Já percebeu como existe uma nova música pop dando as cartas no mundo de hoje? Gravadoras perdidas? Internet? Livre possibilidade de criação? Novos produtores? Escolha uma ou reúna as opções. O fato é que a música pop mundial vive um momento fértil. Tudo bem. Não é tudo. Esqueça as armações que infestam as rádios. Os exemplos positivos é que vão contar agora e serão lembrados no futuro. O disco de estréia da inglesa de apenas 21 anos, Lilly Allen, é um bom exemplo. Classificam sua música como pop-rock, mas tem isso e tem também rap, reggae e outras coisas que ao se ouvir se percebe. Bom humor, climinha de festa, letras bem sacadas e um dos bons discos do ano. Música pop para tocar na rádio sem parar e agradar desde a dona de casa e sua secretária até a filha e o filho saindo para curtir a noite. É por ai também o som dos nova-iorquinos do Scissor Sisters. Pop sem vergonha e dos bons. Aqui com outras referências – tecladinhos, pista disco dos anos 70, um clima andrógino e certeza de sucesso na pista. Quer mais? O que é o Black Eyed Peas e sua musa Fergie senão uma reunião de referências bacanas a base de uma produção caprichada e bem sacada e a seção rítmica criativa do rap? Você leu bases, produção e rap. Deveria se remeter diretamente a Danger Mouse (foto). Foi ele quem recriou o “Álbum Branco” dos Beatles à base de rap (não ouviu ainda?). Foi ele também quem produziu o segundo disco do Gorillaz, outra faceta desse novo pop de qualidade que ronda por ai. Mouse trabalhou ainda com outros nomes até se juntar a Cee-lo e criar o Gnarls Barkley. Outra mistura de referências diversas para resultar num rap-soul-pop-underground de primeiríssima.
Molho à base de rap
Muito dessa nova música pop é guiado por gente que saiu do ambiente do hip hop e da eletrônica. Além de Mouse, entre outros, se destacam Mirwais [que já produziu Madonna], James Murphy [LCD Soundsystem], Will.i.am [do Black Eyed Peas, que virou parceiro de Sérgio Mendes e pode produzir Michael Jackson] e Timbaland [que botou tempero em trabalhos de gente como Justin Timberlake e Nelly Furtado]. Mais produtores do que músicos, eles têm gerado essa nova música pop, que está voltando ao patamar de tempos atrás. Produções caprichadas, arranjos criativos, bom uso de batidas e efeitos eletrônicos, melodias grudentas sem ser irritantes, grooves e assimilação de diversas sonoridades, sem importar estilos ou a pose. Eles, ao lado Beck, Basement Jaxx, 2 Many Djs, Rapture e tantos outros, comprovam que as fronteiras entre gêneros vão se quebrando e vão dando um novo rumo ao pop.
Sem limites
O bacana de tudo isso é que, como não se criam mais modas tão facilmente quanto antes, também não é preciso mais dizer que para algo estar em evidência, algo tem que deixar de ter relevância. Se o rap e pop estão em grande fase, ninguém precisa dizer que o rock acabou ou que a eletrônica passou. Há novidades espalhadas em todos os nichos. Está tudo livre e sem fronteiras, um universo alimentando o outro e todos convivendo entre si. Bom para a música.
Para lembrar
Nos anos 80 a música Pop como gênero dominou o mundo com músicas calculadas para o sucesso, cheias de refrões, muita produção e forte trabalho na imagem dos artistas. Os baluartes na época eram Michael Jackson e Madonna. Anos depois, a sujeira do grunge varreu aqueles sons bem comportados e limpinhos e que já não viviam seu auge criativo [vareu mais ainda a onda rock farofa que assolava o mundo]. Rock vai, eletrônica vem, o mundo assistiu alternâncias de estilos dominando as paradas. Michael perdeu o trono, Madonna continuou soltando bons hits, mas com menos freqüência e a música Pop deixou de ser relevante como um gênero e virou sinônimo de música feita apenas com preocupação comercial e sem nenhum cuidado criativo [como quase tudo na indústria]. Após as misturas de ritmos e estilos nos anos 90, os anos 00 já estão sendo marcados pelo aprofundamento dessa mistura de ritmos e fim das fronteiras sonoras. Mash-ups misturam o nome mais pop que você conseguir imaginar com aquela banda de rock tradicional e careta. Beatles e rap convivem numa mesma faixa, assim como reggae e Radiohead.
Beatles re-produzidos
Quem tem menos de 36 anos nunca presenciou o lançamento de um novo disco dos Beatles. É mais ou menos isso que está acontecendo com o lançamento de “Love”, feito para o Cirque du Soleil. O álbum não traz músicas inéditas do quarteto, mas reúne, sob a produção de George Martin, várias canções retrabalhadas, misturadas e algumas produzidas com o conceito dos mash-ups [idéia saída do rap com trechos e bases de músicas diferentes juntas numa mesma faixa].
O que vem por ai
Não só os Beatles se “aproveitam” desse momento movido a tecnologia e misturas. O velho Michael Jackson espera voltar aos bons tempos e retomar o trono deixando a produção de seu próximo disco nas mão de Will.i.am, que pelo que anda falando em entrevistas quer abalar as estruturas do mundo pop com o trabalho. O disco já está sendo gravado. Antes de soltar o álbum, Jackson volta às lojas na caixa “Visionary – The Video Singles”, que inclui 20 singles e seus respectivos clipes em formato dual disc. Já Madonna nunca enfrentou grandes problemas como Michael. A ainda rainha do pop continua mostrando que está em cima. O álbum “confessions on a Dance Floor”, lançado no ano passado, liderou a parada de mais vendidos em 40 países, ajudando a cantora a bater outra marca, a de recordista em arrecadação de uma artista feminina em shows. A turnê da cantora faturou US$ 193 milhões em 60 shows vistos por mais de um milhão de pessoas, superando a recordista anterior, a cantora Cher. Madonna, porém, não quer perder o trono [até porque as jovens concorrentes vem mostrando que não têm tanto fôlego] e já engata um próximo trabalho se cercando de gente boa. Ela já convocou Agnetha Galtskog e Frida Lyngstad, a parte feminina do quarteto sueco Abba, para contribuirem na produção do novo álbum. Quem também vem com novidades é o renomado produtor Timbaland. Ele, que já trabalhou com nomes como Justin Timberlake, Missy Elliot, Snoop Dogg e Jay-Z, está produzindo um álbum solo. Depois de ser responsável por sucessos de tanta gente, não era de se estranhar que ele recebesse o apoio de estrelas da música pop. Seu disco, batizado de “Timbaland presents Shock Value”, terá uma série de ilustres convidados, entre eles Dr.Dre, Bjork, 50 Cent, os grupos The Hives e Fall out Boy, Nelly Furtado, Elton John, Jay-z e Justin Timberlake.