Uma das principais plataformas de apoio à música no país, a Natura Musical divulgou nesta segunda (13) o resultado de seu edital 2022. São 15 artistas, 8 festivais e 7 coletivos contemplados neste ano. Entre eles estão Brisa Flow, Festival Latinidades, AQNO e os baianos Melly, GabiGuedes e Sued Nunes.
Marcado pela abrangência, com artistas de várias partes do país, o edital tem como objetivo de fomentar projetos artísticos que compõem um panorama diverso de gêneros musicais e linguagens artísticas, além de incentivar as experiências ao vivo. A novidade este ano foi a categoria Música Brasileira na América Latina, que patrocina artistas que desejam expandir suas conexões com a cena cultural latino-americana. A ganhadora foi a rapper ameríndia Brisa Flow com o projeto Abya Yala em Trânsito, que será uma turnê inédita com passagens pelo México, Chile e Bolívia, em shows com participação de nomes proeminentes da cena musical de cada um dos países.
Contemplados
O edital nacional, com verbas da Lei Rouanet, contemplou artistas e projetos de São Paulo, Alagoas, Amazonas, Brasília e Amapá. De São Paulo, além de Brisa Flow, foram selecionados a rapper Stefanie e a musicista multi-instrumental Malka Julieta, que vão gravar seus primeiros álbuns.
De Alagoas, o projeto Canto Sagrados Kariri-Xocó, de Porto Real do Colégio, vai registrar cantos de duas tribos indígenas. No Amazonas, o Circuito Manacaos vai promover o fomento de artistas manauaras, enquanto no Amapá acontecerá a Mostra de conteúdos artísticos e culturais Quilombo Groove. Em Brasília, o edital vai ajudar na realização da 16ª edição do Festival Latinidades.
Com projetos contemplados pelas leis de incentivo de cada estado, os editais estaduais vão financiar projetos na Bahia, Minas Gerais, Pará e Rio Grande do Sul. Na Bahia, o músico Gabi Guedes, as cantoras Melly e Sued Nunes e a Orquestra feminina DecoloniSate regitrarão seus álbuns. O estado teve ainda dois festivais contemplados, o Frequências Preciosas, com programação voltado para cantoras e bandas de mulheres negras e indígenas da Bahia, além do Festival da Diversidade: Paulilo Paredão, voltado para artistas LGBTQIA+, pretos e periféricos.
Em Minas Gerais, foram contemplados os festivais Pá na Pedra e Música Doida, além dos
artistas Jack Will, Natania Borges, Nzinga, Paige e ruadois. Do Pará, foram selecionados projetos de AQNO, Caquiado, Rawi e o Festival Apoena. No Rio Grande do Sul, os contemplados foram os festivais OBronx e Rap Festival, a gravação dos discos do 50 Tons de Preta, Luiza Hellena e a Velha Guarda da Praiana e Paula Posada, além da turnê do projeto Ialodê.
Programa de R$ 6 milhões
Os 30 projetos foram selecionados entre 2500 inscritos por meio da curadoria de 21 profissionais do mercado da economia criativa. São artistas, jornalistas, produtores, ativistas, empreendedores culturais, representantes de festivais e outros players do mercado.
O programa oferece R$ 6 milhões em fomento para os projetos selecionados, sendo R$ 2 milhões para projetos em âmbito nacional e de conexões com outros países, R$ 1 milhão para Minas Gerais (via Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais – LEIC), R$ 1 milhão para Bahia (via Lei FazCultura), R$ 1 milhão para o Pará (via Lei Semear) e R$ 1 milhão para o Rio Grande do Sul (via Lei Pró-Cultura). Novamente, a Natura Musical renovou seu compromisso com a região Amazônica, com investimentos de 20% da verba do Edital Nacional voltados para iniciativas na região, além do R$ 1 milhão destinado ao Pará com a Lei Semear.
Curadoria
A curadoria do Natura Musical 2023 foi formado por B.art (RS), artista e produtora; Billy Saga (SP), rapper e especialista em diversidade e inclusão; Carol Tucuju (AP), antropóloga e DJ; Chico Correa (BA/PB), produtor musical; DJ Donna (DF), DJ e produtora; Eric Terena (MS), DJ e ativista; Fatini Forbeck (MG), pesquisadora, comunicadora, articuladora e produtora cultural; Gean Ramos Pankararu (PE), artivista indígena e articulador cultural; Keké Bandeira (PA), poeta, produtora audiovisual e ativista PCD; Laura Damasceno (MG), jornalista e curadora; Marcelo Castello Branco (RJ), executivo do mercado musical e do Grammy Latino; Monique Lemos (BA/SP), antropóloga, pesquisadora e empresária; Naila Agostinho (RJ), especialista de estratégias digitais Sony Music; Navalha Carrera (RJ), produtora musical e guitarrista; Raquel Virgínia (SP), artista e empresária; Rico Dalasam (SP), rapper; Titi Piccoli (RS), produtor cultural; Ubunto (BA), produtor musical; Victor Xamã (AM), artista, Zeca Camargo (SP), jornalista e apresentador e Zek Picoteiro (PA), produtor cultural e DJ.
Veja a lista de selecionados:
EDITAL NACIONAL
Brisa Flow (São Paulo, SP)
Inaugurando a nova categoria América Latina, a turnê passará pela Bolívia, onde Brisa contará com a participação especial de Abi Llanque e abertura de Kantupac, além de documentar a cultura têxtil originária do país. No Chile, além do show, ela captará sonoridades da floresta Araucania, território Janequeo. No México, somam-se à Brisa os artistas Sodomita, Monna Brutal e Ian Wapichana. Já no Brasil, ela recebe em seu show a cantora mexicana Mare Advertencia Lirika. Todos os passos dessa turnê latino-americana serão registrados e virarão um documentário previsto para este ano.
Canto Sagrados Kariri-Xocó – Porto Real do Colégio, AL
Registro dos cantos das tribos Kariri e Xocó para manutenção da cultura viva, sua sonoridade e força de ritmo.
Circuito Manacaos – Manaus, AM
Luli Braga, D’água Negra, Kurt Sutil, Jambu e Guillerrrmo são projetos emergentes de diferentes vertentes sonoras que dialogam entre si e fortalecem o desenvolvimento do território artístico amazônida. Da união, nasce o Circuito Manacaos que tem como proposta fomentar a produção de rtistas manauaras de diferentes estilos musicais e promover a integração de shows e movimentos coletivos, além de promover a formação de mulheres e trans no mercado de produção musical.
Festival Latinidades – Brasília, DF
A 16ª edição do Festival Latinidades irá privilegiar a produção musical de mulheres negras, com três dias de apresentações musicais, conferências, feira, debates e campanhas de equidade, além de programa de formação no mercado musical.
Malka Julieta – São Paulo, SP
Primeiro disco da DJ, artista, musicista multi-instrumental e produtora paulistana, Chão celebra a história musical de Malka por meio de uma reunião de artistas que fazem parte da sua trajetória. A ideia é trazer o mundo da música urbana e regional brasileira em um universo que passeia pelo pop, jazz brasileiro e house de pista, culminando em vozes cortando rimas de rap, baile funk, brega, swing e groove.
Quilombo Groove – Macapá, AP
Mostra de conteúdos artísticos e culturais com duração de sete dias no Quilombo do Curiaú (AP). Neste período serão realizadas vivências sobre o Batuque e o Marabaixo, oficina de percussão, rodas de conversas, degustação de gengibirra, intercâmbio com músicos e pesquisadores locais e encerramento com Rave Quilombola, enfatizando a música popular, tradicional e identitária do local, intitulada Preces, Louvores e Batuques.
Stefanie – São Paulo, SP
BUMNI será o primeiro disco da rapper Stefanie, que já tem 18 anos de carreira. Nele, ela propõe um resgate da sua ancestralidade, se reconectando com a essência dos griots, contadores de histórias da África Ocidental, que transmitiam conhecimento, trazendo à tona seus sentimentos, anseios e superações.
BAHIA
DecoloniSate – Salvador, BA
Lançamento do primeiro álbum da Orquestra feminina “DecoloniSate” como resultado de mais de dez anos de criação musical e formação de percussionistas nas aulas do mestre José Izquierdo, nas escolas de percussão baiana Olodum, Pracatum e Decolonisate. O trabalho da Orquestra tem como fundamento os saberes musicais afro baianos e a sua relação com os movimentos feministas de diferentes lugares da América do sul que se inspiram na sua riqueza cultural e em seu poder de transformação social.
Festival da Diversidade: Paulilo Paredão – Salvador, BA
No período da primavera, Salvador e sua região metropolitana ganham mais uma edição do Festival da Diversidade: Paulilo Paredão, focando no acesso à cultura e dando visibilidade para artistas LGBTQIA+, pretos e periféricos.
Festival Frequências Preciosas – Salvador, BA
1ª edição do Festival Frequências Preciosas com line up 100% composto por cantoras e bandas de mulheres negras e indígenas da Bahia. Uma realização das Frequências Preciosas, plataforma de fomento da arte de cantoras negras e indígenas, que visa fortalecer a cena musical idealizada pela cantautora e atriz Viviane Pitaya. A curadoria irá priorizar em sua curadoria artistas das regiões Nordeste e Norte do Brasil.
Gabi Guedes – Salvador, BA
Lançamento de Matriarcas, primeiro álbum do grupo Pradarrum, capitaneado pelo mestre e músico Gabi Guedes, referência na música percussiva baiana. Nascido no Alto do Gantois, cresceu ao lado da Iyalorixá Mãe Menininha e desde muito cedo se viu envolvido pelo toque e os sons dos tambores. O Pradarrum visa manter viva a memória das grandes Iyalorixás e Alabês, que deixaram seu legado de luta e resistência na manutenção das suas comunidades, das suas histórias e sua espiritualidade. As composições são cantos de terreiro adaptadas por Gabi e Felipe Guedes.
Melly – Salvador, BA
Dona de uma voz potente e marcante, a cantora Melly lançará seu primeiro disco após sucesso de seu EP “Azul” (2021). Além das influências do R&B, jazz, blues e soul, o seu trabalho bebe na fonte das células musicais do samba-reggae, trap, pagodão, do toque Ijexá e percussivo, característicos da Bahia.
Sued Nunes – Cachoeira, BA
Natural do Recôncavo Baiano, Sued Nunes lança em 2023 seu segundo disco, que transitará musicalmente entre muitos ritmos como R&B, afropop, misturado a beats e elementos sintéticos, aliando o ancestral e o afrofuturismo.
MINAS GERAIS
1ª Festival de Música Doida – Belo Horizonte, MG
O projeto mira realizar uma cartografia de coletivos e compositores com sofrimento mental para participação na mostra inédita que irá promover apresentações musicais e rodas de conversa sobre a produção da música e arte por pessoas e coletivos com sofrimento mental.
Festival Pá na Pedra – Ribeirão das Neves, MG
Realização da 10ª edição do tradicional evento de música independente, Festival Pá na Pedra com uma programação diversa que, ao longo dos anos, se tornou principal ponto de networking de artistas, produtores e gestores culturais da região.
Jack Will – Uberlândia, MG
Legítimo representante do Jazz Afro-Mineiro, Jack Will encontrou com sua ancestralidade através do ritmo gerado pelas batidas de seus tambores. O projeto leva pra estrada o show de Black Buddah, seu disco de estreia, que traz sua vivência de 15 anos dedicados à música.
Natania Borges – Uberlândia, MG
Cantora e compositora de Salvador que atualmente vive em Uberlândia, Natania irá lançar seu primeiro trabalho solo. Ativista, ela pauta as vivências de corpos marginalizados, unindo a música, audiovisual e a performance pelo PagoTrap, Afrobeat e R&B.
Nzinga – Belo Horizonte, MG
Produção e lançamento de uma obra musical e cinematográfica que conta a história de N’zinga Mbandi, rainha de Angola, a partir do ponto de vista dos sobreviventes da diáspora africana. Nzinga Mbandi é até hoje uma das mais importantes lideranças africanas que lutou contra a colonização portuguesa no século XVII.
Paige – Belo Horizonte, MG
Considerada uma das grandes vozes do R&B no cenário musical mineiro, artista múltipla, plural, mulher preta e bissexual, Paige lançará em 2023 seu primeiro disco depois dos EPs “Babygirl” e “Imagina a Gente”.
ruadois – Contagem, MG
ruadois é um grupo mineiro de música eletrônica periférica nascido em 2020 formado por pessoas negras, periféricas, indígena e LGBTQIAP+ que lança seu primeiro disco. Em seus trabalhos, eles buscam valorizar e colaborar com a construção de uma cena descentralizada, diversa, democrática e criativa da música eletrônica.
PARÁ
AQNO – Marabá, PA
AQNO é um artista e produtor musical que vive com HIV há 7 anos, enfrentando e dialogando, através de sua arte, todas as questões pelas quais passa um corpo positivo numa sociedade sorofóbica. Em 2021 gravou seu primeiro disco autoral, O Retorno de Saturno, projeto que fala de suas descobertas, processos e questionamentos como pessoa vivendo com HIV. Nesse novo projeto, ele produzirá um álbum visual em COLAB com produtores, artistas, diretores, músicos e profissionais diversos vivendo com HIV, além de promover rodas de conversas em comunidades periféricas de Marabá, a fim de trazer uma nova visão sobre como viver e conviver com o HIV.
Caquiado, Marabá – PA
Surgido da inquietação de dois jovens artistas da cidade de Belém, Pratagy e Reiner, o Selo Caqui procura tornar sustentável a cena musical feita na cidade das mangueiras. O projeto coletivo “Caquiado: Álbum-coletânea e filme-manifesto de novos artistas paraenses” visa gravar um álbum-coletânea com 10 artistas paraenses em ascensão em músicas autorais inéditas.
Festival Apoena, Belém – PA
O Festival Apoena (edital PA) chega à terceira edição em 2023 focado em ser um espaço de (re)existência cultural. O evento busca expandir os sons da floresta que fazem o som da música paraense, além de reforçar a disseminação da cultura local. O projeto ainda prevê oficinas de produção cultural gratuitas para a comunidade de Fátima/Matinha, bairro periférico de Belém.
Rawi, Santarém – PA
Multiartista queer em ascensão na cena pop amazônida, RAWI conta com 10 anos de carreira nas artes. Ele apresenta seu segundo disco, em busca de uma sonoridade experimental, utilizando os instrumentos e o ritmo do carimbó como base, passando pelo pop amazônida e muitas referências musicais do rock ao eletrônico. É um álbum de poética crua, e busca nos cenários das vidas amazônidas uma reformulação do imaginário de corpos e histórias LGBTQIAP+.
RIO GRANDE DO SUL
Festival OBronx – Porto Alegre, RS
OBronx é um movimento artístico e cultural que surgiu em Porto Alegre em 2016 com o objetivo de fomentar a cultura preta e acolher o público preto, lgbtqiap+ e periférico. Em 40 edições, o Bronx alcançou milhares de pessoas, movimentando a cadeia econômica e criativa gerida por minorias e se tornou referência na cidade. Em 2023 a proposta é unir referências estéticas afro futuristas no primeiro festival do coletivo, que contará com apresentações musicais, além de workshops de produção musical, discotecagem e dança. Todo o projeto será documentado em audiovisual que será lançado ao final de sua execução.
50 Tons de Preta – Porto Alegre, RS
Formada por Dejeane Arruée (vocal, trombone) e Graziela Pires (vocal), o 50 tons de Preta apresenta o novo disco “Tira o teu Racismo do Caminho”, dando voz às mulheres negras, igualdade de gênero e luta antirracista.
Ialodê – Porto Alegre, RS
O projeto Ialodê nasceu em 2020, com o desejo de celebrar a trajetória das artistas gaúchas Nina Fola, Glau Barros, Marietti Fialho e Loma, mulheres negras que, juntas, somam 100 anos de carreira. Agora em 2023 saem em turnê pelo interior do estado.
Luiza Hellena e a Velha Guarda da Praiana – Porto Alegre, RS
O projeto resgata uma das vozes negras da noite (e das rádios) de Porto Alegre que foi referência na década de 50. Junto da Velha Guarda da Praiana, a escola de samba mais antiga de Porto Alegre, Luiza Hellena grava disco que mostra que o samba não é apenas do eixo Rio/São Paulo e Bahia.
Paula Posada, Porto Alegre – RS
Inspirada nos povos originários da região amazônica e caribenha, Flecha Envenenada é o nome do primeiro álbum de Posada, DJ, produtora cultural, produtora musical, gaúcha, indígena em contexto urbano, filha de mãe paraense e pai colombiano.
Rap Festival – Pelotas, RS
Festival itinerante que promove a cultura Hip Hop e abre espaço para novos MCs e para as mulheres no rap, com shows musicais, apresentações de dança ao ar livre, batalha de MCs e realização de oficinas de grafite e stencil.