A banda Caldo de Piaba mostra neste domingo em Salvador a mistura de influências que tem colocado o Acre no mapa da cena pop-rock.
Falar que o Acre não existe já deixou (ou deveria deixar) de ser piada há tempos. Assim mesmo, ouvir falar da música produzida por lá ainda é para poucos. Com exceção de João Donato (sim, ele é de lá), não conhecemos muita coisa vinda do Estado que vê o pôr-do-sol por último no País. Uma banda, no entanto, começa a se destacar em festivais e shows pelo Brasil: a Caldo de Piaba, um trio de guitarra, baixo e bateria que faz uma viagem aos anos 70 e mistura o rock clássico com sons do norte do País, sempre com o foco voltado para a guitarra.
Formado por Saulim na guitarra, Miúda no baixo e Di Deus na bateria, o grupo vem a Salvador para se apresentar domingo no Grito do Rock, festival integrado que acontece simultaneamente em mais de 50 cidades da América do Sul.
Por aqui, o show será na Boomerangue, ao lado das bandas Os Irmãos da Bailarina, Você Me Excita, Maglore e Vendo 147, com entrada franca. A banda também é destaque no Rec Beat, evento já consagrado que acontece em Recife durante o Carnaval. A turnê pelo Nordeste inclui ainda Maceió, Arapiraca e Campina Grande.
E é assim, de festival em festival, de show em show, que a Caldo de Piaba vem chamando a atenção e começa a ser apontada por críticos como uma das apostas para 2010. A trajetória pelos festivais engrenou no ano passado, quando a banda foi destaque no Calango, realizado em Cuiabá.
Logo em seguida, o grupo caiu na estrada para shows por São Paulo com outra banda promissora, a amapaense Mini Box Lunar. Cair na estrada, aliás, é característica da Caldo de Piaba.
Em 2009, o grupo teve um profeitos jeto financiado pelo governo do Acre, o que garantiu a circulação pelo interior do Estado viajando numa Kombi.
Personalidade Porém, não é apenas por vir de um Estado pouco conhecido que a Caldo de Piaba chama a atenção. Não se trata de exotismo. A música da banda é de primeira.
Um caldo à base de rock, ska, samba-rock, reggae, funk, brega e até jazz, temperado com a sonoridade do Caribe e do Pará, guitarradas, lambada, carimbó e por aí vai.
“A gente tenta passar por várias nuances da música, vários estilos. A mistura passa pelo funk setentista, viaja um pouco pelo som latino-americano, toca algumas lambadas e tem muita influência do som do Norte, do Pará”, explica Saulim.
Mesmo sendo uma banda muito nova, formada no final de 2008, a Caldo de Piaba faz música com muita propriedade e personalidade própria. Com tantas influências e referências, seria natural o som produzido pela banda soar perdido, sem rumo. Ainda mais com músicos tão jovens.
O que se ouve, no entanto, é uma sonoridade particular, na qual os sons se cruzam e se combinam naturalmente, como se feitos para soarem juntos.
Guiada pela guitarra elétrica, a banda adiciona ainda pitadas de psicodelia e improvisações, para resultar num interessante experimento instrumental que precisa agora apenas passar pelo teste do CD, ainda sem prazo para lançamento. Antes do Carnaval, sai um EP do grupo com quatro músicas, mas, por enquanto, só dá pra conferir seu trabalho pelo www.myspace.com/caldodepiaba.
Releitura Sem medo de assumir de onde captura as referências que resultam no som do grupo, Saulim diz ter grande influência – especialmente por ser guitarrista – do rock setentista e do classic rock. “Jimi Hendrix, Jimmy Page e George Harrison são meus pais, meus gurus”, cita. Ele mesmo define: a banda pega referências de artistas antigos e de músicas populares, junta e toca de forma própria, instrumental, com improvisação e num estilo um tanto livre.
Música brasileira é talvez a grande influência da banda, especialmente o que se fazia no Brasil na década de 70. Ele cita Jorge Ben Jor, Tim Maia e a turma da Jovem Guarda. “Ouvimos muito aquele pessoal que transformava para o português as músicas dos Beatles.
Essa ideia de fazer releituras, a gente acabou trazendo para a banda”. Quem já viu ou vai ver algum show da banda, confere. Eles fazem, por exemplo, uma ótima versão de I Want You (She’s So Heavy), dos Beatles, que parece ter sido feita para soar daquele jeito, meio caribenho.