Um dos maiores problemas no cenário cultural brasileiro ainda é o acesso a produções e artistas pelo grande público. Na Bahia, isso talvez seja ainda pior, devido as relações herdadas no tempo em que as gravadoras bancavam tudo e a Axé Music reinava. Se a indústria mudou, a história continua a mesma nos veículos de comunicação. As emissoras de TV ainda não abrem muito espaço para artistas que fujam da mesmice. Até cedem umas poucas esmolas, aqui e acolá, mas preferem apostar na mesma coisa de sempre. As rádios, com ainda mais espaço para música, são ainda piores.
A preguiça e desconhecimento dos produtores, aliados ao péssimo costume de só referendar trabalhos vendidos por gravador e o ainda pior hábito do jabá (que mudou de forma, mas ainda é fortíssimo) são entraves que deixam as rádios totalmente desvincilhadas do que acontece na música hoje. Tanto a produção baiana, quanto a nacional, ainda não é percebida no dial, com honrosas exceções. Na Bahia, ainda há um aspecto peculiar.
O axé criou um método que faz com que rádios consigam funcionar basicamente tocando a produção local, mesmo que seja restrita a ritmos ligados ao carnaval e carregue preconceitos com outros tipos de artistas. O problema, porém, é seguir a mesma lógica dos tempos áureos da indústria fonográfica, funcionando a base de troca e jabá, preocupando-se muito pouco em buscar ou apresentar novidades fora do esquema que envolve empresários negociando para o artista tocar.
Apesar da rádio ser ainda o principal meio no qual a população brasileira ouve música – algo que deveria ser mais bem tratado pela imprensa cultural, mas é desprezado até por grande parte dos artistas -, temos visto outras formas de se falar de música e de se apresentar artistas que estão fora da mídia. Quase sempre estas novas possibilidades estão na internet, mas há ainda publicações impressas e programas de rádio, por exemplo, tentando ampliar o leque de opções. Vamos conhecer alguns desses novos produtos que estão sendo lançados na Bahia.
Mê de Música
Novo programa de TV, sobre música, totalmente feito pra web. É cada vez maior essa tendência de utilizar vídeo na internet e criar programas com focos específicos, ainda mais com a banda larga se disseminando no Brasil. Nem é tão novidade assim, em Salvador mesmo tínhamos há alguns anos o Encarte, lembram? Durou algum tempo e umas 20 edições. Agora, porém, com maior acesso a equipamentos e a internet mais veloz, chegando ainda há mais gente, dá para fazer mais e melhor. É nesse pensamento que uma equipe de produtores resolveu unir forçar e criar o Mê de Música. A proposta é “apresentar o que há de diverso na cultura baiana, fortalecer o cenário musical da Bahia e expor debates sobre temas relevantes”, tudo isso em programas com cerca de 15 minutos de duração, veiculados na web a cada 15 dias e sempre com um tema diferente. Com uma linguagem moderna e de modo objetivo, cada tema é explorado com entrevistas e encontros musicais, mostrando a diversidade da cena musical baiana, sem preconceitos. Entre os temas já previstos estão “Música dá dinheiro?”, que marca a estreia do programa, “Quem te botou nessa vida?” (mostrando como é o início do trabalho na música), um debate sobre “A internet está matando a música?”, uma provocação sobre “Salvador não tem nada para fazer” e por aí vai. O programa estreia no próximo dia 10 de maio.
Revista Plano B
Se em 2011 tivemos o lançamento da revista BeQuadro, totalmente voltada para a produção de música na Bahia (uma segunda edição está prevista ainda para 2012), agora temos o lançamento da Plano B, publicação mais abrangente que trata de cultura baiana, em geral. Na primeira edição, os destaques são para o cantor e compositor Gerônimo, o trabalho do Circo Picolino, além de matérias sobre Juliana Ribeiro, o Recôncavo Baiano, o rumpilé, entre outras. A publicação traz, também, colunas opinativas. Prevista para sair mensalmente, a revista vai sair encartada com o novo CD de Ênio e A Maloca, na próxima edição de maio. Ainda tímida na internet, a revista está anunciando em seu site um portal com novo conceito para pensar a cultura na Bahia.
Programas novos na Globo FM
Se as rádios vivem quase sempre uma pasmaceira, duas novidades apresentadas pela Globo FM (90,1) vão oferecer um algo mais no dial baiano. Dois programas, apresentados pelo jornalista Hagameno Brito, estreiam essa semana na emissora. O primeiro é o ‘Black Soul’, que vai ao ar às terças, às 21 horas, apresentando nomes nacionais e internacionais da Black Music e suas derivações, R&B, Soul, Funk etc. O outro programa, batizado de ‘Sangue Novo’, é ainda mais ousado para o dial baiano. Apesar de ser muito semelhante em repertório ao Radioca, que existe há quatro anos na Educadora FM, é um sopro de esperança uma rádio comercial (por sinal líder em seu seguimento). A proposta é abrir espaço para a nova geração da música brasileira, dando vez a nomes como Wado, Criolo, Tulipa, Lucas Santtana, Marcelo Jeneci e aceitando novidades também da música baiana. Que permaneça assim.