Ônibus 174
Soco no estômago. Murro na cara. Essas são as expressões que sempre vêm à mente quando se assiste a um filme como esse, que mostra de maneira crua um aspecto de nossa realidade, nesse caso não uma obra de ficção, mas um documento de um fato que aconteceu no Rio de Janeiro há alguns anos. Mas não importa o impacto causado no espectador. Ele sofre tanto quanto sofreu o telespectador que acompanhou ao vivo o caso do ônibus 174 pelas imagens da TV na época. O problema é que até onde a dor desse soco vai? A sociedade brasileira tem se mostrado doente e quem tem acesso a um filme como esse se sensibiliza, se contorce na cadeira, mas alguns dias depois não muda um centímetro de sua postura frente às pessoas.
Ninguém deve ter esquecido o sequestro de um ônibus num bairro carioca em uma tarde qualquer de um dia qualquer. Sandro era o nome do sequestrador, um “personagem” que já havia vivido a chacina da Candelária e havia visto a mãe ser assassinada. Ninguém sabia disso na época. Era apenas um bandido, um marginal, matendo passageiros, mulheres, refém de uma arma. Visivelmente fora de si, o homem ameaça matar as mulheres em frente às câmeras, ao vivo para todo país. Permaneceu horas dentro do ônibus, gritando para a TV, “negociando” com a polícia e criando momentos que ultrapassa qualquer filme de Hollywood.
O documentário entrevista várias pessoas envolvidas, reféns, parentes de Sandro, sociólogos, policiais que negociaram na época, bandidos, entre outros, e faz isso para dar ao público um retrato do homem que acabou alcançando o sucesso que sonhava de uma maneira pouco nobre. Você sai do cinema sem culpar ninguém, porque a culpa não está só na polícia despreparada, no bandido drogado, no governador preocupado com sangue ao vivo, na mídia sanguinolenta. A culpa, sim culpa, é de todo mundo junto, de nós que não nos sensibilizamos além do filme, que preferimos pensar em nós mesmos o tempo inteiro e no máximo colocamos nossa indignação num jornal ou num blog. É sensação completa de impotência.