Tangolo Mangos

Tangolo Mangos: do underground de Salvador aos palcos da Europa

Banda soteropolitana Tangolo Mangos leva seu rock psicodélico cheio de referências para três países europeus em 16 apresentações

O mercado da música independente passa por de seus momentos mais complicados, ainda mais no Brasil. Há, no entanto, quem crie seus próprios caminhos e encontre possibilidades de alcançar outros públicos. A banda Tangolo Mangos é um bom exemplo disso. Surgido nas cena alternativa de Salvador, o grupo passou os últimos meses circulando pelo país, tocando nos palcos de pequenas casas de show. Foram 30 cidades no total, do Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste, apresentando o elogiado álbum de estreia Garatujas. Agora, o grupo parte para um passo maior. Neste mês de maio, o quinteto soteropolitano faz a primeira turnê internacional, passando por Portugal, Espanha e Alemanha entre 7 de maio a 1º de junho.

A banda vai levar sua sonoridade inventiva — que mescla de forma muito natural rock clássico, garagem, MPB e ritmos nordestinos — para dezesseis casas e festivais independentes da cena alternativa europeia. A turnê contempla datas em cidades importantes como Lisboa, Porto, Madri, Barcelona e Hamburgo, além de outras menores e pequenos festivais como o Entre Pedras, na cidade Castelo Branco, em Portugal; e o HMV Fruhlingsfest, em Hamburgo, Alemanha.

“Sempre tínhamos esse sonho de fazer uma tour internacional, mas, na verdade, ela veio nascendo organicamente, ao longo de convites, oportunidades de editais e amizades que surgiram na nossa vida”, conta Felipe Vaqueiro, um dos vocalista e guitarrista da banda. Um convite inicial para tocar em Lisboa, através de uma agência portuguesa chamada Hapday, derivou numa turnê por três países, que podia até ser mais. “Queríamos inicialmente incluir outros países e locais, mas fomos nos adaptando ao que era viável e funcional”, diz. “Tentamos muitos outros espaços e locais, mas não obtivemos sucesso (que foi o caso de cidades na França e Inglaterra, bem como Berlim e Zurique) e resolvemos seguir com o que tínhamos”.

A banda vai fazer a maioria dos shows com a formação completa, além de Felipe, Bruno Fechine (vozes e percussões), João Antônio Dourado (bateria), João Denovaro (vozes e baixo) e Theo Kiono (guitarra), mas em alguns espaços as apresentações serão adaptadas para um formato intimista eletro-acústico, sem bateria. O próprio Felipe Vaqueiro vai aproveitar a viagem para fazer duas datas solo em Portugal.

A aposta na carreira internacional vem com muita expectativa. “Acho que sempre que nós viajamos tocando, a gente recebe uma prova material de que nosso trabalho e sonho estão indo mais longe, chegando mais perto de atingir aquilo que a gente busca – que é a subsistência financeira através do nosso corre ao mesmo tempo em que espalhamos nossa música para mais pessoas”, diz Vaqueiro. “O fator ‘internacional’ dessa tour enfatiza esse sentimento e nos deixa mais excitados, com mais frio na barriga, pela ideia de encontrar e esbarrar com o desconhecido”.

A banda também acredita que a turnê pode reverberar nos contratantes e públicos brasileiros. “A tal da síndrome de vira lata também afeta o setor cultural, de modo que muitos grupos e artistas ganham uma valorização simbólica ao retornar de uma turnê internacional”, afirma o músico. “Para além disso, existe uma expectativa mercadológica internacional positiva, já que é comum ver artistas brasileiros retornando a Europa após a primeira ida. Uma vez que seu trabalho começa a circular pelos espaços, públicos, produtores e curadores do Velho Mundo, a chance de retorno é alta. O público europeu, de maneira geral, gosta muito da linguagem da música brasileira, e tocar lá é criar essa porta de entrada para turnês futuras.”

Viabilizado através do edital de Mobilidade Artística da SECULT-BA, o projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia. Por meio de parcerias com produtores locais e agentes culturais na Europa, muitas vezes intermediadas por amizades e colegas brasileiros que já circulavam pelo continente europeu, a banda viabilizou o agendamento das datas das apresentações. Foi fundamental também a parceria com o selo português Saliva Diva, responsável por marcar nove dos onze shows em terras lusitanas.

Como contrapartida, o grupo fará em agosto uma ação formativa “explicitando e comentando sobre nosso processo de produção, passo-a-passo de agendamento da turnê e outras dicas relevantes que existiram ao longo da criação desse giro”. A atividade será gratuita e acontecerá no Auditório da Facom UFBA (em Salvador, Ondina), mas ainda não tem data e horário confirmados.

Tangolo Mangos Tour

Leia abaixo entrevista com Felipe Vaqueiro sobre a turnê:

Como surgiu a ideia da turnê e como vocês articularam e viabilizaram ela?

Sempre tínhamos esse sonho de fazer uma tour internacional, mas, na verdade, ela veio nascendo organicamente, ao longo de convites, oportunidades de editais e amizades que surgiram na nossa vida. Lisboa surgiu primeiro através de uma proposta de uma agência portuguesa chamada Hapday, que vendia esse serviço de agenciamento de show. Daí nasceu a ideia de organizar uma turnê, uma vez que conhecíamos o edital de Mobilidade Artística da Secult BA que, ao apresentar uma carta-convite de instituição cultural, poderia garantir o custeamento logístico de, pelo menos, parte da viagem. Passamos boa parte do segundo semestre do ano passado, inclusive enquanto estávamos viajando pelo Brasil, escrevendo, corrigindo, orçando, cotando e pesquisando informações, orçamentos e contatos para nos inscrever no edital e fazer a turnê europeia acontecer. Estávamos, inclusive, na estrada quando tivemos a notícia da aprovação.

Por que esses lugares e em que tipo de lugares vão tocar?

Cada cidade tem seu contexto, na verdade. Queríamos inicialmente incluir outros países e locais, mas fomos nos adaptando ao que era viável e funcional. Lisboa, conforme falei, veio primeiro junto com um convite de uma agência, o que nos deixou pensativos sobre a ideia de marcar uma turnê. Em paralelo, nossos amigos paulistanos Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo estavam circulando pela Europa e nos forneceram contatos de produtores que resultaram, posteriormente, na marcação dos shows de Madri, Esposende e Hamburgo. Através de MONCH, artista paulistano que morou em Porto, conhecemos os portugueses da Saliva Diva (que também atuam na banda Baleia Baleia Baleia), uma vez que eles vieram juntos em turnê pelo Brasil. Recebemos todos eles em Salvador, tocamos juntos, nos reencontramos no Rio de Janeiro e fomos criando uma amizade que, posteriormente, resultou nessa parceria natural. A cena independente brasileira tem uma ética de trabalho baseada na cooperação e foi muito incrível saber que nossos amigos portugueses têm esse mesmo sentimento, a ideia do DIY associada a lógica colaborativa do “uma mão lava a outra”. Com isso, muitas das apresentações em cidades portuguesas (9 das 11) foram propostas e organizadas por Manuel Molarinho, um dos cabeças do selo Saliva Diva, estabelecido no Porto. Junto com o selo e da sua banda punk Baleia Baleia Baleia (que se apresentou com a gente no BlaBlaBlá em SSA e na Casa Noise em Feira), ele conhece muitos espaços e produtores, de modo que foi possível estabelecer um roteiro muito interessante, com boas propostas de contratação e logística, passando por cidades menores que jamais sonharíamos em conhecer. Por fim, já com parte da turnê marcada, em novembro do ano passado, rolou uma dessas maluquices e coincidências da vida após o show que fizemos lá em João Pessoa – conhecemos Matheus Luna, pernambucano que vive em Marburg, Alemanha, e é associado a um coletivo cultural de arte brasileira e capoeira. A partir daí, arquitetamos essa data juntos, criamos um roteiro base e fechamos a lista de cidades. Claro, tentamos muitos outros espaços e locais, mas não obtivemos sucesso (que foi o caso de cidades na França e Inglaterra, bem como Berlim e Zurique) e resolvemos seguir com o que tínhamos. No final das contas, vamos tocar em equipamentos culturais de diferentes naturezas, tanto pequenos festivais (que é o caso de Aveiro e Hamburgo), salas tradicionais e bem equipadas, bares e pubs bem naquele estilo inferninho… vai ser uma mistura de diferentes estruturas e contextos de show, assim como quando fazemos turnê pelo Brasil.

 

 

Qual a importância de fazer essa tour?

É uma mistura de fatores, certamente. Acho que sempre que nós viajamos tocando, a gente recebe uma prova material de que nosso trabalho e sonho estão indo mais longe, chegando mais perto de atingir aquilo que a gente busca – que é a subsistência financeira através do nosso corre ao mesmo tempo em que espalhamos nossa música para mais pessoas. O fator “internacional” dessa tour enfatiza esse sentimento e nos deixa mais excitados, com mais frio na barriga, pela ideia de encontrar e esbarrar com o desconhecido. A gente também se pergunta se nossa ida vai reverberar nos contratantes e públicos brasileiros. A tal da síndrome de vira lata também afeta o setor cultural, de modo que muitos grupos e artistas ganham uma valorização simbólica ao retornar de uma turnê internacional. Em certos casos, como no da banda Boogarins, isso é real, mas realmente não tem como saber.

Para além disso, existe uma expectativa mercadológica internacional positiva, já que é comum ver artistas brasileiros retornando a Europa após a primeira ida. Uma vez que seu trabalho começa a circular pelos espaços, públicos, produtores e curadores do Velho Mundo, a chance de retorno é alta. O público europeu, de maneira geral, gosta muito da linguagem da música brasileira, e tocar lá é criar essa porta de entrada para turnês futuras.

Muitas amizades nossas já comentaram que isso realmente acontece, como o pessoal do coletivo DoSol (de Natal) e a galera da SCUEPDT (de São Paulo), além dos próprios amigos portugueses da Saliva Diva. Então a gente espera que, naturalmente, a gente expanda nossa rede de contatos, crie novas amizades e que, no futuro, isso naturalmente desemboque em novas oportunidades, tanto pra gente quanto pros nossos pares – outras bandas baianas, nordestinas e brasileiras que objetivam circular por lá. Inclusive, como financiamos a ida através do edital de Mobilidade Artística da SECULT-BA, faremos uma ação formativa explicitando e comentando sobre nosso processo de produção, passo-a-passo de agendamento da turnê e outras dicas relevantes que existiram ao longo da criação desse giro. Ela será gratuita, aberta a todos interessados, e acontecerá no Auditório da Facom UFBA (em Salvador, Ondina), no mês de agosto, em data e horário a serem confirmados e divulgados nas redes sociais do Tangolo Mangos.


Ouça o álbum Garatujas da Tangolo Mangos

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