É inevitável não cair no clichê e falar do Skol Beats como uma imensa rave com quase 60 mil pessoas ao ar livre. É inevitável lembrar que é o maior festival de música eletrônica da América Latina com dois palcos, três imensas tendas e até trio elétrico. Inévitável falar que não precisa estar na moda para a música eletrônica criar um daqueles momentos de celebração pela música. No caso aqui, comandada em sua maioria por Djs, Mcs, muitos beats, programações e, claro, dois dos principais nomes no mundo que leva a música eletrônica para cima do palco através de uma banda: Prodigy e LCD Soundsystem.
Realizado em São Paulo no último sábado, o Skol Beats é grande como foi vendido. Não dá para desprezar os números. Numa área de 270 mil m², durante 18 horas initerruptas, foram mais de 50 DJs utilizando mais de três toneladas de discos de vinis, que alimentaram as 40 toneladas de equipamento de som e um milhão e 200 mil watts de potência de som. Uma capacidade de som impressionante que podia ser sentida não só pela audição, mas a vibração era sentida na pele, nos músculos, nos ossos.
Eram os graves que pareciam algo concreto que saia das caixas de som e quem soube melhor utilizar esse poderio sonoro foi a principal atração do evento, o grupo inglês Prodigy. Em quase uma hora e meia de apresentação, o grupo mostrou porque era um dos principais no início dos anos 90, quando a música eletrônica viveu sua mais recente explosão mundial. O breakbeat do grupo, regado com guitarras rock, pose punk, batidas tecno e iluminação de boate, ajudou a criar todo o universo presente de clubbers, cybermanos, tecno-hippies e fãs de beats eletrônicos.
Keith Flint, Maxim Reality e Liam Howlett sabiam a melhor forma de agradar a esse imenso público que correu para frente do palco e se acotovelou para vê-los lançar os maiores hits. E foi ai que se deram melhor. “Breathe,” “Firestarter” e “Smack my bitch up, além de Out of Space, foram tiros certeiros. Cantadas aos berros pelo público foram anos luz a frente do resto o que de melhor apresentaram. Ao lado da música, gritos, dedo médio esticado, caras e bocas e o clássico oubregadu brazilcompletavam todo o mise-en-scne do grupo.
Pouco antes o grupo norte-americano LCD Soundsystem fez melhor, mesmo o público não dando a mesma bola. Formada pelo produtor e multiinstrumentista James Murphy, que leva os vocais e comanda todos os músicos no palco, a banda parecia a vontade, como se estivesse num Hacyenda da vida. Um começo morno que remetia a Happy Mondays e aos poucos a impressão que o novo milênio já tem o seu próprio New Order.
Isso porque a dosagem certa de guitarras, baixo poderoso, batidas e efeitos eletrônicos e boas melodias tomaram conta da imensa pista ao ar livre. Um show curto, mas empolgante, com os principais hits que já frequentam as pistas mais bem sacadas do mundo.”Tribulations,” Losing my Edge, “Yeah” e o hit “Daft Punk is playing at my house” talvez soem até melhor em um espaço menor, mas funcionaram muito bem em meio a overdose de música eletrônica.
Eram só algumas das principais atrações. Nos outros espaços DJs como o brasileiro Marky, o canadense Tiga, o alemão Sven Vath e o israelense Astrix mostravam a linguagem universal que é a música eletrônica em suas diferentes vertentes. Drum n´ bass, techno, trance e electro conviviam em tendas lotadas e com um público que quando não era moderno de fato, se fantasiava como se fosse. Roupas coloridas do trance, cabelos espetados clonando Keith Flint do Prodigy, roupões folgados e muito óculos escuros em plena noite e se preparando para amanhecer o dia ao som de beats e loops.
Já virando marca do evento, um trio elétrico circulava levando artistas como Ed Motta, Cansei de ser Sexy, Deize Tigrona, Davi Moraes, Edson Cordeiro ao lado de DJs consagrados como Marboro, Camilo Rocha e Mau Mau que soltavam de rock e MPB a rap e funk carioca. Inevitável não dizer que apesar de ser um evento de música eletrônica a diversidade predominou. Inevitável não cair no clichê e dizer: que venha o próximo.