Profissionais falam do que esperam com a chegada do Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB na capital baiana, que reduz a defasagem de espaços culturais públicos no estado e no Nordeste.
A enorme carência de espaços culturais com boa estrutura e recursos na Bahia deve ter uma importante redução com a anunciada chegada do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Salvador. Fruto de uma parceria do Banco do Brasil com o Governo do Estado, o novo CCBB Salvador – Bahia vai ser instalado no Palácio da Aclamação, localizado no bairro do Campo Grande, que receberá reforma de ampliação e modernização. Será o quinto Centro Cultural do Banco do Brasil, o primeiro no Nordeste. Até então apenas Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte possuíam CCBBs.
De acordo com comunicado do banco, a escolha da cidade seguiu parâmetros objetivos. Entre as capitais avaliadas, Salvador foi a que obteve maior nota final na análise de critérios como população do estado, população da capital, cidades criativas, cidades inteligentes e arrecadação federal da capital do estado com turismo.
A escolha de Salvador, ainda segundo o comunicado, está alinhada à essência do propósito do CCBB, que é ampliar a conexão dos brasileiros com a cultura, em suas diferentes formas, dialogando com duas importantes premissas de nosso eixo curatorial: identidades, que busca tratar da redescoberta de nossas origens, suas narrativas e símbolos, do resgate da ancestralidade, desafios de inclusão, entre outros; e Pluralidade Cultural, que preza, entre outras coisas, por considerar a diversidade étnico-racial e a riqueza de manifestações regionais brasileiras.
Recepção da classe artística
A classe artística baiana recebeu a notícia do novo espaço cultural com entusiasmo. Para o pesquisador e ex-secretário de Cultura da Bahia, Albino Rubim, a vinda do CCBB para a Bahia precisa ser considerada como algo muito importante para a Bahia e para o Banco do Brasil. “Salvador, apesar de ser uma cidade eminentemente cultural, sofre uma carência notável de centros culturais mais amplos e complexos”, diz. Para ele, a vinda de um centro cultural da amplitude do CCBB será muito relevante para Salvador.
“O BB estaria pagando uma dívida com a população da Bahia. A presença de um centro cultural da dimensão dos CCBB certamente irá dinamizar ainda mais a cultura na Bahia e será importante vetor da desconcentração de investimentos culturais no Sudeste do país”, afirma. “Quando fui Secretário de Cultura da Bahia busquei trazer um CCBB para a cidade, bem como outros centros culturais ligados a empresas públicas brasileiras. Infelizmente não consegui. Fico assim muito feliz com tal vinda”, completa o pesquisador e professor.
A cantora Aiace vai numa linha parecida, com grande expectativa sobre a chegada do centro cultural na capital baiana. “Acho que Salvador é reconhecidamente um grande expoente histórico-cultural do nosso país, então nada mais justo do que ter uma unidade do CCBB por aqui, possibilitando mais investimentos no setor cultural, favorecendo à multiplicação das expressões artísticas que nos rodeiam e construindo pontes culturais com outros espaços”, diz a cantora. “Em Salvador a nossa cultura se reinventa e se mistura o tempo todo. Acredito que ter o CCBB presente na cidade será super positivo para Soteropolitanos e amantes da nossa cidade”, afirma Aiace.
A cantora, compositora e musicista Manuela Rodrigues também é bastante otimista com a chegada do centro cultural. Ela destaca a necessidade de novos possibilidades como essa na cidade. “Salvador precisa de novos espaços culturais e o Centro Cultural Banco do Brasil sempre foi referência. Tenho lembranças de shows importantes e exposições que vi no CCBB de São Paulo. Experiências memoráveis!!”, diz a cantora. “Acredito também que tendo uma sede do Centro Cultural aqui em Salvador também será uma forma de estarmos mais inseridos na programação, com mais aprovações da Bahia e do nordeste nos editais do Centro Cultural do Banco do Brasil que via de regra atende mais ao sul e sudeste”, afirma Manuela.
Numa linha parecida, a produtora Edmilia Barros, ressalta que o centro vai ser mais uma opção de produções artísticas. “Vai dinamizar as opções que temos na cidade”, diz. Lembra também da importância da ocupação de um espaço público que estava subaproveitado. “É importante o reaproveitamento do espaço, no sentido de colocar ele a serviço da comunidade. Querendo ou não, ele se torna mais uma grande referência e a gente acaba ocupando mais aquele espaço, que pode ser uma grande ferramenta pra gente enquanto produtores”, afirma.
A produtora e gestora da Dimenti Produções, Ellen Mello, aprofunda a questão da ausência dos espaços culturais em Salvador. Para ela, a cidade tem passado por uma crise profunda de falta deles e a chegada do CCBB gera muita expectativa num setor tão cheio de carências. “Com a pandemia e seus reflexos essa situação de agravou, com muitos espaços fechados ou sucateados”, diz. Ela sinaliza também em que aspectos o espaço pode contribuir. “É importante que o CCBB tenha uma programação diversa, abrigando linguagens artísticas diferentes e que seja um espaço democrático e acessível à nossa população e aos agentes culturais de nosso estado”, afirma.
Investimento
De fato, a presença do Centro Cultural Banco do Brasil deve colocar Salvador num circuito de atividades artísticas que passa ao largo da cidade. Mesmo sem ter um desenho do espaço físico divulgado e sem sabermos quantas galerias, salas de cinema e teatros,
Exposições, mostras de cinema, projetos de artes cênicas, além de shows, festivais, encontros e eventos musicais que circulam pelos periodicamente outros CCBBs do país vão começar a chegar na capital baiana com muito mais frequência.
Uma boa mostra disso está no investimento que o Banco do Brasil realizou nos CCBBs em 2023. Foram mais de R$ 50 milhões exclusivamente na programação cultural, sendo R$ 14,7 milhões via Lei de Incentivo à Cultura. No período, os CCBBs foram palco de 251 iniciativas culturais, com mais de 3,7 milhões de visitantes, número 20% maior que o do ano anterior.
Através do Edital de Patrocínio, que prevê a ocupação dos quatro centros culturais, o Banco do Brasil está destinando aproximadamente R$ 150 milhões para realização de projetos, dividido em até R$ 50 milhões a cada 12 meses de vigência do edital. Foram mais de 6 mil projetos inscritos e 137 selecionados, 41 de artes cênicas, 36 de cinema, 24 de exposição, 13 de ideias, 19 de música e quatro do Programa Educativo. Os selecionados irão compor as programações das 4 unidades do CCBB.
Entre os selecionados que vão circular pelo quatro CCBBS estão festivais e eventos como ‘A canção é urgente: Vozes LatinA-americanas’, ‘Elos do Norte’, ‘Festival Toca na Favela – Culturas Urbanas’, ‘Festival de Música e Luterial Experimental – O Som e a Matéria’, ‘Quilombo Groove – Preces, Louvores e Batuques do Quilombo do Curiaú’, ‘Giro Conecta – Séries Musicais’, ‘Movimento improviso – 20 anos de Batalhas de MCs no Brasil’ e ‘Fórum do Forró Patrimônio Cultural – Música & Dança’.
Regionalização atrasada
Albino Rubim ressalta que os centros culturais são instituições fomentadoras da cultura regional e responsável por relevantes intercâmbios culturais, dinamizando vivamente a vida cultural. “Espero que tenhamos a capacidade de trazer outros centros culturais e fazer com que algumas instituições, como as universidades públicas, federais ou não, também instalem seus centros culturais em cidades da Bahia”, diz.
O atraso da chegada do CCBB no Nordeste expõe não só a carência deste espaços em cidades como Salvador, mas também a grande concentração de centros de culturas públicos na região Sudeste e pouco além disso. Em se tratando de espaços de órgãos federais, quase todos possuem sedes em São Paulo e Rio de Janeiro, além da capital federal, Brasília.
É assim com o Banco do Brasil, que além destas três cidades, também possui um centro em Belo Horizonte. Da mesma forma com a Funarte, que possui centros nestas quatro mesmas cidades. Os Correios também concentram seus espaços culturais, com espaços em Niterói, Rio de Janeiro, São Paulo, além de Porto Alegre.
Já a Caixa Cultural é muito mais bem distribuída, com unidades espalhadas em quatro das cinco regiões do país. Apenas a Norte não possui um espaço cultural do banco. No Nordeste, as três maiores cidades, Salvador, Recife e Fortaleza possuem suas unidades. Além delas, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro (de novo!), e Curitiba também possuem unidades da Caixa Cultural.
Estrutura dos CCBBs
Mesmo sem definição de como será a estrutura do CCBB em Salvador, o exemplo das outras quatro unidades dão uma dimensão do que a capital baiana pode receber. O primeiro CCBB foi idealizado em 1986, sendo inaugurado no Rio de Janeiro em 12 de outubro de 1989 num prédio histórico de 17 mil m².
O edifício possui salas para mostras no primeiro e segundo andares, uma sala de cinema com 110 lugares no térreo, uma sala com 53 lugares para exibição de vídeos no mezzanino, três salas para espetáculos teatrais (um no térreo, com 175 lugares, e dois no segundo andar, um com 158 lugares e outro sem lugares fixos, para espetáculos alternativos). Há ainda um auditório com 90 lugares no quarto andar e uma biblioteca no quinto andar
A unidade de Brasília foi inaugurada em 12 de outubro de 2000 e instalada em um imenso projeto paisagístico. Conta com amplos espaços de convivência, café, restaurante, galerias, sala de cinema, teatro, salas multiuso, jardins e uma praça central para eventos abertos, onde são realizados shows, espetáculos e performances.
O centro cultural da capital paulista foi inaugurado em 21 de abril de 2001 e tem 4.183 m² e conta com salas de exposições, um cinema, um teatro, um auditório, salas de vídeo, restaurante, bomboniere e café. Já a unidade do CCBB na capital mineira foi inaugurada em 27 de agosto de 2013. possui teatro com 300 lugares, seis salas de exposição, cafeteria, sala de programa educativo, sala multimeios, loja de produtos culturais e área administrativa.