Depois de um apanhado e votação com quase todos os lançamentos de discos baianos em 2013, chegamos ao resultado com boas surpresas. Se listas na verdade não servem para uma conclusão objetiva de qual é o melhor ou pior, até porque não deve existir essa disputa em algo tão subjetivo quanto música, elas são uma excelente opção para se conhecer novos artistas, trabalhos que passaram despercebidos ou para referendar obras. Numa votação aberta ao público, não necessariamente os mais votados representam o gosto da maioria ou que eles são incontestavelmente os melhores trabalhos. Sem dúvida, no entanto, exprimem como pensa uma determinada parcela do público. Em um mês de votação pelo faceboook, o el Cabong apresentou alguns trabalhos e recebeu milhares de pessoas votando e discutindo os melhores discos baianos de 2013. Independente de quem abraçou a votação e fez campanha, convocou os fãs e conseguiu muitos votos, o resultado é surpreendente, não só por trazer nomes desconhecidos para a maioria entre os mais votados, mas por trazer à tona um cenário quase invisível na capital baiana, os artistas do interior do estado. Dos 15 mais votados, sete são de cidades do interior, de quatro cidades diferentes, sendo que os cinco primeiros colocados são de fora da capital. Vale ressaltar também a diversidade de estilos, ritmos e gêneros dos mais votados, MPB , Blues, Indie rock, Jazz, Pop, Rock, Experimental, Rap e Samba são alguns dos presentes entre os 15 melhores do ano.
1. Ayam Ubrais Barco – ¡Partir O Mar Em Banda! – 1190 votos
Desconhecido para a maioria e pouco falado, o músico e artista plástico Ayam Ubrais Barco emplacou surpreendentemente seu primeiro disco ‘¡Partir O Mar Em Banda!’ no topo dos mais votados. Filósofo natural de Salvador, mas residindo na pequena cidade de Ipiaú, Ayam já expôs suas peças em diversos países. Na música foi integrante de algumas bandas e havia feito trilhas sonoras para curtas-metragens. Em sua estreia, o artista produziu um daqueles discos de classificação não óbvia, que não se conforma em permanecer numa zona de conforto. O disco traz 11 composições do próprio Ayam, carregadas de poesias e trafegando por diversas influências (não só musicais), que resultam numa sonoridade particular. Entre a viagem musical proposta, com letras filosóficas, o ouvinte vai desde o tradicional cancioneiro do sertão baiano, com canções a base de violões e um modo quase messiânico de cantar, passando pelo rock e suas guitarras, tem ainda sopros, batidas alucinadas, vocais viscerais, incidência de gritos, vozes indígenas e trechos de filmes, chegando em sons mais vanguardistas. Produzido e gravado num estúdio de Ipiaú, o disco traz uma sonoridade distante dos sons obtidos com as grandes evoluções tecnológicas da atualidade, o que faz a música de Ayam soar mais encorpada e ajuda a criar uma sonoridade mais suja, inconformada com os padrões, como é própria música dele.
2. Fabrício Barreto – Entre Tanta Gente – 571 votos
Com uma MPB mais bem comportada e sonoridade próxima a música brasileira mais marcante pós anos 70, a música do feirense Fabrício Barreto tem foco no formato canção tradicional, com voz e violão. O disco “EntreTantaGente’ é a estreia desse cantor e compositor de 37 anos (14 de carreira), autor de todas as faixas do disco. Gravado entre Bahia e Minas Gerais, o álbum conta com a participação de Cris Braun, Nosly e Zeca Baleiro.
Ouça aqui soundcloud.com/oficial-fabr-cio-barreto
3. Edir Carneiro – Remendo – 480 votos
Também de Feira de Santana, Edir Carneiro, de apenas 28 anos, é um compositor, cantor e multiinstrumentista em instrumentos de corda. ‘Remendo’ é seu primeiro disco. Autor de mais de 140 composições, no disco ele passeia por música sertaneja (a nordestina) e samba de roda tratando do universo do sertão com participações de nomes como Xangai e Roberto Mendes.
Ouça aqui palcomp3.com/edircarneiro/
4. Clube de Patifes – Acústico – 349 votos
Como se o rio Mississipi passasse pelo sertão baiano, um dos principais nomes blues na Bahia vem de Feira de Santana. A banda Clube de Patifes já é uma instituição local e em 2013 lançou o disco ‘Acústico’ em comemoração ao seus 15 anos. Estão lá o blues marcantes e consistentes do trio, com músicas dos dois discos anteriores e faixas inéditas, que possuem flertes com a música nordestina e uma personalidade cada vez mais rara no estilo.
Ouça aqui soundcloud.com/clubedepatifes
5. Rivermann – Rivermann – 171 votos
Camaçari vem ganhando o apelido de Manchester baiana por abrigar uma inesperada cena de indie rock em meio a fábricas e indústrias. Um dos nomes que se destacaram no último ano dessa cena foi a Rivermann com um EP de estreia trazendo quatro pérolas que trafegam por aquelas sons entre o rock indie dos anos 80 e 90, o shoegaze e o noise. Letras em português, barulho de guitarras e grande potencial.
Ouça aqui soundcloud.com/rivermann
6. Exoesqueleto – Exo Sessions – 143 votos
Apesar do vocal limitado, o power trio formado por veteranos do rock soteropolitano traz um instrumental caprichado em seu disco de estreia, ‘Exo-Sessions’. São oito faixas de autoria da própria banda que trafegam entre rock, black music e uma pitada de regionalismo, revezando peso, solos e uma sonoridade densa e coesa.
Ouça aqui soundcloud.com/exoesqueleto-1/sets/exosessions
7. Mendigos Blues – Repúblicas e Mutretas – 125 votos
Outra banda de blues do interior do estado. Dessa vez é a Mendigo Blues de Itabuna, com o disco de estreia ‘Repúblicas e Mutretas’, que apresenta um blues com um peso em alguns momentos e que se mistura a diversas outras influências, do rock setentista, passando por jazz, soul e indo até a música regional.
Ouça aqui soundcloud.com/mendigos-blues/sets/republicas-e-mutretas
8. Mou Brasil – Farol – 104 votos
Guitarrista de uma das famílias musicais mais tradicionais do estado, Mou Brasil mostrou em ‘Farol’ um jazz tradicional, ao mesmo tempo que se abriu para influências da música brasileira e regional. Acompanhado por um time formado por alguns dos melhores músicos baianos da atualidade, Mou fez um disco quase que essencialmente instrumental, mas com Manuela Rodrigues e Tiganá Santana dando vozes em quatro faixas.
Ouça aqui soundcloud.com/garimpomusica/sets/mou-brasil-farol
9. Toco y me Voy – Toco y me Voy – 98 votos
A fusão musical proposta pelo grupo Toco y Me Voy e apresentado no disco de mesmo nome é um passeio por sonoridades de várias partes do mundo. Música do leste europeu, reggae, xote, pop, entre outros. O uso do acordeon, escaleta e bandolim contribuem para que a música do grupo soe mais interessante. A formação da banda conta com músicos de várias bandas conhecidas de Salvador, como Scambo.
Ouça aqui soundcloud.com/tocoymevoy-1
10. Uyatã Rayra & A Ira de Rá – Mórula EP – 89 votos
Outro grupo vindo de Feira de Santana, o Uyatã Rayra & A Ira de Rá lançou um EP que consolida o que já vinha fazendo nos shows. Uma típica doideira sonora, que trafega por estilos diversos e acabam criando uma sonoridade bastante particular. Pop e experimentalismo dialogam, com canções, refrões, mudanças de andamento e dissonâncias conseguindo conviver numa mesma música. Não é difícil que psicodelia, ijexá, reggae, baião, samba de roda, eletrônica e afrobeat se encontrem numa mesma faixa.
Ouça aqui soundcloud.com/
11. Baiana System – EP – 87 votos
O Baiana System se tornou um fenômeno em Salvador especialmente pelos shows lotados, verdadeiras catarses coletivas. Sintonizado com os tempos atuais, a banda não deixa de ter assunto musical, lançando músicas esparsadas depois do disco de 2010. Esse EP reúne alguns desses lançamentos, inclusive o maior hit, ‘Terapia’, que por si só já valeria pelo trabalho, mas tem outras faixas tão preciosas quanto, que mostram o som original feito pelo grupo.
Ouça aqui soundcloud.com/baianasystem/sets/ep-compacto
12. Maglore – Vamos pra Rua – 83 votos
Em seu segundo disco, a Maglore apresenta uma grande evolução em relação ao trabalho anterior, deixando de lados influências mais óbvias e inserindo novos elementos à sua música. Permanece a capacidade de criar belas canções com refrões e melodias de fácil assimilação, mas agora com a MPB, especialmente dos anos 70, mais presente, composições mais refinadas e caprichadas e uma capacidade de variações nas músicas que deram maior consistência ao trabalho do grupo.
Ouça aqui soundcloud.com/magloreoficial
13. Weise – Aquele que superou o fim dos tempos – 75 votos
Depois de lançar três EPs, a banda Weise soltou seu primeiro CD, ‘Aquele Que Superou o Fim dos Tempos’, que atesta o grupo como um dos desconhecidos mais interessantes do cenário soteropolitano. A Weise não se intimida em fazer um rock experimental, com guitarras barulhentas, mudanças de andamento, vocal desajustado, gritos, psicodelia, flertes com punk rock, mas inserindo no meio desse som infernal boas melodias e letras interessantes. O grande mérito é manter uma ousadia de pouco se importar com o mundo à sua volta. A pena é que a banda acabou.
Ouça aqui weise.bandcamp.com/
14. Opanijé – Opanijé – 70 votos
O rap baiano nunca teve tanta personalidade como nesse primeiro disco homônimo do grupo Opanijé. Scratches, rimas, beats, samples e letras agressivas, como o rap tradicionalmente pede, aliados a percussão, berimbaus, toques de candomblé e temática que trata de cultura negra e ancestralidade africana. Com 14 faixas e diversas participações especiais é um marco no rap baiano, definindo como é fazer rap com personalidade própria na Bahia.
Ouça aqui soundcloud.com/opanije/sets/opanij
15. Riachão – Mundão Ouro – 59 votos
Aos 92 anos, Riachão é um monumento do samba vivo e em atividade. Com centenas de músicas compostas, ele teve poucas gravadas em seus apenas dois discos lançados durante décadas. Em 2013, o cantor e compositor lançou o terceiro trabalho, no qual regrava seus maiores sucessos e apresenta canções inéditas, entre elas mostra até um lado mais melancólico contrapondo com seu espírito alto astral. Em gravações feitas a partir de conversar, o disco mantém o clima descontraído com falas entrecortando as músicas.
Ouça aqui itunes.apple.com/gb/album/mundao-de-ouro/id759660764