Entrevistas polêmicas, opiniões fortes, provocações, bolas fora, falas certeiras, broncas, bobagens, recalques, discussões. Mais uma vez resumimos algumas das principais declarações dadas no mundo da música, com um apanhado dos que falaram por aí em 2014. Músicos, produtores, artistas, jornalistas soltam o verbo em entrevistas, nas redes sociais, em shows e onde tiveram oportunidade. Concordando ou não, eles dão a deixa e fazem a gente pensar um pouco mais sobre o mundo da música que nos cerca.
“Metaleiros e indie rockers têm profundo – e errôneo – senso de superioridade aos sons mais populares apenas para reafirmar os códigos de suas tribos. Ambos os universos apresentam artistas tão ridículos quanto aqueles que perambulam pelo pagode, axé, funk carioca, sertanejo etc”.
Régis Tadeu – jornalista e músico em entrevista a revista e site pernambucano Outros Críticos
“Nesse exato instante pode estar surgindo uma banda com uma ideia revolucionária e uma música poderosa. Esse material provavelmente estará disponível de graça na rede, concorrendo pela atenção das pessoas com toneladas de lixo. Um novo movimento musical pode começar e acabar em semanas e não ficamos nem sabendo”
Lucio Maia, guitarrista da Nação Zumbi, em entrevista para a Folha de São Paulo.
“Esse rock and roll, hein? Esse rock and roll, não vai embora… Ele pode hibernar às vezes, voltar para o pântano. Eu acho que a natureza cíclica do universo onde ele existe demanda essa tolerância a algumas de suas regras. Mas ele está sempre lá, esperando, logo na esquina, pronto para voltar pelo lodo e entrar quebrando o teto de vidro, melhor do que nunca. Sim, esse rock and roll, parece que ele foi embora às vezes, mas ele nunca irá morrer. E não há nada que você possa fazer a respeito.”
Alex Turner, vocalista e líder do Arctic Monkeys em discurso na entrega do BRIT Awards, em Londres, espécie de Grammy do Reino Unido, onde a banda venceu como melhor álbum.
“Ele (o rock) está sempre esperando ali na esquina, pronto para seu retorno saindo do lodo para quebrar o vidro do teto, e parecendo mais em forma do que nunca. É, esse rock’n’roll parece às vezes que está meio apagado, mas não vai morrer nunca. E não há nada que você possa fazer sobre isso.”
Ainda Alex Turner, vocalista e líder do Arctic Monkeys em discurso na entrega do BRIT Awards, em Londres.
“É sempre uma coisa muito viciada, por mais que tenha mudado o esquema de gravadora. Só se escuta aquelas 10 pessoas no rádio, aquelas 10 pessoas na televisão. Insuportável. E tem muita coisa maravilhosa rolando, mas que é sempre tratada como música alternativa. Às vezes eu falo que alternativo é quem ganha pouco dinheiro, né? Porque não é o tipo de música que você faz que te define como alternativo. Mesmo a imprensa legal, que escreve legal, trata dessa forma. Na MTV mesmo, quando rolou a história de abrir um espaço pra esse outro tipo de música, foi muito bom, mas, ao mesmo tempo, eles faziam do jeito errado. Do jeito que se falava, parecia que estavam fazendo um favor. “A gente está abrindo espaço pra isso aqui, olha como a gente está ajudando”. Em vez de ser “olha, como vai ser do caralho”. O jornalismo, a crítica musical são muito responsáveis por isso. Tem muito jornalista que ama um monte de música que está bombando, mas fala com medo. Às vezes, nem quer que seja conhecida, pra pode falar ‘olha como eu gosto disso aqui, como é obscuro’.”
Karina Buhr, em entrevista à Revista Fórum.
“A música axé não está gasta. O sistema axé é que está gasto, o camarote está gasto, o modelo está gasto. Eu começo a ver grandes coisas acontecendo agora. Quero uma mudança no Carnaval. A música precisa se posicionar de alguma forma mais honesta. Meu sonho é que a música seja a coisa mais importante da vida de um músico. E isso se perdeu, a música ficou em quinto lugar, décimo e se ficou mais com a roupa, com o LED, com o patrocinador, com a maquiagem.”
Saulo Fernandes, em entrevista ao UOL falando da crise criativa da Axé Music.
“O referencial não é só para fazer igual, mas para fazer dizerem “aquilo eu quero, aquilo eu não quero”. Para mim, o cara que é o grande revolucionário desta época se chama Jorge Ben. Um dia eu estava na Rádio Guanabara e ouvi ‘Mas que Nada’. Fiquei chocada. O Jorge não foi aceito pela MPB nem pela bossa nova porque não entendiam o que ele estava fazendo, então ele foi baixar no nosso ninho e passou a usar nossas roupas. Quando falam de anos 60, jamais citam a Jovem Guarda como um movimento. Até hoje as pessoas preferem pular esse episódio. A leitura é tão mal feita que, quando me chamam para fazer uma comemoração do período, usam uma roupa que era a dos anos dourados (anos 50), com pregas e bolinhas, lacinhos cor de rosa e lencinhos no cabelo. Exatamente o que a gente não queria, tudo o que a gente contestava.”
Wanderléa, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo.
“O Brasil sempre tem suas modas. Agora é o sertanejo, mas antes já foi o rock, assim como já foi o funk e o samba. Isso não é ruim. Nossa cena foi o último movimento de rock relevante”.
Di Ferrero, do NX Zero, em entrevista ao UOL.
“Nos dias de hoje, o verdadeiro músico profissional tem que lutar contra muito mais coisas do que nunca. Pra cada músico que realmente toca um instrumento, estuda, pratica, existem talvez 100 bandas indie com um babaca/indie usando um Fender Jaguar fora do tom tocando terríveis acordes abertos desafinados, com uma cantora bonita cantando melodias ingênuas como uma criança. Essa é a situação agora… e isso acontece no mundo todo, não é verdade?”
Ed Motta, em entrevista ao site Eleven Culture.
“Que merda? Que merda? Podemos ter tantas pessoas vivendo em paz. Temos tecnologia. Podemos alcançar nossos amigos. Sabemos no que eles estão pensando antes deles estarem pensando. Os anunciantes sabem no que estamos pensando antes de estarmos pensando. Temos tecnologia – tudo isso nas nossas mãos. Ao mesmo tempo que algo tão positivo está acontecendo, na mesma merda de tempo, não tão longe, eles estão lançando merdas de bombas uns nos outros. Que bosta de merda? Eu juro por Deus, há pessoas por aí que estão procurando motivos para matar! Eles estão procurando por um motivo para invadir fronteiras e roubar terras que não são delas. Elas deveriam sair, e se preocupar com a merda da sua própria vida. Todos querem a mesma coisa: ter nossas crianças, comer, procriar, pintar, fazer arte, ouvir música, foder mais um pouco, fazer outro bebê, comer, trabalhar, comer, amar, amar, amar, amar, todos somos a mesma coisa! Então por que as pessoas estão em guerra? Pare com essa merda, agora! Agora! Agora! Não queremos lhes dar nosso dinheiro. Não queremos lhes dar nossos impostos para jogar bombas em crianças! Agora! Chega! Agora!”
Eddie Vedder, vocalista do Pearl Jam, em discurso contra a violência e as guerras em show na Inglaterra.
“A cultura brasileira sempre foi muito diversificada e acho que hoje ela está mais fragmentada, não vejo uma grande onda dominante. Desde que eu comecei sobrevivi a várias ondas, até o pop rock foi uma onda, depois a lambada, depois sertanejo, e eu não sei qual é a onda dominante agora. Acho isso bacana, gosto dessa fragmentação, dessa diversificação, mas acho que é como tudo na vida: tem os prós e contras. Tu não pode mais ser um ouvinte passivo, tem que buscar as coisas. Vejo muito a molecada que não viveu os anos 80 e reclama, sente saudade dos anos 80, e eu tento até desmistificar isso. A molecada diz: “Pô, as bandas hoje em dia não são legais”. Cara, deve ter muitas bandas legais por aí, mas que não estão conseguindo espaço que as bandas dos anos 80 tinham. Me parece meio improvável que a qualidade baixe de uma geração pra outra com tanta informação. É claro, artistas de exceção existem em todas as gerações, mas em geral acho que nós, como ouvintes, e agora me colocando como ouvinte mesmo e não como artista, estamos talvez menos generosos na maneira como a gente absorve a arte. Eu, quando comecei, a primeira vez que eu toquei uma música que não fosse minha num show, eu tinha três discos de ouro pendurados na parede, e hoje acho praticamente impossível uma banda começar sem tocar uma cover, parece que as pessoas querem ouvir mais do mesmo. Então, acho que quem reclama da qualidade tem que questionar não só quem está produzindo, mas quem está consumindo.”
Humberto Gessinger, em entrevista ao site Scream & Yell.
“Eu me lembro de uma experiência interessante, a gente estava numa rádio e tocou “A Revolta dos Dândis” na íntegra, uma coisa que a gente nunca tinha feito, e causava muito estranhamento. Eu ouvi de muita gente: “Nossa, que coisa incrível”, “Que densidade”, e as pessoas não entendendo como aquilo poderia ser tão denso sendo que é uma coisa popular. Várias músicas tocaram na rádio, e então eu volto a dizer, pô, a gente pode reclamar dos artistas que estão se repetindo, mas a gente tem que pensar em nós como ouvintes, se não estamos perdendo a generosidade. Quando lancei “Infinita Highway”, uma música de mais de seis minutos, ou “Terra de Gigantes”, que era uma música sem bateria, eram coisas que iam contra o sistema, e hoje eu não sei se nós, como ouvintes, temos a generosidade com o que está indo contra o sistema. E tem uma coisa também que me parece que era mais saudável, que era uma certa mistura, por não ter canais muito específicos. Por exemplo, quando comecei tu não tinha uma MTV da vida, caía no mesmo redemoinho dos artistas mais populares, dos artistas regionais. Depois que começou a se especificar muito o som e cada um ficou no seu gueto, pessoal que faz rock n’roll aqui, pessoal que faz rap lá, parece que cada um fala só para sua turma, e isso, para a arte em geral, Arte com A maiúsculo, talvez não seja bacana, talvez as misturas possibilitem um arejamento.”
Humberto Gessinger, em entrevista ao site Scream & Yell.
“Antigamente tu falava para dois jornais e falava para o Brasil inteiro, mas ao mesmo tempo tu ficava escravo de uma visão de dois caras, que às vezes poderiam gostar do teu trabalho, às vezes não, e era um saco,. Hoje em dia é mais legal para quem tem trabalhos como eu, que não se pretendem hegemônicos. Não quero que meu trabalho domine o mundo, nunca quis ser número 1 de nada. Vejo um renascimento da música instrumental, músicas mais específicas, que tinham muita dificuldade de entrar num mundo mais monolítico, para esse tipo de arte o cenário hoje é muito mais interessante.”
Humberto Gessinger, em entrevista ao site Scream & Yell.
“Nunca fiz concessões para moldar minha música de acordo com os caprichos do mercado. Sempre fui e continuo sendo um amigo da arte”
Alceu Valença, em entrevista ao portal UOL.
“Veja a situação a que chegaram os programas de televisão, nada contra nada, tudo pode existir, há uma glamourização do lixo cultural. Quanto mais burro, melhor para o sistema”
Alceu Valença, em entrevista ao portal UOL.
“Acho mais legal quando o trabalho da pessoa é mais associado ao nome dela. É mais simples. Essa coisa rótulo é coisa da indústria. Quando tinha prateleira, lojas de CD. Isso não existe mais. Não precisa mais disso. Acho que a MPB se diluiu totalmente. É uma coisa totalmente dos anos 70 que não tem a menor condição de abarcar o que eu faço.”
Lucas Santtana em entrevista ao UOL.
“Tem gente que acha que ser bem sucedido é virar um fenômeno de massa, mas nisso há um marketing muito grande. Quando você tem uma música autoral, a música tem personalidade que quase nunca é tão popular, mas tem seu público. No Brasil existe isso, só não é reconhecido pela mídia. O engraçado é que a mídia frequenta esse show, mas na maior parte dos veículos de comunicação aparecem outras coisas.”
Fábio Trummer, da banda Eddie, em entrevista à revista Trip.
“Eles só dão concessão pública para quem já tem várias concessões. As poucas rádios que tem concessões são comerciais. Uma gravadora paga para tocarem na programação os lançamentos. Sempre foi assim. Falta espaço mesmo. Falta uma democracia dentro da comunicação. Precisa de políticas voltadas a uma certa educação, a um certo conteúdo para TVs, rádios e revistas. Precisa de coisa de qualidade. A impressão que tenho é que o que está a frente das bancas e nas vitrines é superficialidade extrema. Precisa de mais conteúdo na TV, precisa afastar os vampiros da desgraça dos outros, precisa de qualidade e limites.”
Fábio Trummer, da banda Eddie, em entrevista à revista Trip.
“(…) Tenho que concordar que no Brasil a situação é inexplicavelmente mais difícil. Eu próprio coloco a questão: como é possível que num país tão criativo musicalmente não tenha esse reflexo nas ondas da rádio?”
Henrique Amaro, da RTP, rádio pública de Portugal, e maior divulgador da música brasileira em Portugal, em entrevista para o jornal Diário de Pernambuco.
“Colocam um shopping no meio de 300 favelas, põem tudo que tem do bom e do melhor lá dentro, eles querem o quê? (…) Eu sou a favor dos moleques, tem mais que invadir mesmo. Vai fazer o quê, pedir para entrar? A porta está aberta. Você entra”.
Mano Brown falando sobre o fenômeno dos “rolezinhos” em entrevista ao canal ONErpmSessions, da distribuidora de música digital ONErpm, concedida com exclusividade à Rolling Stone Brasil.
“O negro pode até crescer socialmente, se mudar para um condomínio fechado, ganhar um salário de R$ 4 mil, R$ 5 mil por mês, mas não pode pensar que é rico e que, por isso, virou branco. Tem que colocar para fora da cabeça o ranço da escravidão mental. Pode se mudar sim, sair das suas raízes, mas não esquecer de quem ele é, de que ele é negro. E o objetivo do Ilê é manter isso aceso. Porque se o negro esquecer quem ele é, vai ter sempre alguém para lembrar, seja o porteiro do prédio, o ascensorista, o segurança do camarote.”
Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, em entrevista ao portal Terra.
“Desculpe mas não tenho nada a ver com essa depressão do Soundgarden, bem como com nenhuma dessas bandas que estão se apresentando no Lollapalooza! sorry babies! prá mim é sempre gringo presenteando espelhinho prá indio!”
Wander Wildner em seu perfil no Facebook.
“A gente quer estar próximo, não dá mais para o Ecad ser nosso inimigo. O Ecad é feito com o dinheiro dos artistas, o Ecad pertence aos autores. E nós, como representantes dos artistas, temos de estar por perto. Eles não podem ter um monopólio. Ficaram assim porque se sentiram donos. Eles vão ter de trabalhar,
eles têm de se preparar para cumprir a nova lei senão vai parar todo mundo na
cadeia. Acabou a farra.”
Paula Lavigne, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo.
“O tempo me mostrou que estava certo aquele tipo de censura. Fico com sexo e rock and roll, drogas nunca. Essa história de sexo, drogas e rock and roll também é coisa de pessoas que ficaram escravizadas naquela época. Eu não fiquei escravizado da “Maria Joana”. O rock and roll não é só rebeldia, é amor também”.
Erasmo Carlos, sobre a censura de “Maria Joana”, em entrevista ao UOL.
“As bandas de rock and roll se tornaram realmente conformistas, se preocupam apenas em puxar o saco de suas gravadoras e continuar tocando nas rádios. O rock definitivamente precisa de mudanças. Tornou-se uma espécie de enteado indesejado da indústria da música e o que ela precisa é de alguém realmente comprometido que venha para mudar as coisas. Você sabe, eu não entrei na música para tudo isso. Eu só aprendi a tocar guitarra e formei uma banda. Se você deseja obter fama e fortuna, se isso for premeditado, você perderá a sua integridade musical. Você só precisa aprender seu instrumento muito bem e escrever suas músicas para obter essa química.”
Slash em entrevista ao Manchester Evening News.
“Devemos considerar uma série de fatores que ao longo de vinte anos ou mais que resultaram na situação em que o rock está. Não acredito que o compartilhamento digital de músicas é o grande culpado disso tudo. Se eles não querem desperdiçar dinheiro em bandas e artistas que não fazem música pop é porque cada gravadora foi digerida por enormes conglomerados empresariais que só querem fazer mais e mais dinheiro. Há ainda alguns selos de música lá fora assinando com bandas boas. Essa situação acaba nos forçando a sermos mais fortes e nos expressarmos fazendo rock. Eu realmente acredito nisso. Somos apaixonados pelo que fazemos. Agora a parte das plateias ao vivo, as pessoas aproveitando o rock. Acredito que isso ainda não mudou. A qualidade da música comercial está no banheiro! Mas isso não significa que as pessoas que fazem esse tipo de música não continuam fantásticas. Elas simplesmente não têm mais as saídas que costumavam a ter.”
Slash em entrevista ao Manchester Evening News.
“Precisa menos de atos e fatos e coisas que celebrem um certo significado do estar vivo, do estar vivendo. Essa coisa de ter que compor muito, cantar muito, fazer muita coisa… Todas essas coisas vão desaparecendo. Eu quero menos, quero ficar mais quieto, naturalmente. Meu nome não precisa circular tanto por aí. Minha imagem não precisa circular tanto por aí. Não preciso que pensem muito em mim.”
Gilberto Gil, em entrevista a revista Serafina, do jornal Folha de São Paulo.
“Nós podemos usar a roupa que quisermos, podemos dizer o que quisermos, podemos ficar com quem quisermos, a hora que quisermos. Somos donas do nosso destino e estamos aqui para sermos felizes e nos sentirmos bem. O resto, meus amores, é só opressão.”
Pitty, em post publicado em seu blog, O Boteco, intitulado “Seu Corpo é Seu”, no qual defendeu Anitta, dona do hit “Show das Poderosas”
“Sou muito agradecido ao cantor de axé Ricardo Chaves, ele me fez testemunhar uma cena que me deu todo o gás pra querer fazer algo pela cidade e sua cena musical, eu explico: nos anos 90, havia um pré Carnaval na Av. Boa Viagem, 20 trios elétricos desfilavam na Avenida, de Pernambuco tinha Banda Pinguim, Versão Brasileira, André Rio e o axé chegando com tudo na cidade. Ricardo Chaves, não tinha carisma nenhum, cara de almofadinha, mas tinha um hit “vou te devorar crocodilo eu sou…”. Quando a porra do trio dele passava, eu via uma avenida inteira, bater os dois braços imitando a boca do jacaré e aquele som Tcha, tcha, me fodia! Eu achava deprimente, ver gente de todas as idades numa coreografia coletiva infantil. Até hoje, eu agradeço ter visto e vivido aquilo, me provocou. Eu pensei, não pode ser só isso.”
Paulo André, produtor do festival Abril Pro Rock, do Recife, em entrevista ao site AltNewspaper.
“Desde o século passado, se vê a mulher como objeto do desejo sexual. Prova disso é a ‘Garota de Ipanema’ (de Tom Jobim e Vinícius de Moraes), que naqueles tempos já cantava o corpo da mulher como objeto do desejo masculino. E é uma canção de MPB, não funk! Então, o sexismo é parte de nossa cultura há muito tempo. A liberdade feminina ainda é restrita. É feio a mulher cantar o que deseja, mas é bonito um homem chegar com uma letra de hip-hop dizendo que vai fazer uma festa que terá mulheres de bunda de fora e muito sexo. Para a mulher, é feio dizer que vai dominar um homem na noite. Para o homem, é fácil cantar colocando a mulher como objeto sexual.”
Valesca Popozuda, em entrevista à revista Época.
“O Youtube é o site que tem mais tempo de permanência por usuário, por mais que as pessoas entrem mais no Google, elas passam muito mais tempo no Youtube (por isso o Google comprou o Youtube). Então, o que eu vejo que é crime, crime mesmo, em toda essa “pirataria” é aquele cara que copia o seu disco de alguma maneira e vende aquela merda. O cara que tá lá no camelódromo e tem algum tipo de lucro com isso. Isso é um ladrão, é um cara que tá lá tendo lucro com o trabalho de outras pessoas. É uma sacanagem. O resto todo é bom. O streaming hoje em dia só ajuda, temos números de streaming do Google excelentes, gigantescos. Por menos que a gente receba lucro com isso, sei lá, 4 centavos, 10 centavos cada vez que alguém ouve nossa música, os números são tão grandes que acabam até virando dinheiro mesmo. Já está tudo muito bem resolvido, muito bem encaminhado. Eu já baixei muita música nessa vida, até por questão de pesquisa. É muito complicado ter acesso ao tanto de grana que seria necessário para adquirir tudo isso que está disponível por aí. Então a Internet serve maravilhosamente muito bem para isso.”
Jimmy London, vocalista do Matanza, em entrevista ao site Tenho Mais Discos que Amigos.
“Existe um momento musical muito precioso, muito poderoso, sem equivalentes, sem nostalgias. Não é como nenhuma outra coisa que já se viu… Cada um desses artistas novos é todo um universo riquíssimo.”
Filipe Catto, em entrevista ao site Eleven Culture.
“A música popular brasileira hoje está pobre e nivelada por baixo. Pobre de assunto, de letra, de melodia, de harmonia, de arranjo. É aquilo que a indústria, em crise, tentando sobreviver ao naufrágio, produz. É feio. Não é dessa água que a gente vai beber. Não é que as cantoras ou os cantores vão mal, mas é um cenário que não incentiva a busca do conhecimento, da qualidade ou da consciência do que você faz.”
Monica Salmaso em entrevista ao jornal O Globo.
“O pessoal vem sendo forçado a fazer qualquer coisa que apareça rápido e “monetize”. Isso mata a fertilidade. Por outro lado, por conta disso, à medida que lojas de discos morrem, que a ponte para as multinacionais vai ruindo, a internet começa a abrigar algo que ainda não é claro, mas que, como num asfalto abandonado que racha e é tomado pela floresta de novo, vai florescer em algum momento. Acredito na força da natureza das coisas, no poder do desejo de criar.”
Monica Salmaso em entrevista ao jornal O Globo.
“Eu acho que devemos utilizar nossas referências de forma saudável. Fui influenciado pelo tropicalismo, assim como o tropicalismo foi influenciado por outros sons que o antecederam. A questão é cíclica. Provavelmente, eu deverei influenciar alguém no futuro. Este sempre foi o ciclo da música popular. (…) Mas enfim, não podemos ter somente o tropicalismo como referência. E se esse for o caso de algum artista, que ele consiga ter um filtro que o permita a partir daí criar outras coisas. (…) Então, ao mesmo tempo em que reconheço que o meu som tenha influência do tropicalismo e de outros tantos movimentos e gêneros que me antecederam, quero, por vontade própria, estar distante deles. Eu, como artista, preciso apontar para novas direções. Não posso passar o tempo todo celebrando o passado. Eu não gosto disso.”
Lucas Santtana, em entrevista ao site Banda Desenhada.
“Eu acho realmente impossível de catalogar a minha geração. Sou diferente da CéU, que é muito diferente do Cidadão Instigado, que é completamente diferente do Hurtmold. Apesar de termos interseções, fazemos sons muito distintos. Aí eu te pergunto: como é que você vai catalogar? Eu não vou chamar o que faço de MPB. Não acredito que seja MPB. Você vai chamar o Curumin de quê?! A única coisa que talvez seja possível dizer é que tal som é um crossover de tais e tais coisas. Todos esses artistas têm uma liberdade enorme de criação, podendo fazer seus discos do seu jeito, sem nenhuma pressão de quem quer que seja. Podemos lançar um disco de punk rock e o outro ser de bossa nova! (…) Não é que eu não queira que cataloguem meu som, é que simplesmente eu não acredito nisso. Não é uma marra. Sinceramente, se alguém chegar até mim e falar “a sua música é isso”, e eu concordar, vou achar o máximo! Acho que todos nós vamos gostar disso! Mas até hoje isso não aconteceu. Não vejo problemas em chamar o meu som de pop, para mim está bom. Eu realmente acho que faço música pop, mas não concordo quando tentam classificá-lo de MPB. Não acho que o que eu faço é MPB.”
Lucas Santtana, em entrevista ao site Banda Desenhada.
“Hoje em dia o jabá é chamado de espaço publicitário. Você tem direito até a nota fiscal e tudo mais. É só pagar uma grana que você ganha um espaço de tantos minutos ao dia para divulgar a sua música, como se fosse um anúncio de sabonete! Todo mundo sabe disso.”
Lucas Santtana, em entrevista ao site Banda Desenhada.
“Não vejo problema nenhum nesse diálogo. E acho que isso só demonstra como essa geração que eu faço parte está crescendo e chamando a atenção. Um amigo que trabalha com artistas do mainstream chegou a falar comigo: “Cara, em termos de mercado, vocês estão numa ascendente, estão crescendo, já o popular deu uma estagnada”. Isso não aparece na mídia, mas artistas populares que levavam 15 mil pessoas para os seus shows, hoje em dia estão levando quatro mil com esforço. Este mercado saturou.”
Lucas Santtana, em entrevista ao site Banda Desenhada.
“Você deve ter ficado sabendo dos problemas com os serviços de streaming… O Tom Yorke e o produtor Nigel Godrich retiraram alguns discos do Spotify, alegando que recebiam muito pouco. Eles chegaram a comentar que esse esquema de streaming só está reproduzindo o que as antigas gravadoras faziam, servindo de intermediária e ficando com a maior parte da grana. Então, essa questão digital ainda é um problema, até mesmo para o mercado externo.”
Lucas Santtana, em entrevista ao site Banda Desenhada.
“A maioria das músicas de hoje é descartável, não tem o menor conteúdo para ficar na memória, então, com elas são fáceis… É a coisa do oba oba, da sacanagem para entreter. Na verdade, elas vão para a boca do povo porque são fáceis e porque são tocadas.”
Armandinho, em entrevista ao site Bahia Notícias.
“Eu tenho 100% de arrependimento. Arrependimento quer dizer: eu reconheço que eu estava errado e não faço mais isso. Jesus falava para as pessoas: vá e não peque mais. O que você fazia, não faça mais agora. Se você comparar minha vida hoje com a vida que eu tinha você vai saber do que eu me arrependi.”
Rodolfo Abrantes sobre suas letras na época dos Raimundos, em entrevista à revista Trip.
“100% arrependido” mas usufruindo 100% da sua parte dos direitos autorais e que não é uma “merreca” que ele gosta de falar para os desinformados… Se ele pode se dar ao luxo de sair de casa pra “trabalhar” e não receber nada, quem banca isso!? O Raimundos é claro, a sua eterna previdência privada, assim como o chamariz de seus testemunhos “Eterno Ex-Raimundos”.
Digão, guitarrista do Raimundos, respondendo no Facebook sobre o depoimento de Rodolfo à revista Trip.
“Cada canção no último álbum de Beyoncé tem ela, basicamente, parecendo uma vadia e ela não precisa fazer isso. Ela é linda e talentosa pra caralho. E todos tomam isso como libertação das mulheres!. Rihanna tem uma voz insana, ela poderia ter feito algo muito mais sutil e astuto.”
Theresa Wayman do Warpaint em entrevista à revista Q.
“Se for um artista muito talentoso, mas sem ‘estrela’, eu simplesmente não me interesso. Não gosto de trabalhar artistas só por trabalhar. Sempre busco o sucesso. É uma coisa que faz parte da minha realização. Eu quero isso. (…) Todo mundo quer fazer sucesso, todo mundo quer ganhar dinheiro, todo mundo quer sair com a mulherada e viver de música pelo resto da vida. Ninguém quer viver de música por um tempo e depois falir. Essa é a grande verdade. Eu busco sempre o sucesso. Faz parte da minha realização. Eu não gosto de trabalhar artistas só por trabalhar.(…) Todo mundo acha que é legal fazer sucesso, ganhar dinheiro, viver de música e ‘pegar’ mulher. Esse discurso de fazer música para não fazer sucesso não existe. Quem pensa assim se inspirou em quem? Se a banda mais underground do mundo chegou até você é porque ela fez sucesso.”
Rick Bonadio em entrevista ao blog Alt, do Estadão.
“Los Hermanos? São uns playboyzinhos lá do Rio. Essa coisa de ficar contando para as pessoas que nós fazemos tudo em prol da arte não cola comigo. É uma grande mentira. Todos querem mesmo é dinheiro e sucesso.”
Rick Bonadio em entrevista ao blog Alt, do Estadão.
“O próximo álbum é como o fim, fim, fim. A maneira banal de dizer isso é que estou farto do rock and roll. O que é estranho, porque o rock and roll está voltando para mim. No pop, existe esse estranho ciclo no qual você tem que ter uma consciência urgente do passado, constantemente, e isso mais leva você para baixo do que te coloca para cima.”
Billy Corgan do Smashing Pumpkins, em entrevista ao jornal The Wall Street Journal.
“Quer saber? Justin é um roqueiro. Cara, ele canta de verdade em seus shows, e a banda é uma banda de verdade, e ele toca bateria e ele é do caralho.”
Duff McKagan, ex-Guns’N Roses.
“Muita coisa incrível acontecendo ao mesmo tempo. Ebulição de coisas maravilhosas num oceano de conservadorismo. Linguagens livres e novas surgindo em meio a um marasmo cultural do mainstream, que ainda não ousa arriscar, que é preso numa lógica de consumo castradora. Resistência e ignorância dos grandes veículos midiáticos e daqueles que detêm o poder de comunicações de se abrirem pra tanto potencial que a música brasileira independente hoje tem. Mas o grande lance é a descoberta de que agora cada um faz o seu próprio circuito. Não precisamos mais de gravadora pra fazer nosso trabalho virar. Agora, quem faz música no Brasil precisa expandir seu espectro do que é fazer arte: não é só gravar um disco. É a maneira como você coloca esse trabalho no mundo. Vejo que existe um novo fluxo criativo, ainda no seu início. Seu crescimento é inevitável.”
Leo Cavalcanti, em entrevista ao site Já Ouviu.
“O Brasil sempre teve uma posição subserviente. Até hoje tem. Acho uma grande tolice esse negócio. “Ah, o Rod Stewart pediu 25 mil cuecas.” O Brasil é campeão nessa idiotice. As bandas brasileiras têm que se impor dentro desses festivais. Os gringos já sabem que é assim. Eles já chegam aqui botando banca, empurrando, botando para fora do palco. Acho que rola uma falta de respeito muito forte com as bandas daqui. (…) Lá a gente é tratado normalmente, como tem que ser. Aqui no Brasil, qualquer banda que não seja conhecida parece que não tem o direito de estar ali. Então falta um pouco sim de respeito, de quebrar esse provincianismo. Quando vem alguém falando inglês, fica todo mundo: “Ooh”.”
Lúcio Maia, guitarrista da Nação Zumbi, falando sobre a diferença de tratamento entre estrangeiros e brasileiros nos grandes festivais brasileiros em entrevista ao site G1.
“O Brasil tem uma tendência muito forte de virar as costas para sua própria identidade. Aqui no Sul existe um caguete horrível, que diz que tudo da Bahia para cima é “regional”. Pra mim, isso é um tema pejorativo. É de uma cultura que é própria de todo mundo que é daqui do Brasil. Quem tem a carteira de identidade e olhar lá em cima, vai ver assim: “Válida no território nacional”. Isso significa que essa cultura que a gente tem é de todo mundo, não é só minha não. Eu não toco maracatu porque eu sou pernambucano. Eu toco maracatu porque eu gosto da cultura brasileira. Do mesmo jeito que eu toco samba, do mesmo jeito que eu faço rock e gosto das outras coisas do resto do mundo. Eu acho que é meio chato esse tipo de relação (de chamar de “regional”).”
Lucio Maia, guitarrista da Nação Zumbi, em entrevista ao site Scream & Yell.
“Os artistas indie atuais, na avaliação do autor, não querem nada com o público. “Decidiram ser irrelevantes e foram para a Augusta e para os SESCs. Lá fora, as pessoas estão vivendo com uma trilha que esses caras não sabem o que é. É um esnobismo estéril”, diz, se referindo a nomes como Romulo Fróes, Marcelo Jeneci ou Emicida. “Se o SESC fechar amanhã, essa cena inteira acaba e todo mundo vai ter que arrumar emprego, o que vai ser difícil. Adoraria ver essa cena”
André Forastieri, crítico de música, em texto no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo.
“Tenho muito contato com a nova geração. Ficou mais fácil ainda, pela internet. Essa garotada se informa imediatamente. É maravilhoso, eles já nascem com os neurônios saltitantes.”
Jorge Mautner, em entrevista à Folha de São Paulo.
“Pra muita gente lá fora é isso mesmo, só rolou o Manguebeat aqui e pronto… Pra mim sempre aconteceu muita coisa aqui em relação à produção musical. O Udigrudi dos anos 70, por exemplo, eu acho o mais importante. Não culpo o mangue por ofuscar nada, pelo contrário, eles ajudaram a abrir os olhos de muita gente pras bandas de cá. Agora se nego ainda teima em ser míope, é ooouutra onda!”
Juvenil Silva, falando sobre a cena musical de Pernambuco e como ela é vista pela mídia de fora do estado em entrevista ao site Sirva-se.
“Não gosto de me sentir atrelado automaticamente a nenhuma posição ideológica. Sempre fui um rebelde em relação às esquerdas. Sou ainda. O mesmo para a direita. Serei sempre. Sou artista, supersticioso, sonhador. Minha cabeça vai longe num caminho que se esboce dentro dela. Não dá para me enquadrar.”
Caetano Veloso em entrevista a revista Brasileiros.
“E sei que a Bahia precisa mais do que ouvir um pito. Mas gosto demais do carnaval baiano – e de seu riquíssimo repertório de décadas, ao qual o próprio Risério deu contribuição pioneira – para reduzir tudo a isso. Pernambuco merece os elogios. Não sei é se essa opção pelo sério e pelo imediatamente respeitável condiz com a complicada visão crítica que desenvolvi desde o Tropicalismo. Gosto de axé-music intensa e profundamente. Mas Salvador está maltratada e inchada e com cara de quem não tem solução. Por isso mesmo, precisamos inventar as saídas. Para isso temos de lembrar que Wagner Moura, João Miguel e Lázaro Ramos nasceram da energia que vingou na cidade a partir da Escola de Teatro, assim como Ivete Sangalo surgiu da força que vem de Osmar, Dodô, Moraes, Armandinho, Luiz Caldas, Daniela Mercury, Ilê, Olodum, Malê, Chiclete com Banana ou Asa de Águia.”
Caetano Veloso em entrevista a revista Brasileiros, mostrando não ter a mínima noção das novidades musicais que acontecem na Bahia.
“Lobão está deslumbrado com os mimos da direita. Descobriu a pólvora. A narração feita por ele do que a mãe dele disse sobre os comunistas é patética. A ditadura militar foi coisa horrível e não deixou suficientes coisas úteis ao Brasil para que a gente tenda a perdoar seus crimes. Foi, como muita coisa ainda é, atraso latino-americano.”
Caetano Veloso em entrevista a revista Brasileiros.
“Há 30 anos vivemos no sistema axé music. Isso gerou uma máquina que envolve produtores, rádios, eventos e o próprio comportamento do público, que ficou muito acostumado em ter música apenas como entretenimento. Por isso é difícil desenvolver um trabalho em Salvador que tenha sustentabilidade e que saia de lá para o mundo. Mas isso não acontece só na Bahia, é difícil ganhar visibilidade nacional fora de qualquer outro lugar que não seja Rio ou São Paulo. Fico na esperança de isso mudar porque há muita gente produzindo coisas legais.”
Márcia Castro respondendo como avalia o atual momento da música baiana em entrevista ao site Colherada Cultural.
“Eu acho que o que acontece com a maioria das pessoas, eu incluso, é que você tem que fazer as coisas você mesmo. Há um momento em que as pessoas se deixam levar pelo lado empresarial, querendo se tornar imensamente populares e isso não é muito realista. E as pessoas percebem isso. Acho que o maravilhoso da cultura independente é que ela sempre vai existir, em algum lugar. E que o underground sempre vai ser um vasto território para a música. Eu vejo as pessoas reclamando que a música está chata, que não tem coisa legal sendo feita, mas acho que é mais provável que essas pessoas que reclamam não estejam procurando. Elas não se importam. Elas não se importam com o que os moleques de 23 anos de hoje em dia estão ouvindo. Elas não se importam se tem um galpão abandonado fora da cidade que recebeu um show que reuniu mil pessoas pra ver uma banda que ela nunca ouviu falar. Isso não quer dizer que não esteja acontecendo. Está e sempre estará. Sempre haverá comunicação entre as pessoas em um nível bem básico e debaixo de toda essa lógica comercial e empresarial. Sempre acontecerá e isso é impressionante.”
Lou Barlow, líder do Sebadoh, em entrevista ao blog Trabalho Sujo.
“O mais perto de que o ‘mundo artístico’ já chegou perto de abraçar o metal foi o punk. E a razão disso foi porque o punk é um lixo e a razão deles abraçarem o lixo é porque podem controla-lo. Eles podem dizer: ‘Ah sim, nós somos punk então nós podemos falar mal de todo mundo. Nós não sabemos tocar nossos instrumentos, mas isso significa que podemos fazer uma grande performance artística de toda essa coisa’. Metade dessas crianças que estão em bandas punk estão rindo do ‘mundo artístico’: ‘Que bando de idiotas. Muito obrigado, passe o seu dinheiro e nós vamos gastar tudo em pó e sexo’. Mas o que eles realmente queriam era estar em uma banda de heavy metal, rodeados de estrelas pornô.”
Bruce Dickinson, em entrevista ao jornal The Guardian.
“O rock, sobretudo o americano e o inglês, sempre foi mais ligado aos movimentos libertários individuais do que os coletivos. A meta da música foi te levar a usar roupas, drogas e fazer sexo da forma que você quiser, no seu individualismo. O rock foi interessante pra caramba, revolucionou os costumes, mas ele continua desligado do meio social e dos problemas coletivos. Minha postura pessoal não é essa do rock.”
Leoni, em entrevista ao site Diario Centro do Mundo.
“Na era da internet, a gente pode fazer a nossa própria música. A represa das gravadoras se rompeu. Tem gente fazendo de tudo no Brasil. Cada cidade tem uma cena musical interessante e própria. Antigamente a coisa era mais concentrada no eixo Rio – São Paulo. O Brasil é grande e as pessoas sequer conhecem o mínimo. O músico de hoje também não precisa agradar muita gente, mas chamar atenção é mais difícil. Não dá pra ouvir tanta gente talentosa junto, e muitos acabam passando desapercebidos. O negócio da música pode ir mal, mas a música em si vai muito bem.”
Leoni, em entrevista ao site Diario Centro do Mundo.
“Nós fomos criados no meio do improviso. Nossa água, nossa luz, nosso esgoto foram improvisados. Esse improviso se reflete na música. O funk tem uma influência de batida norte-americana, mas o restante é tudo nosso. O frevo tá ali. Moleque dança frevo, mas chama de passinho. Em cima de tambor de macumba. A ciranda de roda tá ali, na forma como a gente canta [cantarola “eu só quer é ser feliz”]. É uma cultura nacionalizada mesmo, todas as culturas do Brasil se entranham no funk.”
MC Leonardo, em entrevista a revista Brasil de Fato.
“A minha geração, que surgiu no final dos anos 70, e a que me antecedeu são de altíssima qualidade, há um padrão das arquiteturas musicais, em todos os estilos, principalmente no que se chamou MPB. Não vejo uma sequência de geração com a mesma qualidade. Os próprios mercados sertanejo, de pagode e de música baiana transformaram-se em desesperados autores à procura de um espaço para tocar suas músicas malfeitas e com letras chinfrins. Estou falando isso porque você me perguntou, não ando dizendo essas coisas de graça.”
Zé Ramalho, em entrevista ao jornal Estado de São Paulo.
“A opinião das pessoas está mais visível hoje e todo mundo acha que tem o direito de falar sobre qualquer coisa, e há comentários bons, mas há outros em que fica perceptível que existe um não conhecimento da coisa, ou um mau humor, ou mesmo um preconceito. A pessoa lê o título da matéria, vê a foto, mas não leu a matéria e já tem uma opinião. Viu o trailer e já disse que o filme é uma porcaria, sabe. E essas pessoas vão se envenenando. É um rancor. E a gente não pode ter uma atitude de embate porque se batemos de volta… é um terror. Qual a saída? Ter bom humor, eu acho. E diálogo. Quando você responde de uma forma educada, a pessoa se surpreende. É praticamente educar. Eu tenho filha… e ela precisa de informação…”
Fernanda Takai, em entrevista ao site Scream & Yell.
“o Pato Fu é uma banda que não tem um caminho que serviu para outro e servirá pra gente. Acho que muito artista novo devia pensar assim. Eles perguntam: como eu faço? E eu respondo: você vai ter que descobrir porque não adianta falar o que eu fiz… (o mundo) mudou, e as coisas que apareceram nas minhas encruzilhadas não vão aparecer para você. Não dá para falar “faça isso ou faça aquilo”. Claro, você tem que fazer musica boa. E achar o seu público, o público da vida real. Sempre falei isso! Gosto muito da internet, mas você precisa ter um público na vida real, que é de onde você vai viver. Ou você precisa ser um cara esperto que vai licenciar a sua música pra determinada coisa que vai te dar uma renda, ou vai produzir pra cinema, ou pra publicidade… você tem que dar um jeito de viver de música se é isso que você quer. Mas não dá para ficar apenas em frente ao computador fazendo música. Tem que ter a interface humana… ainda.”
Fernanda Takai, em entrevista ao site Scream & Yell.
“A pergunta que não quer calar: porque as cantoras e os cantores não se relacionam com os compositores? Saibam: desde que, no final dos anos setenta, quando Elis me chamou para ouvir minhas músicas inéditas , NUNCA mais mostrei meu repertório de compositor pra alguém? As vezes pedem uma música por telefone, via editoras. Ficou impessoal. Existe uma nuvem constrangedora entre autor e interprete. Também não conheço produtor algum. Sei que a maioria deles manipula repertórios e em alguns casos exige parceria. Será que entre todas as músicas que fiz e moram na memória do meu computador, não existe pelo menos uma que sirva para alguém? Fiz Romaria e Tocando Em Frente, entre outras, e continuo com um baú de inéditas que nunca algum interprete importante se interessou em conhecer. Nem meus amigos sertanejos se interessam em saber. Vão acabar buscando repertório no The Voice. Lamento.”
Renato Teixeira, em publicação feita em seu perfil no Facebook.
“Esse termo, “neotropicalismo”, é muito genérico. Claudinho & Buchecha é neotropicalista assim como a gente é neotropicalista! Todo mundo é fruto desse diálogo que a tropicália teve com o rock e a música de vanguarda. Seria leviano dizer que a gente não é neotropicalista! A gente é, pô! Até a minha mãe é neotropicalista!”
Gustavo Benjão, da banda Do Amor, em entrevista ao site Banda Desenhada.
“(…) A grande maioria é uma bela porcaria, não tem nada de rock. Muito batonzinho e frescura… musiquinhas de melodias… EMO pagando de roqueiro não dá, isso não é rock. Muito garotinho se preocupando com visual, e som pesado mesmo não tem nada. Rock é peso e atitude, e são pouquíssimas as bandas que tem esta essência”
Max Kolesne, baterista do Krisiun, em entrevista ao site Batera.
“Eu acho que não só a comunicação, mas as próprias comunidades se formam sob uma de duas características: a inclusão ou a exclusão. E eu não tenho dúvidas de que é muito mais trabalhoso e desgastante ser inclusivo do que ser exclusivo. Uma das características mais marcantes das comunidades exclusivas é o sentimento de que somos ‘escolhidos’ e comungamos de um nível incomum de esclarecimento e benefício. ‘Bom gosto’ é o que esse grupo exclusivista entende como belo, baseado em um entendimento de cultura que, acredita-se, só esse grupo tem. É cruel definir ‘bom gosto’ no Brasil por sermos um país tão partido. O significado real é a contraposição entre a elite e a ralé, é a aculturação das diferenças de classe no Brasil”.
Ricardo Alexandre em entrevista a revista e site pernambucano Outros Críticos
“Confesso que não estou muito otimista em relação aos rumos da cadeia produtiva da música e da cultura geral. Duvido muito que um disco produzido hoje, por mais ousado que seja, consiga vencer o niilismo reinante e continuar como referência por décadas.”
Fred Zero Quatro, em entrevista ao jornal Correio do Povo.
“Não deveria ser. Por exemplo, se eu fosse um sambista, viveria de arte sem muita dor de cabeça, arte pela arte, e é muito respeitável por sinal, tá ligado? Como é o Fundo de Quintal, o Zeca [Pagodinho], o Revelação. São muito respeitáveis e não vivem nessa rota de colisão com filosofia. Eles vivem filosofias próprias, não deixaram que ninguém se apoderasse deles. Eles não quiseram ser a luz da humanidade. Houve ali um momento que foi colocado que o rap que tinha que ser a luz da quebrada, a luz da periferia, a luz dos caras. Uma coisa que veio de fora para dentro, que não foi denominada por nós. A mídia falou, a imprensa falou, os fãs falaram. Eu sempre gostei mais de ser o bandido do que ser o líder nas minhas músicas. Mais como um ombro do que como um mentor. Nada de ser mentor, sempre quis ser ombro, braço. Sempre quis ser braço.”
Mano Brown respondendo se viver de arte é sofrido em entrevista a Revista Cult.
“O rap é só uma classe e eu não sou a favor de defender classes. O rap tem que servir e não ser servido. A gente não pode esperar, por exemplo, que quando o cara do rap chega lá em cima, que ele vá olhar para baixo e começar a ajudar. Não tem nada a ver! Não pode ser assim, não deve ser isso. Tem que ser forte o bastante pra chegar lá também. Não é chegar lá em cima e olhar para baixo para resgatar. Já está no trabalho, normalmente, o resgate.”
Mano Brown respondendo se viver de arte é sofrido em entrevista a Revista Cult.
“A axé music surgiu do sucesso de Luiz Caldas. E não me interessou mais por causa da qualidade intelectual da poesia que desenvolveram a partir daí, uma coisa pequena. Aí vem Caetano, irresponsavelmente, dizer que a grande revolução baiana é o Psirico. Marcio Victor é um grande instrumentista, mas o tipo de música que ele faz não é. A axé music tornou-se repetitiva, feita para ser vendida em feira, como se vende banana no megafone.”
Roberto Sant´Ana em entrevista à revista Muito do Jornal A Tarde.
“Há fórmulas para se fazer letras, seja usando jogos de rimas, como mim, enfim, assim e fim, seja palavras terminadas em ão ou apenas através de verbos, o que torna muito fácil fazer letras, é um jogo de cartas marcadas. Pega-se uma das inúmeras alternativas românticas e faz-se letras armadas em cima delas, sem qualquer inspiração verdadeira. Pode ser em cima de amor não correspondido, amor correspondido, abandono de amor, volta do amor, solidão etc. Enfim, situações que todo mundo atravessa de uma forma ou outra. Um grupo de amigos reunidos numa mesa de bar pode fazer 10 letras dessas em meia hora”.
Jamari França em entrevista a revista e site pernambucano Outros Críticos
“A conexão entre a África e a América Latina é bem profunda principalmente por causa da manipulação política que houve nos anos 70 e também no que diz respeito ao que está ocorrendo atualmente, mesmo que a América Latina esteja à frente da África. Então pra mim é sempre interessante vir ao Brasil e ver como as coisas funcionam por aqui. A mistura de culturas, os afrodescendentes que estão aqui dando continuidade à nossa cultura – até mais do que na África.”
Seun Kuti, músico e filho de Fela Kuti, em entrevista ao site Radiola Urbana.
“Há bons rappers no mundo todo, mas não no mainstream. Eu não vejo mensagens positivas vindo do rap mainstream. Esse tipo de rap promove a liberdade, mas que tipo de liberdade? Liberdade individual. A liberdade individual é muito fácil. É a liberdade de gastar o seu dinheiro da maneira que quiser, falar com seus pais da maneira que quiser, comer quantas mulheres quiser, mandar seus fãs se foderem, dizer que não podem ter a sua mulher. Isso é liberdade fácil. É fácil pra qualquer um, você não precisa ser uma grande pessoa pra transmitir esse tipo de conhecimento. O rap mainstream não ajuda a promover a verdadeira liberdade comunitária, que une as pessoas para dividir o seu sofrimento, que não fale só sobre como gastar o seu dinheiro, mas sobre como assegurar que a comunidade tenha uma voz, que inspire a comunidade. Essa é a liberdade do povo, uma ideia coletiva. (…) A música deve inspirar as pessoas a quererem se unir, e não se separar. Porque eu acredito que a música mainstream hoje, como eu disse, encoraja apenas a liberdade individual, de pessoas que querem mostrar o quanto são diferentes de seu próprio povo. Ela faz as pessoas acreditarem que têm de avaliar suas vidas pelas suas posses, pelas coisas que elas têm – o tamanho do seu carro, da sua casa.”
Seun Kuti, músico e filho de Fela Kuti, em entrevista ao site Radiola Urbana.
“Não adianta se conectar pelas redes sociais, você tem de começar a se conectar fisicamente também. As organizações não podem depender das mídias sociais – acessar um link e dizer “sim”, assinar uma petição online. Não. As pessoas também precisam sentar, conversar por horas, compartilhar ideias e chegar às soluções. É assim que as coisas são feitas. Eu não acho que o Lula, quando estava tentando criar o partido dos trabalhadores aqui no Brasil, iria às redes sociais para criar uma petição. Havia encontros que duravam 20 horas, pessoas brigavam, se reconciliavam, as ideias iam rolando, e isso é o que está faltando ao movimento hoje. As pessoas hoje querem as coisas rápido. Digitam no Facebook, protestam por uma semana e fica tudo bem. Não é isso. Você não precisa protestar, você precisa organizar. Sentar, se encontrar pessoalmente. Não só com pessoas da sua região, mas em todo o mundo. Ir ver como as coisas em que você acredita afetam outras pessoas e pensar em como chegar às soluções. Isso é o mais importante.”
Seun Kuti, músico e filho de Fela Kuti, em entrevista ao site Radiola Urbana.
“Gosto dessa ideia, de que a arte, de alguma forma, te mobilize, te comova, que faça você sair do seu lugar de conforto, que tire a sua cabeça do lugar. A arte tem isso, não é? De dar uma nova visão, ampliar a percepção sobre algo. É isso o que eu busco.”
Juçara Marçal em entrevista ao site Banda Desenhada.
“Acho que se o futuro que Duchamp vislumbrava chegou (que o verdadeiro artista do futuro teria que viver à margem), ele se caracteriza principalmente por embaralhar essa divisão, essa forma de visualizar o panorama artístico. Prova disso é a gente ter concorrido com Caetano Veloso e Guilherme Arantes na categoria “Melhor disco” em um premiação como a do Multishow! Esse fato é surpreendente e, ao mesmo tempo, esperado, pois vivemos em um tempo em que as notícias correm por outras vias. As margens que dividiam os “de fora” e os “de dentro” são mais porosas, graças à internet e às redes sociais. O prêmio que ganhamos no Multishow, “Música compartilhada”, é algo que precisou ser criado pra dar conta de uma demanda, de uma efervescência artística que não pode mais ser ignorada. Na época do Itamar, por exemplo, era terrível! Era como se ele não existisse! Como se dissessem: “Se você não seguir as regras do mercado, está fora.” Hoje, esse comportamento não se sustenta! Jornalistas, críticos e artistas que não olharem para o que acontece fora da considerada “mídia tradicional” estão fadados a perder o bonde de uma maneira categórica! A pulverização da mídia com o surgimento da internet e das formas alternativas de se falar de música e de arte em geral, como os blogs, os podcasts e as fanpages, possibilitou uma capacidade de circulação que os alternativos dos anos 80 não tiveram. Então, o termo underground, de repente, soa ineficaz! A gente faz tudo, ou quase tudo, por nossa conta, sem produtor, sem manager, sem mecenas, sem investidor… Quebramos a cara várias vezes, mas vamos aprendendo com os erros e, principalmente, vamos para todos os lugares com o trabalho do jeitinho que a gente pensou, sem interferências externas. Isso é muito compensador. Onde quer que a gente vá, seja no interior do Paraná ou em Paris, sempre há um bando de malucos como nós, ligados no nosso movimento e se identificando com ele. Uma adesão que se faz pelo simples fato de o cara procurar, achar, curtir e pronto, sem fórmulas de marketing e sem jabá.”
Juçara Marçal em entrevista ao site Banda Desenhada.
“O rock está finalmente morto. A morte não aconteceu por causas naturais. O rock não morreu de velhice. Ele foi assassinado.”
Gene Simmons, baixista do Kiss, em entrevista ao Esquire.
“É muito triste para as novas bandas. Eles simplesmente não tem chance. Se você toca guitarra, é quase impossível. É melhor você nem aprender a tocar uma guitarra ou a compor músicas. Apenas cante no chuveiro e faça testes para o The X Factor. E não estou xingando o The X Factor ou os cantores pop. Mas onde está o novo Bob Dylan? Onde estão os novos Beatles? Onde estão os compositores? Onde estão os criadores? Muitos deles agora tem que trabalhar nos bastidores, se apoiando em produções com caráter pop para poder escrever as coisas das quais gostam”.
Gene Simmons, baixista do Kiss, em entrevista ao Esquire.
“A arte já era. E isso é o que, em parte, a tecnologia tem nos trazido”, diz o baixista do Kiss. “Qual é o próximo Dark Side of the Moon? Agora que a indústria de discos sobrevive com dificuldade, eles não teriam a chance de fazer algo como aquilo. Há uma razão para que, além dos usuais gigantes do top-40, parte dos maiores grupos em turnê são velhos, como eu”.
Gene Simmons, baixista do Kiss, em entrevista ao Esquire.
“Sinto que o compartilhamento de arquivos começou predominantemente com jovens de uma classe média branca, que se viram no direito de ter algo de graça, porque é assim que eles foram acostumados. Se você acredita no capitalismo – e eu acredito no capitalismo de livre mercado – então o outro modelo é um caos. Ele destrói a estrutura”.
Gene Simmons, baixista do Kiss, em entrevista ao Esquire.
“Todo o meu lance sobre a música é: se alguém está fazendo dinheiro, então o artista deveria ganhar uma parcela justa disso. O dono do Spotify tem uns US$3 bilhões. Ele é mais rico que o Paul McCartney, tem 30 anos e nunca compôs uma música.”
Patrick Carney, baterista do Black Keys, em entrevista ao Seattle Times.
“Não é uma canibalização de um faturamento que existe hoje. As pessoas não estão deixando de comprar CD ou fazer um download para usar o Spotify. Pelo contrário. Por não ter que pagar por cada álbum ou single que vai se escutar, você terá mais experiências, e conhecendo mais, irá a mais shows, comprará mais artigos relacionados à música e, eventualmente, dará mais downloads, que é o que aconteceu na Suécia, onde 70% do faturamento da indústria já vem do Spotify. O argumento é, sem dúvidas, esse: a gente monetiza algo que não era monetizado antes.”
Gustavo Diament, diretor do Spotify, em entrevista à revista Rolling Stone.
“A gente ainda está no começo do mercado de streaming no mundo. Está começando. É um modelo de negócio novo, que remunera diferente, que fala de ‘long time value’, que as pessoas ainda precisam entender mais como funciona. O que precisam entender – e muita gente já entende – é que este é um faturamento incremental para a indústria da música. E que o que fazemos é um trabalho muito sério de relacionamento com esses artistas, gravadoras e distribuidores de conteúdo, para que cada vez mais pessoas conheçam e abracem esse modelo.”
Gustavo Diament, diretor do Spotify, em entrevista à revista Rolling Stone.
“Os rótulos, movimentos, estilos, tudo que organizou a música popular no século XX, perdeu força após o advento da internet. É impossível catalogar a música que é feita hoje. O apego ao temo MPB, que ainda persiste para satisfazer aos nostálgicos de plantão, não é mais capaz de abrigar toda a música feita hoje no Brasil.”
Romulo Fróes em entrevista ao site AltNewspaper.
“Sucesso para mim é fazer a música que você acredite e encontrar pessoas que entendam, gostem e apoiem seu trabalho, sem que para isso você precise ceder, modificar, negociar com ninguém, a construção de sua carreira. Sucesso para mim é conseguir trilhar o caminho que você escolheu seguir com sua música! Sendo assim, não posso reclamar de absolutamente nada!”
Romulo Fróes em entrevista ao site AltNewspaper.
“O funk é de origem nobre, hackeamento tecnológico da periferia: miami bass via electro novaiorquino via Kraftwerk via Stockhausen. Quando você vê umas dançarinas com música altamente abstrata, com um ritmo linear gerado eletronicamente e quase nada de melodia e harmonia (poperô) no Faustão, você está num pesadelo que o Kraftwerk teve em meados da década de 1970. O discurso do ‘gosto’ disfarça um forte componente de classe. Na verdade, o gosto das classes médias mais altas é muito mais piegas e desinteressante do que o da periferia: o funk é o punk dos pardos.”
Alex Antunes, músico e jornalista, em entrevista a revista e site pernambucano Outros Críticos
“O segredo é cada artista saber que pode ter seu momento de baixa, mas se manter firme e respeitar seu repertório. Existem grandes chances de ele se tornar grande novamente em algum momento. Já vimos isso acontecer com as bandas dos anos 80 que desapareceram entre os anos 90 mas voltaram e hoje estão firmes”. Mas de um modo geral a arte no mundo tem se tornado cada vez mais fugaz. Nossos ídolos eram mais duradouros. Acredito que isso se deva ao advento da internet que torna o acesso a tudo muito rápido e consequentemente acaba cansando rápido também.”
Rick Bonadio falando sobre a baixa das bandas “coloridas” em matéria no UOL.
“Todos os que me procuram para produzir álbuns escutam o mesmo quando falo de mercado: acabou esse negócio de gravar uma demo corriqueira na esperança que um empresário ou gravadora vão ouvir, se encantar ou contratar. As gravadoras sumiram, e não há muitos empresários interessados ou competentes para trabalhar direito uma banda. Agora é catar no laço o seu público, aproximar-se do fã e mostrar que sua música é boa.”
Edu Falaschi, vocalista do Almah e produtor, dono do estúdio Do It!, em São Paulo, em matéria sobre bandas covers no site Combate Rock.
“A música é invisível. Ela não existe materialmente, ou só os físicos digam que ela exista. Mas ela não é para estar em um lugar físico. A música é para estar no ar. Você tem de ter acesso a sua discoteca. É algo para se pensar. A rigor, música não é para ser vendida porque ela não é uma coisa. Sobre o momento que está acontecendo, acho que as gravadoras demoraram um tempo demais para se integrar a questão da música digital, agora elas têm de negociar com quem se adiantou. Sou autor e acho que o direito do autor tem de ser mantido porque muitos autores não são os que ganham dinheiro, que são os que se apresentam. Me preocupa a coisa do direito autoral, não por mim, porque eu me sustentaria com os meus cachês de shows, mas não posso menosprezar isso. O Aldir Blanc, ganha como autor. Ao mesmo tempo, vivemos em um mundo dinâmico e isso pode ser mudado também. Ainda estamos na pré-história digital. Estamos em uma evolução em que vai existir uma sociedade informatizada com novas regras e novas maneiras de se pagar ao autor e manter o cara que cria. Se você manter só o cara que canta, e não o que cria, ele vai cantar o quê?”
Paulinho Moska, em entrevista a edição brasileira do jornal El Pais.
“Eu sou como qualquer brasileiro, a gente é educado achando que somos superiores. A gente pensa que o argentino é o gringo, é nosso inimigo na Copa do Mundo, os chama de bandalheiros; que o Paraguai só tem produto falso, e qualquer coisa falsificada é paraguaia; que a Colômbia só tem traficantes de cocaína; os peruanos e os chilenos com suas flautinhas andinas. Ou seja, de colocar, equivocadamente, a América do Sul como uma coisa muito menor. Cresci ignorando a língua espanhola. Tudo colaborava para uma criança nascer e um jovem crescer como qualquer outro jovem, com um preconceito. Era uma ignorância.”
Paulinho Moska, em entrevista a edição brasileira do jornal El Pais.
“Meu grande objetivo como jornalista foi sempre jogar luz em coisas bacanas que estavam obscuras, trazê-las ao público, sem gastar tempo e espaço esculhambando pessoas, fazendo exerciciozinhos de poder. Esses jornalistas que tentaram fazer carreira assim não sobreviveram. Os artistas sobreviveram. É um exercício vão. Sempre caguei pro poder. Sempre lutei por liberdade e independência. Poder e dinheiro nunca foram meus objetivos.”
Nelson Motta, em entrevista ao site do jornal Zero Hora.
“Tenho horror de nostalgia. É o que mais envelhece”
Nelson Motta, em entrevista ao site do jornal Zero Hora.
“Eu não sei o que aconteceu com os meios de comunicação na década de 1990, quando resolveram boicotar (a música instrumental) até agora. Eu contratei uma assessora de imprensa pra divulgar esse show de 50 anos, ela entrou em contato com a Globonews, que tem um programa chamado Studio I. Ela mandou o disco e depois ligou para a pessoa responsável e o cara respondeu pra ela: “a gente não toca música instrumental no nosso programa”. Olha isso, por quê? Eu queria saber a razão. A mesma coisa acontece naquele programa Altas Horas. Como é que a gente pode desenvolver um trabalho se os meios de comunicação são contra? Eu lembro que até a década de 1990, o Cama de Gato fazia show em televisão. Fomos na TV Manchete, Globo. Por incrível que pareça acabou, as pessoas falam uma pérola dessa que não tocam música instrumental?! Por que? É uma música criminosa? É um crime tocar musica instrumental?”
Pascoal Meirelles, baterista, compositor e arranjador, em entrevista à revista Brasileiros.
“Você sabe, eu dormi com vários caras da indústria [musical], mas nenhum deles me ajudou a conseguir contratos para os meus discos. O que é irritante”.
Lana Del Rey, entrevista à revista Complex.
“Não sei o que vocês chamam de cultura alternativa aqui no Brasil, mas nos Estados Unidos, por exemplo, a palavra “indie” tomou conta no sentido de nomear o que é novo, cool. Se você quiser ser cool, vai se chamar de indie. “Alternativo”, até o meio dos anos 1990, era meio que esse tipo de termo, mas aí a palavra foi cooptada por um monte de coisas que não tinham absolutamente nada a ver com estar fora do padrão. Virou um rótulo, e aí invalidou tudo. Nos Estados Unidos, acho que hoje “Alternativo” deve ser uma estação de rádio via satélite que toca música de merda dos anos 1990. Particularmente, não tento levantar a bandeira alternativa no momento. Nunca me identifiquei, mas, no começo, significava algo. Não era necessariamente um estilo musical.”
Trent Reznor, líder do Nine Inch Nails, em entrevista à revista Rolling Stone.
“Pensei muito, muito, muito sobre o modo como as pessoas consomem música. Parcialmente, por conta da necessidade de me manter vivo sendo músico. Nos últimos dez anos, vimos o negócio da música mudar. E não foi tudo para pior, foi algo bom de diversas maneiras. Mas o que me preocupa é que agora é tudo em torno do acesso. Quando eu era jovem, as pessoas investiam em discos. E os discos que você comprava, escutava, porque você não tinha 10 mil discos – você tinha 20, 50, 100, 500. Se eu comprasse um disco, eu ouvia; se não gostasse, ouvia mesmo assim, porque eu tinha comprado, e não tinha todo o dinheiro do mundo. Nesse processo, aprendi muito. Houve muitos álbuns que eu comprei que não entendi de primeira – Remain in Light, do Talking Heads, e Sandinista!, do The Clash, são dois que me vêm à mente agora. A primeira vez que ouvi esses discos, pensei: “Não estou entendendo”. Mas depois de escutar algumas vezes, fiquei intrigado; depois de escutar dez vezes, meu cérebro cresceu. Aprendi por meio desses discos. E hoje, agora que todo mundo tem acesso a tudo, ouvir música é algo menos prioritário, é algo que você faz enquanto checa seus e-mails. Quando você tem toda essa música disponível, acaba não passando muito tempo com coisas específicas. Aquele álbum que você não entendeu, provavelmente não vai ouvir de novo, vai simplesmente pular para o próximo. Esse lado eu acho prejudicial. Acho que isso muda o processo de como algo se torna popular e como as pessoas se sentem em relação à música, porque elas dedicam menos tempo à música. Elas têm mais acesso, mas gastam menos tempo. Não posso mudar isso, nem estou tentando mudar, estou apenas observando o panorama. E, como artista, penso em como posso fazer com que a música chegue às mãos das pessoas de maneira que elas realmente ouçam. Tento fazer isso com integridade. Enfim, são coisas a se pensar.”
Trent Reznor, líder do Nine Inch Nails, em entrevista à revista Rolling Stone.
“Não existem mais letras irresistíveis, especialmente na música pop. Até fazem música para ser recebida como poética, intelectual ou artística, mas não é isso. É a ideia de comunicar um pensamento, um sentimento ou todos esses elementos juntos.”
Matt Shultz, vocalista do Cage the Elephant, em entrevista à revista Rolling Stone.
“Não sou exatamente uma pessoa pública. Eu meio que sinto falta dos velhos tempos, em que um artista dava seu trabalho ao mundo e isso era o suficiente. Já li provavelmente uns dez romances de Graham Greene, e não tenho ideia de como ele é fisicamente. Não tenho preciso saber se ele foi casado ou em que cidade morou. Nunca nem pensei nisso.”
Chrissi Hynde, em entrevista a revista Rolling Stone.