já é uma entidade no rock baiano. Ele já foi músico, tocou em banda, mas foi como produtor que se notabilizou no meio independente. Ativo há muitos anos no cenário de Salvador, tendo produzido diversos shows e festivais, entre eles o Festival Big Bands, ele está comemorando dez anos de seu selo, o Big Bross. Responsável pelos primeiros lançamentos de artistas do calibre de Ronei Jorge e Retrofoguetes, o selo é o principal abrigo para bandas de rock na Bahia. O melhor, continua em alta produtividade, com vários novos recentes e para os próximos meses. Com tanta experiência, Big se tornou um profundo conhecedor da cena independente nacional e baiana e de como ela pode ainda dar certo. Veja o papo que batemos com ele via e-mail.
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– Você está comemorando dez anos do Big Bross. Os selos tiveram papel fundamental na música independente durante muito tempo. Ainda são importantes? Qual o papel deles hoje?
Rogério Big Bross – Eu ainda vejo com a mesma importância distribuir e divulgar o trabalho do artista independente. A maioria dos artista acha que gravar o CD é o ponto alto da sua carreira. Mas muitos esquecem, por exemplo, de guardar um pouco da grana que gastaram no CD para poder viajar tocando e divulgando o CD ou não sabem para onde enviar esse CD, como vender, como fazer que chegue nas pessoas certas. O selo ainda faz esse papel mesmo com todo avanço da internet.
– Vejo que continua montando banquinha de CDs. Ainda é importante lançar CDs? Ainda tem retorno e é bom pras bandas?
RBB – Eu gosto do contato com o público, gosto de saber que o público viu o show e quis comprar o CD, por exemplo. Pessoas que estão a frente de festivais mais antigos de música com Abril Pro Rock, Porão do Rock, Palco do Rock etc, ainda pedem que enviem material, são pessoas com mais de 30 anos que gostam de pegar no CD na mão. Eu recebo em média, por semana, 40 mails do tipo “ouça meu myspace”. Nisso sou antigo. Não consigo ouvir música no computador, ainda tenho em casa um som 3 em 1 com pickup, cd player, tape deck e ouço musica assim com freqüências de verdade. E sim, a banquinha ainda sustenta o selo, por incrível que pareça. Quando a banda é boa e o show é bom, o CD vende.
– O Big Bross foi responsável por alguns dos principais lançamentos da música independente baiana. Quais destes discos você destacaria e quais não lançou que gostaria de ter lançado? E porque?
RBB – Dos que lancei que me deu orgulho de fazer foram, Dever de Classe, Pastel de Miolos, o EP numerado da brincando de deus, Ronei Jorge e o Ladrões de Bicicleta, The Honkers, Os Irmãos da Bailarina foi um novo gás no selo, Theatro de Séraphin… todos eu curti bastante e sempre fui muito honesto com o selo, nunca foi um selo de bandas de meus amigos e sim de bandas que trabalhavam e fiquei amigo depois. Eu nunca precisei gostar da banda para lançar o CD e sim ver que ela trabalharia junto com o selo. E os que não lancei e gostaria de ter lançado estão The Dead Billies (os dois), brincando de deus (último album), Dr.Cascadura #1, Headhunter d.c (“Born Suffer Die”) e Úteros em Fúria (“Wombs in Rage”).
– Você é atuante nesse cenário independente há muitos anos, já viu a cena se transformar várias vezes, como vê esse período atual? O que mudou, o que está melhor, o que está pior?
RBB – Eu ainda acho que as bandas deveriam ser mais unidas. Por exemplo, eu não conheço um grupo de bandas que se uniu e montou um estúdio de ensaio para baratear custos. Não conheço uma banda que subiu no palco cantou música de outra banda local que ele gostasse. Ainda há uma dificuldade muito grande em fazer com que as pessoas paguem um show autoral. As dificuldades são as mesmas, mas para quem tá encarando hoje música como empresa e não só como artista eu vejo um grande futuro pela frente. O artista autoral que esperar o produtor, empresário ou gravadora cair do céu tá sem futuro.
– Você está atualmente trabalhando com o pessoal do Fora do Eixo, como vê a importância do trabalho deles?
RBB – O que mais gosto no Fora do eixo é o que senti falta em todos esses anos de produção cultural, a criação de um circuito de shows além das capitais. Em 20 anos de produção nunca pude trazer um artista do norte pela distância e custos altos, com a viabilização da tours Fora do Eixo só no começo do ano vieram Caldo de Piaba (AC) e Mini Box lunar (AP). Trouxemos o Falsos Cornejos, banda instrumental da Argentina junto com a pernabucana Banda do Joseph Tourton para tocar de graça no (Conjunto Guilherme) Marback, e agora a tour do novíssimos baianos com Maglore (SSA) e os barcos (VIT. DA CONQUISTA) por todo nordeste, esse mapeamento e essa construção vai ter muito futuro.
– O que sente mais falta nas bandas baianas?
RBB – Cara, sempre fui amigo de Marcio Mello (artista local). Apesar de não ser fã da sua obra, numa conversa com ele falei que quando decidi viver de música não reservei segunda opção, e ele me confessou a mesma coisa, que, quando quis ser músico, largou colégio, largou tudo e foi tocar. Acho que falta comprometimento nas bandas. Por exemplo, tive bandas que lancei pela Bigbross que acabaram no mês que o CD saiu, por que o cara decidiu que ia ser sei lá o que… Falta meter as caras, se fuder um pouco em são Paulo. Em quase 20 anos entre The Dead Billies e Retrofoguetes, finalmente eles vão fazer uma primeira mini tour internacional… enquanto Autoramas, Wander wildner, Eddie, Mukeka di Rato já foram umas oito vezes para E.U.A, Europa, Japão…
– Quais os próximos projetos seus e do Big Brosss? O que você lançou esse ano e vai lançar mais pra frente?
RBB – Continuar lançando os CDs, colocar um site em dia finalmente, distribuir os últimos lançamentos, Opus Incertum, Vendo 147, Pastel de Miolos, Reverendo T e Os Discípulos Descrentes, que acabaram de sair. E vem ai o novo da Pessoas Invisíveis, o primeiro CD da Fridha e uma coletânea para download com 15 bandas da capitasl e 15 do interior da Bahia.