Mesmo com toda sua indústria de shows e mercardo efervescente, Salvador não é das cidades que mais recebe shows internacionais. Assim mesmo, a capital baiana tem uma programação caprichada de shows de nomes estrangeiros nos próximos mees. Boa parte deles estão dentro da programação de grands festivais que serão realizados na cidade e todos com um viés ligado a cultura negra que marca a cidade.
Entre esses nomes, estão boas novidades, como a cantora de r&b Victória Monét; o herdeiro de Fela Kuti, Seun Kuti; a revelação nigeriana Rema e a voz marcante de CeeLo Green. Além deles, há grandes nomes do reggae mundial reunidos no tradicional festival República do Reggae, que vai receber ícones do gênero, como Burning Spear e Max Romeo, além da banda Groundation, do italiano Alborosie e a norte-americana Reemah. Vamos conhecer um pouco mais de alguns desses artistas que tocam por aqui. Há ainda a participação do cantor guineense Patche Di Rima e da artista angolana Noite e Dia no show do BaianaSystem no Afropunk Bahia.
Victoria Monét
Afropunk Bahia – Parque de Exposições
18 de novembro
Nascida em 1993, desde criança, Victoria Monét mantém uma carreira como artista de pop e R&B, mas só mais recentemente teve seu nome mais reconhecido. Várias de suas músicas, na verdade, já são bastante conhecidas em outras vozes, já que ela é autora de diversos sucessos cantados por nomes como Ariana Grande, os grupos Fifth Harmony e Black Pink, Selena Gomez, Nas e Chris Brown. Só mais recentemente, no entanto, ela decidiu voltar a se dedicar a sua própria carreira
A cantora e compositora saiu de sua cidade aos 16 anos para tentar a carreira em Los Angeles. Lá integrou o grupo feminino Purple Reign, que foi desfeito antes da primeira gravação. Monét decidiu se dedicar às composições para ganhar dinheiro e em paralelo tentava alavancar a carreira. Suas composições chamaram atenção antes de seu trabalho como cantora e enquanto era gravada por outros artistas, aos 21 anos, lançou o trabalho de estreia em 2014, o EP Nightmares & Lullabies: Act 1, que ganhou uma segunda parte no ano seguinte.
Em 2018, Monét lançou a primeira metade de sua série “Life After Love”, Life After Love, Pt. 1. , que ganhou continuação meses seguintes. Ela deu uma pausa no trabalho de composição para ouros artistas e passou a se dedicar a própria carreira. Em 2019, aos 26 anos, conseguiu entrar pela primeira vez na Billboard Hot 100, com o single “Monopoly”, lançado em parceria com Ariana Grande, ocupando a 70ª posição. Seu primeiro álbum, Jaguar, foi lançado em 2020, e ela começou a colher os frutos da dedicação. O trabalho teve grande alcance e ela foi indicado como um dos melhores novos artistas no Soul Train Music Awards, além de indicações por composições com Ariana. Jaguar levou sua música para um novo público e tirou de vez a sombra de “apenas compositora”.
Em 2023, aos 30 anos lançou Jaguar II, . produzido pelo lendário produtor de R&B D’Mille. O álbum traz participações de importantes nomes como Lucky Daye, Buju Banton e Earth, Wind & Fire. O álbum entrou nas paradas e rendeu sete indicações ao Grammy Awards de 2024, entre elas, as mais disputadas: ‘Gravação do Ano’, ‘Artista Revelação’ e ‘Melhor Álbum de R&B’.
Sua música trafega entre pop, R&B, dancehall, disco music e funk e, através de sua voz doce, ela canta sobre relacionamentos íntimos, amor próprio, amizades íntimas ou sexo, com referências da cultura afro-americana e brincadeira com as palavras. Após uma extensa turnê com ingressos esgotados pelos Estados Unidos, Canadá e Europa, Victoria vem ao Brasil pela primeira vez para show exclusivo no AFROPUNK Bahia.
Seun Kuti
Salvador Capital Afro – Praça Visconde de Cairu – Comércio
24 de novembro
Filho mais novo do lendário ícone do afrobeat Fela Kuti (1938-1997), Seun Kuti tem sua história vinculada desde sua nascença ao universo criado pelo pai . Ele é nascido na Nigéria, mas sua origem é na República Kalakuta, uma comunidade fundada por seu pai na periferia de Lagos, nos anos 1970. Quando Seun nasceu, em 1983, a sede da comunidade não existia mais, pois havia sido invadida pelo exército nigeriano seis anos antes. Mas o espírito libertário de Kalakuta foi decisivo em sua educação musical e política.
Seun cresceu nesse ambiente. Aos 9 começou a tocar e logo passou a acompanhar Fela em alguns shows do Egypt 80 já na década de 90. Com a morte de pai, aos 14 anos Seun assumiu a banda, liderando o grupo por várias turnês pelo mundo. Desde o início, o cantor e saxofonista seguiu a trajetória do pai, se tornando o principal porta-voz do afrobeat no mundo, guardando as características na maneira de compor, com longas improvisações instrumentais, e no alto teor crítico. Manteve os mesmos princípios: a música como instrumento de transformação social e política.
Com letras abordando as tradições africanas e refletindo a cultura do continente, Seun segue dando sua contribuição ao Afrobeat. Ele inseriu elementos de hip hop e pop rock, dando uma roupagem mais moderna ao estilo. Seu álbum de estreia, Many Things, foi lançado em 2008. Na sequência foram outros seis: From Africa With Fury: Rise (2011), A Long Way to the Beginning (2014), Struggle Sounds (EP, 2016), Black Times (2018), Night Dreamer Direct to Disc Sessions (2019) e o mais recente, African Dreams (Ep, 2022), em parceria como rapper norte-americano Black Thought. O álbum Black Times, está entre os mais aclamados pela crítica e o levou a ser indicado ao Grammy Awards na categoria ‘Best World Music Album’.
Ele volta ao Brasil para uma turnê que começa no Rio de Janeiro (18/11), segue por Belo Horizonte (23/11), chega a Salvador no festival Capital Afro (24/11) pela Giro Conecta, segue para dois shows em São Paulo (dias 26 e 30/11), o segundo no Primavera Sound, e encerra a viagem em Porto Alegre (01/12).
Max Romeo
República do Reggae – Wet Paralela
25 de novembro
Aos 79 anos, Max Romeo é uma lenda viva do reggae mundial. Nascido na Jamaica, foi responsável por criar um sub-gênero do reggae, denominado lyrics, onde as músicas eram cantadas com três vozes, dando uma conotação vocal mais elaborada. Sua relação com a música começou aos 14 anos, quando cantarolava enquanto trabalhava em plantações de cana de açúcar. Foi aos 17, porém, que sua vida ganhou outro rumo ao vencer um concurso de talentos locais. Se mudou para a capital Kingston e deu início a carreira de fato, integrando o trio The Emotions, enquanto trabalhava também como auxiliar de estúdio numa gravadora. Com o grupo chegou a gravar e obteve alguns hits de sucesso.
Entre idas e vindas com o trio e novos parceiros, deu início a carreira solo em 1968. Logo emplacou a música “Wet Dream”, primeiro grande sucesso na Jamaica, que acabou o levando para Inglaterra. Passou um período por lá, onde também obteve enorme sucesso com a música, chegando ao Top 10 das paradas. Devido a letra abertamente sexual, Romeo foi proibido de se apresentar em vários locais no país. Na Inglaterra, lançou ainda seu primeiro álbum, A Dream, em 1969, e escreveu diversas canções para Derrick Morgan.
Depois de dois anos, voltou para Jamaica, trazendo na bagagem novas influências. Criou uma gravadora, um sound system malsucedido, e, em 1971, lançou o segundo álbum. Deu início então a uma fase bastante politizada de sua música, inclusive defendendo o partido socialista jamaicano. Seu álbum mais aclamado saiu em 1976, War Ina Babylon, com temática política e religiosa e impulsionado pelo single “Chase the Devil”, uma de suas canções mais conhecidas. O trabalho é considerado pela crítica como um dos mais emblemáticos trabalhos de Reggae de todos os tempos.
No total, Romeu gravou mais de 30 álbuns, emplacou diversos outros hits internacionais como “One Step Forward” e “War Ina Babylon” e colaborou com gigantes da música internacional como The Rolling Stones e Prodigy. Com mais de 50 anos de carreira, ele anunciou que vai se aposentar e está fazendo sua última turnê, que teve início em março e agora chega ao Brasil, incluindo uma apresentação no festival República do Reggae, em Salvador.
Burning Spear | Groundation | Max Romeo | Alborosie
República do Reggae – Wet Paralela
25 de novembro
Outra lenda do reggae que estará presente entre nós é Burning Spear, cantor, compositor, vocalista e músico jamaicano que tem Winston Rodney OD como nome de batismo. Burning Spear é, na verdade, o nome original do primeiro grupo ao qual pertenceu. Também é considerado uma lenda viva e um dos mais importantes artistas da história do reggae mundial. Influenciado pelo R&B, soul e jazz transmitidos pelas estações de rádio dos EUA, ele é azulejista de profissão e saiu de sua cidade na costa norte rural da Jamaica para Kingston aos 20 e poucos anos com um violão e alguns hinos auto-escritos para a religião Rastafari.
Ao lado do baixista Rupert Willington, formou o Burning Spear, que lançou o primeiro single em 1969, já contando com o saxofonista Cedrid Brooks. Foram vários outros singles e álbuns, até 1976, quando Rodney se separou dos parceiros e passou a adotar o nome Burning Spear para seu próprio trabalho. Nessa longa trajetória, com mais de 50 anos, foram vários sucessos, como “Columbus”, “Marcus Garvey” e “Slavery Days”, dezenas de discos, sendo 29 de estúdio. Entre eles, quatro fundamentais lançados em sequência em meados da década de 1970, Marcus Garvey (1975), Man in the Hills (1976), Dry & Heavy (1977) e Social Living (1978).
Vencedor de dois prêmios no Grammy, Spear foi uma das vozes mais importantes do reggae e foi fundamental também na expansão do gênero para o resto do mundo, nos anos1970, ao lado de Bob Marley. Ao longo da carreira, o artista sempre manteve sua música vinculada a fé rastafári, valorizando a cultura africana como base da consciência negra, além de semear a salvação cerebral em toda a diáspora. O reggae roots, que sempre defendeu, servia como uma expressão contemporânea vital e alegre do que foi roubado à força com a escravidão.
Há alguns anos Spear havia anunciado sua aposentadoria e desde 2016 não se apresentava, mas os pedidos do público o levaram a reconsiderar e realizar uma turnê em 2022. O Brasil e a América do Sul estavam fora do roteiro, mas este ano, o público brasileiro vai ter oportunidade de assistir ao show do mestre em apresentações em São Paulo e Salvador.
Groundation
República do Reggae – Wet Paralela
25 de novembro
Além das lendas acima, o República do Reggae vai receber outras três atrações internacionais: a banda californiana Groundation, a cantora Reemah, das Ilhas Virgens, além do italiano radicado na Jamaica Alborosie. Vamos destacar aqui o grupo Groundation, considerado um dos grandes nomes do reggae contemporâneo. A banda de 10 integrantes faz um reggae com elementos de jazz e funk, polimórficos latinos e afro-africanos e vocais harmoniosos com soul. Nos shows, a banda segue a tradição jazzística de improvisações ao vivo.
Essas referências vem em parte da primeira infância de Harrison Stafford, membro fundador, vocalista e guitarrista do grupo. Através de seu avô e pai, ele ouvia bastante Duke Ellington e Miles Davis e formalizou sua educação musical na Sonoma State University com uma licenciatura em “Jazz Performance”. Após a conclusão, Harrison passou a ensinar a História da Música Reggae na SSU e na sequência formou a Groundation.
Criada em 1998, a banda possui 12 álbuns lançados, dezenas de turnê e já um punhado de clássicos para os fãs de reggae, como “Freedom Taking Over”, “Undivided”, “One More Day” e “Picture on the Wall”. O respeito internacional adquirido já levou a banda a gravar com alguns dos principais nomes do Reggae Roots Jamaicano como Israel Vibration, Marcia Griffiths e Judy Mowatt (Bob Marley & The Wailers), The Congos, Don Carlos, The Abyssinians e Pablo Moses. Em 2023, a Groudation está celebrando 20 anos do icônico álbum Hebron Gate, disco que os alavancou a fazer shows em quase 60 países. No Brasil, a turnê passa por 14 cidades, incluindo dois festivais na Bahia, um em Itacaré, e o República do Reggae, em Salvador.
Rema
SHOW CANCELADO Festival da Virada – Arena Daniela Mercury – Boca do Rio
30 de dezembro
Um nome que provavelmente você não sabe quem é, mas possivelmente já ouviu seu maior sucesso, “Calm Down”, um hit retumbante que já tem mais de 1,5 bilhão de audições só no Spotify. Isso mesmo, você leu certo, a música já foi ouvida UM BILHÃO E MEIO de vezes apenas na plataforma. No YouTube foram mais de 1,2 bilhão de views. A música foi lançada no primeiro álbum de Rema, em março de 2022, ganhando meses depois, em agosto, um single remix com participação de Selena Gomez. A faixa alcançou a terceira posição na Billboard Hot 100, onde ficou 14 semanas, a 28ª posição no Top 50 Global do Spotify, além de ter liderado a parada de músicas Afrobeats dos EUA por um recorde de 58 semanas.
Mas quem é Rema? Nascido na cidade de Benin, na Nigéria, ele é um jovem rapper, cantor e compositor de apenas 23 anos, que começou a chamar atenção postando um freestyle viral no Instagram para a faixa “Gucci Gang”, do popstar nigeriano D’Prince. Logo foi contratado pela gravadora do artista e lançou em 2019 o primeiro EP, que alcançou a posição número 1 na Apple Music Nigeria.
Uma sequência de acontecimentos consolidou seu nome como uma das maiores revelações do pop mundial. Começando com o retumbante sucesso do videoclipe de “Dumebi”, que ultrapassou os 70 milhões de visualizações no YouTube. Seu trabalho chamou atenção do ex-presidente norte-americano, Barack Obama, que incluiu uma faixa dele em sua playlist de verão. Depois suas músicas foram integradas as trilhas sonoras do FIFA 21. Ganhou prêmios e suas canções alcançaram 1 bilhão de streams em todo o mundo, com o sucesso de seu álbum de estreia, Rave & Roses. O disco traz participações especiais do cantor americano Chris Brown, além de 6LACK, o rapper britânico AJ Tracey e a cantora francesa Yseult. Rema integrou também a trilha sonora de Pantera Negra 2 com a música “Wake Up” em parceria com a cantora Bloody Civilian.
Em 2023, lançou uma versão do álbum, Rave & Roses Ultra, contendo seis faixas adicionais e alcançando uma marca expressiva: primeiro álbum africano a ultrapassar um bilhão de streams no Spotify. Em outubro, soltou um novo trabalho, o EP Ravage, que tem reforçado o sucesso e o nome de Rema como um dos grandes nomes da música pop nigeriana. Seu trabalho traz a marca do afrobeats ou afropop contemporâneo, com uma fusão de ritmos africanos, latinos e eurocêntricos, mais especialmente referências nigerianas, hip hop, dancehall e elementos da cultura indiana e da música árabe. Ele está confirmado no Festival da Virada em Salvador, no dia 30 de dezembro.
CeeLo Green
Festival de Verão – Parque de Exposições
27 de Janeiro
Com certeza você já ouviu a voz emotiva e marcante de CeeLo Green. Pode até não saber quem é ele, mas ao menos “Crazy” já passou por seus ouvidos. A música fez enorme sucesso em 2006, o maior do artista com o projeto Gnarls Barkley, que mantinha com o produtor Danger Mouse. Lançada no primeiro álbum St. Elsewhere, a faixa foi considerada a melhor canção da década passada pela Rolling Stone, além de ter recebido diversos prêmios, inclusive um Grammy.
Green, porém, tem uma história que vai além de “Crazy”. Com o Gnarls Barkley lançou outro álbum em 2008, The Odd Couple, que se não tinha um sucesso arrebatador como o anterior, mas mantinha o mesmo clima, com seu misto de soul, funk, hip hop e eletrônica. Na verdade, antes Green já havia tido outro projeto. Em 1991, ele integrou com três amigos o grupo de hip hop Goodie Mob, que chegou a ter algum sucesso em Atlanta.
Após dois discos com o grupo, CeeLo anunciou que ia seguir carreira solo, lançando em 2002, seu primeiro álbum: Cee-Lo Green and His Perfect Imperfections, já experimentando suas misturas de jazz, hip hop, funk e soul. No segundo disco, Cee-Lo Green… Is the Soul Machine, de 2004, chamou mais atenção, se cercando de importantes nomes do hip-hop, como Ludactris, T.I. e Pharrell Williams. Chegou ao segundo lugar na parada de R&B e hip-hop da Billboard. O sucesso o aproximou de Danger Mouse e se deu a criação do Gnarls Barkley. Mas desde 2010, CeeLo Green voltou à carreira solo, lançando quatro álbuns de estúdio. Obteve alguns outros sucessos, como “Fuck You”.
CeeLo Green vem a Salvador como a atração internacional do Festival de Verão, onde se apresenta no dia 27 de janeiro. O artista já esteve no Brasil em outras oportunidades. Em 2017, foi atração no Palco Sunset do Rock in Rio, numa apresentação ao lado de Iza. Em 2022, o norte-americano voltou ao festival, num show memorável debaixo de chuva, mais uma vez no Palco Sunset, mas agora recebendo Luísa Sonza como convidada. Com uma bandaça, cantou seus sucessos e prestou uma bela homenagem a James Brown.