Nessa entrevista, a banda sergipana The Baggios fala sobre carreira, mercado, cena sergipana e as dificuldades para viver de música independente no Brasil.
A banda começou em 2004, em São Cristovão, pequena cidade do interior de Sergipe. Improvável, diriam alguns, para ver nascer uma banda de rock com a qualidade da The Baggios (saiba mais sobre a banda). Puro engano. A dupla, formada por Julio Andrade e Gabriel Carvalho, já é um dos bons nomes do rock brasileiro da atualidade. Realizando seguidas turnês pelo país, atualmente a dupla apresenta seu segundo disco, “Sina”, que esteve em diversas listas de melhores do ano em 2013. Antes haviam lançado três EPs e outro álbum, mas foi com esse último – que iria sair pela Deckdisc, mas acabou sendo lançado de forma totalmente independente – que chamaram atenção definitivamente. Capitaneando uma nova geração da produção sergipana, a banda faz um rock’n’blues explosivo, com influências diversas e um sotaque indisfarçadamente carregado. De julho a novembro, a dupla segue para mais uma turnê turnê nacional passando por Goiânia, Tocantins, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, além da região Sul pela primeira vez. A banda gravou também um DVD em comemoração aos seus dez anos, que deve ser lançado ainda este ano. Luciano Matos bateu um papo com os dois integrantes da banda quando estiveram em Salvador para um de seus shows. Nessa entrevista, eles falaram do disco, da produção, da turnê, mas também do mercado, da cena sergipana e , claro, das dificuldades e da coragem de se viver de música independente no Brasil.
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Pra começar, gostaria que contassem sobre a origem da banda, como foi e o que inspirou vocês?
Julio Andrade – A banda começou por acidente. A formação, com duas pessoas, foi acidental. Eu toco em bandas desde 2001. Entre 2001 e 2003 eu tive três que deram errado. Só sobrava Lucas, amigo de São Cristovão, e eu. Ele tava a fim de fazer música comigo e falou: “velho, vamos fazer um som no estúdio só pra matar a secura”. A gente estava com músicas acumuladas, e ao mesmo tempo ouvindo muita coisa nova. Então veio a vontade de fazer nosso som, mas Lucas teve de viajar. Logo depois entrou o Elvis Boamorte, que hoje tem um projeto solo como compositor. Quando Elvis entrou, eu já estava na fase de escrever músicas em português. Foi quando me senti seguro de lançar a primeira demo da banda, gravada em 2006 e lançada em janeiro de 2007. Em 2008 gravamos o segundo EP, “Hard Times”. Esses dois trabalhos circularam pelo Nordeste.
Quando Gabriel entrou, em 2008, já estávamos com o disco encaminhado quanto às composições, tínhamos um direcionamento. Compomos, compomos, e em 2010 entramos no estúdio para gravar. Lançamos o primeiro álbum oficial em 2011, com distribuição digital pela “Vigilante”, selo da Deck. Conseguimos atingir o Brasil em massa, virando assunto de blogs, tocando em cidades que não tínhamos passado e entrando em várias listas. Foi uma coisa muito importante para nós, no sentido de impulsionar, instigar a banda, porque, quando lançamos material, damos um tiro às cegas, sem saber se vai agradar, se vai atingir um público legal, ou se as pessoas vão torcer o nariz. Fizemos quatro turnês grandes pelo Brasil entre 2011 e este ano, foram muitos shows para divulgar o primeiro álbum. Fizemos os ensaios para o novo disco durante a última turnê.
Vocês já estabeleceram uma qualidade nos trabalhos que apresentam, que se consolidou com o “Sina”. Gostaria que falassem sobre a produção e a criação desse disco.
Julio Andrade – A magia da música está na liberdade que ela oferece pra gente e temos produzido bastante na pegada de não se prender a nenhum estilo, nenhum estereótipo, ou de fazer disso um negócio, uma empresa. Somos uma banda séria, o hobby não é nossa prioridade. A gente gosta de tocar e se diverte, mas vivemos de música, precisamos de grana para pagar as contas. Dá para notar que tivemos uma evolução, um amadurecimento nas composições, quando comparamos às gravações dos EPs e ao disco atual.
Quando começamos a compor “Sina”, a gente já estava no gás da turnê, tocando todo dia e indo para o estúdio ensaiar. O esqueleto do disco estava mais ou menos pronto, mas só conseguimos realmente ter a segurança do que se tornou “Sina”, porque insistimos na pré-produção. Mesmo em turnê fazíamos ensaios das músicas e quando voltamos pra casa gravamos vários ensaios. Tínhamos 22 músicas que a gente queria muito gravar e foi bem difícil selecionar, mas escolhemos lançar 12, para o disco não ficar cansativo. Decidi deixar as outras para um outro projeto, ou até para o próximo álbum.
A gente leu algumas pessoas chamando “Sina” de um disco conceitual, construído em cima de um tema. Não foi bem assim, conseguimos fazer com que acontecesse naturalmente, as letras acabaram se encaixando com o tema. Particularmente acho que é o disco mais coeso da banda, em relação às músicas, às letras, à construção de riffs, à produção e à arte gráfica. Contando com a pré-produção, o processo de pensar no disco durou quase dois anos.
Ouça o disco “Sina”:
E as letras? Me parece que é uma preocupação forte nesse trabalho.
Julio Andrade – As letras falam muito sobre figuras quase folclóricas do interior de Sergipe, pessoas como Leão, Zorrão, e o próprio Baggio. Eu costumo observar muito as coisas do dia-a-dia, a pessoa que está dormindo embaixo de um prédio, por exemplo, e imaginar a história por trás disso, como e porque ele chegou ali, se foi escolha, uma sina, ou estava escrito. Eu tenho uma pilha de achar que determinadas coisas acontecem por conta do destino, apesar de não poder me deixar levar por isso e me conformar, eu fico pensando nisso. Sei lá, o cara passou dez anos com uma banda e parou de tocar para ser advogado. Enfim, é uma viagem que tenho sobre o destino, e “Sina” trata muito disso, pessoas que se entregam, em um determinado momento da vida, para algo que não é feliz. “Afro” fala sobre isso, uma pessoa super intelectual, que passou por vários aperreios e se entregou ao fanatismo religioso. O disco tem vários elementos que caminham na perspectiva de análise do destino, da sina de cada um.
“Somos uma banda de Sergipe, que não tem um grande selo, gravadora, ou grana, e faz tudo na raça. Mas isso não impede que a gente programe, planeje e faça turnês”
O Zorrão era um cara que tinha 60 anos, vivia na rua tomando muita cachaça. Eu sabia que ele tinha família pra dar suporte e tratá-lo em casa, mas ele sempre voltava pra rua. Será que ele queria ser assim mesmo? Leão era um cara que quando eu era guri e vivia na rua soltando pipa e jogando peão, todo mundo tinha medo. Ele pegava um cajado, simulava que ia atirar e fazia barulho de tiro. Mas tinha toda uma história por trás disso. Eu soube que ele assassinou a mulher, enterrou ela no quintal, foi preso, saiu da prisão meio pirado, e passou a viver como andarilho. A capa do disco traz a foto de uma estação de trem, onde ele vivia deitado. A região onde foi tirada essa foto é muito simbólica para mim, porque boa parte das músicas da Baggios foi construída a partir daquela região. Foi onde passei minha infância, onde eu vivo ainda, assim como boa parte das personagens.
Como costuma ser o processo de criação de vocês?
Júlio Andrade – Eu componho as melodias e riffs e levo para o Gabriel. Sempre priorizo o instrumental, depois vem a letra, que há cinco anos eu não dava muita importância. A música podia falar qualquer coisa, importava que a melodia soasse bem. Mas eu passei a dar valor. O primeiro álbum já trazia a valorização de letras simples, mas que passavam alguma coisa. Acho que as letras do último disco são mais fortes, são mais pesadas e têm mais para oferecer. Como letrista eu evoluí neste disco, no sentido de pensar mais na letra, rever e reescrever o que eu falo.
Gabriel Carvalho – Às vezes a música pode surgir de uma Jam, em que a gente cria a melodia e coloca a letra depois.
Vocês circulam bastante e estão nessa ha um tempo. Queria que você falasse um pouco disso, não só como banda: o que mudou musicalmente no cenário?
Julio Andrade – Em quase 10 anos de banda, o respeito é a maior diferença que notamos. A gente já fez turnê sem cobrar o cachê. Na primeira, tocamos em Aracaju com outras duas bandas, juntamos uma grana suficiente para pagar e saiu. Foi bem importante, porque vimos que se a gente não fizesse isso, não tocaríamos no Festival DoSol, por exemplo, ou no Festival Mundo. Fomos para uma turnê em que tocamos para 15 pessoas em Natal, mas então recebemos convite para tocar para 300 no Festival DoSol quatro meses depois. Aconteceu a mesma coisa no Espaço Mundo, lá em João Pessoa. Tocamos para pouca gente, mas voltamos para tocar para 500 no Festival Mundo. A gente percebeu que dessa forma poderia conseguir mais nome, mais respeito e se impor mais.
Se bancar inicialmente para tocar nesses lugares acaba sendo uma forma de investimento da banda?
Julio Andrade Isso. E as pessoas precisam ter muita paciência. Nosso disco saiu no The Guardian, n’O Globo, na Folha de S. Paulo. Isso traz pra gente certo respeito, dá pra ver que está funcionando e tal. Mesmo com essa bagagem que estamos adquirindo, alguns festivais ainda oferecem uma ajuda simbólica, que sequer custeia as passagens. Por mais que estejamos ganhando espaço, tem gente que ainda trabalha com a mente atrasada e não consegue enxergar o quanto a banda ralou pra conseguir o que conseguiu. Isso é ruim, pois muitas vezes não fazem convites devidamente. Somos uma banda de Sergipe, que não tem um grande selo, gravadora, ou grana, e faz tudo na raça. Mas isso não impede que a gente programe, planeje e faça turnês.
Como surgiu e como vocês programaram essa turnê? Vocês estão se bancando? Os cachês estão sendo suficientes? Algumas bandas metem as caras e saem para tocar, mas não é todo mundo que sabe como funciona
Julio Andrade – A turnê de “Sina” foi programada na raça. Não temos o apoio de nenhum órgão público ou empresa privada. Conseguimos alguns parceiros. Em Aracaju fizemos shows no Oakhill, um pub pequeno, com público de 130 pessoas. O Cara falou: “vi que vocês vão fazer a turnê e quero apoiar. Fiquem com a bilheteria”. Isso pra gente é do caralho. Mas precisamos fazer o show, não foi uma grana que entrou em nossa conta do dia pra noite. De qualquer forma, iniciativas como a do pessoal do Oakhill ajudam bastante a fazer acontecer.
Também tem a questão do cachê, que é diferente em cada cidade. Como somos duas pessoas, é mais fácil circular, porque os custos são menores. Só pagamos passagens de duas pessoas, por exemplo. Claro que nosso objetivo é trabalhar com uma equipe, queremos um técnico, roadie, etc. A gente se fode pra caramba, porque nossa bagagem cabe em um carro popular e carregamos tudo sozinhos, mala de material da banda, pedais, guitarra, pratos.
Vocês percebem uma diferença em relação ao mercado quanto ao público e às pessoas que organizam esse mercado?
Gabriel Carvalho – Em relação ao mercado tem coisas que estão bem parecidas ainda. Como a cultura ultimamente depende muito de editais, eu vejo alguns anos bons e outros ruins. Quando o ministério da cultura apoia alguns festivais, rola uma grana massa. Às vezes, quando não apoia, os festivais não podem oferecer tanto. Mas algumas casas de show funcionam por si mesmas, e alguns festivais podem se bancar com as próprias pernas.
Como vocês vêem a estrutura das casas de shows?
Gabriel Carvalho – No Brasil existe uma escassez de casas de show de médio porte. Depois do acidente com a boate Kiss, muitas foram fechadas por causa das vistorias. Dá pra conseguir, mas rola uma dificuldade em fechar com casas de médio porte quando não se é uma banda estourada, nem iniciante. O lance do mercado é que ele sempre oscila, nunca é estável.
Julio Andrade -A cada ano de turnê temos conquistado pautas mais interessantes graças ao nosso histórico. Ano passado a gente rodou muito. Fizemos uma turnê de 30 shows em 45 dias, com boas apresentações, em praças, para duas, três mil pessoas, assim como shows menores. Nesse ano tocamos ao vivo na rádio Canal Brasil, que tem alcance e uma visibilidade massa. Também vamos gravar no programa Estúdio Móvel, da TV Brasil. Ano passado tocamos no Rio, saiu matéria no jornal O Globo e muita gente já conhece o nosso nome, sabe que a banda existe. As condições melhoraram e as pessoas já chegam perguntando qual é o valor do cachê, sem imposição. Alcançamos esse respeito.
Pouca gente conhece a cena de Sergipe. Pelo que acompanho está bem efervescente e com muita coisa acontecendo. Qual a impressão de vocês que são de lá?
Júlio Andrade – Sempre teve muita movimentação. Inclusive, quem é de lá, sempre fala: “porra, essa banda poderia estar no Brasil fazendo várias coisas”. Snooze, Karne krua e Plástico Lunar são bandas que já têm uma história. Elvis Boamorte e Renegades of Punk são de uma leva mais recente.
Tem uma cena menos rock também, né?
Julio Andrade – Tem a Patrícia Polayne e uma galera do reggae que é muito boa, como as bandas Reação e Ato Libertário. Tem muita música instrumental, como a galera da Coutto Orchestra e Ferraro Trio. O massa de lá é que tem muitos gêneros diferentes: reggae, rock, punk, trash, etc. O que falta para as bandas é fazer um giro, conseguir apresentar o som para o Brasil.
A dificuldade em sair também está relacionada aos empregos. Porque quem sai um mês em turnê não pode ter um trabalho fixo. Mas isso não é desculpa, dá até pra fazer. A Renegades é um exemplo. Eles têm um restaurante Vegan e conseguem viajar, já rodaram para o Sul e para o Nordeste. Então, também é uma questão de organização.
Casa de show de verdade, com tratamento e tudo, não tem por lá. Alguns locais improvisam, O Galpão é uma companhia de teatro onde algumas vezes rola show, alguns barzinhos tiram as cadeiras e rola show. Hoje acontece muito som nos barzinho. É difícil não ter show no final de semana. Uma coisa legal de Aracaju é que cada banda tem sua própria identidade. Não sei se é bom ou se é ruim. Recife, por exemplo, teve a cena do manguebeat, que se exportou. Tem banda de blues, como a Máquina Blues e Urublues, tem banda de mistura regional, como Naurêa e Maria Scombona, que lançaram um disco ótimo, mas não circularam.
Como anda a recepção do público?
Julio Andrade – O público tem sido bastante receptivo. Eu lembro que no início dos anos 2000 a cena hardcore era mais forte, hoje em dia tem menos público. Mas no geral tem público em todos os shows que a galera tem feito.
Gabrie Carvalho – A dificuldade de Sergipe está ligada às leis de incentivo à cultura. Essa coisa do edital e apoio são recentes. O que mais rola é edital de passagem, ou então utilizar um cachê que você ganha em evento público para gravar o disco. Mas não existe edital pra um CD. Rola essa dificuldade. Uma banda do sul, que tem vários meios à disposição, pode escoar mais rápido a informação. Em Aracaju, uma banda pode ser muito boa, mas nascer e morrer por lá.
“Em Aracaju, uma banda pode ser muito boa, mas nascer e morrer por lá.”
Apesar de estarem vindo de um estado pequeno, do Nordeste, que já é uma região pobre e problemática, vocês parecem encarar tranquilamente o mercado e essa coisa de viver de música. Isso é um exemplo pra muita gente que reclama mais do que faz.
Gabriel Carvalho – Não tem como ficar se iludindo. Não dá pra ficar esperando demais de certas situações, se decepcionar e acabar, como muitas bandas.
Julio Andrade – É duro. Mas acima de tudo existe um sonho. Eu não me vi fazendo nada além da música. Quando terminei o segundo grau, prestei vestibular, mas eu não queria cursar uma faculdade de algo que não me via fazendo. Se existe algo que você faz e você vê que funciona, algo que você faz com gosto, mesmo se fodendo e se ferrando na estrada, levando cano de show, fazendo coisa de graça, você tem de acreditar e, acima de tudo, manter essa chama que é a sua meta, acesa.
Como eu falei, a gente não faz música de brincadeira, faz sério e porque quer fazer diferença. A gente não quer fazer o que todo mundo faz, tocar na noite e ter fãs em volta. É duro e cansa, mas as consequências vêm naturalmente. Você vê o quanto conquistou, ralou, e ainda tem dificuldades em armar show. As pessoas não entendem o custo que a gente tem de sair da nossa cidade e ainda choramingam pra pagar pouco. Em alguns momentos a gente acaba cedendo, porque quer chegar lá e ver acontecer, mesmo tirando grana do bolso, sem apoio de nenhum órgão público. Isso tudo prova o quanto a gente quer fazer música e que vamos chegar, em algum momento, onde queremos, pagar nossas contas sem precisar fazer algo paralelo a isso. Gabriel dá aulas de bateria. De vez em quando eu faço voz e violão em barzinhos pra tirar uns trocados, mas tudo dentro do universo musical.
Eu já trabalhei, cara, já fui assalariado por 18 meses, no setor de informática de uma empresa, um lance bem mecânico. Durante esse período me senti infeliz. Eu estava ali por obrigação, não porque gostava daquilo, e pior, desperdiçando tempo de compor música, de planejar. É uma questão de prioridades. A nossa prioridade é a banda.
A gente sempre se preocupou muito com planejamento. Se ganhamos um cachê, metade vai para o caixa da banda. Esse disco foi todo custeado sozinho, porque juntamos dois anos de cachê. A gente até se agradece por ter a cabeça no lugar, porque vários porra-loucas que precisam de alguém pra cuidar disso. O Gabriel tem os mesmo objetivos que eu, quer viver de música, tocar nesses festivais grandes do Brasil e do mundo. Estamos planejando fazer nossa primeira turnê fora do país, na América do Sul. Tem gente que gosta da linguagem do rock e se identifica com o nosso som, mesmo cantado em português.
O público médio, o cara que não é curioso, que não gosta tanto de música, tem acesso à música pela TV e pelo rádio, meios que não tocam quase nada dessa cena que vocês pertencem. Vocês vêem caminho pra isso?
Júlio Andrade – Eu fico me perguntando como seria se eu fizesse música há trinta anos. Porque tinha o lance da gravadora. Não dava pra gravar um disco como o último da Baggios, em um estúdio simples, e com um som muito bom. O outro disco foi gravado em um estúdio top, em São Paulo, investimos uma grana massa. Hoje existem diversas maneiras para gravar, independente de gravadora, selo, e tal. A internet acabou comendo muito isso dos veículos.
Eu quero tocar em todo canto, quero que nossa música chegue na rádio, na TV, mas eu gosto que a músicas sejam reconhecidas na internet, sabe, porque vai fazer com chegue na rádio, na TV. Muita gente hoje em dia perdeu o hábito de ouvir rádio. O mundo se movimenta dez vezes mais rápido, a informação chega mais rápido para as pessoas.
“a gente não faz música de brincadeira, faz sério e porque quer fazer diferença. A gente não quer fazer o que todo mundo faz, tocar na noite e ter fãs em volta”
Mas é difícil mesmo. Como vai chegar até meu pai, por exemplo? No geral, a porcentagem de veículos que tocam músicas como as nossas é muito pequena. Fica difícil para uma pessoa que trabalha o dia todo e não está no facebook sempre. Acho que pode acontecer pelo boca a boca, algum show que passe pela cidade e algum amigo fale, porque pelos meios convencionais não acontece.
Gabriel Carvalho – Não consigo pensar em uma solução pra isso. Existem ainda grandes rádios no Brasil. Não sei se ainda existe o jabá. Deve existir. Então, penso: o que eu faria para minha música tocar em grandes rádios? Será que é simplesmente chegar lá e dar o CD, ou eu teria de pagar? Não sei. Também é um lance em que eu acabo sendo muito preso nesse mundo da mídia cibernética.
Dá pra perceber que vocês metem as caras e o que eu sinto é que nosso mercado está longe do ideal. Mas há dez anos não existia um mercado independente. Hoje já existe um mercado, festivais e casas, longe de um ideal, mas em um panorama crescente.
Julio Andrade – Eu sou pessimista, mas existe um limite. Li uma frase dia desses que achei massa: “É melhor acreditar que as coisas vão dar errado, porque quando dão certo você se surpreende”. Eu não me via fazendo muita coisa há dez anos, e o legal de circular é a quantidade de gente que você vai conhecendo, a facilidade de fechar novos shows. Porque a turnê quem faz é a gente.