Em sua sétima viagem para fora do país, a BaianaSystem esteve na semana passada nos Estados Unidos pela segunda vez esse ano, para três shows, dois deles em Nova Iorque. O último deles no tradicional Lincoln Center, integrando o festival globalFEST ao lado de bandas de várias partes do mundo. O el Cabong esteve lá através de um correspondente, que conta como foi o show em Nova Iorque.
Por Cláudio Marques | fotos: Kevin Yatarola
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Nova Iorque possui faixas exclusivas para ônibus e bicicletas em praticamente toda a cidade. As ruas são arborizadas, os muitos parques são tão simples quanto belos (nada de granito e mármore) e as pontes permitem cruzar e admirar os rios que dão contorno à cidade. Tudo favorece para que as pessoas estejam ao ar livre e vivam de forma intensa a cidade durante o verão.
Basta chegar o final do dia para que boa parte da população se reúna ao ar livre para jogar basquete, futebol, beisebol, andar de skate, patins, fazer ioga e correr, correr e correr. Nova-iorquino é fissurado em maratona. Muitos apenas e simplesmente deitam-se na grama dos parques e deixam o tempo passar.
Além de tudo isso, que não é pouco, alguns centros culturais se notabilizam por reunir artistas do mundo inteiro. Localizado próximo ao Central Park, o Lincoln Center é um dos principais promotores de eventos culturais na cidade. Cinema, teatro, dança, música, literatura… há de tudo um pouco, durante o ano todo.
globalFEST
E foi no Lincoln Center que, no domingo, 27 de julho, aconteceu versão itinerante do globalFEST, considerado um dos principais eventos de música da América do Norte. Em quatro palcos diferentes espalhados pelo Lincoln Center, quinze shows de artistas originários de diversos países. A programação teve início por volta das 13 horas e seguiu com força até às 22 horas daquele mesmo dia.
Eu me diverti bastante com o show da banda russa Debauche. Um som que beirava o punk cigano, em certos momentos, com canções inspiradas no folclore mafioso da cidade de Odessa. Destaque, mesmo, para a banda indiana Red Baraat, que trouxe um vigor inacreditável ao palco central do festival. Era tão potente o som desses rapazes que eu fiquei ainda mais curioso quanto a recepção do público à banda baiana, que viria logo a seguir.
Já passava das 20h30 e finalmente começava a escurecer. As pessoas estavam cansadas após a maratona de shows. Boa parte do público se preparava para ir embora quando a BaianaSystem começou a tocar. Não estava lotado, mas havia uma quantidade boa de pessoas.
Arrebatador
A BaianaSystem começou lentamente e sem demonstrar ansiedade. A banda parecia um pouco cansada, mas estava muito concentrada. Não havia exibicionismo de nenhum dos músicos, nem a tentativa de conquistar o público de qualquer forma. Russo, Beto, João Meireles e demais da banda estavam fazendo o trabalho deles. Nitidamente, eles se divertiam.
Parte do público que se preparava para ir embora, ficou. Muitas pessoas foram dançar na frente do palco até mesmo para tentar entender melhor aquele estranho som que pouco se parecia com o que já se habituara escutar com o selo “Bahia”. E não eram brasileiros, foi fácil perceber pela falta de molejo. Gente de cintura dura, mas totalmente entregues ao som. Do nada, uma cadeirante me tirou para dançar. Já era completamente noite e o Lincoln Center explodia ao som do BaianaSystem.
Ao final de um show tão curto quanto preciso, um amigo americano me confidenciou “Ainda bem que eu fiquei. Foi a melhor banda do festival. A mais diferente, única”. Ele estava certo.
* Cláudio Marques é cineasta e diretor do Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha