Nove bandas de várias partes do Brasil se apresentam na primeira noite do festival Suiça Baiana
Num fim de semana regado de festivais por algumas cidades baianas, Big Bands (em Salvador) e Feira Noise (em Feira de Santana), o Suiça Baiana, em Vitória da Conquista, já em sua primeira edição, se mostrou uma das boas novidades para quem gosta de música na Bahia. Realizado num clube social, com dois palcos lado a lado, o festival montou uma das programações mais interessantes do ano entre os festivais focados em música brasileira.
A primeira noite levou um público bastante razoável de cerca de 900 pessoas, segundo a produção, para assistir as apresentações de nova bandas, entre convidados de fora do estado, bandas de Salvador e atrações locais. Ainda com pouca gente presente a banda local Garboso abriu o eventoseguida da Transmissor, de Minas Gerais, que apresentou um pop-rock correto, mas com canções sem muita força e nem o cover dos conterrâneos do Clube da Esquina ajudou muito.
Vindo do interior do Paraná, o trio Nevilton mostrou, mesmo com problemas técnicos na guitarra, porque é uma das mais certeiras apostas da nova geração. Power trio com boas canções, que unem letras assimiláveis com boas sacadas, melodias pegajosas e uma pegada garageira, presença de palco e carisma. Tudo isso no palco fica ainda mais interessante, já que não é qualquer um que domina uma plateia tão bem. Sabendo jogar com a plateia, a banda mandou bem seu rock de gente grande divertido e dançante.
Na sequência, o grupo gaúcho radicado em São Paulo Apanhador Só se revelou uma boa surpresa no palco, reforçado pela receptividade do público cantando em coro boa parte das músicas. A banda vai além da fidelidade aos arranjos do disco e conseguem imprimir ainda mais o clima indie rock proposto. As canções crescem, ganham mais vida, com a banda afiada no palco num trabalho bem feito de harmonias, variando a boa voz de Alexandre Kumpinski com a forte presença instrumental e belas melodias. Pecaram apenas em concentrar algumas das músicas mais interessantes no começo do show, que acaba caindo um pouco do meio para o fim.
Com uma formação interessante, que tinha um naipe de metais, baixo, bateria e uma guitarrista/ cantora com jeito de menina pequena e fofa, a banda goiana Gloom foi outra boa surpresa. Ainda demonstrando uma certa imaturidade no palco, natural e até bacana numa banda tão nova, o grupo consegue casar bem rock, ska, samba, jovem guarda e outras sonoridades. O resultado é uma banda coesa e com muito potencial, especialmente nas músicas mais dançantes e leves. A música ‘Tic Tac’ é daquelas que tem tudo para virar hit, se rádios e emissoras de TV fizessem sua parte. Daquelas bandas para ficar de olho.
A Maglore parecia estar tocando em casa, tamanha a receptividade do público, que cantava quase tudo que a banda mandava no palco. O grupo já ganhou uma solidez de banda grande, sabendo como soltar seus hits de forma homeopáticas durante o show e dosando as canções mais leve com as mais agitadas. A novidade foi a nova música, “Marcha Ré”, anunciada pelo vocalista Teago Oliveira como um início de um novo momento pra banda, que remete a Erasmo Carlos e aposta em letra social, algo diferente na temática da banda.
O Autoramas entrou no palco como que pedindo licença para o pop-rock mais brando e comportado e arrombou a porta com seu surf rock cheio deguitarras. A banda carioca sabe muito bem fazer um grande show, começar com os hits “Mundo Moderno”, “Você Sabe” e “Fale Mal de Mim” é quase uma covardia. Já era um grande show quando o convidado B Negão entrou no palco para a segunda apresentação que unia esses verdadeiros ícones da música independente brasileira.
Como esperado fizeram um showzaço, distribuindo petardos que fez se abrir as primeiras rodas de pogo na plateia. Não poderia ser diferente com um repertório que misturava sucessos do Planet Hemp, “Dig Dig” e “Queimando Tudo”, do próprio BNegão, como “Funk até o Caroço” e uma versão pesada de “Dança do Patinho”, com clássicos diversos. De “Private Idaho”, do B-52’s, e “Walk on The Wild Side”, de Lou Reed, com intervenções certeiras de BNegão, a “Let’s Groove”, do Earth wind and fire, e “Seek and Destroy”, do Metallica. Daqueles shows históricos.
Apesar do grande potencial da banda local Os Barcos, com algumas boas canções que trafegam entre o rock e a MPB, depois de um show como o do Autoramas com BNegão a tarefa era ingrata, ainda mais sendo tão tarde. Assim mesmo o público cantou junto e a banda fez seu papel.
A demora entre um show e outro não estava incomodando tanto até o último show. Passar o som antes do show em plena madrugada é problema grave e corria o risco de esvaziar e prejudicar totalmente a apresentação da última atração da noite, o cantor e compositor Marcelo Jeneci.
A sorte é que o paulista está com um show tão bem ajeitado que aos poucos ganhou o público e transformou o cansaço em uma linda apresentação. Jeneci talvez seja o cara que a música independente estava precisando para dar um salto para o grande público e mostrar essa nova produção ainda desconhecida para a maioria. No show fica claro que ele quer isso, se esforça para tornar aquele show marcante, preocupado com todos os detalhes e fazendo de cada momento se tornar especial. Algo que os grandes nomes de nossa música sempre souberam fazer. A sequência de belas canções funciona, com o público acompanhando junto, especialmente as mais conhecidas, como “Felicidade” e “Amado”, parceria com Vanessa da Mata. Um show para um público já reduzido, mas que caberia para uma plateia de 40 mil pessoas e que emociona. Fechou bonito a primeira noite.