O el Cabong produziu uma série especial para relembrar a Úteros em Fúria, uma das maiores bandas do rock na Bahia de todos os tempos.
Nunca saiu de minha cabeça a imagem do primeiro show da Úteros em Fúria em que fui. Antes tinha visto um cartaz no colégio de uma Mostra de Som da escola Antônio Viera e aquele nome já tinha me chamado atenção pela estranheza. Eu era muito guri e só fui para o primeiro show um pouco depois. Devia ser 1992, eu e uns amigos procurávamos diversão. Soubemos do show da banda no clube de Villas do Atlântico e chegando lá foi um choque. Um calor infernal e um amontoado de adolescentes, como nós, a imensa maioria garotos sem camisa, se jogando uns nos outros e fazendo moshs de cima das vigas do telhado, já que não havia palco. Se jogavam de lá mesmo, se divertindo intensamente como se o mundo fosse acabar ali naquela noite. No fundo uma banda, que mal dava para enxergar, injetando o rock mais visceral que eu já tinha visto ao vivo até então.
A Úteros em Fúria fez história e entrou para a história do rock baiano. Se fora de Salvador pouca gente conhece, só a se lamentar por quem não viu essa banda ao vivo. Provavelmente por isso a banda não alcançou grande dimensão fora do estado. Eram nos shows que a banda fazia grande diferença e como naquela época circular com frequência com uma banda totalmente “underground” era algo raro, quem não viu ao vivo não conseguiu absorver o que esses caras deixaram de legado. Quem, no entanto, viu os shows do quinteto foi meio que mordido por uma febre roqueira e não ficou imune, nunca mais.
A Úteros Em Fúria fazia shows antológicos realmente, seja em pequenos espaços, seja em palcos maiores, em mostras de som, em casas de show, onde quer que tocassem arrebentavam. Com um espírito rock’n’roll difícil de se ver, a banda entrava no palco e causava o apocalipse com seu misto de hard rock, funk metal, grunge e blues. O vocalista Mauro Pithon com suas danças, caras e performance; a cozinha com Mário Jorge e Evandro Botti levando o groove com referências ao funk-metal que emplacava no período; Apú comandando a sujeira em uma das guitarras, enquanto Emerson Borel comandava a outra, além de também cantar e ser responsável sozinho por quase todas as composições do grupo. Não era raro o show terminar com metade do público dançando e cantando em cima do palco junto com a banda. Ali, pela primeira vez as mulheres apareciam em número relevante no público dos shows de rock. A partir dali, o rock baiano começava outra geração e encarava um momento de ser mais underground, alternativo e independente do que nunca.
A banda se desfez em 1995, mas 20 anos depois do lançamento do único disco ‘Wombs in Rage’, o primeiro CD de uma banda independente baiana por uma gravadora de certa nome, a Natasha Records, está de volta para um show comemorativo (veja na agenda). Nesse intervalo, Pithon montou a Sangria e hoje lidera a Bestiário, assim como Apú, que integrou as duas bandas, mas hoje trabalha em um estúdio. Mário Jorge fez parte da Penélope e deixou de lado a música para cuidar da carreira de veterinário. Evandro Botti, criou a Guizzzmo, se tornou Vandinho, e hoje atende com seu projeto Vandex. Decidiu não participar deste show e será substituído por Ivanzinho Oliveira, que, entre 1994-95, já havia assumido o baixo no lugar dele mesmo. O outro ausente será o líder da banda, Emerson Borel, falecido há quase dez anos e ícone do rock baiano para sempre. Nesse show especial ele será substituído por Cândido Martínez.
O disco, lançado em 1993, foi produzido pela própria banda e gravado em pleno Carnaval daquele ano nos estúdios WR, até então templo das gravações da Axé Music. A Natasha havia lançado o trabalho em CD e vinil e hoje é raridade. Eram doze música no total (no CD), alguns hits dos shows, uma ou outra chegando a ser executada na rádio rock de Salvador da época (sim, já houve isso) e alguns clássicos. As faixas do disco eram ‘Dear Misery’, ‘Be Bigger’, ‘I Wanna Feel Alright’, ‘One More Time’, ‘Inside the Beer Bottle’, ‘I’m Bad’, ‘On The Windy Heaven´s Road’, ‘Queenie’, ‘You Just Follow All the Rules’, ‘Deep Down my Throat’ e as faixas bônus ‘Birds’ e ‘Sister Moonlight’. A força, peso e energia do grupo, infelizmente não foi devidamente captada no disco. Talvez pela inexperiência do grupo em estúdio
A banda fez muita gente se iniciar no rock, muitos resolveram montar banda, mergulhar naquele universo. Os shows ganharam até cara de lenda, com tantas que foram as histórias que permearam a trajetória do grupo. O el Cabong decidiu fazer uma série especial para relembrar esta que foi uma das maiores bandas do rock na Bahia de todos os tempos.
Especial Úteros em Fúria:
– A importância da banda segundo artistas, produtores e o público
– Wombs in Rage – Discos clássicos do rock baiano
– Documentários que você só vai ver na web – Úteros em Fúria – Uma videografia
– Clipe, homenagens e imagens raras da Úteros em Fúria