A música brasileira moderna, contemporânea, aquela que vem sendo produzida em larga escala continua sendo quase totalmente ignorada por rádios e emissoras de TV. No entanto, além de crescer num mercado paralelo interno, os artistas desse cenário atual cada vez mais conquistam espaço fora do Brasil. Seguidas turnês da cantora Céu, incluindo participação no Festival Roskilde, vários novos nomes circulando pela Europa e Estados Unidos, lançamentos de discos e várias outras iniciativas mostram que já tem se tornado mais comum a presença da nova música brasileira lá fora.
Um dos principais espaços que os brasileiros têm aproveitado é o Festival South by Southwest. Já virou uma tradição a presença brasileira no festival texano. Em 2011, o festival selecionou nomes ainda pouco badalados por aqui, mas bem representativo da divirsidade de nossa produção musical. Estarão por lá em março a banda instrumental mineira Constantina, o cantor e compositor paulista Kiko Dinucci, a banda sergipana de forró Naurêa, o new folk paranaense da Rosie and Me, o experimentalismo dos paulistas da Some Community, o rock da cantora Nana Rizinni, o cantor paulista Thiago Pethit e a cantora também paulista Tiê, além do Forró in the Dark, grupo de forró com brasileiros que moram em Nova York.
Mas a surpresa esse ano foi o festival californiano Coachella, que anunciou uma leva de artistas brasileiros em sua programação. Em abril, se apresentam por lá o rapper Emicida, o já badalado no exterior CSS, os sons eletrônicos dos cariocas do The Twelves e o consagrado DJ Marky. E não é um festivalzinho, é dos grandes festivais americanos que esse ano tem na programação nomes como Strokes, Arcade Fire,Cee Lo Green, Interpol, PJ Harvey, Kanye West, The Black Keys, Kings of Leon, Klaxons, Chemical Brothers, Erykah Badu, entre outros. O CSS também é uma das atrações da versão chiilena do Festival Lolapalooza, que acontece em abril em Santiago.
Boa parte dessas bandas aproveita a ida para os festivais para articular turnês. A The Twelves vai antes e começou neste mês uma turnê de oito shows, passando pelo Canadá e cidades norte-americanas. Tiê e Thiago Pethit aproveitam o SXSW para tocar em Nova York.
Mas não são só os shows que marcam a presença brasileira no exterior. Um inglês pirou com o que ouviu da música brasileira atual e resolveu levar isso pra Europa. Lewis Robinson reuniu alguns dos principais nomes desse cenário numa coletêna e lançou por seu selo, o Mais um Discos em dezembro passado. Elogiado pela BBC e pelo The Independent, só neste mês o álbum está chegando ao Brasil através da Tratore. Batizada como Oi! A Nova Música Brasileira, a coleta traz 40 nomes dividos em dois discos de várias partes do país. Entre eles, artistas da da região Norte como Mini Box Lunar (Amapá), Caldo de Piaba (Acre), La Pupuña, Pio Lobato, Gaby Amarantos e Coletivo Rádio Cipó (Pará); vários de Pernambuco, Mombojó, China, Eddie, Orquestra Contemporânea de Olinda, Alessandra Leão, Otto, Catarina Dee Jah, entre outros. Da Bahia aparecem Lucas Santtana, BaianaSystem e Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta. O Nordeste também foi incluido com nomes de outros estados: Cidadão Instigado (Ceará), Burro Morto e Chico Correa & Electronic Band (Paraíba) e NaurÊa (Sergipe). Tem ainda Do Amor (Rio de Janeiro), Tulipa, Instituto e Flora Matos & Stereodubs (São Paulo) e Graveola e O Lixo Polifônico e Porcas Borboletas (Minas Gerais).
Já o cantor, compositor e instrumentista Curumin teve uma música sua incluída no novo disco de Shawn Lee’s Ping Pong Orchestra. “Não Vacila”, cantada em português integra World of Funk (ubiquity, 2011), trabalho que mescla funk, soul e sons orientais e latinos. Curumin já havia colaborado com o músico norte-americano Tommy Guerrero.
Céu, que citamos lá no começo do texto, capitalizou algo ainda maior. Ela gravou uma música com ninguém menos que Herbie Hancock para o Imagine Project, um CD e DVD lançado em junho passado com vários nomes do pop mundial recriando versões de clássicos dos Beatles, Bob Dylan, John Lennon, Joe Cocker, Peter Gabriel, entre outros. Tem de Pink a Dave Matthews, de Juanes a John Legend, de Los Lobos a Wayne Shorter. Céu cantou em português “Tempo de Amor” de Vinicius de Moraes e Banden Powell, que se tornou uma das mais elogiadas do pacote e uma das faixas que serviram de divulgação para o projeto. Além de Céu nos vocais e Herbie Hancock no piano e teclados, a música conta com Curumin na bateria, Lucas Martins no baixo e Rodrigo Campos na percussão e no cavaquinho.