forma, distanciado da vida real, das disputas. O poeta também tem que ter liberdade para flutuar.”
Gilberto Gil em entrevista ao jornal Correio 24 Horas.
“Olha, eu acho que a gente está no processo. Não vai ser de um ano para o outro, sabe? Vai demorar para de fato as coisas estarem mais iguais. E essa transição se estende para muitas coisas. Eu me sinto uma artista em transição eternamente. Para mim, é muito trabalho. Porque é isso: é mulher, já está num universo masculino, quer compor, quer viajar, quer ser mãe, não quer terceirizar filho, quer cuidar de filho, quer cuidar de relacionamento íntimo, o casamento, quer viver a vida sendo mulher sendo quem é. Eu quero ser a mulher que eu quero bancar, quero poder fazer o que eu quero. São muitas coisas e muitas revoluções diárias a serem feitas. Papéis a serem divididos. Eu estou aprendendo a lidar com o meu próprio machismo interno. Porque antes era aquela coisa de: “Não, eu resolvo, eu dou conta.” E não, cara, eu não posso dar conta de tudo (risos). Eu tenho que aprender a abrir mão e a dividir, e aceitar também, quando eu entregar, o que vai ser entregue para mim de volta. As revoluções são diárias. E a gente mudou, mas nem tanto. A gente ainda tem muito o que mudar. A própria mulher tem muito o que mudar, e os homens também estão tentando entender. É um trabalho feito em conjunto e no qual a gente vai se entendendo cada vez mais. Mas vai demorar ainda, eu acho.”
Céu em entrevista ao Rio Adentro.
“Não gosto de ser famoso e de ser reconhecido. Se estou no metrô e sinto um olhar, aquilo já me enche de coisa. Começo a pensar na carreira, no que sou e no que represento. É muito cansativo.”
Jaloo em entrevista ao Globo.
“O que eu acho que a gente tem que fazer nesse momento é recuperar a calma, que é a primeira coisa que nos roubaram. A rotina é muito corrida e precisamos sempre estar nos virando para conseguir dinheiro. Sem calma, ninguém pensa direito. Nesse sentido, eu acho que a serenidade é revolucionária. Sabe aquele momento em que você tretou com alguém porque estava com a cabeça quente e depois de um tempo pensou de maneira diferente sobre a situação? Quero fazer com que as pessoas pensem direito. Várias pessoas, que no fundo concordam entre si, estão brigando.”
Emicida em entrevista ao site Tenho mais Discos que Amigos
“Eu acho que não tanto o Brasil. Quando fala “o Brasil”, eu acho meio engraçado. Na realidade, é o sul do país. O Brasil sempre teve músicos negros muito fortes. Subiu para Pernambuco, você vai ter a Lia de Itamaracá, que é um ícone. Você vem para o Maranhão, tem o Edson Gomes, que é outro. Você vai para a Bahia, tem o Gilberto Gil, outro ícone. Todos eles sempre foram pretos. Ou o Brasil começou a olhar para eles como negros agora? No sul, talvez a indústria do sertanejo, com a indução do Gugu, os showmícios de políticos, trazendo essa questão do branqueamento da música brasileiro, fica mais claro. Mas ela sempre foi uma coisa muito escura. Sempre teve Elza Soares, Emílio Santiago. Sempre teve artistas negros fazendo o que fazem. A visibilidade é no olho de quem vê, sabe? Acho que as pessoas tampavam os olhos a esses artistas. Não deixava eles atuarem como atuam hoje em dia, como uma Xenia França, uma Luedji Luna na capa da (revista do) Boticário, da Avon, a Tássia Reis. Esses artistas agora têm mais voz, sim, no sul. Karol Conka, que vem dominando uma cena muito forte. Rincon Sapiência, que vem colocando sempre essa questão de “pretas e pretos estão se amando”. É a mesma coisa que dizer: “Ah, a questão indígena no Brasil agora está muito em alta.” Como assim? Sempre esteve, desde 1500 estava em alta. Agora que vocês estão dando bola e querendo falar sobre. Entre eles, a galera já está preocupada em demarcação de terra faz tempo.”
Edgar em entrevista ao Rio Adentro.
“Acho que a música sempre é um filtro impressionante pra vida. Ela é uma maquete para as discussões importantes da vida. Por isso que a música que não é passível de discussão não me interessa. A música bem executada não me interessa, a não ser nos meus momentos de lazer. Como exercício de pensamento, a música que me leva a pensar, a discutir, é muito melhor. E por ser tão portátil – você não precisa nem de instrumento para fazer música, só precisa estar vivo – é uma coisa muito bela, muito linda. “
Ricardo Alexandre, jornalista, em entrevista ao site Scream & Yell.
“O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. E a indústria do aborto alimenta uma coisa muito mais pesada, que é o satanismo. O próprio John Lennon disse abertamente, mais de uma vez, que fez um pacto com o satanás.”
Dante Mantovani, maestro, youtuber e atual presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes) em seu canalno You Tube
“Você percebe que está se comparando com as outras pessoas. Devo ser assim? Devo agir assim? Parecer assim? Será que isso me tornará mais popular ou mais bem-sucedida? As pessoas são escravas dessa aprovação contínua dos outros. Me recuso a aceitar essas convenções e o que a sociedade espera de mim como mulher.”
Madonna em entrevista ao The Sun fez críticas ao Instagram.
“Todas as estações que têm música legal estão morrendo. Agora você só pode sobreviver se for financiado por empresas. Eu acho que isso vai contra a qualidade, porque é só o que faz dinheiro. Você pode ter canais financiados por empresas, você pode ter canais populares, eu não sou contra isso. Eu não sou contra ganhar dinheiro. Eu só acho que deve haver muitos valores com os quais todos concordamos e se concordamos com a qualidade, então deve haver … como fazer um sistema que atenda a isso é muito mais complicado. Você tem que entrar na mesma página primeiro, então é quase inútil eu dizer um cenário teórico… Novamente, a maneira mais inteligente de olhar para isso é pensar em uma sociedade menor. Como as coisas funcionam em uma comunidade menor. As artes locais, suponho, são uma resposta curta. Financiamento para artes locais. Descobrir como fazer isso é a parte complicada, mas novamente”
Julian Casablancas em entrevista a Bilboard americana(10 de abril de 2019)
“O dinheiro é a desgraça do mundo. Quem ganha mais parece que tá com um câncer da alma. E eu não quero entrar nessa. Nunca quis desistir de muita coisa para ganhar muito dinheiro dinheiro. Sempre me pareceu que seria o dinheiro que iria me ganhar. Eu não recebo direito autoral. Ele sempre ficava na mão de quem deveria me pagar e não chegava em mim. Aí quando algum coitadinho queria gravar, cobravam mil reais. Por isso eu liberei a gravação. O que quiserem gravar meu, é só gravar. Se precisar assinar algo, eu assino também.”
Hermeto Pascoal em entrevista ao site Tenho Mais Discos que Amigos.
“O jazz nos ensina a sermos nós mesmos e, ao mesmo tempo, aceitar as diferenças e viver com elas em liberdade. Não há nada mais democrático no mundo do que uma orquestra de jazz. “
Wynton Marsalis em entrevista para o El País Brasil.
“O desafio não é reinventar o blues, nem reinventar nada. As histórias podem nem mudar tanto assim: existem canções de amor, de blues mesmo (tristes), de inconformismo…O importante é criar canções. Precisamos de novas canções. Novas canções para o blues e todo mundo continuar vivo.”
Robert Cray, em entrevista ao site Reverb.
“Vai ter sempre defensores dessa tese do controle da imagem, que é plausível. Basta lembrar que Chico Buarque e Caetano tentaram defender isso no episódio famigerado do grupo Procure Saber. Por um momento, eles abraçaram essas causa. Estamos falando de figuras de vanguarda. Artistas que lutaram contra a censura, que foram marcados pela ditadura. A eles, naquele momento, não pareceu que isso era um absurdo. Tanto que Gil, Caetano, Chico, Djavan, Marisa Monte, Jorge Ben, a nata da MPB concordou com Roberto Carlos. Tendo Paula Lavigne, empresária de Caetano, como porta-voz. Teve um momento em que foram entrevistar o então deputado Jair Bolsonaro. O repórter perguntou: “Como o senhor se sente defendendo as mesmas teses de Caetano e Gil?”. Ele respondeu: “Não, eles é que estão defendendo as minhas teses. Bem-vindo ao clube dos sensatos”. E é verdade, não foi Bolsonaro que mudou. Ele sempre defendeu aquilo. Naquele momento, Chico e Caetano chegaram ao ponto de defender a mesma tese de Jair Bolsonaro. Você pergunta se no futuro isso não vai tomar uma proporção maior. Será que não haverá vários Chicos e Caetanos concordando com isso?”
Escritor Paulo Cesar de Araújo em entrevista à revista Continente.
“O que move as pessoas a se posicionar diante de sentimentos agressivos e violentos em relação ao próximo é uma escolha. As pessoas escolhem buscar a compreensão dos fenômenos de agressão, hostilidade, rejeição, discriminação… Vale a pena, porque são formas de expressar quem você é. Eu gosto da bondade, da paz, gosto de trabalhar pelo crescimento dessas dimensões benignas, da dimensão amorosa da vida. Não é que isso seja bom ou melhor, mas é. Essas pessoas têm esse dom natural, vieram para fazer o contraponto da bondade com a maldade. A maldade está aí, é natural, faz parte da vida. O homem faz escolhas e se contrapor a essa maldade do mundo é uma escolha legítima.”
Gilberto Gil em entrevista ao jornal Correio 24 Horas, 06.02.2019
“Não é que o Adorno tenha falado assim para os Beatles, ‘faça isso, faça aquilo, faça a liberação das drogas’. Na esfera da música popular, vieram os s Beatles, para combater o capitalismo e implantar a maravilhosa sociedade comunista”
Dante Mantovani, maestro, youtuber e atual presidente da Funarte (Fundação Nacional de Artes) em seu canalno You Tube
“No caso do rock, essa preocupação com a moral que agora predomina na cultura pode ser algo muito bom. Talvez seja exatamente disso que o rock ‘n’ roll precisa nesse momento. O rock contemporâneo parece não ter mais forças para lutar contra esses inimigos da imaginação e da arte. E talvez nem valha a pena salvar o rock em seu estado atual.”
Nick Cave em um texto publicado na seção de “cartas” do seu site oficial Red Hand Files
“Tive a sorte de ter uma vida como artista antes do celular e das redes sociais, porque tive tempo para me desenvolver como artista e como ser humano sem a pressão e o julgamento exercidos por outras pessoas, que se comparam com os demais. Hoje é mais difícil manter suas armas apontadas e ser quem você é. O mundo precisa de vozes únicas, de inspiração. Quero que nossos artistas pensem fora da caixa.”
Madonna em entrevista ao The Sun fez críticas ao Instagram.
“Quando existe um discurso de ódio direcionado a alguém hoje, é algo bastante revelador. Quero estar ao lado das pessoas que sofrem com o discurso de ódio da direita tosca brazuca, porque essas pessoas estão lutando pela mesma coisa que nós lutamos desde 91. Por igualdade pra todos, pelo fim do racismo, por uma democracia abrangente e não essa fake que estamos vivendo. Essa galera que patrocina robôs pra espalhar fake news, que aplaudem o assassinato da Marielle, por exemplo, não nos interessa. Se eles quiserem mudar totalmente, ok, mas enquanto estiverem com essa forma de pensar, temos diferenças irreconciliáveis e quero essa gente longe, pois são tóxicas, equivocadas. E mais, nós temos absoluta certeza que estamos totalmente do lado certo da história, porque temos pessoas muito boas, sem ódio, questionadoras, inteligentes e gregárias por perto.”
Rodrigo Lima vocalista do Dead Fish em entrevista ao Scream & yell.
“Muitas vezes as pessoas mais xiitas dizem que o rock morreu, dizem o que é rock e o que não é. Eu digo que sou roqueira e tenho muito orgulho disso. Mas isso não me limita, não me impede de fazer outras experimentações, de tocar com outras pessoas. Eu não deixo de ser quem eu sou. Quem tem medo de perder a identidade é porque não está tão certo assim dela. Eu sou muito segura com relação a isso. Nada me tira da condição de roqueira na essência. Na verdade, só me acrescenta. Acho que ficar na mesma coisa é o que pode promover uma determinada morte. Morte é não evoluir, é não transcender, é não passar de um estágio para o outro.”
Pitty em entrevista à revista Roling Stone.
“Confesso que tive um pouco de dificuldade de gravar mulheres. Primeiro, porque sempre viajei na seara masculina. A gente é machista mesmo sem querer. É o hábito de buscar o mais cômodo”
Tim Bernardes em entrevista a Revista Trip.
“A gente era um banda, não um balé folclórico ou um grupo de demonstração da cultura popular, mas tínhamos um amor por essa tradição. Acabamos trazendo isso e, muitas vezes, tendo que explicar o que era. Existe uma barreira muito mais profunda aí, para além do um preconceito cultural. Existe uma barreira social que é muito mais difícil de transpor. Existiu o Mestre Ambrósio, o Cordel do Fogo Encantado, a Nação Zumbi, mas dá para contar nos dedos os artistas que de fato vem da cultura popular e que conseguiram se projetar individualmente. Existe um senso comum que diz cirandeiros vão ser sempre os cirandeiros, os maracatuzeiros, os poetas, os violeiros… Essas pessoas não têm nome”
Siba em entrevista a Revista Trip.
“Não vou ser hipócrita de dizer que eu não me importo com views e streaming. Eu gosto de bater top 1 no Youtube, fico muito feliz de ver os fãs consumindo minha música. Mas não pauto a carreira em torno de rede social, que é coisa passageira. E eu quero cantar pra sempre.”
Iza em entrevista ao El Pais Brasil.
“Não gosto da palavra tolerância, mas da palavra respeito. Tolerar é permitir a existência, mas desde que você saiba onde é o seu lugar e que você não está certo, o certo sou eu. Chegamos em um lugar tão deprimente que nós estamos nos contentando com o fato de sermos tolerados, não respeitados.”
Emicida em entrevista ao El País Brasil.
“Isso precisa (letras políticas) acontecer — realmente, realmente precisa. A ‘música de selfie’ não é sustentável. Eu fiz alguma música selfie? Eu provavelmente tentei, mas a minha natureza inata e obtusa me impediu de fazê-lo corretamente. A internet deu esse acesso estranho que faz as pessoas sentirem que estão informadas e se conectam com o mundo, mas não estão indo fisicamente para os lugares. Se você vê fisicamente a imagem maior, não apenas uma edição de algo real, e você vê o lado humano do que isso realmente tem, você tem uma visão tão diferente. Na superfície, faz sentido para mim ficar amigo dos meus vizinhos — isso parece um senso comum básico. No quadro mais amplo, essas licenças geraram algumas das ideias realmente trágicas que as pessoas estão abrigando no momento, tipo a tragédia do Brexit. Isso abriu uma caixa de Pandora.”
Damon Albarn, frontman do Blur e do Gorillaz, em entrevista recente à BBC.
“Existe uma diversidade e que ela venha a se multiplicar nos seus temas, que não seja monotemático para mostrar que a Bahia não é monotemática, porque senão a gente caminha como as novelas, que falam que nosso sotaque é daquele jeito e que aqui só tem gente daquele jeito. A Bahia tem muitos sotaques, tem pessoas que ouvem coisas que não são do axé music, tem pessoas que dançam coisas que são dos indígenas e não de África. Tem toda uma influência ampla de expressão que é muito esquecida do interior da Bahia. É o sertanejo. Muitas vezes, o sertanejo não se enxerga como afro. Ele tem a pele queimada, rachada do sol, mas não é africano, negão, como eu sou. É uma pessoa que tem a ideia de uma identidade outra, que mistura. Para não cometer esse fechamento, fico sempre caminhando para abrir esse celeiro dentro das coisas que estão acontecendo.”
Russo Passapusso em entrevista à revista Continente.
“Minha interpretação é que não nos importa tanto o gênero. Quem ouve música se importa com o sentimento, a honestidade que vem com a música. Importa-nos a voz, a verdade, o indivíduo e o que está expressando, mais que o gênero. Antes isso estava mais dividido. As pessoas gostavam de um tipo de música, e essa era sua identidade. Qual é sua música favorita? Essa era uma pergunta. Já não se diz tanto. As pessoas estão descobrindo que o mais interessante é a voz individual, os artistas que estão abertos a todo tipo de gêneros e épocas e sabem como filtrar isso. A contracultura também já não existe mais na música. Tudo foi equilibrado. Há milhões de comunidades. O mundo virou Los Angeles. Milhares de comunidades conectadas por uma autopista.”
Devendra Banhart em entrevista ao El País Brasil.
“A gente vive um momento de debater sobre as estruturas que nos são impostas para tentar quebrar essas estruturas que prejudicam alguma pessoa. Fazendo rap tive que enfrentar muitas barreiras para chegar em algum ponto de ser escutado e levado a sério. Até então, ouvia que não fazia rap e não rimava só pelo fato de eu ser gay. Diziam que fazia pop, que não falava da mesma forma que a galera. Quebrar isso para conseguir estar aqui é um passo mínimo em mudar uma realidade que está pelo avesso. Não acho que é no rap só, é na música brasileira em geral. Ainda temos música depreciando a mulher, falando em tom homofóbico.”
Hiran em entrevista para o Gshow.l
“A arte tem que se expressar com liberdade.”
Ney Matogrosso em entrevista ao jornal Diário do Nordeste.
“Com certeza são características de cada tempo. O tempo vai passando e escuto tudo. Sempre fui, com origem no Nordeste, de ouvir rádio AM. Milton deve ter a colocação dele e os ouvidos dele. É um ouvido super-privilegiado. É um artista ímpar. Mas essa história de que nossa geração é melhor isso vem há muito tempo. Porque cada momento é um momento que a gente está vivendo e que a cultura está vivendo. E que surgem pessoas falando diferente e falando bonito também”
Fagner em entrevista a rádio Metrópole.
“O artista é livre e, inevitavelmente, o assunto será político, seja sua canção sobre a namorada, o porteiro ou a mãe. Fazer política não é só se referir aos representantes oficiais. Agora, estamos em um momento hostil, terrível e de ameaça constante com relação a tudo o que eu ao menos prezo como cidadão, como artista. Por isso, é um momento de se valorizar as coisas positivas como a poesia, a música, os direitos humanos, a natureza, a relação entre as pessoas. Qualquer uma dessas coisas que valorizar já estará sendo subversivo nesse status quo. Eu, como cidadão, me sinto ameaçado.”
Arnaldo Antunes em entrevista ao site Terra.
“Eu, como cidadão, me sinto ameaçado e, como artista, me sinto hostilizado por um governo que é explicitamente hostil, especialmente a quem tem pensamento contrário a ele. Eu, curiosamente, dei o nome a essa turnê de Esse Amor Sem Preconceito, que é um verso tirado da música de Roberto e Erasmo. Ela tem uma força política incrível. Escrever é hoje em dia um posicionamento. Estou dizendo desde o dia em que nasci as coisas em que acredito”
Nando Reis em entrevista ao site Terra.
“Eu toco no tema do racismo de uma forma mais direta, mais forte. Falo algumas coisas literais, faço algumas provocações um pouco rudes, mas que são necessárias para as pessoas refletirem e saírem do lugar de conforto”
Djonga em entrevista ao site Metrópoles.
“O rock era o som da revolta. Agora não é mais. Quero dizer, o indie rock é legal, mas não é impactante. Nos Estados Unidos, se você é branco, sua vida é muito mais confortável em todos os sentidos, então talvez não haja motivos suficientes para se rebelar. Revoluções não acontecem quando as pessoas estão confortáveis. Não sei por que o punk rock aconteceu, na verdade. As pessoas ficaram cansadas da música corporativa, eu acho. Punk é atitude. Eu me entendia como punk, apesar de nunca ter sido. O punk é uma maneira de ver o mundo. É sobre ser um outsider e seguir contra a maré. Hip-hop tem muito isso. Veja só Cardi B e a Lizzo. Elas estão realmente tomando a cena de assalto. Apenas o hip-hop é tão importante quanto o punk foi no passado.”
Kim Gordon em entrevista ao jornal The Independent.
“Eu fico triste quando leio uma matéria de página dupla sobre a Fernanda Montenegro e o jornal dá crédito para um filho da p… falar mal dela. Acho que temos de nos posicionar, não vim para essa terra para viver em um casulo, nunca me escondi e não vai ser agora que vou me esconder. Se faço o bem? Eu só posso fazer o bem cantando. Como é que eu posso sofrer bullying por cantar! Por gravar Então É Natal! Eu fui exposta. Nada do que eu fiz valeu?”
Simone em entrevista ao Estadão.
“Eu era um jovem revoltado, hoje sou um velho revoltado. Pouco mudou nisso. Veja o Metallica. Não quero deixar os fãs chateados, mas veja esse fato: uma vez que você se torna um bilionário, por que você deveria estar puto com alguma coisa? Que seu mordomo deixou seus ovos queimarem, talvez? Acho que para não perder a credibilidade, você não pode ser super rico. O heavy metal tem relação com a raiva, especialmente o thrash metal. Quando você se mantém revoltado, você pode compor esse tipo de música. Quando você sai para fazer compras com sacolas da Gucci o tempo todo, não acho que a raiva esteja por lá ainda”
Schmier, baixista e vocalista do Destruction, sobre o sucesso conquistado por algumas bandas de thrash metal em entrevista ao canal Rauta, no YouTube.
“Todo ano alguém diz que o rock morreu, que os sintetizadores tomaram o lugar das guitarras… você tem essas fases. É interessante que agora, quando o rock parecia estar bem morto, um álbum de rock chegue ao primeiro lugar.”
Jack White respondendo sobre a chegada do disco “Help us stranger” dos Raconteurs ao primeiro lugar da parada americana em entrevista ao Globo.
“A calma é revolucionária. E é a primeira coisa que roubam de nós; Quando você tem calma, toma as decisões direito. Mas imagine o cara que trampa oito horas por dia —fora as horas extras—, leva outras duas para chegar ao trabalho. Sem grana, com filho e mulher. Quanto tempo sobra? Esse cara não tem calma e acaba tomando uma atitude desesperada. É sobre se acalmar para poder pensar melhor.”
Emicida em entrevista à Folha de São Paulo.
“O sistema não quer isso, e é por isso que ele sufoca o que é raiz. Quando eles manipulam tanto faz, você nem percebe o timbre, a roupa, o cabelo, é tudo igual. Não tem uma referência autêntica feito um Candeia. O original não interessa ao sistema, porque essas pessoas questionam e pensam. O mais importante de tudo é a consciência, porque ela não tem preço.”
Zé Katimba em entrevista ao Midia Ninja.
“Eu acho que Salvador está vivendo, há uns 10 anos, um momento de transição de mercado interno. A música de carnaval está se reconfigurando. O que foi sempre tido como trilha sonora da época desde os anos 80 e 90 estava se renovando pouco, o que fez com que perdesse força. Essa música foi predominante na Bahia durante muito tempo, enquanto todo o resto se juntava em um balaio de alternativo. Isso já não existe mais. Mudou com o próprio desgaste da cena do axé e com o surgimento de novos tipos de música, como o BaianaSystem, que misturou várias coisas locais e fez algo diferente.”
Livia Nery em entrevista ao site Tenho Mais Discos que Amigos.
“Minha preocupação fundamental é construir paz e serenidade sem ser ingênuo, sem se desconectar da realidade, o que soaria até como deboche no tempo que estamos vivendo”
Emicida em entrevista ao El País Brasil.
“Eu nunca rotulei nada. Até hoje ouço uma canção e, se gosto, gravo. Não quero saber quem fez, se é brega ou não é. A minha vida é assim. Não tenho preconceito. Se a pessoa é magra, gorda, preta, branca, é gente. Você pode fazer tudo o que quiser desde que assuma o que faz. E tudo o que eu fiz na vida eu assumi. Coisas boas ou não, bem feitas ou não. Era aquilo. Se eu estava frágil, se minha cabeça não estava legal, era aquilo. Na minha casa ouvíamos Elizeth Cardoso, Angela Maria, Orlando Silva, Dalva, Silvio Caldas, Orlando Dias, Cauby, que eram bregas, e ópera, que meu pai adorava. Nunca ouvi João Gilberto em casa.”
Simone em entrevista ao Estadão.
“Acompanha as últimas eleições de São Paulo e o número de PMs que foram eleitos, as vozes das igrejas evangélicas…. Se isso já não é um comportamento de direita das pessoas, do povo… Então, quem está na periferia sabe. As pessoas passaram a querer defender o que foi conquistado. É um movimento natural do ser humano. Se você tem uma cabra, você quer que ela fique no quintal, não quer perder. De repente, nas casas, o cara tem duas motos e um carro, uma TV de plasma gigante na parede, um iPhone em cada quarto. O cara quer o quê? Um cadeado, a polícia passando na rua dele na favela. Por quê? Porque foi uma coisa conquistada, os bens de consumo. O Mujica, presidente do Uruguai, falou que o erro da esquerda foi criar consumidores e não cidadãos. Aconteceu isso também. A escola melhorou? Não. O Brasil é um país gigante, né? É muita coisa.”
Mano Brown em entrevista a revista Continente (07 de março de 2019) – Leia completa aqui.
“Eu não ouço rádio, então não fico sabendo o que tá acontecendo e o que não tá. As poucas vezes que eu ouço rádio, eu acho que é muito manipulado. Existe o sertanejo, que é a música sensação, mas é chato porque aí só toca ela e o funk. Eu gosto do funk, eu acho o ritmo uma delícia. As letras eu acho bobas. Sertanejo, eu acho todos iguais, todos cantam parecidos, os temas são os mesmos, todo mundo com dor de cotovelo e sofrendo. Eu não tenho a ver com esse pensamento de sofrimento.”
Ney Matogrosso em entrevista à BBC News Brasil.
“Nem toda arte é feita e apresentada para provocar. Às vezes é apenas a exteriorização de emoções ou sentimentos. Mas alguns artistas definitivamente abraçam a tarefa de comentar a sociedade moderna, comentar onde estamos e onde deveríamos estar. Esse conforto meio que está por aí, sim, mas não espero que toda arte ou toda canção tenha esse comentário ou seja revolucionária. Mas essa necessidade existe. É uma pergunta um tanto difícil de responder. Quero em minha vida arte que nos empurre para frente e desafie a sociedade, e acho que há muita arte sendo feita agora que está fazendo isso. Mas algumas bandas querem apenas fazer boas canções, e é aí que a intenção deles para, enquanto outros querem discutir ricos e pobres, questões ambientais.”
Lee Ranaldo em entrevista ao site Scream & Yell.
“é impossível cantar pior do que Chico Buarque”
Tony Tornado acabou roubando a atenção na final do reality show PopStar, da Globo, neste domingo (29/12). Um dos jurados
“Ninguém me perguntou, mas dou minha opinião mesmo assim, já que essa treta está rolando. Acho Chico Buarque um grande cantor. Ele é afinadíssimo, sua dicção é perfeita e o senso rítmico é ótimo. Talvez algumas pessoas não gostem de seu timbre mais anasalado que a média dos intérpretes consagrados. O culto ao canto cheio de firulas e vibratos é muito chato. Adoro Chico cantando, compondo, escrevendo.”
Leoni em sua página no facebook
“Eu acho que sempre tem que ter essa camada do que a gente convencionou chamar de arte, essa coisa que é esse olhar diferente, para que a pessoa e fale: “Pô, não tinha percebido isso.” Seja na música, ou na letra. É surpreendente, interessante, me remete a outro lugar. Isso é superimportante, a gente não pode perder. Não pode virar só discurso. O discurso é importante, mas a gente tem que atacar outros lugares na cabeça das pessoas. Eu vi uma artista plástica performática falando uma coisa que é supersimples e que acho que está na cabeça de todo mundo, mas ela ter dito foi bem legal. Ela falou: “Eu sou militante política nas redes, mas, quando eu vou fazer arte, se não tiver um troço estético embalando isso, eu jogo fora. Se for parecido com o que eu estou escrevendo ou na rua falando… Se eu estou conversando com as pessoas no bar sobre política, é uma coisa. Mas, quando eu estou ali para fazer o meu trabalho, a minha performance, está ali o bate-papo, mas estou embalando com minhas experiências artísticas.” Eu achei isso bacana.”
Ronei Jorge em entrevista ao Rio Adentro.
“A moda sempre é muito questionável, mas também já fomos moda. Hoje somos referência, mas não se deve julgar, porque cada momento é diferente. Tem gente bacana escrevendo no modismo e tem gente também muito mal. Tem pessoas que assassinam mesmo a música. Faz parte do mercado. Tem mercado para tudo.”
Fagner em entrevista a rádio Metrópole.
“A Anitta é uma grande estrela, mas não em pé de igualdade com os hits do imaginário popular dela. No nível “Anna Julia” de imaginário popular, no nível “Mulher de Fases” de imaginário popular, no nível “Como Eu Quero” de imaginário popular, a Anitta deve ter dois hits. Três, talvez. Mas ela é uma estrela de primeira grandeza, graças às redes sociais. O número de likes dela é muito maior que os hits. Onde isso nos leva, um mundo onde a música é só um acessório para que o artista consiga vender campanha para a Vivo ou para a Pantene? A relação com marcas sempre existiu, mas o que eu acho muito louco é que um artista engajado, um artista rompedor, completamente breakthrough, com um ano de carreira já esteja fazendo campanha pro Doritos. Eu sou de um tempo em que “uma banda numa propaganda de refrigerantes” era uma vergonha. As bandas tinham orgulho de dizer: “olha, temos 10 anos e nunca vendemos uma música para publicidade”. Por um tempo, o Roberto Carlos tinha orgulho de não vender as músicas dele para a publicidade. Era uma ética implícita. Hoje a impressão que eu tenho é que os artistas já começam com a etiqueta pendurada no pescoço. Como diz o Arnaldo Branco, desde os bluesmen os artistas estão dispostos a vender a alma pro diabo, só que agora a alma tá em promoção (risos).”
Ricardo Alexandre, jornalista, em entrevista ao site Scream & Yell.
“A gente lançava um disco por ano, mas isso tinha um ritmo natural. Era algo orgânico gravar, lançar, até que a coisa do digital quebrou um pouco esse formato. Eu ainda sou muito apegado ao formato de álbum, continuo pensando em termos de álbum quando vou fazer um trabalho. Quem está aparecendo agora já está pensando diferente, tem gente que só lança single. Mas acredito que é importante continuarmos tendo expectativas, ela faz parte da relação do público com o artista, deve existir para a manutenção do mito.”
Arnaldo Antunes em entrevista ao site Terra.
“O Brasil olha para a sua população preta e pobre e não trata essas pessoas como ser humano. Elas estão condenadas ao quase. Sabe uma representação disso? Basta olhar a entrevista do avô da menina Ágatha, de oito anos, assassinada no Rio de Janeiro. Você foi honesto, trabalhou, se dedicou, fez tudo certo… ele está gritando isso. A humilhação de você quase conseguir. O quase é a maldição do Brasil. A diferença ínfima que faltava para o sujeito pegar o diploma no dia mais feliz da vida dele, mas aí há uma abordagem da polícia a caminho da formatura e ele é obrigado a deitar na calçada, e acaba sujando sua melhor roupa. Aí ele chega na festa com o olho cheio de lágrima, sujo, e esse dia se torna uma tragédia. Esse é o gol que a gente perde todos os dias.”
Emicida em entrevista ao El País Brasil.
“A música é uma roda gigante, a escola da canção não está mais em voga. Lá atrás, em 2012, a gente via que o panorama não era favorável, que banca de rock já era vista como coisa de dinossauro, que a canção estava morrendo, que a galera não estava ouvindo. A gente tentou fazer algo diferente, experimentar mais. Mas a gente se olhava, estranhava. E decidimos não ser fakes, vamos fazer canção e ser de verdade. Por isso que existem músicos e artistas. Às vezes o cara é um exímio instrumentista, mas não consegue enxergar além do tocar, da técnica.”
Teago Oliveira da banda Maglore em entrevista ao caderno Rio Show do jornal O Globo.
“Eu não tenho esse pensamento de “reverter” nada quando se fala de arte. Meu lance é música, e nem na época dos festivais eu pensava em música como competição. Aliás, quando entendi que coisas assim aconteciam nos festivais, nunca mais participei. Acho que cada um deve gostar daquilo que lhe faz sentir melhor. E com música é a mesma coisa, cada um tem sua preferência.”
Milton Nascimento em entrevista ao jornal A Tarde.
“Ah, o papel da arte é ser verdadeira, não ter cabresto. Se ela não quiser gritar, não grita. Se ela quiser gritar, grita. A arte é viva, o artista é outra coisa, ele que tem que ser obrigado a não ter ego, a entender a arte. Não ficar botando roupas outras naquela expressão. Se a coisa nasce sem filtro, ela é sem filtro. Se o sol não precisa daquele filtro para poder atingir os outros, vai ser daquele jeito. Tudo isso é uma comunicação da arte com o artista. A arte é o próprio povo, a própria reflexão do mundo, a simbiose do mundo, a emancipação e a desconstrução. O vento que caminha dentro disso tudo, que é muito forte e molda uma pedra. A arte caminha junto com todos os outros parâmetros. Ela tira fotografias disso tudo e mostra para a gente, uma espécie de “raio x” da história. Ela não tem papel. (risos) É algo que a gente fica muito feliz porque não dá para prender. Por mais que vivamos no mundo capitalista, que é um dos modos operantes mais organizados dentro da história das utopias do ser humano, a arte consegue quebrar isso também. Ela caminha, é imortal. Por ser algo que se transforma tanto, fica difícil de a gente definir porque é um agente de transformação, que precisa desses veículos, da sensibilidade, do artista, do momento. O ser humano precisa muito da arte e o entendimento de que muita coisa que está à nossa volta já é arte, mas a gente não percebe.”
Russo Passapusso em entrevista à revista Continente.
“A arte deve ser arrancada das mãos dos pios, apareçam eles na forma que aparecerem – e estão sempre a aparecer, com facas na mão, desejosos de matar a criatividade. Nesta época deprimente para o rock and roll, contudo, talvez possam ser úteis. Talvez a música rock precise de morrer um bocadinho, para que algo poderoso, subversivo e verdadeiramente monumental se possa erguer no seu lugar”
Nick Cave em seu site em resposta a dois fãs que lhe fizeram perguntas sobre o estado do rock e também sobre as consequências do comportamento pessoal de um músico na apreciação da sua obra.
“A gente está vivendo uma fase em que o agronegócio está dominando, e a grana deles é pesada, domina mesmo. E o estilo mais pop não tá passando pelo rock mesmo. O rock está mais underground, o que é natural. Nos anos 60, o rock foi bem forte no Brasil, mas nos 70 a coisa puxava mais para a brasilidade. Nos anos 80 voltou com força total, os 90 começaram com axé, sertanejo e pagode. O rock não existia no mainstream nessa época! Mas cada cidade, mesmo as menorzinhas, tinha sua cena. Salvador tinha o Úteros em Fúria que conseguia botar mil pessoas num show, tinha o Deadbillies, a própria Penélope… Não tem a obrigatoriedade de estar o tempo todo em evidência. O que estamos vivendo agora com sertanejo é a pior fase, ok, porque é um dinheiro muito pesado. Eu, da minha parte, estou tentando boicotar tudo que tenha agrotóxico, porque se mais de nós fizermos isso, vai inclusive faltar a grana para financiar o sertanejo (risos). Vai chegar na música (risos).”
Erika Martins em entrevista para o site Scream & Yell.
“Desculpa falar um palavrão: porra, eu sou personagem de mim mesma, vou ser personagem de quem?”
Elza Soares ao ser lembrada de críticas sobre os últimos trabalhos que a acusam de ter virado um personagem a serviço de vozes alheias em entrevista ao site Reverb.
“Como artista, nada muda. Sem grandes mudanças, realmente. Em termos do que uma gravadora deve ser… ninguém sabe o que está acontecendo ou o que fazer. Até mesmo uma grande gravadora, eles têm seus relacionamentos, mas é tudo sobre o Spotify. Eu não uso o Spotify. Acho que todos esses serviços de streaming são… eu não gosto deles. Eles são a nova MTV, os novos gatekeepers, então os selos fazem acordos com eles basicamente… todos eles estão copiando todo mundo. Eu não sei. Não acho que as gravadoras tenham uma identidade clara no momento. Eu não estou lá na frente tentando descobrir como explorar e ganhar dinheiro. Estou mais interessado em fazer algo como o The Grateful Dead: ir de cidade em cidade, ser amigo de estações de rádio legais, tocar em lugares legais, fazer relacionamentos com promotores legais. Você pode ter sua existência online, mas tentar mamar nas tetas do Spotify é apenas uma perda de tempo para mim.”
Julian Casablancas em entrevista a Bilboard americana(10 de abril de 2019)
“Como pessoa negra, artista, nordestino, adepto do candomblé, defensor da educação pública, diante dessa desdita que rege o Brasil, retomo, somente por ser, uma prática existencial quilombola diante de uma prática senhoril que é contra a heterogeneidade, contra as pessoas, contra a expansão da alma e do corpo, contra as diversas epistemologias”.
Tiganá Santana em entrevista à revista Carta Capital.
“Há um tipo de preconceito muito arraigado no senso comum que exclui tudo que diz respeito na cultura popular a possibilidade de agenciamento do presente ativo e de uma voz para o futuro. A música do Nordeste nos últimos 30, 40 anos ou até mais tem sempre que lidar com a carga cultural que ela vem de um Brasil pré-moderno, pré-industrialização. Mas as culturas se adaptaram e continuam vivas e fazem parte do presente. A cultura popular tem capacidade de convivência entre pessoas bem diferentes. A minha geração tem como marca forte o de ter que lidar com essas questões e formulá-las ao estilo musical.”
Siba em entrevista a Carta Capital.
“De todas as atitudes que tomei baseadas no ódio me arrependo. Minha música não é baseada no ódio, mas falo de atitudes da vida em que deixei que o ódio tomasse conta. Gostaria que meus irmãos e irmãs refletissem para tomar decisões melhores.”
Emicida em entrevista à Folha de São Paulo.
“As pessoas precisam entender que cultura é um pilar muito importante da sociedade, porque a cultura forma pessoas, forma pensamentos. A gente enquanto Brasil ainda não entendeu isso, porque, se a gente tivesse entendido, já tinha quebrado tudo, ia estar que nem o Chile, na rua, fazendo acontecer, fazendo a revolução. E nosso pensamento colonizado ainda mantém a gente nas rédeas. A gente resiste do jeito que dá, mas ainda não conseguiu atingir uma consciência disso.”
Tássia Reis em entrevista à revista Trip.