Zona Mundi aposta em nomes internacionais e na nova música brasileira

Zona Mundi

Martins, Patche Di Rima, Josyara, Pedro Pondé e Àvuà são algumas das atrações do Festival Zona Mundi, que acontece nos 7, 8 e 9 de junho.

Os festivais independentes ainda são a melhor forma de conhecer artistas, descobrir novos nomes e sair da mesmice da música que nos cerca cotidianamente no Brasil. Uma mostra disso é o Zona Mundi, que mais uma vez oferece ao público baiano um cardápio diversificado com artistas que passam longe da obviedade. A programação contempla um apanhado da música africana contemporânea e nomes que revelam uma faceta da nova cena de MPB pop. 

Com os shows programados para acontecer entre os dias 7, 8 e 9 de junho, com uma primeira parte de dois dias no MAM – Museu de Arte Moderna, e uma final no Parque da Cidade, gratuito, o festival vai receber como atrações internacionais um time de artistas africanos. São eles, Patche Di Rima (Guiné-Bissau), Siwo (Moçambique), Indira Mateta e Jorge Mulumba (Angola). Completam a escalação estrangeira Hugo Arán e Marina Tusett, da Espanha.

Também estão escalados importantes nomes do cenário contemporâneo brasileiro. Da Bahia, vão se apresentar Josyara, Pedro Pondé, Neila Kadhí, Vitrolab e Renata Bastos. De fora do estado, a programação inclui shows do duo paulistano ÀVUÀ, o pernambucano Martins e a paraibana Luana Flores.

Além da música, o Zona Mundi Festival 2024 contará com intervenções visuais que proporcionarão uma experiência sensorial única, criando um ambiente imersivo que estimula a criatividade e a reflexão. 

Cena brasileira contemporânea

Para quem não está muito conectado com a cena pernambucana atual, melhor refazer seus conceitos e ir além dos grandes nomes deixados pelo Mangue Beat. A cena atual vai por outros caminhos, mais MPB do que rock, mas tem de tudo, é bem diversa e interessante. Um dos nomes que capitaneiam essa cena atual é Martins, um cantor e compositor que já tem dois álbuns solos lançados e músicas gravadas por Ney Matogrosso, Margareth Menezes, Simone, Daniela Mercury, entre outros. Surgido no coletivo Reverbo, comandado por Juliano Holanda e Mery Lemos, ele faz uma música brasileira contemporânea com foco em canções melodiosas.

Da Paraíba vem a cantora, compositora, produtora musical, percussionista, beatmaker, DJ e brincante Luana Flores. Uma artista múltipla que pesquisa e mescla, com muita competência, ritmos da cultura popular nordestina com música eletrônica, em temáticas que tratam de gênero, sexualidade e território. Ela se cerca de equipamentos eletrônicos, controladoras, sintetizadores e pedais, e instrumentos percussivos, para apresentar um trabalho musical-cênico-visual autoral e instigante, que chama atenção pela estética ousada e particular.

O duo ÀVUÀ é formado pelos cantores, compositores e instrumentistas paulistanos Bruna Black e Jota.Pê, que, inicialmente, se reuniram para gravar um single e participar de shows mútuos. A junção deu certo e a parceria resultou na formação do duo, que já gravou um álbum unindo seus universos artísticos distintos e complementares, como eles gostam de afirmar. A música deles passa pela MPB, com influências mais clara de Djavan e Lenine, mas também pelo canto lírico e claves de ritmo africanas, inserindo elementos eletrônicos numa sonoridade orgânica.

Entre os baianos, os nomes são bem conhecidos por quem frequenta festivais e casas de shows com perfil mais independente em Salvador. O cantor e compositor Pedro Pondé é figurinha carimbada na cena da cidade. Tendo passado por bandas como Scambo e O Círculo, segue uma carreira solo bem sucedida, com shows lotados, singles de sucesso e mais de 220 mil ouvintes mensais só no Spotify. Em seu show, ele vai receber como convidadas duas cantoras de gerações mais recentes, a rapper Udi e Clariana, que trafega pelo reggae.

Outro nome que circula bastante há algum tempo é Josyara, cantora e compositora de Juazeiro, que tem seu violão percussivo como marca. Com o instrumento, ela trafega por sonoridades do sertão e do litoral baiano com a mesma maestria. Tem dois álbuns autorais lançados e, recentemente, soltou “Mandinga Multiplicação – Josyara Canta Timbalada”, que, como o nome diz, traz versões da artista para obra da banda do Candeal. É esse show que ela apresenta no Zona Mundi, sempre no formato marcante de voz e violão.

Outra cantora e compositora com longa trajetória é Neila Kadhí. Ela apresenta seu show ‘Feitura’, no qual costura texturas digitais e analógicas, colocando a voz como fio condutor para criar uma paisagem sonora com melodias, temas rítmicos e letras promovendo um diálogo entre Bahia e África. Acompanhada de um quarteto, ela mostra seu repertório de ritmos que passa por samba-reggae, lambada e afro-beat.

A outra baiana que se apresenta no festival é a cantora e compositora Renata Bastos, que finalmente lança seu show autoral, com canções novas e outras já conhecidas do público. Ela mostra uma influência direta do reggae nacional e internacional, que já marca seu trabalho desde que surgiu na cena musical soteropolitana com o o projeto “Three Little Birds”, no qual fazia releituras de canções de Bob Marley.

Finalmente, a Vitrolab, grupo formado pelos irmãos Guga (voz e guitarra) e Marcelo Barbosa (voz, baixo e programações), que propõe um som eletrônico, com beats, sintetizadores e guitarra elétrica mesclados com ritmos tradicionais afro-baianos, como pagode e ijexá, e latinos, como ragga e dance hall. Trazem nas letras discursos com críticas sociais.

Convidados internacionais

Seguindo a proposta de apresentar novidades, o festival traz um punhado de artistas internacionais pouco conhecidos, com expressão no mercado mais independente e sonoridades diversas. Essa iniciativa de reunir nomes estrangeiros é fruto de uma parceria de co-realização do Zona Mundi com o projeto MARIMBA, Associação cultural sediada em Portugal e Moçambique, que prevê ainda o lançamento de uma filial dentro da programação do festival. Além de um intercâmbio com países ibéricos, contando com a presença de artistas  da Espanha, numa co-realização do Instituto Cervantes Salvador e da Embaixada da Espanha no Brasil.

Com mais de 20 anos de carreira e três álbuns gravados, Patche Di Rima faz uma música atual, com a eletrônica sendo fundamental na produção, mas com uma sonoridade tipicamente africana. Ele cruza ritmos tradicionais de seu país, Guiné-Bissau, como o gumbé, tina ou singa, com o afro beat, zouk e kizomba, criando um estilo próprio que batizou como “Sikó”. Sempre exaltando a cultura aficana, ele usa dialetos tradicionais Guineenses, como o crioulo, o pepel, o manjaco, o fula, o mandinga e o sussu. Patche tem uma recente parceria com o BaianaSystem em uma versão de “Miçanga”, lançada em janeiro; ele também fez uma participação no show da banda no Afropunk Bahia de 2023.

Produtor, cantor, beat-maker e dançarino de Moçambique, radicado em Barcelona, Siwo também tem a eletrônica como elemento fundamental em sua música. Ele é um dos pioneiros em promover a cena afrobeat na Espanha, onde fundou a lendária banda de afro-funk Moya Kalongo há mais de dez anos. Em 2016, criou Nu Epoque, grupo eletrônico de nu-soul profundamente influenciado por J Dilla e Fela Kuti. Ele começou na música criando os próprios instrumentos tradicionais, mas mergulhou na eletrônica como forma de ganhar mais voz no contexto mundial. Ele, porém, se utiliza da eletrônica explorando as raízes e influência de sua cultura originária.

Músico, cantor, compositor, percussionista e construtor de instrumentos musicais, Jorge Mulumba é um respeitado artista angolano que já participou de vários projetos musicais e acompanhou alguns nomes de referência na música de seu país, como Bonga, Paulo Flores, Yuri da Cunha. Construtor e tocador de instrumentos de matriz angolana, como puíta, hungu, dikanza, ngoma, caixa e quissanje, ele experimenta o encontro de sonoridades de sua terra com o jazz e outras tendências internacionais.

Também de Angola, radicada em Lisboa, Indira Mateta é uma artista multidisciplinar, formada em artes visuais, com destaque para a fotografia, se dedica também ao cinema documental, e por caminhos musicais, através de sua persona como DJ Selecta. Na música, ela se utiliza das influências da diáspora africana na América Latina e da riqueza da música feita em África, desde as raízes até aos sons mais urbanos e contemporâneos.

A escalação internacional tem ainda os espanhóis Hugo Arán e Marina Tusett, da Espanha. Arán é músico e letrista autodidata, que desde cedo foi atraído pelo violão e pela música brasileira. Com três álbuns lançados , ele tem um repertório que percorre gêneros brasileiros, da bossa nova ao baião e do samba às vertentes nacionais do jazz. 

Natural de Barcelona, ​​Marina Tuset é cantora, compositora e arranjadora. É daquelas artistas que começaram na música muito cedo, ainda aos cinco anos. Estudou voz e piano, passando por estilos clássicos e contemporâneos. Sua música gira em torno de pop, soul, jazz e música latina, com referências da canção popular de várias partes do mundo. Com uma sonoridade particular e composições originais em espanhol, ela faz um pop alternativo cosmopolita, se utlizando muitas vezes nos shows de MPC, sintetizador e uma drum machine.

Trocas e negócios

Além dos shows, o Zona Mundi tem uma programação com diversas outras atividades. Começa antes das apresentações, no dia 05 de junho (quarta), às 18 horas, com o Painel de Abertura – Marimba: Uma Articulação em Rede do Intercâmbio Cultural entre Países da Língua Portuguesa, no Museu de Arte Contemporânea (MAC).

No dia seguinte (06), mais atividades, das 10 às 18 horas, no Complexo Cultural da Barroquinha. Começa com uma Rodada de Negócios, às 10h; segue com o Hacklab: Validação de Integração entre as Plataformas Dale Gig e Circuito Modular, às 14 horas; continua com as mesas ‘Direito Autoral em Tempos de Inteligência Artificial’, às 16h, e ‘Desenvolvimento Sustentável na Dimensão Cultural’, às 17h. O encerramento contará com show do artista multimídia Vírus, às 19 horas.

Programação Zona Mundi

Dia 05 de junho – quarta
Museu de Arte Contemporânea – 18h
Painel de Abertura – Marimba: Uma Articulação em Rede do Intercâmbio Cultural entre Países da Língua Portuguesa
Gratuito

Dia 06 de junho – quinta
Complexo Cultural da Barroquinha – Sala Nelson Malêeiro – 10h – 12h
Rodada de Negócios
Gratuito

Complexo Cultural da Barroquinha – Sala Nelson Malêeiro – 14h – 16h
Hacklab: Validação de Integração entre as Plataformas Dale Gig e Circuito Modular
Evento fechado

Complexo Cultural da Barroquinha – Sala Nilda Spencer – 16h
Mesa ‘Direito Autoral em Tempos de Inteligência Artificial’
Gratuito

Complexo Cultural da Barroquinha – Sala Nilda Spencer – 17h
Mesa ‘Desenvolvimento Sustentável na Dimensão Cultural’, às 17h.
Gratuito

Complexo Cultural da Barroquinha – Teatro Gregórios – 19h
Show Vírus Carinhoso
Gratuito

Dia 07 de junho – sexta
Solar do Unhão – MAM
Àvuà | Indira Mateta (Angola) | Josyara | Siwo (Moçambique)
Ingressos R$ 60/ R$ 30 pelo Shotgun

Dia 08 de junho – sábado
Solar do Unhão – MAM
Hugo Áran (Espanha) | Martins | Patche di Rima (Guiné-Bissau) | Pedro Pondé convida Clariana e Udi
Ingressos R$ 60/ R$ 30 pelo Shotgun

 Dia 09 de Junho – Domingo
Parque da Cidade
Vitrolab | Jorge Mulumba (Angola) | Marina Tuset (Espanha) | Renata Bastos | Neila Kadhi | Luana Flores (PB) 
Gratuito

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