Depois de Riachão e Moraes Moreira, a Bahia perdeu mais um importante nome ligado à sua música e cultura nessa segunda-feira, 3 de agosto, o poeta e professor Jorge Portugal. Talvez o Brasil não reconheça essa importante figura pelo nome, mas com certeza sabe cantar algumas de suas letras presentes em músicas imortalizadas na voz de gente como Maria Bethânia, Margareth Menezes, Raimundo Sodré, Gilberto Gil, Lazzo, Daniela Mercury, Tania Alves, entre outros.
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Conhecido na Bahia também por ter atuado como professor e ter tido uma rápida atuação como secretário de cultura do estado, Jorge emplacou alguns sucessos imortalizados no cancioneiro baiano e brasileiros. Entre tantas, a primeira gravada foi um de seus maiores sucessos, “A Massa”, composta em parceria com Raimundo Sodré. A música concorreu no Festival MPB 80, realizado em 1980 pela TV Globo, ficando em 3º lugar. Abaixo alguns dos versos belos escritos por Portugal:
“A dor da gente é dor de menino acanhado
Menino-bezerro pisado no curral do mundo a penar
Que salta aos olhos igual a um gemido calado
A sombra do mal-assombrado é a dor de nem poder chorar
Moinho de homens que nem girimuns amassados
Mansos meninos domados, massa de medos iguais
Amassando a massa a mão que amassa a comida
Esculpe, modela e castiga a massa dos homens normais”
A história de A Massa (Raimundo Sodré/ Jorge Portugal)
Alguns anos depois, em 1985, Jorge Portugal emplacou outra música em um festival da Globo, desta vez “Caribe, Calibre, Amor”, dele com Roberto Mendes, que se tornou um frequente parceiro. A música passou das nove etapas eliminatórias do Festival dos Festivais, um dos eventos comemorativos dos 20 anos da Rede Globo de Televisão, chegando à grande final no Ginásio do Maracanãzinho. Veja abaixo a apresentação da música, com Jorge Portugal dando entrevista antes de subir ao palco.
Roberto Mendes e Jorge Portugal – “Caribe, Calibre, Amor” (Roberto Mendes/ Jorge Portugal)
Outro sucesso retumbante foi “Alegria da Cidade”, parceria desta vez com Lazzo Matumbi. Gravado por Margareth Menezes em 1988, em seu disco de estreia, ainda é um sucesso no Carnaval e nas ruas da Bahia. Seus versos fortes são um dos grandes trunfos da canção:
“Eu sou parte de você, mesmo que você me negue
Na beleza do afoxé, ou no balanço no reggae
Eu sou o sol da Jamaica
Sou a cor da Bahia
Sou sou você e você não sabia”
Margareth Menezes – “Alegria da Cidade”
(Lazzo Matumbi/ Jorge Portugal)
Portugal e Lazzo voltaram a dividir a composição de outra obra marcante, mesmo que ainda não tenha sido incluída em um álbum e não tenha feito o sucesso merecido. Os versos certeiros e acachapantes têm sido um dos pontos altos nos shows de Lazzo nos últimos anos e é uma obra prima recente de nossa música popular.
“No dia 14 de maio eu saí por aí
Não tinha trabalho, nem casa, nem pra onde ir
Levando a senzala na alma eu subi a favela
Pensando em um dia descer, mas eu nunca desci
Zanzei zonzo em todas as zonas da grande agonia
Um dia com fome, no outro sem o que comer
Sem nome, sem identidade, sem fotografia
O mundo me olhava, mas ninguém queria me ver
No dia 14 de maio ninguém me deu bola
Eu tive que ser bom de bola pra sobreviver
Nenhuma lição, não havia lugar na escola
Pensaram que poderiam me fazer perder
Mas minha alma resiste, o meu corpo é de luta
Eu sei o que é bom, e o que é bom também deve ser meu
A coisa mais certa tem que ser a coisa mais justa
Eu sou o que sou pois agora eu sei quem sou eu
Será que deu pra entender a mensagem?
Se ligue no Ilê Aiyê
Se ligue no Ilê Aiyê, agora que você me vê
Repare como é belo, êh nosso povo lindo
Repare que é o maior prazer
Bom pra mim, bom pra você
Estou de olho aberto
Olha moço, fique esperto que eu não sou menino”
Lazzo Matumbi – 14 de Maio
(Lazzo Matumbi/ Jorge Portugal)
Outros sucessos de Jorge Portugal:
Maria Bethânia – “A Beira e O Mar” (Roberto Mendes/ Jorge Portugal)
Tania Alves – “Amor de Matar” (Roberto Mendes/ Jorge Portugal)
Daniela Mercury – Bandidos da América (Jorge Portugal)