Não faz tanto tempo que nomes como Tom Zé, Sérgio Sampaio, Jards Macalé, Jorge Mautner, Luiz Melodia, Itamar Assumpção, Walter Franco, entre outros, eram considerados os malditos da música brasileira. Antipopulares, taxados como difíceis de ouvir e rotular, fracassados comercialmente, eles permaneceram por longo tempo à margem dos grandes nomes da MPB. Com a internet e a facilidade de acesso a seus discos, parte deles conquistou mais espaço e um reconhecimento tardio. Caso de Mautner, Macalé e, especialmente, de Tom Zé e Luiz Melodia. Itamar e Sampaio, já mortos, até tiveram algum holofote tempos depois, mas nunca no nível que mereciam.
A vanguarda da obra destes artistas parece que só foi ser melhor compreendida nos tempos atuais, o que também colaborou para essa identificação atrasada. Walter Franco talvez seja, entre os vivos, o que teve menor reconhecimento de público e ainda seja o menos conhecido. Se todos os outros passaram a circular mais, participar de festivais e lançar discos e novos projetos, o paulista Franco permaneceu em seu mundo à parte. Vanguardista e com uma obra reduzida – são seis discos atualmente fora de catálogo, sendo que apenas metade deles em CD- , o cantor e compositor, que completou 70 anos no início de 2015, parece que finalmente tem vivido momentos de maior reconhecimento.
Nada em grandes dimensões, mas que ao menos o coloque num patamar melhor e que reconheça sua importância na música brasileira. Seu segundo disco, “Revolver” (1975), lançado pela extinta gravadora Continental, ganhou uma reedição em vinil, seu formato original, através da série Clássicos em vinil, da PolySom. Ele tem sido cantado por diversos artistas de gerações mais novas nos últimos anos, seja Thaís Gulin abrindo shows com ‘Me deixe mudo’, Gustavo Galo cantando ‘Feito Gente’ em disco e shows, os Titãs regravando ‘Canalha’ no último disco, entre outros.
Talvez o mais importante seja ver Walter Franco voltar a uma sequência de shows e ver o público abraçando sua obra. Ele tem feito algumas apresentações em São Paulo. No último dia 18 de abril, fez uma daquelas marcantes no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Com o teatro lotado experimentou o sabor de ver como sua obra permanece viva e importante, com pessoas de diversas idades, inclusive muitos jovens, subindo ao palco e o cercando para cantar duas músicas, ‘Coração Tranquilo’ (veja abaixo) e ‘Canalha’. Autor destas e de várias outras obras, o veterano maldito merece a valorização de sua obra, mesmo que tardiamente.