O mundo da música entrou em êxtase na última terça (dia 25) com o anúncio da programação do festival Primavera Sound de 2022, em Barcelona, Espanha. Comemorando 20 anos, o festival decidiu compensar as edições de 2020 e 2021 adiadas devido à pandemia de Covid-19 e praticamente dobrou de tamanho, se estendendo por dez dias, de 2 a 12 de junho do próximo ano. Mas além do número de dias, a programação chamou bastante atenção pela quantidade e qualidade dos nomes.
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– Quando estivemos no Primavera Sound.
O festival, que já costumava promover alguns dos melhores line ups do planeta, caprichou para a edição 2022. Juntou a comemoração dos 20 anos, as duas edições que não aconteceram e a volta a uma vida normal pós-pandemia, pelo menos tudo leva a crer que assim será. O resultado é uma seleção de altíssimo nível, com artistas trafegando por sonoridades diversas dentro do indie, do rap e da música eletrônica, com pitadas de sonoridades de outras partes do planeta. São 413 artistas em mais de 500 apresentações, com alguns nomes ainda não anunciados.
O grande trunfo do festival é justamente saber dosar, dentro desse leque da música pop, uma diversidade que vai de novidades super quentes e que começam a ser badaladas até veteranos que para muitos nem estavam mais na ativa. Mescla nomes bastante famosos até desconhecidos ainda buscando um espaço, tudo num mesmo ambiente em 16 palcos de variados tamanhos.
O line up é feito de forma a atualizar os fãs de música, ao mesmo tempo que reúne alguns dos nomes mais importantes da música atual. Pegue a lista de melhores álbuns internacionais dos últimos anos na publicação de sua preferência. É bem provável que boa parte dos artistas estejam na programação do Primavera Sound. Ao mesmo tempo, novíssimos nomes, que começam a despontar e ainda vamos ouvir falar, também têm vez e se apresentam nos palcos menores.
Dentro dessa lógica, o Primavera Sound consegue estabelecer um diálogo entre o mundo indie com o pop de sucesso do momento, desbravando sons pouco palatáveis, estranhos e experimentais ao lado de artistas conhecidos por quase todo mundo. Tudo sem precisar apelar para uma música mais rasteira ou descartável. Por isso, nomes que poderiam ser head liners de qualquer festival de música pop do mundo, como Dua Lipa, Lorde e Gorillaz estão lá ao lado de nomes menos palatáveis para um público médio, como a banda punk japonesa Otoboke Beaver ou o metal extremo do Napalm Death.
Mas não parece um mero agrupamento de nomes diversos, há um recorte com limites para os extremos, ao mesmo tempo que há uma unidade. O festival acaba sendo um encontro de artistas que produziram trabalhos relevantes nos últimos anos com veteranos incontestáveis, ainda na ativa ou de volta aos palcos.
Dentro desse grupo de mais experientes, o festival já valeria a pena se reunisse apenas eles. Massive Attack, Beck, Nick Cave and the Bad Seeds, The Jesus and Mary Chain, Kim Gordon, Dinosaur Jr., Ride, Slowdive, Bikini Kill, Pavement, Yo La Tengo, Einstürzende Neubauten, Mavis Staples, Bauhaus, Mogwai, The Magnetic Fields, Tim Burgess (Charlatans), dariam um festival absurdo nos anos 1990 e hoje garantem alguns dos shows para marcar a vida de qualquer fã de música. Isso porque Iggy Pop, que estava confirmado nas edições adiadas do festival não apareceu na programação para 2022.
Só que o festival não olha apenas para o passado, pelo contrário, alguns dos nomes mais celebrados da música nos últimos anos estão presentes. E se boa parte dos veteranos se concentram nos sons indie rock, entre os artistas mais novos, há uma boa leva de rap, R&B, e soul, como Run the Jewels, M.I.A., Tyler the Creator, Megan Thee Stallion, Slowthai, Little Simz, Sampa the Great, BROCKHAMPTON, e Burna Boy.
Do universo indie rock, passando por pós-punk, math-rock, psicodelia, folk, dream pop, indie pop e shoegaze o cardápio também é vasto. Entre os nomes mais conhecidos estão The Strokes, Yeah Yeah Yeahs, The National, Tame Impala, Sharon Van Etten, Fontaines D.C., Courtney Barnett, Phoenix, Parquet Courts, Black Lips, Brittany Howard, Caribou, Shame e Chet Faker. No universo da eletrônica, os destaques são Disclosure, Jamie xx, DJ Shadow, Metronomy, Autechre, Jeff Mills, A.G. Cook e Danny L Harle.
Vale a pena ainda forçar a vista e pesquisar os nomes que aparecem com fonte menores ou até minúsculas no cartaz. A chance é de conhecer muito do que de melhor vem sendo criado pelos artistas mais jovens nesse campo. E de novo, vale tanto para rap, hip hop, soul, trip hop ou, pop, com nomes como Celeste, Playboi Carti, Earl Sweatshirt, Charli XCX, Jorja Smith, Pa Salieu, Jay Electronica, Kacey Musgraves, Kehlani, Jamila Woods, Kehlani, Paloma Mami, Rina Sawayama, Sky Ferreira, Caroline Polachek e Jessie Ware. O pop brasileiro também estará presente com Pabllo Vittar.
Entre os sons de indie rock e afins, vários nomes mais novos merecem atenção como Idles, Cigarettes After Sex, Big Thief, Beach House, Dry Cleaning, DIIV, Porridge Radio, Shellac, El Mató a un Policia Motorizado, Jehnny Beth, Iceage, Viagra Boys, Beach Bunny, Les Savy Fav, Rolling Blackouts Coastal Fever, Beabadoobee, Squid, Weyes Blood, King Krule, The Murder Capital, Girl in Red, The Weather Station, Jessica Pratt, King Princess, Sinead O’Brien e Faye Webster. Ou ainda uma geração novíssima que se prende pouco a rótulos, mescla sonoridades, experimenta e promove uma cara nova ao mundo indie, como Black Midi, King Gizzard and the Lizard Wizard, Connan Mockasin, Black Country, New Road, Khruangbin.
As possibilidade reservam ainda espaço para uma enorme leva de artistas espanhóis como Carolina Durante, C. Tangana, Maria Del Mar Bonet, Amaia, Bad Gyal, Soto Asa, Chaqueta de Chándal, María José Llergo, Mabel, Verde Prato, Mainline Magic Orchestra, Pinpilinpussies, entre tantos outros. Além de um passeio pela diversidade de sonoridades pelo mundo, partindo do k-pop rock coreano do Dreamcatcher, passando pela dupla de Uganda Kampire & Decay, a cantora do Paquistão Arooj Afta, o supergupo do Mali Les Amazones d’Afrique, a chilena Paloma Mami, a Dj Palestina Sama’ Abdulhadi, os argentinos Duki, Cazzu, Khea e Nicki Nicole, os ganenses Amaarae e Genesis Owusu, a colombiana Ela Minus, o duo da Indonésia Gabber Modus Operandi, o italiano Iosonouncane, indo até a banda australiana Tropical Fuck Storm.
Além da música
Além do headline absurdo, existe justificativa pra tanta celeuma em cima do Primavera Sound? Sim e as razões são várias. No festival espanhol a música é de fato o principal. Aquele conceito de “experiência”, apregoado pelas cabeças dos escritórios de marketing moderninhos pelo mundo, não funciona aqui se você quer algo além de música.
O festival não tem roda gigante, tirolesa ou nada disso, é uma imersão de horas e horas seguidas em shows, muitos shows. Em 2022, serão mais de 500 deles, em 16 palcos no Parc del Fòrum, além de uma festa final na praia e eventos em casas de show de Barcelona. São “apenas” os shows como diversão. Apesar de ser realizado num espaço à beira da praia, são poucas as distrações além das apresentações, e servem apenas como acessórios aos shows. Uma é a praça de alimentação para comer, beber, descansar ou bater um papo entre um show imperdível e outro. A outra é comprar discos, camisas e material de merchandising na feira montada logo na entrada.
Diferente de boa parte dos outros grandes festivais pelo mundo, o Primavera Sound não é realizado numa fazenda, no campo ou num local longe da cidade. Ele acontece dentro da zona urbana de uma das maiores e mais atraentes cidades europeias. Tem fácil localização e uma ótima malha de transporte público da cidade para qualquer um chegar fácil. Dá para ir até de bicicleta, por exemplo.
Uma outra característica do Primavera Sound é que ele não é um festival voltado para o público pós-adolescente. Não é um ambiente de “gente bonita”, pegação e paquera. Pode e rola até tudo isso, mas o foco é outro. O público jovem se mistura a um público adulto e a sensação é que todos ali estão interessados em música acima de tudo.
* Para facilitar, preparamos uma playlist para quem quiser conhecer os artistas ou mesmo para quem estiver se programando para ir ao festival.