A partir de hoje, inauguramos uma nova seção no el Cabong em uma parceira com o Música Que o Pariu, um canal dedicado a contar as histórias por trás das canções brasileiras. A proposta é apresentar o processo criativo de profissionais essenciais à arte da canção, os compositores, destacando alguns de suas obras que se tronaram célebres. Através de pesquisa, entrevistas e vídeos o MQP busca enriquecer a experiência auditiva. Confira as histórias aqui semanalmente ou pelo canal no Instagram, pelo Youtube ou pelo grupo do ZAP.
Nessa primeira edição, apresentamos “Ijexá” é uma composição de Edil Pacheco, que foi sucesso na voz de Clara Nunes. A música nasceu em 1981, período em que o sambista preparava o repertório do seu segundo álbum. Ele tinha decidido que ia escrever um ijexá nesse trabalho.
“Comecei a escrevê-la no Rio de Janeiro e de volta a Salvador fui fazer pesquisas sobre o ritmo na Secretaria de Cultura – até então a gente chamava de Afoxé. Daí um dia passando pela Avenida Vasco da Gama (em Salvador) eu vi escrito em um muro ‘Afoxé Otum Obá’. Foi a partir deste nome que eu consegui ir desenvolvendo a letra, mas ainda faltavam versos na parte do meio” , declarou Edil em entrevista.
Edil Pacheco foi então pra Maragogipe, sua terra natal, tentar encontrar os versos que fechariam a canção. Passava o dia na varanda, olhando pra cima e buscando as palavras. Depois de uns 10 dias, cansado de tentar, ele acordou a esposa e pediu ajuda para arrematar a canção. Os versos então chegaram:
“Revela a leveza de um povo sofrido, de rara beleza
Que vive cantando
Profunda grandeza”.
Meses depois, Edil foi ao Rio de Janeiro, pro aniversário de João Nogueira. A cantora Clara Nunes estava presente e também estava escolhendo músicas para gravar o seu próximo álbum. “Depois da festa, quando ficaram somente os artistas reunidos, o violão chegou na minha mão e eu cantei o Ijexá. No dia seguinte Clara me convidou pra almoçar. Depois do almoço, ficamos tocando violão e eu fui apresentando várias músicas. Quando eu parei, ela lembrou que eu não tinha tocado o Ijexá – a música que você tocou na festa. Então eu toquei e ela perguntou se podia gravá-la” , conta Edil.
“Ijexá” foi lançada por Clara Nunes no álbum Nação de 1982 e se tornaria um sucesso da música brasileira. A versão de Edil Pacheco seria lançada em 1984. “Ijexá” foi gravada também pelo Afoxé Filhos de Gandhi, Gilberto Gil, Virgínia Rodrigues, Mart’nália, Mariene de Castro, Fabiana Cozza e outros(as) intérpretes da música brasileira.