Estamos dando início hoje a uma série de entrevistas publicadas aqui em paralelo a coluna Sotaque Baiano, do Caderno 2 do Jornal A Tarde. Nas próximas semanas vamos ouvir os nomes que estão fazendo a nova música baiana. Nomes de gêneros e estilos diversos. Começamos com a cantora Marcela Bellas, que lançou um excelente EP em 2006 e prepara o primeiro disco para 2007. As gravações começam em março de 2007 e em agosto o CD deve ser lançado junto a um vídeo-clipe.
Você acha que existe uma nova música baiana sendo formada? Você se insere nela?
Acho que sempre existiu. Ultimamente ela tem tido mais visibilidade. A música baiana sempre apresentou novidades. Daqui saiu a Tropicália, a Bossa Nova… A indústria do Axé que sempre ofuscou isso. Acho que agora com essa indústria caindo, essa música está emergindo.
Como você apresentaria e definiria sua música para um desconhecido?
Música baiana. Sempre vinculam isso ao Axé. Mas eu canto músicas de compositores baianos e faço canções que trazem a Bahia. Eu gosto de cantar a cultura baiana porque eu sou uma baiana. Dizem que que faço MPB moderna, mas não é um termo que gosto. MPB pode significar muita coisa. Canto música brasileira com estilos brasileiros influenciados por coisas de fora como Trip Hop, Rock etc.
Você costuma dizer que faz uma música baiana urbana e que se influencia até pelo que não gosta. O que você colocaria nesse meio? o Axé influencia de alguma forma?
Eu gosto de Axé. Gosto de muitas coisas, como Luis Caldas, Daniela Mercury… O Axé quando começou era bacana, depois ele se perdeu. Desde a música em si até a proposta se perdeu, se tornou algo só para Carnaval. Tem coisas que eu não ouço e não gosto. No disco que vou gravar vou fazer um pagode chamado “Alto do Coqueirinho”. Vai ter essas letras de pagode, harmonia de pagode, bem repetidona. Tem até um trocadilho com termos em inglês. Eu não ouço pagode, mas ele me influenciou. Na verdade, o meio todo que a gente está acaba influenciando. Música para mim ou é boa ou é ruim, ou me toca ou não me toca e tem coisas do Axé e do pagode que me tocam e influenciam.
Essa música baiana atrapalha de alguma forma a viabilidade de trabalhos como o seu?
Eu acho que Axé como música não atrapalha em nada. A indústria e os empresários por trás é que atrapalham. Eles tem muito dinheiro e sobrevivem pagando jabá para rádio e TV.
Como avalia o meio independenteaqui em Salvador? Qual a principal dificuldade?
A primeira é que Salvador não tem lugar para fazer show. Sinto isso na pele. Não tem lugar com estrutura. Aqui você tem que levar tudo, som, iluminação e o artista independente não tem condições de arcar com isso. A dificuldade maior é essa. O artista independente tem que se virar com tudo, desde o mínimo como o figurino, até o próprio trabalho, como a gravação do CD, por exemplo.
Como você encara essas mudanças com novas tecnologias, pirataria, internet. Há espaço para artistas novos?
Eu gosto dessas mudanças. O que o músico quer mesmo é que ouçam seu trabalho, claro que ganhar dinheiro com ele também. Acho que pirataria, internet ajuda nisso. Eu quero que as pessoas ouçam, tenham acesso a meu trabalho. Vou ganhar mais com os shows. Essa coisa de disco deve mesmo acabar. As gravadoras estão cada vez vendendo menos, estão em decadência. Visitei gravadoras e cada vez mais elas querem lançar o artista que já tenham disco pronto. Mas se é para distribuir, é melhor fazer o disco e procurar uma distribuidora. Acho que a tendência é que as gravadoras se tornem apenas distribuidoras e apareçam empresários investindo em artistas, como era antigamente. Acho também que os artistas independentes tendem a se tornar o grande pilar da música. Artista tem que ganhar dinheiro com os shows.