Para começar nossa série de entrevistas com produtores baianos convocamos um dos mais experientes e independentes do estado: Rogério Big Bross.
O el Cabong decidiu abrir espaço para quem faz, quem está por trás da realização dos shows, festivais e eventos de música na Bahia. Uma vez por semana vamos ouvir alguns dos produtores baianos que têm colocado essa música que tanto gostamos para rodar. As mesmas perguntas para cada um deles, tentando entender os problemas, lembrar os momentos marcantes e saber melhor como anda essa produção baiana.
Veja também:
– Papo com quem faz:: Lídice Berman, agora em vôo próprio.
Para começar, na primeira edição, convocamos um dos mais experientes e independentes produtores do estado: Rogério Big Bross. Quem ainda não o conhece é porque não andou nos eventos certos da cidade. Atuante há décadas, ele está envolvido em festivais desde 93, quando começou a trabalhar no histórico Garage Rock. De lá pra cá fez o Boom Bahia, ao lado de Messias GB, engatou o Big Bands, que terá mais uma edição no final deste ano. Ele também foi responsável pela vinda de alguns artistas a Salvador, como Planet Hemp, Mundo Livre S/A, Eddie, Charlie Brown Jr. e Los Hermanos (leia na entrevista um curioso relato sobre um dos shows da banda carioca).
Rogério também tem um selo, o Big Bross Records, lançado em 2002 e que lançou discos (EPs e CDs) de bandas como Retrofoguetes, Brinde, Soma, Lisergia, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, Honkers, Theatro de Séraphin, brincando de deus, Dever de Classe, Pastel de Miolos, entre outras. Ele costuma ser visto Brasil afora e em vários shows pela Bahia com sua banquinha de CDs, uma marca de seu trabalho, além de atuar como DJ na noite soteropolitana.
– Como você enxerga a cena musica baiana, tanto no que diz respeito a produção local, quanto a movimentação de shows?
A cena baiana é talvez a mais democrática que conheço, principalmente a soteropolitana, rica, produtiva. Acho que ainda falta muita curiosidade do público baiano em conhecer a própria cidade. São outros tempos, outro milênio. Nos anos 90, você tinha um, talvez dois shows interessantes no mês, falando da cena local nesse momento, e nesses poucos shows se concentrava todo público carente de rock, metal, reggae, hip-hop entre outros. Hoje você tem inúmeros pubs, inúmeras produtoras e esse público agora vai exatamente para o que mais lhe agrada.
– Qual a maior dificuldade para quem produz shows em Salvador?
Convencer o publico pagante a comparecer, ele aparecendo, tudo se resolve. Falando sério, acho que uma comunicação maior entre os produtores seria legal para todos. Produzo em média seis shows no mês, todos de médio e pequeno porte e dentro de determinados segmentos, sempre em pubs já com alguma estrutura técnica que facilita bastante, quase que 100% sem apoio publico ou privado. Então posso dizer que minha maior dificuldade é depender de publico pagante.
“Às vezes acho que se não tiver a cara do Brasil, não é visto como brasileiro, não é ouvido com bons olhos.”
– Como você tem visto o papel do poder público e da iniciativa privada no apoio a este cenário mais independente?
Citei acima que trabalho com determinados seguimentos que não tem um grande apelo popular. Vejo muito apoio do poder publico para esse cenário independente, acho válido, mas também acho que falta curadoria especializada ou talvez com os ouvidos mais libertos. Às vezes acho que se não tiver a cara do Brasil, não é visto como brasileiro, não é ouvido com bons olhos. Aqui na Bahia ter a cara da Bahia conta muitos pontos. Quanto ao apoio privado, não sei, nunca vi, só ouço falar.
– Você acha que existe público diverso para todos estilos musicais na cidade?
Já vi noites no Rio Vermelho com rockabilly, reggae, festa de dj, hip-hop, metal todas com um bom publico.
– Qual foi a grande surpresa entre os shows que você produziu, de público e artisticamente?
Fiz um show dos Los Hermanos em 2003 com a brincando de deus abrindo. A banda vinha de maré baixa, pós ‘Ana Júlia’, era primeiro show da tour do (álbum) “Ventura” por aqui, eles não conseguiram quem fizesse o show aqui. Com o apoio da MTV local e sem tirar um tostão do bolso (não tinha mesmo), convenci eles a vir por porcentagem de bilheteria. Aluguei o espaço ED10 (aquele mesmo de Edilson “Capetinha”) com cheque (VOADOR). A MTV descolou hotel e colocamos ingressos antecipados. O local cabia 2.000 + 250 camarotes, 48h antes do evento só tinha vendido 40 ingressos, eu só pensava para onde fugir ou qual rins ou olho eu venderia, o esquerdo ou o direito. Por um milagre de São Rock, com menos de 24 horas as vendas dispararam, esgotou duas horas antes, coloquei camarote a venda esgotou e foi isso, aquele dia mágico, muito raro, mas mágico.
– Com quem você não trabalhou que gostaria de trabalhar? E que show gostaria de fazer e não fez ainda?
Aqui na Bahia acho que trabalhei com todos que quis, Brasil tem muitos Krisiun, Korzus, Olho Seco sei lá, têm muitos hehe
– Quais os próximos projetos e o que vislumbra de produção na área de música mais pras frente? Daqui a 3, 5 10 anos pra você?
Continuarei fazendo shows, festivais, tenho planos de docs e livro, quero montar profissionalizar a questão do mercham para bandas, abrir um loja, trabalhar melhor os selos e continuar viajando ..a cabeça não para.
– Você pensa em trabalhar com shows internacionais? Por que não fez ainda?
Só queria fazer dois em minha vida – Dick Dale e Brian Setzer, não fiz porque não ganhei ainda, na loteria.