Não podia ser em dia mais propício. Enquanto pela manhã, uma parcela da população desfilava com camisas da CBF numa manifestação superficial contra a corrupção, à noite o Maroon 5 apresentava seu pop-rock açucarado, bonitinho e inconsistente. Assim como não se pode negar o exercício da democracia em se manifestar, mesmo de forma frágil, não se pode negar a competência da banda americana em fazer muito bem o que se propõe. No último domingo (13), o grupo levou uma multidão ao Parque de Exposições, em Salvador, dentro da turnê que faz pela América Latina, e mostrou porque é um dos grandes nomes do pop mundial, tendo vendido mais de 27 milhões de discos.
Se alguém tinha ainda dúvidas da capacidade de Salvador receber grandes shows internacionais, mais uma vez ficou provado que é por puro preconceito. Com o sucesso do show, já se fala até que a parceria entre as produtoras Arte Produções e Time For Fun pode trazer Paul McCartney em novembro para a capital baiana. Com exceção da logística de saída, com poucas opções para o público e nenhum tipo de organização ou sinalização, e o travamento do trânsito e o frágil funcionamento do sistema de transporte público, o evento funcionou muito bem. Outro ponto negativo foi a área vip, imensa, empurrando o público da pista para muito longe do palco.
No geral, quem foi ao show viu uma produção caprichada, com palco, projeções, som e luz de primeiro nível e uma estrutura digna para um evento desse porte. O show começou pontualmente às 20 horas, após uma apresentação sem muito brilho da banda Dashboard Confessional, com direito a cover de ‘Fix You’, do Coldplay (a mais festejada pelo público). Depois de um curto intervalo para troca de palco, o Maroon 5 começou com uma sequência quase ininterrupta de sucessos mais recentes: ‘Animals’, ‘One More Night’, ‘Stereo Hearts’ e ‘Lucky Strike’, entrecortada por ‘Harder to Breathe’. Foi, no entanto ‘This Love’ a mais bem recebida pelo público. De longe a melhor canção já feita por eles.
Em 90 minutos de apresentação, Adam Levine e seus parceiros levaram os 30 mil presentes ao delírio, enfileirando os hits desde o começo da carreira até os dias atuais. Todos os discos estiveram presentes, mas Overexposed (2012), Songs About Jane (2002) e V (2014) foram os mais explorados. Teve ainda espaço para uma versão de ‘Stereo Hearts’, do Gym Class Heroes, ‘Moves Like Jagger’, lançado inicialmente como single e depois incorporado ao álbum Hands All Over (2010) e de ‘Lost Stars’, da carreira solo de Levine.
À vontade no palco, o vocalista sabe muito bem conduzir as massas e abusa da troca de comunicação com a plateia. Ajuda muito ser um típico pop star, bonito, carismático, midiático e muito conhecido como jurado do programa The Voice. Mas, mesmo com uma leve rouquidão, mostrou que não é apenas um rostinho famoso, especialmente quando resolveu soltar os falsetes e mostrar que tem realmente traquejo pra coisa.
A banda também cumpre muito bem o papel de fazer pop para as massas. Rock leve, com alguns solos de guitarra, bem feito e correto, sem sair do trilho, sem ofender ninguém, mas também sem deixar nenhum tipo de recordação marcante. Uma banda muito competente, sem excessos, sem firulas, mas também sem muito brilho especial. Por vezes, as músicas parecem aqueles temas das Olimpíadas, daquelas com refrão simplório para cantarem junto nos estádios. Sem dúvida funciona.
Para quem imaginava a presença mais de curiosos do que de fãs, a boa surpresa foi ver um público formado majoritariamente por jovens abaixo dos 25 anos, com muita gente vinda de outros estados nordestinos, cantando em coro quase todas as músicas. O show teve direito a tradicional bandeira do Brasil e aqueles costumeiros elogios ao país: “Os melhores fãs do mundo estão aqui. Se desrespeito a outros lugares, mas o Brasil é demais”. Podia ser até uma senha para as manifestações de mais cedo, no entanto, pouco se viu de referência aos atos. Antes do bis, chegou a se ouvir um início tímido de “Fora PT”, ofuscado por vaias e pelos fãs pedindo a volta da banda. Pelo menos, ali a maioria parecia coerente com o momento e concentrada em aproveitar apenas o show. Mais um que pode servir como um teste para a vinda de outros. Coldplay? Paul McCartney? Madonna? Que venha o próximo.