A capital baiana ganha novas opções de casas de shows no circuito independente em bairros diversos da cidade.
O mais pessimista dos soteropolitanos não pode negar: Salvador nunca teve tantas opções de casas de show para quem gosta de música, como atualmente. Mesmo ainda sentindo falta de espaços de tamanhos médio e grande, a cada ano, a capital baiana vem ganhando novas opções para diversos gostos e com variadas estruturas, especialmente para quem circula pelo meio independente e gosta de rock, pop, reggae, rap ou mpb. Só nos últimos meses, foram abertas diversas casas, como Taverna Music Bar, Buk Porão, Casarão do Lord, Hard Rock Music Bar, Casa Antuak e Salvador Music Place, em bairros diversos da cidade, além de lugares não necessariamente voltados para música, que passaram a receber shows com frequência.
Além dos novos ambientes, há ainda a notícia que, finalmente, em maio (dias 13, 14 e 15) acontece a reinauguração da Concha Acústica (veja mais aqui), o que deve sanar uma das maiores deficiências da cidade para a música, a de locais para grandes shows. Depois de dois anos fechado, o espaço volta reestruturado, modernizado e mais equipado, agora com novos camarins, camarotes e bilheterias com estrutura em concreto armado; estacionamento e capacidade de público um pouco reduzida, por motivo de segurança e conforto, de 5.500 para 5 mil pessoas.
Porém, mesmo com o retorno da Concha, Salvador continua carecendo de uma casa de grande porte, com estrutura adequada, fechada, que comporte pelo menos dez mil pessoas. Um espaço capacitado para receber apresentações de maior porte, inclusive internacionais, como existem em diversas capitais do país, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Um lugar desses sempre foi uma promessa na cidade, inclusive da indústria da Axé Music e algumas de suas estrelas, que tiveram dinheiro e oportunidade para isso, chegaram a anunciar algumas vezes, mas sempre fizeram mais marketing do que alguma ação concreta.
Ainda quando o axé era o maior propulsor de vendas no mercado de música no Brasil e com muito dinheiro circulando por aqui, os shows com maior público aconteciam em lugares adaptados, como os clubes Espanhol e Português, e até o Costa Verde em alguns períodos. Os anos passaram e as adaptações permaneceram, com locais como Wet n’ Wild e Parque de Exposições servindo para as grandes apresentações da cidade, mesmo para atrações internacionais.
Outros dois espaços que serviam para um maior público estão inviabilizados. O Bahia Café Hall foi fechado, sendo cancelado o contrato com o Governo do Estado, que deixou a promessa de transformar o lugar, não se sabe quando, em um centro cultural. Além da Arena Fonte Nova, construída para ser uma arena multiuso, já tendo recebido diversos shows, inclusive o de Elton John, mas que está com limitações impostas pela justiça e pela lei do silêncio e não realiza grandes apresentações musicais há alguns meses.
As novas pequenas casas – Quem, porém, sustenta de fato o mercado de música, promovendo shows e festas periódicos, fazendo circular artistas e apresentando as novidades musicais da cidade e do país, são as pequenas casas. Boa parte delas continua concentrada no bairro do Rio Vermelho, como Portela Café, Commons Studio Bar, Lalá Multiespaço, Dubliners Irish Pub, Casa da Mãe e o resistente Idearium. O antigo Tarrafa fechou, mas no lugar dele foi criado o Espaço 116 Graus, mantendo a estrutura limitada, mas com ótima localização e uma programação focada em festas de rap, dancehall, música eletrônica e afins.
Entre as novidades no bairro está o Taverna Music Bar, localizado na disputada Praia da Paciência, o metro quadrado mais disputado na noite baiana. A casa, inaugurada em maio do ano passado, mantém a tradição do Rio Vermelho em ser local para roqueiros e alternativos (ainda usam essa expressão?) e costuma ter uma programação com bandas autorais e covers de rock, além de baladas eletrônicas. Outra novidade é o Tropos, na rua Ilhéus, no Parque Cruz Aguiar, que não é bem uma casa de show, mas um espaço de coworking unido a um gastrobar, que sedia uma espécie de vitrine de música autoral, com shows de artistas diversos e discotecagens esporádicas. Essas apresentações acontecem numa parte externa, quase na rua, aberta aos passantes e curiosos.
Em maio, o bairro recebe uma outra casa de eventos, a Berlim, dos mesmos donos do San Sebastian e Amsterdan, localizada na rua Oswaldo Cruz, ali próximo ao Banco do Brasil. A proposta é esquema balada, com DJs e festas independentes às sextas e sábados, com pegada alternativa/ underground e capacidade para 400 pessoas.
No Pelourinho, uma das novidades surgidas nos últimos meses é o Casarão do Lord. Ocupando o mesmo espaço onde antes funcionava o Sankofa Bar, como o nome já diz, trata-se de um casarão antigo com três andares, que sediam atividades culturais diversas, mas com foco na programação de eventos ligados à música. De propriedade do cantor, músico e compositor Magary Lord, e com capacidade para 250 pessoas, o local costuma receber atividades com ênfase na cultura negra, como apresentações de rap, música africana e projetos como o Música Preta, com exposição e shows de artistas negros baianos.
Bairros menos badalados também estão recebendo novos espaços para shows. É o caso do Hard Rock Music Bar, em Cajazeiras 8. Inaugurado em setembro do ano passado, é voltado para shows de rock. Com capacidade para cerca de 150 pessoas, se encontra fechado para reforma e reabe em maio com novidades. Mais ao centro da cidade, mais precisamente no bairro Dois de Julho, a Casa Antuak tem também recebido shows e festas. Mais aberta a estilos diversos e até mesmo outros tipos de linguagens, o espaço é uma residência de um grupo de jovens entre 18 e 25 anos. Eles se juntaram numa casa antiga com a ideia de morar juntos e abrir as portas para expressões culturais e artísticas, movimentando o espaço com eventos como o Dominicaos e a festa Casa da Luz Vermelha. O centro da cidade contou também em 2015 com a volta do Teatro Gregório de Mattos, onde acontece shows de diversos artistas baianos, como Tropical Selvagem, Juliana Ribeiro, entre outros.
Já em Patamares, mais precisamente no Hotel Sol Bahia, acaba de ser inaugurado o Salvador Music Place. O espaço se divide em duas partes, um local para shows, com capacidade para 600 pessoas, e boate, que comporta 400 baladeiros, podendo receber num total mil pessoas em ambiente climatizado. Não é exatamente uma casa com programação própria e atividades artísticas, sendo disponível para eventos corporativos, aniversários, casamentos e formaturas, mas que não tem empecilho para realização de shows e festas.
Com estrutura mais simples, o Bukowski Porão Bar, mais conhecido como Buk Porão é mais um espaço cultural do que uma casa de shows, apesar de ter entre suas principais atividades apresentações de bandas e artistas, especialmente de rock, mas também reggae. A casa, no entanto, tem uma aposta mais diversificada, já recebendo também saraus e eventos ligados à poesia e literatura (com esse nome não poderia ser diferente) e pretende abrir mais para dança e exposições. Localizado na tradicional Rua do Passo, aquela onde foi filmado o filme “O Pagador de Promessas”, o lugar ficou muito tempo totalmente abandonado, mas desde junho de 2015 tem programação semanal, com eventos quase sempre às sextas, sábados e domingos, com preços que nunca passam de R$5. O espaço é pequeno, comporta cerca de 100 pessoas confortavelmente, mas é uma das opções fora do circuito Rio Vermelho, e ajuda a fortalecer o bairro do Santo Antônio e arredores como nova região boêmia e cultural da cidade.
A noite no Santo Antônio – O bairro no Centro Histórico de Salvador há muito tempo é sede de ateliês de artistas plásticos, mas mais recentemente vem também se transformado em uma região para quem gosta de curtir a noite com música e shows. Ainda que os locais não sejam especificamente casas de show ou espaços voltados especificamente para a música, vários espaços têm recebidos, shows, festas e eventos com frequência. Entre eles estão os restaurantes Oliveira’s, D’Venetta e Poró.
O Oliveira’s House Bar, na rua Direita do Santo Antônio, não é tão novo, mas tem se firmado nos últimos tempos como importante espaço para a produção musical local. É um aconchegante bar e restaurante, que recebe shows em formatos pequenos, normalmente voz e violão, mas também bandas maiores, como os concorridos ensaios do grupo Os Skanibais. Você pode encontrar na casa apresentações de jazz, samba, forró, salsa, entre outros estilos.
Na mesma linha, o Espaço D’Venetta costuma receber grupos e artistas novos de samba, chorinho, mpb e jazz, além de nomes de maior peso, como o instrumentista Mou Brasil e a cantora Michaela Harrison. Já o Poró, na rua do Carmo, funciona mais como um restaurante tradicional, mas promove apresentações de chorinho aos domingos.
Reinaugurado no final de 2015, o Cronópios Casa de Cultura é um espaço aberto para diversas linguagens (dança, teatro, música, artes visuais) e atividades como residências, coletivos, exposições e lançamentos e outras ações. Também localizado na rua Direita, o espaço começou a receber atividades musicais nas últimas semanas, como o Som das Binhas, projeto exclusivo com mulheres artistas tocando e cantando samba, rap, carimbó, bossa, entre outros ritmos.
Também no Santo Antônio há o Centro de Artes ABoca, que realiza toda quarta-feira o projeto “Quarta A Gente Arranja”, com o cantor e compositor Jota Veloso recebendo diversos convidados do mundo da música. Ou até mesmo o pátio da igreja do Santo Antônio, (sim, em Salvador isso é possível!), o fundo de uma igreja que recebe rodas de samba do grupo Botequim, festas do bloco de Hoje a 8, e no verão também recebeu shows do Bailinho de Quinta, entre outras coisas. Mais do que nunca Salvador fervilha com diversas opções de onde curtir música, que atendem à atual diversa e fértil cena local. Basta encontrar os caminhos.