De Djavan, Caetano Veloso e Marisa Monte a Duda Beat, Luedji Luna, Liniker e Céu, artistas promovem turnês internacionais e voltam a levar música brasileira ao exterior.
A música brasileira já teve uma visibilidade no exterior muito maior do que a atual, especialmente com artistas da bossa nova e MPB. Há alguns anos outras sonoridades passaram a ganhar espaço. Nomes como Sepultura, no nicho de rock pesado, e Cansei de Ser Sexy, no mundo indie pop eletro, também conquistaram o público internacional, assim como Anitta e o funk mais recentemente. Essa presença segue, no entanto, muito aquém do que em outros tempos. A música brasileira contemporânea já esteve mais assídua em rádios especializadas, nas paradas de world music e os lançamentos eram muito mais frequentes.
As dificuldades econômicas, a pandemia e o governo desastroso de Bolsonaro, especialmente aqui na política externa e na cultura, são algumas das razões para essa descontinuidade. Vivemos novos tempos e talvez os caminhos para a música brasileira voltem a se abrir no exterior. Alguns sinais parecem confirmar isso.
Diretor da Brasil Calling, serviço de promoção e licenciamento da música brasileira, David McLoughlin acha que a volta dos grandes nomes como Caetano Veloso e Djavan em palcos internacionais tem um impacto importante na imprensa mainstream. “Coloca o nome do Brasil de volta no mapa”.
Ele ressalta também que existe uma “nova” geração de produtores/ empresários no setor independente que montaram uma rede de contatos em eventos como Womex, Jazzahead, etc. “Parece que aumentou também a quantidade de selos independentes lá fora que estão lançando artistas como Tim Bernandes, Sessa, etc.”, diz.
De fato, cresceu muito a quantidade de artistas brasileiros vindos da chamada música independente em circulação pelo exterior. Através de shows e turnês, aos poucos, parece que a produção contemporânea volta a chamar atenção fora do Brasil. Se de forma mais consistente só com o tempo para ter certeza.
McLoughlin lembra, entretanto, que a participação brasileira no mercado internacional, mesmo nas plataformas de streaming, é bem baixa. “Estamos sem um projeto de exportação de música, o que é uma vergonha”, afirma.
Mesmo sem uma política focada em levar nossa música para o exterior de forma planejada, o que já vem sendo pensado pelo Ministério da Cultura, em 2023, temos assistido uma grande quantidade de artistas voltando a circular por palcos estrangeiros. Desde o começo do ano já começaram as turnês, mas a partir de agora, primavera e verão no hemisfério Norte, as casas de shows e festivais aumentam suas programações e as turnês embalam. A música brasileira não fica de fora. Isso tem tudo sem falar do rock pesado brasileiro, que nunca parou de circular pela Europa.
Em março, a banda paulista Bike rodou parte dos Estados Unidos, fazendo 19 apresentações, entre festivais, como South By Southwest – SXSW, em Austin, e o Treefort Music Fest, em Boise, e até na tradicional rádio KEXP. Bem sucedidos por lá, a banda prepara retornar em uma nova turnê em novembro. A banda Tuyo também circulou pelos Estados Unidos em março, focada em três apresentações no SXSW.
Entre abril e maio, foi a vez de Emicida, que fez 15 apresentações por 8 países, passando por algumas das principais cidades da França, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Irlanda, Espanha, Portugal e Suíça. Em julho, ele volta para Inglaterra para participar do festival Womad, que acontece entre os dias 27 e 30 (ele se presenta dia 28) e terá ainda nomes como Soul II Soul, Femi Kuti, Bombay Bicycle Club, entre outros.
Em abril, a cantora Xênia França também esteve na Europa, numa passagem rápida de dois shows, na Polônia e na Alemanha. Este ano, inclusive, ela teve seu último álbum, Em Nome da Estrela, lançado em CD no Japão.
Marina Sena, que em maio circulou por 7 cidades em 6 países europeus, passando por Portugal, Espanha, França, Alemanha, Inglaterra e Irlanda. Assim como a banda Francisco el Hombre, que também em maio e entrando por junho fez 7 shows por Portugal e Espanha. Ainda em maio, os baianos Bruno Capinan, Aiace e Ministereo Público estiveram na Colômbia, os dois últimos presentes no Negro Fest, festival realizado na cidade de Medellín.
Enquanto vai soltando os primeiros singles de seu novo álbum, o cantor e compositor Castello Branco segue em turnê pela Europa. Desde o início de maio, ele tem circulado entre Espanha e Portugal, encerrando a temporada de nove shows internacionais nos próximos dias, com apresentações em Amsterdã, na Holanda (dia 15/06) e em Lisboa (dia 24/06).
Quem tem marcado presença forte no exterior é Tim Bernardes. Em abril e maio, ele engatou uma turnê pelos Estados Unidos, passando por oito cidades (Los Angeles, Nova Iorque, Washington, Boston, Chicago, Seattle, Portland e San Francisco). Agora em junho, ele parte para Europa, para um giro mais curto, mas não menos importante, tocando em importantes cidades. As apresentações começam dia 25, em Paris, segue para Londres, dias 27 e 28, encerrando no dia 1º de julho, em Barcelona, no Vida Festival.
O produtor mineiro Vhoor, que gravou com o rapper FBC o badalado álbum Baile (2021), está também em plena turnê levando o trap e funk brasileiro pela Europa. A gira começou no dia 2 de junho, com apresentação no Festival Primavera Sound, em Barcelona , e seguiu por Amsterdã (Holanda), Gdansk (Polônia), a edição de Madrid do Primavera Sound, e Dublin (Irlanda). O artista segue rodando pela Europa até 24 de junho, com apresentações no Cosmo Festival, em Dortmund (Alemanha), volta para Madrid (Espanha), e passa por Barcelona, Lisboa e Porto (Portugal), Londres (Inglaterra), encerrando em Genebra (Suíça).
A pernambucana Duda Beat faz nova turnê internacional, com shows na Europa e Estados Unidos. São nove apresentações, com início no dia 22 de junho em Cork, na Irlanda, e seguindo por Paris (França), Dublin (Irlanda), Londres (Inglaterra), Berlin (Alemanha), Barcelona (Espanha), até Braga (Portugal), no dia 1º de julho. Depois do braço europeu, ela segue para os Estados Unidos, onde se apresenta nos dias 6 de julho, em Miami, e dia 9, em Nova Iorque.
Um outro pernambucano que vive girando pelo mundo é Amaro Freitas. Em 2023, ele volta a se apresentar na Europa, mas também no Japão. As apresentações se dividem entre finalzinho de início de junho e outra em outubro. Na primeira parte, ele leva seu jazz brasileiro para Portugal, com shows em duas cidades, mas o destaque é a participação no icônico Montreux Jazz Festival, na Suíça, no dia 2 de julho.
Outro destaque e grande novidade é o braço oriental da turnê. Pela primeira vez o pianista vai se apresentar no Japão. Por lá ele fará três shows em julho: dias 8 e 12, em Tóquio, e dia 9 em Fukuoka.
Tem mais, em outubro, ele volta à Europa, para, por enquanto, quatro shows: Oslo, na Noruega (dia 12); Varsóvia, na Polônia (dia 14); Milão, na Itália (dia 19); e Luxemburgo (dia 21). Provando a boa receptividade a seu trabalho no exterior, em março, Amaro já tinha feito turnê pela Itália, passando por seis cidades.
Nome com já frequentes turnês internaionais, Liniker vai levar a turnê Indigo Borboleta Anil, baseada em seu álbum mais recente de mesmo nome, para o verão europeu. O giro começa dia 24 de junho por Barcelona, na Espanha, e segue com mais 17 apresentações, que incluem desde grandes cidades como Paris, Marid e Amsterdã até Trenčín, uma pequena cidade no noroeste da Eslováquia. A programação inclui também o importante festival Roskilden, na Dinamarca.
A baiana Luedji Luna também vai circular pela Europa com o show do álbum Bom Mesmo é Estar Debaixo D’Água. Ela fará shows em 9 cidades, por 8 países. Começa dia 26 em Amsterdã (Holanda); segue por Paris (dia 27); Zurique, na Suiça (dia 28); festival Roskilde, na Dinamarca (dia 30); em julho, serão mais 5 shows, Londres (dia 1); Dublin, na Irlanda (dia 2); Lisboa (dia 5); Madri (dia 7) e Barcelona (dia 8). Em abril a cantora já tinha estado no Kriol Jazz Festival, em Cabo Verde. (Lembre que em 2019 Luedji estreou disco entre os mais tocados na Europa).
A carioca Roberta Sá também vai levar o show de seu mais recente álbum para palcos europeus. Em curta turnê, ela mostrará Sambasá em cinco países, começando por Portugal (dia 30/06), e seguindo por Espanha (01/07) ,Bélgica (03/07), França (05/07), e finalmente, Suíça, no aclamado Montreux Jazz Festival (07/07).
Em julho, a cantora Tássia Reis também volta para Europa, com sete shows por cidades de Portugal, Dinamarca, Espanha, Alemanha e Suíça. As apresentações começam no dia 5, em Porto (Portugal), seguindo por Lisboa (Portugal), Copenhague (Dinamarca), Barcelona (Espanha), Schaffhausen (Suiça), no Psicotrópicos Festival, em Berlin (Alemanha), encerrando no dia 18, no Paléo Festival, em Nyon (Suiça).
O cantor e compositor Tiganá Santana também faz uma curta temporada de shows na Europa em julho. Entre os dias 6 e 15, ele realiza quatro apresentações, duas na Espanha (Madrid e Barcelona), além de Suécia (no Sommarscen Festival, em Malmö) e Portugal.
Outro nome que tem presença internacional constante é a cantora paulista Céu. Este ano, ela leva a partir de julho a Fênix do Amor Tour para Europa. Os shows vão passar pela Suíça (Nyon e Luzern, dias 21 e 23), Alemanha (Munique e Ulm, dias 25 e 26), Espanha (Madrid, dia 28), Portugal (Sines, dia 29), fechando na Itália, já em 1º de agosto, no festival Ambiente, em Vieste.
Veteranos
Se os artistas dessa música brasileira mais recente seguem desbravando e tentando conquistar territórios no mapa mundi, veteranos como Caetano Veloso procuram manter seus domínios por terras estrangeiras. Dentro da Meu Coco Tour, o baiano deu início em junho a uma série de apresentações internacionais, começando pela América do Sul, com 5 shows por Santiago, no Chile; Buenos Aires e Rosário, na Argentina, além de Montevideu, no Uruguai. Essa parte da turnê, que se encerra no dia 14, será entrecortada com show pelo Brasil, para um novo braço internacional em setembro pela Europa.
No chamado Velho Continente, Caetano fará 14 apresentações, algumas já com ingressos esgotados, provocando datas extras. A tour européia passa por Espanha, Portugal, Holanda, Bélgica, França, Suiça, Mônaco, Noruega e Alemanha.
🇪🇸 06/09 – Madri, Palacio de Congresos.
🇵🇹 09/09 – Lisboa, Coliseu dos Recreios.
🇵🇹 10/09 – Lisboa, Coliseu dos Recreios.
🇵🇹 12/09 – Lisboa, Coliseu dos Recreios.
🇵🇹 14/09 – Porto, Coliseu do Porto.
🇵🇹 15/09 – Porto, Coliseu do Porto.
🇳🇱 18/09 – Amsterdã, Royal Theater Le Carré.
🇲🇨 21/09 – Montecarlo, Ópera de Montecarlo.
🇫🇷 23/09 – Paris, Phillarmonie de Paris.
🇧🇪 25/09 – Bruxelas, Bozar.
🇨🇭 29/09 – Genebra, Victoria Hall.
🇳🇴 01/10 – Oslo, Oslo Konzerthaus.
🇩🇪 04/10 – Hamburgo, Elbphilarmonie.
🇫🇷 07/10 – Toulouse, Le Halle Aux Grains.
Marisa Monte é outra que intercala shows de sua turnê Portas entre apresentações no Brasil e no exterior. Em junho e julho, ela parte para América do Norte, para cantar nos Estados Unidos, em Newark (dia 23/6), Boston (dia 25/6), Vienna (dia 30/6), New York (dia 2/7), e Canadá, em Toronto (dias 27 e 28/6) e Montreal (dias 4 e 5/7). Em outubro, ela volta para novos shows em solo norte-americano, em Fort Lauderdale (12/10), Orlando (14/10), Los Angeles (20/10) e Berkeley (22/10), e encerra o ano, en novembro, com dois shows em Portugal, em Lisboa (22/11) e Porto (24/11).
Outros nomes como Djavan, Adriana Calcanhoto, Chico César, e Lulu Santos também tem circulado pelo exterior. Djavan circulou pelos Estados Unidos entre abril e maio, com sete shows, e segue na Europa desde o começo de junho. Ele segue com as apresentações por lá até 3 de julho, passando por países como Portugal, Espanha, Inglaterra, França, Holanda, Bélgica e Suécia.
Calcanhoto está desde o final de maio em turnê por Portugal, fazendo shows nas principais cidades lusitanas até 23 de junho. Já Lulu realizou em maio nove apresentações pelos Estados Unidos, passando por cidades, entre elas Chicago, Nova Iorque e Los Angeles. Chico César estará em julho na Europa para seis apresentações por cinco países, começando na Alemanha, no dia 16 (em Stuttgart), seguindo por França (dia 20, em Paris, e dia 27, em Narbonne), Suíça (dia 21, em Nyon), Portugal (dia 24, em Sines), e finalmente, Espanha (dia 29, em Cádiz).
Em maio, teve ainda Armadinho Macêdo e Marcel Powell, que giraram por alguns países europeus num show tributo a Baden Powell.
Se a música brasileira (ainda) não voltou a ocupar as paradas de sucesso como em outros tempos, mesmo nas rádios e playlists de world music, a presença desses artistas com tantos shows, especialmente na Europa, parece mostrar que a atenção ao Brasil está voltando. Sem a política externa bruta e conservadora anterior, com o governo federal agora promovendo um pensamento mais aberto ao diálogo e vislumbrando um investimento maior na cultura, é possível que a música brasileira volte a ganhar destaque. Passando pelos clássicos, mas também pela sonoridades mais contemporâneas, pode ser um alento para produção musical do país.