Comemorando 40 anos de carreira, artista baiano terá sequência de lançamentos, incluindo disco com músicas inéditas e regravações.
Nascido Lázaro Jerônimo Ferreira, Lazzo Matumbi está completando 40 anos de carreira. A data é relacionada a sua estreia na carreira solo, já que em 1978 ele ainda era cantor do bloco Ilê Aiyê, conhecido como Lazinho do Ilê ou Lazinho Diamante Negro. Foi em 1981 que assumiu a faceta Lazzo Matumbi e deu início a uma brilhante trajetória como cantor e compositor.
Naquele ano de início de anos 1980, Lazzo fez seu show de estreia no Teatro Vila Velha e lançou o primeiro compacto, um single duplo com as músicas “Salve a Jamaica (Homenagem a Bob Marley)” e “Guarajuba”. Foi a partir dali também que incorporou o Matumbi, termo em iorubá usado para designar uma pedra sagrada da Nigéria. Nesses 40 anos lançou oito álbuns, a maioria deles produções independentes ou por gravadoras pequenas. Colecionou também alguns sucessos marcantes, como “Alegria da cidade”, “Do jeito que seu nego gosta”, “Me abraça e me beija” e “Abolição”.
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Para comemorar os 40 anos de carreira e de uma importante, mas não tão reconhecida trajetória, vários projetos estão trazendo à tona novidades e parte dessa história. O principal lançamento é um novo álbum de inéditas, batizado como ÀJÒ (lê-se AJÔ). O trabalho, que vem sendo produzido desde 2016 e será lançado neste mês de maio, reúne canções autorais inéditas e releituras de canções próprias. Entre essas está uma nova roupagem para “Djamila” (Lazzo Matumbi/Ray César), aquela que aparece no primeiro compacto de 1981 batizada como “Salve a Jamaica”.
Entre as inéditas aparece a já icônica “14 de maio”, uma preciosidade que vem sendo cantada nos shows há algum tempo e resgata a parceira bem sucedida de “Alegria da Cidade” com o saudoso Jorge Portugal. Ainda em maio, a faixa vai ganhar um videoclipe com direção de Urânia Munzanzu. A letra reflete as mazelas da abolição no Brasil no dia seguinte a sua promulgação e é um soco na cara.
Produzido por Lazzo e pelo multi-instrumentista Felipe Guedes, o disco conta com participações das cantoras Larissa Luz, Luedji Luna, do maestro Bira Marques e do rapper BNegão. O trabalho, o primeiro do artista em oito anos, vai reunir os elementos e gêneros de matriz africana que marcaram sua carreira, como samba, reggae, ijexá e soul. Também traz as facetas contestadoras e românticas que acompanharam o cantor nessas quatro décadas. Tudo embalado com a marcante voz de um dos maiores cantores de nossa música.
Para Lazzo, ÀJÒ é um disco de resgate dos 40 anos de caminhada. “Trago as experiências vividas, reflexões e acolhimentos adquirido ao longo da minha trajetória. Através da minha ancestralidade chego aos dias de hoje, agasalhado pela música com o mesmo carinho, respeito e tranquilidade para preparar um material livre das exigências mercadológicas. Com a satisfação da alma, deixando fluir o que de melhor eu possa oferecer para chegar aos corações de quem sempre adubou com carinho e aplausos de emoção a minha história musical e cada peça esculpida na passarela dos sonhos”, diz.
“Trago nesse disco, desde a primeira música gravada, no início da minha carreira, até as mais novas inspirações construídas no leito do meu silêncio, a sós ou em parcerias com novos e antigos amigos; na intenção de retratar um pouco do sonhador preocupado na construção de um mundo melhor e mais justo para todos na busca incansável do respeito às diferenças, do amor e da paz, através das canções”, completa o artista.
Uma live com a participação de Felipe Guedes está programa para o final do mês de maio, através do canal do cantor no youtube, para marcar estes lançamentos.
Documentário
Outra parte das comemorações é um documentário que está em montagem e deve ser lançado até meados de junho. Inicialmente, Lazzo Matumbi – Abô sai no formato de curta-metragem, mesclando fatos importantes da vida e da obra contados por ele mesmo. Com direção e roteiro de Urânia Munzanzu, a ideia é que o curta vire um documentário de longa duração.
O curta mostra Lazzo cantando músicas suas e de outros compositores que marcaram sua trajetória, passando por samba, reggae e soul. Através dessas canções, ele relaciona momentos ou personagens de sua vida e como cada uma dessas músicas foi importante em sua vida. Todo o registro foi feito na Sala Principal do Teatro Casto Alves, com Lazzo acompanhado do multi-instrumentista Felipe Guedes.
No palco do TCA, o artista cantou músicas antigas e mais novas de seu repertório como “Abolição” e “14 de Maio”, “Azul da Cor do Mar” de Tim Maia, além de sambas enredos da Escola de Samba Juventude do Garcia, improvisos e a inédita “Minha Paz”.
O curta, que será lançado no canal do youtube do cantor, é o início do projeto de um longa-metragem abordando de maneira mais ampla a relação de Lazzo com o reggae. Para realização do trabalho, a produção está em captação de mais recursos. O filme vai incluir mais imagens e depoimentos, além de inserir trechos de entrevistas de Lazzo em sua casa e no espaço Echocultura, em Águas Claras. O projeto conta com pesquisa de Fabrício Mota, direção de fotografia de Gabriel Teixeira, produção executiva de Gabriel Pires e direção de Produção de Daiane Rosário. Como trilha para o documentário, os músicos Eduardo Japa e Dudoo Caribe preparam algumas músicas de Lazzo em versão DUB.
Tanto o novo disco quanto o documentário têm apoio financeiro do Estado da Bahia, através da Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia, via Lei Aldir Blanc Bahia, da Secretaria Especial de Cultura do Ministério do Turismo.
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Atrás do Pôr do Sol
Outro projeto envolvendo Lazzo que deve chegar aos público nos próximos meses é em torno de um de seus primeiros discos, Atrás do Pôr do Sol, de 1988. O álbum, terceiro da carreira do artista, vai ganhar uma reedição 30 anos depois e será disponibilizado nas plataformas digitais e em vinil. O projeto Ainda Atrás do Pôr do Sol será relançado numa espécie de tributo, com participação de artistas como Luedji Luna, Curumin e Anelis Assumpção, Nara Couto, Fabriccio, Fran Gil, Nikima, Josyara, com mix e master de Buguinha Dub.
Patrocinado pela Natura Musical, o projeto é encabeçado pelo DJ Bruno Komodo e pelo jornalista Peu Araújo e prevê ainda um documentário contando a história da re-criação do álbum. Para Komodo, a iniciativa é uma forma de homenagear Lazzo e o disco. “Queremos com esse trabalho jogar luz à obra e ao artista incrível que é Lazzo, chamando atenção das pessoas para essa figura gigante que precisa ser ouvida, vista e celebrada”, diz.
A ideia do projeto é apresentar o trabalho para o público mais jovem ou aqueles que não conhecem a obra a partir de artistas da atualidade. “Chamamos músicos e cantores da nova geração que tem alguma relação com o artista”, diz. “É um disco que pouca gente conhece e é fundamental na música popular brasileira que merece reconhecimento “, completa o DJ.
Gravado em 1988 de forma independente, Atrás do Pôr do Sol foi produzido com poucos recursos, o que influencia na própria sonoridade do álbum, não tão limpa quanto as produções das gravadoras. Outro aspecto fruto da falta de dinheiro foi que Lazzo além de cantar e compor foi produtor, técnico em gravação e mixagem, e responsável pelos arranjos e arranjos de metais. Um clássico obscuro da música brasileira, Atrás do Pôr do Sol tem oito faixas, que mostram a mistura promovida pelo artista baiano, um reggae acompanhado de elementos de samba e soul. Entre as faixas, o maior sucesso foi “Me Abraça e Me Beija” (Lazzo Matumbi/Gileno Félix), um dos maiores hits de Lazzo.
Com álbum novo, clipe, documentário e essa regravação, a história desse grande artista baiano parece que 40 anos depois, , finalmente, ganha a dimensão merecida.
Ouça Atrás do Pôr do Sol: