Último dia festival, Se Rasgum mostra a força do Cordel do Fogo Encantado, apresenta a cena paraense e destaca a Nashville Pussy
Se o Móveis está a um passo de virar exemplo bem sucedido de sobrevivência no mercado independente, o Cordel do Fogo Encantado já é a prova concreta disso. Sem música nas rádios comerciais, sem uma gravadora por trás, sem aparecer na TV, a banda é um fenômeno em qualquer lugar que passa. Seja Rio Grande do Sul, seja Bahia, seja Belém do Pará.
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Um público gigantesco permaneceu acesso até o início da madrugada de segunda-feira para ver um showzaço dos pernambucanos. Intercalando faixas mais complexas do último CD, “Transfiguração”, com sucessos dos dois discos anteriores, a banda arrancou elogios até dos que pouco apostavam no show da banda. Uma porrada percussiva, cenário careta, performance teatral, poemas recitados e tudo para ser um saco, mas o Cordel consegue criar – principalmente ao vivo – um universo próprio que envolve que está diante do palco. Se o rock tivesse nascido no Nordeste e não nos Estados Unidos seria exatamente o som que o grupo faz. Três percussionistas endiabrados descendo a mão, uma viola/ guitarra destruidora e um cantador-ator distribuindo fagulhas de poesia nordestina. Fecharam o festival no nível dessa segunda noite, com música em altísismo nível.
Noite que recebeu desde a mistura de rap, brega, protesto, electro e música regional paraense do Coletivo Cipó até uma das boas revelações do festival, a banda de garotos Hebe e os Amargos, com seu punk bubblegum grudento e barulhento, que bebe nos Ramones e mostra que a garotada está fazendo algo além de ouvir essas bandas emo sem graça. Outra excelente surpresa foi a banda do Amapá Stereovitrola. Não tem essa, a globalização também deu nisso, cinco garotos munidos de guitarra, baixo, bateria, teclado e samples fazem num dos estados mais desconhecidos e distantes do país um rock de alto nível. Passeio pelo universo do indie-rock menos mal humorado e mais psicodélico, com direito a homenaem a Arnaldo Batista e Syd Barret.
A vingança das bucetas
A segunda noite do Se Rasgum acabou sendo bem melhor que a primeira, com bandas mais coesas e com algo a mostrar, como o bacana Stereoscope e um dos melhores grupos locais, o La Pupuña, que mescla genialmente guitarrada, latinidade e surf music. Foi a noite também da única atração gringa do festival, os americanos do Nashville Pussy.
Com uma guitar hero, a insana Ruyter Suys, roubando a cena e se vingando de décadas de machismo no rock n´roll. Ela dá tapa na cara do cara que tenta subir ao palco, chama o outro que subiu de estúpido, bebe whisky e cospe na boca de outro cara do público, deita e rola literalmente no palco, não se importa em estar fora do peso e mostra a barriga, tira a camisa e fica de sutiã e deixa o clima de sexo no ar e, claro, toca guitarra como poucos, com direito a todos os clichês do rock que se pode imaginar. A baixista Corey Parks faz até mais cara de sensual, mas não tem como desgrudar das diabruras de Suys. O marido Blaine Cartwright, que toca guitarra e canta, parece ser o chefe que toma conta da louca solta no palco. Rock alto e sexy até o talo.