plágio

Plágios, homenagens, inspirações ou coincidências?

Toda hora surge alguma acusação de plágios por parte de bandas e artistas pelo mundo afora. Eles pegam a letra, parte da melodia, a base, a introdução, um riff ou até a música toda de outro artista, às vezes sem nem perceber, e fazem outra como se fosse sua. Até alguns clássicos incontestáveis tem uma inspiração tirada de outro lugar. Nem sempre, no entanto, se trata realmente de plágio, de cópia consciente. Podem ser mil coisas: o trecho que ficou no inconsciente do compositor, uma homenagem, ou até cópia descarada mesmo. Os exemplos são diversos e reunimos alguns deles para que vocês tirem suas conclusões:

Strokes X Tom Petty

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Pelo twitter, o parceiro Bruno Natal do blog Urbe mandou que “Last Nite” do Strokes é chupadona de “American Girl”, de Tom Petty. O riff da introdução é incontestavelmente muito, muito semelhante. Em uma entrevista de 2006 para a Rolling Stone, o próprio Tom Petty falou sobre o caso: “O Strokes pegou ‘American Girl’ [para a música ‘Last Nite’], e eu vi uma entrevista com eles, onde eles realmente admitiram. Isso me fez rir em voz alta. Pensei tipo, ‘OK, bom para você “. Isso não me incomoda”. O próprio Strokes não faz muita questão de esconder a inspiração. Em algumas apresentações, o vocalista Julian Casablancas, ocasionalmente, canta versos de “American Girl ” entre a letra original de “Last Nite”.

Muito se quis desqualificar a banda nova-iorquina pela semelhança das músicas. Uma grande bobagem, já que não tira o mérito do grupo, nem mesmo da excelente música, um clássico moderno. Aliás, se isso desqualificasse totalmente um artista, iam restar poucos, como você pode ver em seguida.
“Last Nite” – Strokes (2001)

“American Girl” – Tom Petty (1976)

Led Zeppelin X Spirit

Um dos mais interessantes casos de plágio envolve uma das mais clássicas músicas da história do rock, “Stairway to Heaven”, do Led Zeppelin. Lançada pela grupo inglês no disco Led Zeppelin IV, de 1971, a música trazia a famosa introdução bastante semelhante com uma música do grupo norte-americano Spirit. Três anos antes do Zeppelin, em 1968, o Spirit havia lançado “Taurus”, uma música instrumental incluída no primeiro disco do grupo. O próprio vocalista, guitarrista e líder da Spirit, Randy California, deu sua visão, sugerindo que a relação entre os dois grupos era maior do que se imagina: “As pessoas sempre perguntam para mim por que “Stairway to Heaven” soa exatamente como “Taurus”. Bem, o que eu sei que o Led Zeppelin também tocava “Fresh Garbage” (outra música do Spirit) em seus shows. E eles abriram para nós em sua primeira turnê americana…”, disse o músico, que morreu afogado no Havaí, em 1997.

“Stairway to Heaven” – Led Zeppelin (1971)

“Taurus” – Spirit (1968)

Beatles X Chuck Berry

O Led Zeppelin não foi a única banda incontestável do mundo do rock que sofreu acusação de plágio. Os Beatles também entram nessa e numa música também bastante conhecida. “Come Together”, composta por John Lennon para a campanha de Timothy Leary ao governo da Califórnia (EUA), tinha a mesma base de uma música lançada em dezembro de 1956 por Chuck Berry, “You Can’t Catch Me”, presente na trilha-sonora do filme Rock, Rock, Rock. O próprio Paul McCartney conta o que aconteceu em sua biografia oficial (Paul McCartney, Many Years from Now): “Quando ele (referindo-se a Lennon) a trouxe pela primeira vez, era uma musiquinha bem animada e eu lhe disse que se parecia bastante com ‘You Can’t Catch Me’, de Chuck Berry. John reconheceu que parecia mesmo e eu disse: “Bem… Faça alguma coisa para mudar isso”. Sugeri que tentássemos desacelerar o ritmo – o que fizemos”. A artimanha não deu tão certo e o detentor dos direitos de parte das músicas de Chcuck Berry, Maurice Levy, levou o caso à justiça. Um acordo entre as partes estabeleceu que John Lennon gravasse três músicas do catálogo de Levy. Além da própria “You Can’t Catch Me”, os Beatles terminariam por gravar também “Sweet Little Sixteen”, que eles tocavam em shows e saiu em gravações ao vivo.

“Come Together” – Beatles (1969)

“You Can’t Catch Me” – Chuck Berry (1956)

Beach Boys X Chuck Berry

A mesma “Sweet Little Sixteen”, de Chuck Berry, tocada pelos Beatles, acabou rendendo outro caso de plágio, dessa vez com o Beach Boys. Lançada em março de 1963, “Surfin’ U.S.A.” trazia as mesmas notas, acordes, hamonia e até os vocais de “Sweet Little Sixteen”, lançado cinco anos antes, em 1958. Uma das poucas diferenças entre as músicas é a letra, de resto tá lá, uma cópia quase fiel. O interssante é que os Beach Boys escaparam da acusação de plágio. Não se sabe bem como, mas suspeita-se que houve um acordo entre as partes. O fato é que em alguns compactos e LPs aparece o nome de Chuck Berry como autor, mas em outros é o dos Beach Boys que é estampado. Uma coisa é certa, Berry é uma forte influência do Beach Boys, dos Beatles, Animals e Rolings Stones, que gravaram músicas suas. Keith Richards até assumiu certa vezes que copiou de Chuck Berry “todos os acordes que ele já tocou”.

Surfin’ U.S.A.” – Beach Boys (1963)

“Sweet Little Sixteen” – Chuck Berry (1958)

George Harrisson X The Chiffons


Mas Lennon não foi o único Beatle acusado de plágio. O maior sucesso solo de George Harrison, “My Sweet Lord”, é igualzinho igualzinho a “He’s So Fine”, canção bonitinha lançada em 1963 pelo grupo vocal feminino The Chiffons. A cópia foi tão óbvia que Harrison foi condenado a pagar indenização substancial aos editores originais, embora ele sempre tenha dito que a semelhança não tenha sido intencional.

“My Sweet Lord” – George Harrisson (1970)

“He’s So Fine” – The Chiffons (1963)

Nirvana X Killing Joke X The Dammed

Um dos casos mais interessantes é o do Nirvana. Quando estava para lançar Nevermind, banda e gravadora decidiam qual seria o primeiro single. As apostas iam para “Comes As You Are”, mas internamente já apontavam a semelhança dela com “Eighties”, da banda Killing Joke, presente no álbum “Night Time” de 1985. O Nirvana acabou estourando com “Smells Like Teen Spirit” e só depois “Comes As You Are” estouraria. Mas as acusações de plágio chegaram assim que a música entrou nas paradas. O vocalista da Killing Joke, Jaz Coleman, estava indignado com a semelhança dos riffs inicias da música do Nirvana com a sua. Geordie Walker, músico do Killing Joke violão, disse na época que a banda ficou “muito chateada com a história, mas estava óbvio para todos. Tivemos dois musicólogos com diferentes relatórios dizendo que havia semelhança. Nossa editora enviou uma carta para a editora do Nirvana dizendo que era plágio e eles foram ‘Boo, nunca ouvi falar de você!, mas o próprio Nirvana já havia nos enviado um cartão de Natal!”. Havia procedência na acusação e o caso foi levado para os tribunais. Jaz fazia questão de dizer em todo lugar sobre o suposto plágio. Na época, Kurt Cobain chegou a reconhecer que realmente utilizou o riff inicial de “Eighties” para “criar” “Come As You Are” e até assumiu ser fã da banda dos anos 80. O caso na justiça caminhava para uma solução quando Cobain foi encontrado morto. O Killing Joke acabou retirando o processo e, em 2003, David Grohl, baterista do Nirvana, acabou fazendo uma participação no álbum da banda veterana. O mais engraçado disso tudo é que uma música da banda The Damned, “Life Goes On”, lançada em 1982, dois anos anos de “Eighties”, do Killing Joke, guardava bastante semelhanças justamente daquelas famosos e polêmicos riffs,

“Come as You Are” – Nirvana (1991)

“Eighties” – Killing Joke (1984)

“Life Goes On” -The Damned (1982)

Elastica X Wire


Mas de todos os casos o que talvez chame mais atenção pela cara de pau seja o que envolve a banda inglesa Elastica, que nos anos 90 integrou o chamado britpop. A banda teve como grande sucesso a música “Connection”. Assim que ela foi lançada, em 1995, outra banda inglesa, The Wire, formada em meados dos anos 70, entrou com um processo acusando o Elastica de usar indevidamente as melodias do The Wire. A acusação de plágio não se referia apenas a abertura idêntica e inconstestável de “Conecction” com a música “Three Girl Rhumba”, mas também o refrão de “Line Up”, semelhante ao de “I am the fly” do Wire. Tem mais, outro grupo inglês dos anos 70, The Stanglers, também apontou semelhanças de uma música do Elastica, “Waking Up”, com uma música sua, “No More Heroes”. O Elastica nunca negou nenhuma dessas acusações e, aparentemente, não demonstrava vergonha nenhuma por essas semelhanças, afirmando que todos grupos pop tomaram ideias emprestadas e que toda música no final das contas era reciclada.

“Connection” – Elastica (1995)

“Three Girl Rhumba” – Wire (1977)

Tim Maia X Booker T. and the Mg’s


Os artistas brasileiros não escapam dos casos de plágios ou homenagens, como queiram. O grande Tim Maia fui um dos que entraram na lista. Essa foi lembrada pelo blog Pastilhas Coloridas, mas quem teve oportunidade de ouvir as duas versões já deve ter sacado. Olha  o que o pessoal do blog escreveu: “Tim Maia é o papa do soul brasileiro. Viveu nos Estados Unidos durante o começo dos anos 60 e teve um contato estreito com a efervescência musical que acontecia na época. Certamente o Síndico conhecia bem Booker T. and the Mg’s. O quarteto de Memphis, Tenesse, foi um dos mais importantes nomes da Stax, gravadora seminal do melhor do soul/r&b/funk já produzidos. Repare na melodia vocal de Sossego, no tema de Boot-Leg e sinta de onde veio a inspiração de Tim Maia…”. Não precisa dizer mais nada, né?

“Sossego” – Tim Maia (1978)

“Boot-Leg” – Booker T. and The Mg’s (1965)

Carlinhos Brown X Jose Curbelo

Essa veio de Tom Tavares, músico, poeta, professor da Escola de Música da UFBA. Envolve o músico, percussionista, compositor e cantor Carlinhos Brown, sua música “Maimbê Dandá”, gravada e conhecida na voz de Daniela Mercury, e a salsa “Sun Sun Babae”, do pianista cubano José Curbelo. “Sun Sun Babae” foi gravada por José Curbelo and His Orchestra e lançada no disco Wine, Women and Cha Cha Cha, em 1955. Ganhou diversas outras gravações de nomes como Celia Cruz, Tito Rodriguez, entre outros. A música de Carlinhos Brown veio a púbico em 2004, com a gravação de Daniela Mercury. Foi batizada como “Maimbê Dandá”, mas todo mundo a conhece como “Zum Zum Baba”, como afirma Tom Tavares.  Uma música dos anos 50 pode ter tranquilamente ficado na mente de Brown na infância e anos depois ele foi compor e saiu espontaneamente algo bem parecido. Como não lembrava, achava que estava criando algo totalmente novo. Ou pode também ter copiado e achado que ninguém ia perceber.

“Maimbê Dandá” – Daniela Mercury (Carlinhos Brown) (2004)

“Sun Sun Babae” – Jose Curbelo (1955)

Rod Stewart X Jorge Ben


Tem casos contrários também. Artistas brasileiros com músicas copiadas descaradamente por um estrangeiro. Chama atenção o caso de Rod Stewart com a música ¨Do Ya Think I’m Sexy¨, comprovadamente copiada de ¨Taj Mahal¨ de Jorge Ben. Em 1978, o roqueiro escocês pegou o refrão simples e pegajoso da música “Taj Mahal”, “Tê-tetere-teretetê”, e usou também como refrão em sua música. O brasileiro apelou pra justiça e acabou ganhando o processo, mas não levou nada. Isso porque quando a música do escocês chegou ao primeiro posto das paradas inglesas, numa jogada esperta, ele cedeu os direitos autorais relativos à canção ao Unicef, o órgão da ONU que auxilia crianças carentes. Um truque que o advogado de Stewart encontrou para melhorar a imagem.

“Do Ya Think I’m Sexy” – Rod Stewart (1978)

“Taj Mahal” – Jorge Ben (1972)

Os casos não param por ai e teríamos que passar o ano listando vários outros exemplos. Raul Seixas e Beatles mereceria um capítulo a parte. As bandas do rock nacional dos anos 80 outro, com o Camisa de Vênus liderando o pelotão, seguindo por Titãs, Paralamas, Legião Urbana… Tem ainda Tribalistas, Lady Gaga, pra falar em nomes mais atuais, todos eles tiveram seu momento plágio, homenagens, inspirações ou coincidências. Mas dê seu veredicto, o que acha dessas semelhanças?

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