Encerrando turnê brasileira, a cantora norte-americana Madeleine Peyroux faz belo show com clima intimista.
Se Salvador não está no circuito de shows internacionais não é por falta de público. Um Teatro Castro Alves lotado numa terça-feira a noite para assistir a uma cantora de jazz pouco conhecida do grande público ajudou a comprovar isso. A norte-americana Madeleine Peyroux (veja site) encerrou em Salvador sua segunda turnê pelo Brasil. E veio por decisão pessoal, já que queria conhecer a Bahia. Deu certo.
Acompanhada de uma banda simples, piano, guitarra, baixo e bateria, a cantora mostrou em pouco mais de uma hora que merece os elogios que a colocam entre os maiores nomes do jazz atual. Jazz? Quem se importa se dizem que não é puro jazz, se há namoricos com blues, country, pop, rock? No palco o que se viu foi sutileza, beleza, delicadeza e uma sonoridade que consegue agradar tanto aos ouvidos já apreciadores do jazz tradicional quanto os menos acostumados com uma música mais sofisticada.
Mesmo num teatro gigantesco e com mais de 1.500 pessoas presentes, Madeleine e seus músicos conseguiram criar um clima intimista, cool. Pareciam que tocavam exclusivamente para cada um que estava sentado ali à frente. Sem precisar utilizar outros artifícios que não a música – iluminação sóbria, nenhum cenário e a banda concentrada no centro do palco – Madeleine consegue ser brilhante da forma mais simples, apenas com sua voz, seu violão, seu humor tímido e uma naturalidade no papo com o público.
No repertório ela desfilou belas composições próprias e canções clássicas, como “Smile” de Charles Chaplin, “La Javanaise” de Serge Gainsbourg, “(Looking for) The Heart of Saturday Night” de Tom Waits (quando pediu para o público se imaginar num sábado a noite) e “La Vie en Rose”, imortalizada por Edith Piaf (que apareceu no unico biz da noite). Falando com carinho do Brasil, especialmente de Salvador, a cantora brincava a cada música que chamava.
O show – que integra a turnê do álbum “Half the Perfect World”, um mundo meio perfeito que segundo ela é melhor do que nada – foi o último da turnê mundial. Ela aunciou que parte agor apara gravação de um novo disco e acabou sugerindo que pode incluir uma música em português. Nenhuma surpresa, já que aparecem claros ecos de bossa-nova em alguns momentos de sua música. Seria só mais uma prova do carinho que ela demonstrou ter pelo Brasil
Se alguém duvidava ou imaginava que todos os elogios a sua voz poderia ser truque de estúdio, Madeleine mostrou que sabe utilizar muito bem seus recursos vocais. O primor da voz, controlada e indo até onde pedia, só crescia quando precisava. Entrava em sintonia total com o quarteto de instrumentistas e tornava o show ainda mais brilhante. Com muita delicadeza, tudo no lugar certo, sem excessos, mas com espaço para solos e improvisos, os músicos mostravam competência para equilibrar suingue, ritmo e harmonia.
Um show memorável que o público de Salvador precisa se acostumar. É importante que num show tão intimista as máquinas fotográficas não despejem seus flahes com tanta frequência, quebrando um pouco o clima. Mais comportado que de costume, só não entendeu que Madeleine queria tocar mais e um biz para ela é regra, mas outros são comuns. O público não entendeu e ficou sem outros.