Concordando ou não, opiniões são sempre boas para se levar em conta na hora de entender o que se passa em volta da gente. Principalmente quando vem de gente envolvida no ambiente em questão. Exageradas, verdadeiras, falsas, brandas, veja algumas afirmações de pessoas envolvida com a música no Brasil e no mundo com diferentes visões de vertentes diversas desse universo.
“Vocês todos, de muito bom gosto, inteligentes, velhos e chatos, esperando a “próxima coisa”, esperem sentados. Ela não será para vocês”
“Não estamos nisso para ganhar dinheiro, mas para fazer surgir o tipo de música que possa mudar a vida das pessoas. Quando isso acontece, é claro que ganhamos dinheiro. Mas esse não é o motivo que nos leva a trabalhar com música”
“Na era dos Ipods, na era dos singles, nós ainda acreditamos nos álbuns e é muito bom ser recompensado por isso”
Win Butler, do Arcade Fire, em coletiva após conquista do Grammy
“Para mim, antes de Is This It, a guitar music, o rock ‘n’ roll, essa coisa toda estava quase acabado. Eu sabia que em Nova Iorque e em Londres havia pouquíssimos lugares para se tocar ao vivo, eram na maioria lugares para se ouvir discos e DJs e toda essa cultura. E depois que Is This It foi lançado, centenas e centenas de bandas começara, garotos tocavam guitarra, jovens que cresceram indo a raves, ouvindo techno music e acid jazz de repente começaram bandas de rock. Ainda hoje a um show em toda esquina, em cada cidade do mundo hoje à noite, e ontem, e amanhã, com bandas de rock tocando em toda cidade, em todo quarteirão”
Gordon Raphael, produtor de três discos dos Strokes em entrevista para a revista NOIZE
“Entendo essa sua percepção de que os festivais deram uma estagnada. Não sei se é exatamente isso que acontece, mas realmente acho que existe um modelo que está se aparentando único e penso que isso é um tiro no pé. Temos é que buscar diversidade, inovações, quebra de paradigmas… Enfim, um modo de manter as coisas acesas, queimando…Não podemos ficar congelados numa fórmula. A Monstro – eu garanto – vai fazer de tudo para não cair nessa armadilha. No nosso ambiente, existem outras coisas que me preocupam mais que a saúde dos festivais. Uma é fortalecer o circuito de casas noturnas de pequeno e médio porte do país. Os festivais são vitrines, mas é nos clubes que as bandas devem estar todos os dias. Outra coisa é o aparelhamento e a ultradependência do poder público. Temos que usar o poder público para criar asas, mas temos que aproveitar isso para criar também as condições de conquistarmos público e uma verdadeira independência financeira. Nosso objetivo não pode ser virar um braço do Estado, mas sim criar um mercado alternativo real. Para isso precisamos de políticas públicas de médio e longo prazo e acho que em várias esferas essa consciência começa a se aflorar. Por fim, tenho muito medo da cena alternativa se tornar um pastiche do mainstream, com seus caciques traficando influências, o jabá tomando novas formas, os favorecimentos se sobrepondo a uma visão artística e por aí vai. A soberba pode ser o pior inimigo de uma cena que depois de muito trabalho começa a se estruturar. Não podemos baixar a guarda quanto a isso”
Márcio Jr, vocalista da banda goiana Mechanics, em entrevista ao site Rock em Geral.
“…o povo brasileiro não é imbecil nem antimusical. A indústria cultural é que não está sabendo manipular a sensibilidade e a inteligência musical do brasileiro. A música saiu da mão dos criadores e passou para a mão dos produtores”
“Porque o Brasil é uma merda e a música é o reflexo do País. Por isso que a política é assim. As pessoas entregaram o País, não estão fazendo esse País. Elas aceitaram ser capitalistas em uma sociedade de consumo e estão vivendo os problemas desse tipo de sociedade. Muitos carros, muita violência e os artistas fazendo tudo por dinheiro. A qualidade acaba caindo porque a arte é algo que tu faz porque aquilo ali é tua vida. Isso é a verdadeira arte. Mas, nos últimos 25 anos, tudo começou a ser só entretenimento, então as pessoas fazem teatro para ganhar dinheiro, fazem cinema para ganhar dinheiro. Para manter seu estilo de vida consumista. E o jovem, o que ele ouve? Voltando no tempo, de agora para trás: Restart, Nx Zero, CPM 22… (risos) Capital Inicial, Titãs, Paralamas (risos). Só vamos encontrar algo bacana no início da década de 80. O começo das bandas grandes é legal, mas depois eles estão em um esquema de empresários, de jabá. E fazem música pensando nisso. Isso não é arte. Arte é tu não saber o que tu vai fazer. “Puta merda! Como é que vai ser essa música?”. Tu quebra tua cabeça para saber que tipo de som vai fazer. E não dessa forma: “Nossa, tenho que fazer uma música para tocar no rádio”. Por isso que o hoje é sempre o reflexo da geração antiga. Sempre as gerações mais velhas são as responsáveis”.
Wander Wildner em entrevista ao Scream & Yell
“A internet é uma coadjuvante, é bom ressaltar que o rádio continua com muita importância. As pessoas acham que o rádio não tem mais importância e isso é o grande erro das bandas independentes. Porque o pessoal, por não tocar, acaba se defendendo esnobando a rádio”
“Não faço idéia, não me interessa o futuro da axé music. Me interessa o futuro da musica baiana ou da musica feita na Bahia. Não me interessa artisticamente um movimento que se baseia na festa e no carnaval. Está bem pro carnaval, mas isso não pode ser a única musica que represente uma cidade ou que se consuma aqui. Aqui existe um excesso de axé, e tudo é parecido, não sei distinguir uma banda de outra. São bandas organizadas por empresários e empresas, não por artistas. Refletem a realidade do mercado de consumo “artístico”. Arte vazia. Claro que há excecões, como Brown e Daniela, que utilizam elementos e que são formados pela axe music e que são legais. A prova cabal é o estrangeiro que chega hoje em Salvador. Ele simplesmente ignora a axe music, os trios, não acha o que procura aqui e vai pra Recife ou Rio consumir música. A música que representa a Bahia hoje não atrai o estrangeiro, mesmo. Eles detestam axé music. Até o Fat Boy Slim, que ganha um dinheirão no trio da Skol tocando no carnaval da Bahia (já fez dois ou três), diz que está se lixando pra axé music e não quer nem saber de fazer contatos com ninguém. A diretoria do carnaval, a prefeitura, o governo, todo mundo deveria prestar atenção a isso: o carnaval da Bahia e a axé music estão indo contra a cultura popular da Bahia, isso é triste . Você não tem quase batucadas na rua aqui. Até os blocos afros estão entrando no esquema pra sobreviver, colocando teclados e baixo e diminuindo a percussão, pensando erroneamente que assim vão atingir mais mercado. Está tudo do lado avesso no carnaval da Bahia hoje em dia. Tem também o problema dos novos camarotes, que são os templos de adoração à Axé Music, que elitizam e invertem valores”.
Ramiro Musotto em entrevista para o Diário do Nordete em 2008 (com declaração ainda bastante atual)