“Bai” é o nome do primeiro disco do cantor e compositor Henrique Cartaxo, músico baiano radicado em São Paulo.
Por Felipe Andrade*
Este álbum de estreia traz em sua base o sentimentalismo, as emoções e, principalmente, a saudade. No momento em que vivemos, este talvez seja um dos sentimentos mais presente em todos, saudades de tudo o que julgávamos como normal, até mesmos coisas pequeninas que nunca damos o devido valor.
Leia resenhas de outros discos lançados por artistas baianos
Mas “Bai”, apesar de um pouco atual, não foi feito agora. É um compilado de composições de Henrique Cartaxo ao longo dos anos
“As canções são bem separadas no tempo. A maioria foi feita entre 2012 e 2017, nos meus primeiros anos morando na cidade de São Paulo”, explica Cartaxo. “Várias outras faixas foram atualizadas através dos arranjos, equilibrando os sentimentos que originaram as canções e as deste momento mais atual”, declara.
Na sonoridade, Cartaxo reforça seu estilo cancioneiro, com o qual passeia pela cena autoral paulistana.
“A minha referência consciente maior é a obra de Caetano Veloso, como é para tantos cancionistas. Me inspiro muito nessa corrente da música brasileira que usa a canção como forma de refletir sobre a vida, sobre os acontecimentos, sobre o amor, o infinito e a finitude. Para muitas pessoas no Brasil, a canção é a psicanálise, a terapia, a filosofia, a medicina. É nossa maneira de pensar talvez mais disseminada e frutífera”, reflete o músico, que entre outras influências cita Belchior, Gil, Tom Zé, Radiohead e artistas contemporâneos a ele como Giovani Cidreira, Maria Beraldo e Peri Pane.
Além destas influências que ajudaram a se formar e se conhecer como músico, ouvindo o disco, senti pequenas doses de canções doces e palavras acalentadoras, assim como o grande mestre da música popular sertaneja Renato Teixeira sabe fazer como ninguém.
Essa esfera mais popular na sonoridade envolve boa parte do disco, fazendo uma ponte da falta de casa, da terra, da família que ficou lá na tão amada e querida Bahia, com a metrópole que o acolheu e ajudou a crescer e amadurecer, São Paulo.
Veja o clipe da Canção “Piatã”:
Numa outra ponta de “Bai”, o disco entra numa fase mais caótica após a canção “A Tarde”, que serve também como interlúdio, representando a saído do chão batido para o asfalto.
Foram adicionados elementos sonoros eletrônicos e distorções nas guitarras para criar um aspecto mais desordenado e contemporâneo. E as composições deste “Lado B” me lembraram o grande letrista paulistano Maurício Pereira.
O disco tem produção musical de Ivan Gomes e André Bordinhon e traz as participações especiais de Inés Terra, Daniel Dias, Marina Beraldo (Bolerinho) e Rafael “Chicão” Montorfano (Quartabê).
Além do álbum em si, a ideia de Henrique Cartaxo era também fazer uma versão visual para acompanhar o trabalho. Editor de cinema, Cartaxo convidou amigos da área e artistas da dança contemporânea de São Paulo para participar.
O resultado são imagens oníricas que dialogam de maneira sensível com os temas propostos pelas faixas que você pode ver abaixo.
“Pedi a algumas pessoas queridas que gravassem em suas casas pedacinhos de vídeo e me mandassem. Com eles estou compondo os vídeos”. “A resposta e as colaborações que recebi foram muito bonitas, sinto que todo mundo fez com amor, acho que já nos encontramos um pouquinho, mesmo virtualmente, no processo”.
“Bai” é um mergulho no prazer das pequenas coisas: a xícara de café quente, o pãozinho na padaria, o barulho do vento e da chuva. Mas também é a saudade de viver isso a todo instante, perto de quem se gosta, abraçando quem se ama.
* Felipe Andrade é jornalista musical, redator e social media e está à frente do Polvo Manco, portal de resenhas de discos, notícias musicais e plataforma de divulgação de shows independentes.