Mesmo ignorados por quem controla o Carnaval de Salvador, há compositores de todos os tipos produzindo músicas que poderiam estar na festa.
O Carnaval de Salvador se tornou parecido com a festa de qualquer cidade, baseada basicamente em sucessos do passado e músicas que viraram clássicos, com exceções, que ficam pra outro texto. Hoje é como aqueles bailes onde se tocam velhas marchinhas de outros carnavais, poucas novidades e muita velharia. O tom em geral é esse.
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Faltam novos compositores? Não existem novas composições com o cheiro da festa, mas que repitam menos as fórmulas que os cantores e cantoras da axé music mergulharam? O Carnaval de Salvador sempre se caracterizou por se reinventar e captar o que acontece na cidade e levar para os trios elétricos.
História
Lá no início, os compositores dos blocos afro alimentavam as bandas pop. Nomes como Banda Mel e Reflexu’s regravavam os sucessos dos ensaios do Olodum, Muzenza, Ilê AIyê, entre outros. Daniela Mercury anos depois também passou a captar o que acontecia em alguns desses blocos. Vários grande compositores, como Luiz Caldas, Missinho, Gerônimo, Lazzo, Paulinho Camafeu, Carlinhos Brown, entre tantos outros, surgiram e alimentavam a si próprio e a outros artistas.
Os compositores, com frescor e boas ideias, continuam surgindo, mas, quase sempre, distante da indústria do Carnaval. Joaquim Nery, um dos maiores empresários do setor, em entrevista à revista Muito do último dia 8 de fevereiro, mostrou com pensa quem comanda o carnaval de Salvador:
“Houve uma época, lá na na primeira década de 1990, que você tinha seis, oito, dez artistas baianos vendendo mais de um milhão de cópias de CDs, cada um. Eram fenômenos nacionais. Terra Samba, Cheiro de Amor, Ivete Sangalo, Daniela Mercury… E a venda desse CDs alimentava uma legião de compositores. Quando um CD vendia um milhão de cópias, um compositor que vinha do gueto ficava rico em um ano, ou pelo menos, melhorava sua condição de vida. (…)”
E continua: “Com a perda das vendas de CDs, os fenômenos da música baiana passaram a vende 150 mil cópias, isso quando havia um grande esforço… E o compositor, que está na origem de tudo, deixou de ganhar dinheiro. Obviamente, o estímulo diminuiu, o que provocou uma retração na qualidade da música. A axé music tem um passado riquíssimo, mas hoje são poucas as pérolas que surgem. Um dos motivos está aí, é a diminuição da sustentabilidade, da criatividade. (…) O que aconteceu foi uma diminuição dos compositores. Os poucos que restam estão fazendo música par ao sertanejo.”
Compositores ignorados
Essa afirmação fantasiosa só mostra como essa indústria de afastou de quem continua fazendo música na cidade. Seja nos blocos afro, seja nas ruelas dos bairros populares, seja num cenário musical já existente, há diversos compositores criando novidades, fazendo boas músicas. Se a indústria preferiu apostar nos mesmos fazedores de hits instantâneos, o problema é outro.
Há muita gente fazendo música, gravando discos e produzindo, porém, distante de toda essa indústria e fora das rádios movidas a jabá. Uma geração que nasceu com a axé music empurrada ouvido abaixo, cresceu assistindo um carnaval excludente, mas que ao mesmo tempo se mostrou aberta a sonoridades diversas, sem se fechar ao rock, mas também ouvindo MPB e absorvendo compositores e músicas ligados ao Carnaval de Salvador e à Axé Music, especialmente de suas origens.
Resolvemos reunir algumas músicas que poderiam estar tocando nos trios elétricos, feitas por compositores diversos. Ele possuem seus trabalhos autorais e continuam produzindo, independente de estarem ganhando milhões ou não. Existem diversos compositores que estão fazendo o pagode/ quebradeira nos guetos de Salvador, com novidades rítmicas, com letras contestatórias, com uma pegada própria. Mas isso também fica pra outro texto. Decidimos focar na cena independente, numa geração que está produzindo seus discos e músicas há algum tempo, mas não é percebida por esta indústria, menos até que o pagode.
Conheça alguns novos nomes
Separamos aquelas composições que tem uma relação mais direta com o Carnaval ou com o espírito da festa, que fala dele nas letras ou de temas que o circundam. Músicas que já possuem um formato na composição favorável para se tocar nos trios, que precisaria talvez de de pequenos ajustes para se adaptar a quem quisesse interpretar. Gostando ou não delas, achando algumas melhores do que outras, elas já estão prontinhas para tocar no Carnaval.
Se há algo que não falta em Salvador são novos compositores. Trouxemos alguns deles, muitos com mais de uma música como sugestão. A ideia aqui é tipo aquelas coletâneas que reunia os hits do carnaval baiano em um disco, mas só com compositores e músicas novas e desconhecidas do grande público. Aproveite.