Fim de semana regado a muitos e ótimos shows em Salvador, de Otto e Curumin a Gepetto e Luê. Impossível dar conta de todos, mas o el Cabong conferiu alguns deles e conta como foi.
No Sunshine, aconteceu a última noite do I HABEMUS ROCK, um festival focado em bandas novas de rock. Foram 9 atrações, divididas em três noites, sempre com abertura de um grupo do interior do estado. Na última noite, quem abriu foi a Na Terra de Oz, de Vitória da Conquista, ainda verde, precisa definir melhor que rumo tomar e principalmente circular mais. Sem identidade e com composições sem muita força, ainda não consegue mostrar personalidade.
Na sequência, uma das boas revelações do rock soteropolitano. A Gepetto fez um ótimo show mostrando suas influências de Radiohead e Muse, com canções climáticas e emocionantes, com guitarras e teclado em destaque, além do falsete marcante do vocalista Carlos Eduardo. Um rock dessintonizado talvez do que a maioria se interesse, mas de uma qualidade que poucos possuem na cidade, tanto na execução, quanto nas composições, caprichadas e redondas. Pena que o show estava muito vazio, o que revela um monte de problemas do público rock da cidade, falta de divulgação, público passivo? Acabou rendendo uma ótima discussão sobre essa cena no facebook. Afinal, porque a cena rock não dá tão certo em Salvador?
Não deu para ver A Falsos Modernos, que fechava o festival, porque na mesma hora acontecia o show de Curumim na Commons. Casa lotada para um show curto, mas bem interessante do paulista, que poderia até esticar um pouco mais a apresentação. Em pouco tempo de shows ele já havia esgotado alguns de seus “hits” e logo teve que fazer um sequência de clássicos da música baiana para não terminar tão cedo. Assim mesmo, funcionou muito bem. Talvez um show pensado para o ambiente da casa, curto e dançante. O show contou ainda com a participação de Russo Passassusso e chamou a atenção o público cantando junto boa parte das músicas.
No sábado, uma show surpreendente no Portela Café. Seria apenas mais uma nova voz, entre tantas cantoras nesse Brasil de hoje. Linda, Luê fez um belo show e mostrou que é mais do que isso. Com domínio de palco, a cantora paraense conquistou o público, atraiu olhares e apresentou uma música com potencial popular, trafegando entre o que seria uma MPB mais comum e os ritmos tradicionais de sua terra. Deu um tempero próprio a isso, fazendo guitarrada e carimbó soar como algo que se ouve nas rádios todos os dias. Não deu pra ficar parado. Se o show começou mais calmo, aos poucos, os ritmos tomaram conta e o público tímido se rendeu, com Luê, por vezes assumindo uma rabeca, esquentando e transformando o show num baile pra dançar, com músicas de seu próprio disco e versões de músicas de Rita Lee, Roberto Carlos e Reginaldo Rossi. Saber ser pop é um mérito e tanto.
No domingo, Márcia Castro abriu a noite de shows com uma apresentação crescente. Começou focando em músicas mais desconhecidas de seus dois discos, terminando com seus hits e versões. A ótima banda, ajudou a criar o clima, com a Concha ainda enchendo. Com um possibilidade maior de repertório, Márcia já consegue fazer variações em seus shows e neste conseguiu mesclar os compositores mais novos e os desconhecidos, com regravações ou versões de sucessos de ícones como Moraes Moeira e Jorge Ben. Funciona.
Logo depois foi a vez de Otto fazer um showzaço. Com direito a músicas de todos seus discos, mas com foco maior no álbum ‘The Moon 1111’ que ele veio lançar e no anterior, a descontração e porra louquice de sempre, mas uma entrega à música como poucos conseguem. Rebolava, soltava ideias desconexas, foi cantar no meio do público, jogava água na cabeça, tirava a camisa, arrancava gritos das fãs, mas mostrou pleno domínio de palco e um foco em apresentar o melhor de si. Cantando muito melhor, fez daqueles shows que todo mundo comenta no dia seguinte.
Com uma das melhores bandas do país, duas guitarras, uma delas com Fernando Catatau, e uma forte presença da percussão, Otto alcançou um ponto irreversível na carreira, a de um astro da música pop tupiniquim, mesmo que num ambiente restrito. Entre uma música e outra, balbuciava e entrava com algum afoxé ou samba de roda, além de render ótimos momentos homenageando a Bahia, seja botando todo mundo pra cantar junto Raul Seixas, com “Medo da Chuva”, ou cair no samba de roda com Wally Salomão e Caetano, com “Mel”, eternizada por Maria Betânia. Ainda chamou Luê, que foi prejudicada pelo som meio baixo do microfone, para cantar junto. No final, com Luê e Márcia Castro, provocou uma catarse coletiva com a sempre arrebatadora “Seis Minutos”. Mesmo com uma técnica limitada, a sinceridade e a forma visceral como canta contagia e ele acaba dominando tudo a sua volta. Showzaço.