Não chegamos no ideal. Nem perto. Não é o Festival de Verão que vai salvar essa terra. Engano quem interpreta assim os elogios a escalação de duas atrações internacionais no evento. É um avanço. Isso é fato. O Festival é pop, popular, pretende reunir a cada dia cerca de 50 mil pessoas. Isso na Bahia – onde, infelizmente, Smiths é desconhecido, Strokes é no máximo uma banda alternativa e rock é coisa de menino drogado e vetsido de preto – é uma tarefa ingrata para quem gosta de boa música.
O festival esse ano deve promover ao mesmo tempo sua pior versão e seu lance mais ousado. Pior porque vai ter no palco principal nomes do moribundo axé, desde aqueles que nem conseguiram brilhar muito, como Jammil, Banda Eva e Rapazolla (sim, acreditem essa coisa “voltou”), aqueles que não brilham mais como Netinho e Timbalada. Tem também as chamadas estrelas do gênero, Chiclete com Banana, Asa de Águia e Ivete Sangalo, além de uma promessa que não deve crescer muito mais do que já cresceu (tomara), Babado Novo. Apostas repetitivas e cansadas já, como até os próprios “seguidores” do festival reclamam na comunidade dedicada ao evento no orkut. Além de criar uma comunidade de insatisfeitos. Ninguém aguenta mais tanto axé.
Se antes o festival era uma chance de se ver nomes do rock como Sepultura, Ira, Pitty, entre outros, o estilo, foi praticamente dizimado da programação. A tradicional MPB também desapareceu. Nomes mais ligados ao universo pop permanecem, O Rappa, Marcelo D2, Jota Quest, Cidade Negra e a novata Papas da Língua (nunca ouviu uma música deles? é a forma que o jabá trabalha, você ainda vai ouvir). Carlinhos Brown e Alcione aparecem destoando um pouco das atrações nacionais, para o bem e para o mal. Ah! Tem ainda um tal de Aviões do Forró, que é melhor nem entrar no mérito da discussão para o nível não cair. O festival parece ser a última tentativa de salvar o axé, já que ele é um dos últimos pilares da política do PFL baiano. Visto que na política não tem mais tanta força e perdeu muito de seu poder. Outro braço é a Rede Bahia, que vive uma crise ja comentada nos bastidores jornalísticos. Mas numa outra oportunidade falo mais do al axé e sua pré-morte.
A maior importância da escalação do palco principal está mesmo nos nomes internacionais. Ben Harper talvez seja mesmo a maior atração internacional fora do maistream-pop e da fase decadente que já passou por terras baianas. Já Matisyahu é uma aposta ousada. O cara é pouco conhecido até no publico mais alternativo e mesmo no de reggae. Mas vem sendo elogiado por seus discos e música e deve agradar mesmo que pelo lado da curiosidade. O fato é que são dois nomes que mostram uma preocupação em se mudar o rumo, em se tentar transformar o festival em algo melhor, pena que todo o resto prove o contrário. Muito melhro que qualquer outras atrações internacionais que já tenham passado pelo evento em outra edição, esses dois nomes trazem frescor e chegam para oferecer as opções que o grande público pouco tem nas rádios e TVs. A esperança é que sirva para abrir mentes ou pelo menos ajudar.
Além da lamentável grade nacional, o Festival exterminou também com a esperança de quem gostaria de ver coisas menos óbvias. O Palco 2 se transformou num laboratório de projetos do reino do axé. Se não bastasse tanto axé no palco principal, o secundário vai ter um dia dedicado ao gênero com Chica Fé e Edu Casanova (no dia 25). Tem mais, todos os dias, até o presente momento, uma dessas novas bandas do novo axé faz seu ensaio. Um dia é Alexandre Peixe, o ouro Vixe Mainha e o outro Negra Cor. Como Tribahia ainda não apareceu oficialmente, é esperar que eles devem completar o quadro. Nesse palco, dividido, além desses ensaios, por gêneros um a cada dia, o segundo dia seria de forró, mas deve ser alterado. O dia 26 é voltado ao rock, com Ênio e a Maloca, O Círculo e Canto dos Malditos na Terra do Nunca. No dia 27 é o reggae quem manda, com as bandas Adão Negro, Mosiah e Diamba (o que parece demonstrar que ao contrário do que parece o reggae pouco se renova). Pois é, nada de fora, poucas bandas novas de fato e uma oportunidade desperdiçada de trazer nomes de médio porte que têm tocado no Brasil inteiro. Há ainda espaços para outras bandas ainda abertis, que podem até melhorar, mas não vão salvar o evento. Na verdade, esse palco foi deixado de lado. Com menos de um mês para o evento foi que a produção do festival resolveu se preocupar de fato com ele e a melhor forma de não gastar dinheiro e ter menos dor de cabeça foi chamar as atrações locais. Um tiro no pé, já que o atraente nesse palco eram as novidades locais com os nomes que nunca apareciam na cidade.